terça-feira, fevereiro 25, 2014

Não existe almoço grátis para o remake "RoboCop"

“Não existe almoço grátis”, diz uma frase popular americana que sintetiza bem o espírito pragmático daquele país. E José Padilha, diretor brasileiro de Tropa de Elite (2008), deve ter comprovado isso ao ser convidado pelos estúdios da MGM para dirigir o remake do clássico de ficção científica “RoboCop” dirigido pelo holandês Paul Verhoeven em 1987. Atravessando séria crise financeira, o estúdio não quis se arriscar em fazer uma refilmagem com o mesmo tom crítico visceral da versão original: os temas da ganância corporativa, do desmanche e da privatização da segurança pública estão diluídos em um roteiro onde os vários coadjuvantes se equivalem em meras opiniões ou pontos de vista. Mais ainda, o filme parece apresentar um estranho ato falho:...

sábado, fevereiro 22, 2014

A miséria da estética e da linguagem do trabalhador precarizado

No passado era o proletariado, os explorados e os excluídos. Hoje temos os precarizados: trabalhadores terceirizados, estagiários, temporários e todo um conjunto de profissionais treinados espontaneamente para suas funções através da manipulação de ícones em telas de celulares e mensageiros instantâneos usados no dia-a-dia, desde o velho ICQ até o atual Skype. Participantes incautos de uma ordem que foi secretamente gestada no interior de gigantescos prédios espelhados, com o apoio de uma estética e linguagem igualmente precarizadas criadas por planilhas eletrônicas e elegantes gráficos e tabelas projetadas em reuniões onde orgulhosos gestores professam discursos que misturam efeitos de ciência, religião, misticismo e fenômenos da natureza. “Aquele...

quarta-feira, fevereiro 19, 2014

Quando fantasmas aparecem quem você chama: The Ghost Busters ou Ghostbusters?

Poucos sabem, mas o filme “Ghostbusters” de 1984 foi inspirado em uma série de TV exibida em 1975 nos EUA e no Brasil, chamada “The Ghost Busters”. Baseado no humor “pastelão” e “trash” a série contava as aventuras e desventuras de um trio (entre eles um gorila!) que perseguia fantasmas e seres sobrenaturais com um “desmaterializador de fantasmas”.  O roteiro original do filme “Ghostbusters” escrito por Dan Aykroyd e Harold Ramis (mais fiel ao espírito da série de TV de 1975) foi recusado pela Columbia Pictures e recriado dentro de um tom bem diferente, dessa vez cínico e marcado pelos valores do “cinema recuperativo” dos anos 1980 – os valores do empreendedorismo, individualismo, fama, sucesso e ambição misturados com os fantasmas...

segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Por que somos seduzidos pelo virtual?

“É a verdade... a digitalização da vida real. Você não vai só a uma festa. Vai a uma festa com uma câmera digital. E seus amigos revivem a festa on line.” Essa afirmação de Sean Parker (criador do Napster, interpretado no filme por Justin Timberlake), que aparece solta nas frenéticas linhas de diálogo no filme “A Rede Social” (The Social Network, 2010), é a síntese do “desejo de virtualidade”, essa motivação individual que sustenta todo o projeto tecnognóstico que domina a atual agenda tecnológica e científica. O desejo pela digitalização da vida seria a recorrência de uma milenar aspiração gnóstica pela transcendência da carne e a imortalidade da espécie. Mas essa aspiração por transcendência transforma-se em má consciência ao ser capturada...

sábado, fevereiro 15, 2014

Projeto inédito no Brasil promete imersão real do espectador no cinema

3D, 4D, 5D, IMAX. A indústria cinematográfica atual vem mobilizando toda uma parafernália tecnológica para capturar o desejo de quebra da rotina e fuga da realidade do espectador. Imersão e interatividade são as palavras de ordem da indústria do entretenimento. Nesse mês uma inédita experiência de imersão cinematográfica em São Paulo pretende ir além dessas estratégias industriais padronizadas, mostrando que o espectador pode de fato imergir no espaço das sequências de um filme: é o audacioso e complexo projeto Cine Imersão. Inspirado no conceito de teatro interativo existente no Canadá, Austrália e Inglaterra, a fusão de cinema, performances, música e narrativas ao vivo em um só universo propiciaria uma experiência real de participação....

quinta-feira, fevereiro 13, 2014

A rua se tornou uma extensão do estúdio de TV?

A grande mídia coloca a morte trágica do cinegrafista Santiago Andrade num quadro mais geral de supostos “ataques arbitrários a jornalistas” que representaria uma “ameaça à liberdade de informação”. Esse discurso parece cumprir um duplo propósito: esconder o fato de que essas manifestações apontam para uma profunda mudança nas relações entre mídia e sociedade e, também, encobrir o aproveitamento oportunista do episódio com o objetivo de reforçar ainda mais a escalada da percepção do medo e instabilidade que colocaria em xeque a legitimidade de um governo democraticamente eleito. A morte do cinegrafista poderia ser o sintoma de uma tendência mais generalizada onde as ruas se transformam em extensões do estúdio da TV e a mídia acaba se transformando...

terça-feira, fevereiro 11, 2014

Em Observação: "Computer Chess" (2013) - Inteligência Artificial e cultura nerd

Softwares de xadrez tentam imitar a inteligência humana enquanto programadores de computador discutem o que os motivam a procurar a Inteligência Artificial. Ambientado no início dos anos 1980, “Computer Chess”, o filme faz um mergulho ao mesmo tempo sério e bem-humorado na cultura nerd dos engenheiros do Vale do Silício: suas motivações, esquisitices e a estranha relação fetichista com os computadores que estava por trás do início da explosão da indústria da tecnologia nos EUA. Filmado em preto e branco, o filme cria uma estranha atmosfera retro como se testemunhássemos a intimidade de pessoas que acreditavam que a matemática e algoritmos poderiam reproduzir a complexidade human...

domingo, fevereiro 09, 2014

Publicidade explora a geometria sagrada subliminar

Atualmente a inteligência visual publicitária vem mobilizando técnicas cada vez mais sofisticadas que exploram recursos não apenas psicológicos ou comportamentais, mas agora atinge uma dimensão de simbolismo mais profundo: a chamada “geometria sagrada”, expressão usada pelo esoterismo e gnosticismo para designar toda uma área de estudos de como as formas geométricas básicas representam conteúdos arquetípicos e padrões (modelos, ritmos e proporções) que integram o repertório que permite tanto a Natureza como o psiquismo humano se expressar. Com o auxílio das técnicas da semiótica visual, círculos, quadrados e triângulos estariam sendo instrumentalizados para criar uma verdadeira geometria subliminar. Quantos de nós veem? Em uma cultura...

quarta-feira, fevereiro 05, 2014

Comercial "Eu Sou O Futebol" é uma bomba semiótica?

O novo vídeo publicitário da Brahma alusivo à Copa do Mundo no Brasil intitulado “Eu Sou O Futebol” surge no momento de pesada atmosfera política do “Não Vai Ter Copa” nesse início de ano. Numa coincidência significativa, o vídeo toma emprestados clichês midiáticos da cobertura das manifestações para compor o protagonista “Futebol” e a torcida brasileira nas ruas: o “Futebol” como uma figura encapuzada, vestida de preto e calçando coturno e a torcida representada através de uma composição visual ambígua que em alguns planos de câmera parece se assemelhar a manifestantes. O que significaria essa coincidência? Intertextualidade? Ressignificação de signos negativos em imagens positivas tal como no vídeo do ano passado? Um ato falho da criação...

domingo, fevereiro 02, 2014

Filme "Trabalhar Cansa" disseca as superstições da classe média

O filme brasileiro “Trabalhar Cansa” (2011) a princípio confunde o espectador: É terror? Drama social? Realismo fantástico? A sensação de estranhamento a que são submetidos tanto espectadores quanto os protagonistas Otávio e Helena ajuda formar um tragicômico quadro dos pesadelos das classes médias. Ele, um homem de meia idade desempregado enquanto ela se apega ao ideário do empreendedorismo abrindo um pequeno mercado de bairro. De um lado Otávio se submete ao irracionalismo da religião autoajuda para suportar a realidade da precarização do trabalho; e do outro, Helena tenta compreender fenômenos supostamente sobrenaturais no seu mercadinho onde ao mesmo tempo crescem tensões trabalhistas. Dois instantâneos de uma classe social ao mesmo...

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