domingo, novembro 25, 2012

O homem prisioneiro do tempo em "Matadouro 5"

O filme “Matadouro 5” (Slaughterhouse Five, 1972)  é um dos mais niilistas e desesperançados filmes gnósticos: sem saída, o homem é prisioneiro no tempo e condenado por alienígenas a repeti-lo por toda a eternidade. O que torna o filme “Matadouro 5” um clássico dos filmes com temática gnóstica é que ele inicia uma crítica metafísica de fatos que tradicionalmente são abordados pelo viés da crítica política ou social. No filme, a guerra não é mais enquadrada pela crítica ideológica ou política, mas, agora, como mais um fato dentro de um absurdo plano cósmico levado a cabo por demiurgos alienígenas. "Matadouro 5" foi um dos filmes que mais impactaram a minha adolescência nos anos 70. O filme, baseado na obra consagrada de Kurt Vonnegut Jr....

sexta-feira, novembro 23, 2012

A máfia midiática elimina o Estado em "Generation P"

Che Guevara ensina lições sobre o novo capitalismo e o marketing moderno em meio a viagens lisérgicas e místicas de um protagonista que tenta se adaptar à Rússia pós-comunismo. “Generation P” (2011) do russo Victor Ginzburg consegue fazer uma adaptação de um livro considerado impossível de ser transposto ao cinema: “Babylon” do escritor Viktor Pelevin. Ginzburg faz uma espécie de revisionismo da recente história russa pós-comunismo sob o irônico título “Generation P” – o “P” de Pepsi-Cola referindo-se àqueles que abraçaram o produto como o gosto oficial da nova liberdade. Na verdade, Ginsburg mostra um verdadeiro circo onde misticismo e religião se misturam com imagens midiáticas geradas com recursos digitais por profissionais egressos do...

segunda-feira, novembro 19, 2012

A angústia da existência no filme "eXistenZ"

Se Basilides (um dos primeiros professores gnósticos em Alexandria, Egito, no século II da Era Cristã) fizesse um filme, certamente teria sido “eXinstenZ” (1999). Um filme onde o canadense David Cronenberg leva a relação entre o homem e a tecnologia ao limite do niilismo, do vazio e da angústia. Não tanto pelo fato das fronteiras entre real/virtual e verdade/ilusão desaparecerem em um sofisticado jogo virtual. Mas pela forma como um jogo transforma-se em fetiche erótico e religioso pelo marketing de uma poderosa corporação, impedindo a transcendência espiritual: de que a própria existência transforme-se em eXistenZ.   Basilides nutria uma radical desconfiança em relação à linguagem porque a verdade sobre Deus estaria além do conhecimento...

quinta-feira, novembro 15, 2012

O Mensalão e a agenda setting: a "Matrix" na prática

Muito discutida e ainda pouco compreendida, a essência do filme “Matrix” (a hipótese da virtualidade do real) talvez já esteja presente no nosso dia-a-dia mais do que imaginamos. A pesquisa “Agenda Setting e a Cobertura dos Casos Mensalão e Cachoeira” feita por estudantes de jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi São Paulo como conclusão do curso “Estudos da Semiótica” apresenta a constatação de que a mídia corporativa não tem mais o poder de eleger presidentes ou forçar impeachments como no passado, mas ela é eficiente em estabelecer pautas e agendas como a do atual julgamento do chamado “Mensalão”.  Se a hipótese da agenda setting for correta, o que chamamos de “realidade” poderia ser uma construção a partir de percepções...

segunda-feira, novembro 12, 2012

Os idosos nada têm a dizer na mídia

Quando o envelhecimento e a morte deixam de ser simbolicamente incorporados na cultura por meio de religiões e filosofias, o discurso midiático parece insistentemente querer demonstrar que a velhice não existe, que é tudo uma questão de atitude psicológica. Gerontologia, geriatria, engenharia genética e todo um aparato tecno-científico é atualmente mobilizado para, associado à mídia, apresentar sensacionais “lições de vida” e “superações”: idosos em praticas e comportamentos análogos ao dos jovens criando não apenas uma aversão aos processos naturais de envelhecimento mas, principalmente, a crise da função dos idosos como “elo geracional”: a transmissão de sabedoria e conhecimento acumulados em uma existênci...

sábado, novembro 10, 2012

Sintoma e verdade nos zumbis

Por que pessoas fingem-se de mortos que se arrastam pelos centros urbanos do mundo, famintas por cérebros e sangue dos vivos? Como interpretar um flash mob como o “Zombie Walk” onde centenas de pessoas se transformam em realísticos zumbis, há onze anos espalhando-se por diversas capitais do mundo? Desde as lendas afro-caribenhas de pessoas que retornam do mundo dos mortos como assustadoras sombras de si mesmas até a recorrência dos mortos vivos no cinema, o fascínio pelos zumbis já produziu uma razoável bibliografia de pesquisadores que chegam a vê-los como um objeto de estudo etnográfico. Mas é inegável que os mitos e lendas dos zumbis possuem uma dupla dimensão: de um lado são sintomas de crises sociais e, do outro, possuem um momento de...

quinta-feira, novembro 08, 2012

O espelho global no safári africano do Tocantins

O projeto de um parque temático milionário em pleno Tocantins (Out of África Brasil) promete trazer leões, rinocerontes, antílopes, entre outros, das savanas africanas para um safári no cerrado brasileiro. Definitivamente o Brasil se insere no imaginário da Globalização onde eventos, geografias e culturas se desterritorializam para circular pelo mundo ao sabor dos fluxos financeiros e midiáticos. Nesse imaginário os simulacros do “real” e do “selvagem” parecem ter uma única função: tal qual uma transfusão de sangue, injetar hiper-realidade em um real cujo sentido se enfraquece - o “selvagem” se humaniza como um espelho da nossa própria desumanidade: o parque temático selvagem torna-se mais “real” quanto mais é centrado no “show” da luta dos predadores...

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