quinta-feira, outubro 20, 2022
'O Telefone do Sr. Harrigan': há certas ligações que jamais podem ser atendidas
segunda-feira, outubro 17, 2022
Timing perfeito do TSE salva o debate de domingo e agenda da grande mídia para segundo turno
Quem ganhou o debate da Band? Lula? Bolsonaro? Não, foi o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, que salvou o dia com um timing perfeito: depois de uma live de Bolsonaro no início da madrugada, rouco e consternado, horas antes do debate domingo o ministro determinou a exclusão do vídeo do “pintou o clima” e de que os petistas “se abstivessem de novas manifestações”. Tudo que a mídia hegemônica quer é manter um contexto de estabilidade e que os debates apenas retroalimentem a agenda dominante (pandemia, corrupção etc.), sem intromissões ou surpresas. Como o “efeito Janones”, por exemplo. Manter um quadro de estabilidade com números de pesquisas que pouco mudem. É bom ficarmos atentos ao jogo de freios e contrapesos para manter um quadro diversionista de uma suposta estabilidade. Desviando a atenção das anomalias que levaram a eleição ao segundo turno... e que poderão se repetir.
Debates políticos na TV pode se tratar de tudo, menos de aprofundar propostas ou um livre debate de ideias. Pelo menos não quando alguém tem um minuto e meio para responder uma pergunta feita por jornalistas ou correr contra o cronômetro para tentar reverter bordões, silogismos falaciosos, acusações e bravatas do adversário. Especialmente quando se tem pela frente estratégias de comunicação alt-right, especializadas em desautorizar o interlocutor através do cinismo.
As fórmulas dos debates televisivos são especialmente criadas para favorecer franco atiradores, com suas lacrações e mitadas, matéria-prima para posteriores clipes que serão repercutidos nas redes sociais. Mas principalmente, as fórmulas são criadas para desgastar o primeiro colocado nas pesquisas eleitorais. Principalmente num segundo turno, quando todas as expectativas estão voltadas em saber se aquele que está atrás nas pesquisas poderá virar o jogo.
Em outras palavras, debate na TV é torcida e “secação” do adversário.
E para a grande mídia, a oportunidade de manter o controle da narrativa, escolhendo perguntas ou dividindo o debate em blocos de temas que, por fim, retroalimentam tautisticamente a agenda imposta pelo próprio jornalismo corporativo. As únicas “surpresas” toleradas em debates são gafes (incapacidade do candidato de lidar com a linguagem televisiva) ou falácias articuladas como fossem graves denúncias.
No todo, deve manter intocada a narrativa. Principalmente num momento em que o PT está sob o “efeito Janones” desafiando a grande mídia: passou a jogar no mesmo campo simbólico da extrema direita, saindo dos trilhos do “PT parlamentar” ou do “PT jurídico” - o trilho da ideologia midiática de que o único antídoto contra fake news é a informação, a “verdade”, e o combate institucional contra as mentiras através dos canais legais.
Por isso, o grande vencedor do debate na Band foi o ministro do TSE Alexandre de Moraes. Com o The Last Minute Rescue de mandar retirar das redes o vídeo postado pelo PT que sugeria pedofilia na fala de Bolsonaro sobre venezuelanas menores de idade, “Xandão” evitou que a narrativa do debate fosse deixada nas mãos do imponderável. Isto é, de que a Band (e de resto, o jornalismo corporativo) perdesse o controle da narrativa – perda dos mecanismos de freio e contrapeso através da agenda restrita aos temas da Pandemia, Corrupção, Responsabilidade Fiscal, Orçamento Secreto e Fake News.
Certamente a equipe de Bolsonaro temia o descontrole do candidato no debate: o tema poderia dominar com um efeito desestabilizador para o chefe do Executivo. A live que ele fez no início da madrugada desse domingo, rouco e com a fisionomia crispada, tentando se defender de um “ataque feito com um vídeo que pega um pedaço e inverte tudo isso”, já prenunciava um debate na TV em que o presidente já entraria em desvantagem.
Mas o ministro Alexandre de Moraes (notório pelos seus coreografados telecatchs com o presidente para tocar o terror da “crise entre podres”), no final da tarde (timing prfeito!), deu sua decisão, diminuindo o estrago da fala e fazendo o candidato entrar autoconfiante no cenário de estilo metaverso do debate da Band.
Moro e as pastas de Collor
Mas não ficou por isso. Em vingança, a equipe de Bolsonaro leva o ex-juiz e ex-desafeto de Bolsonaro eleito ao senado, Sérgio Moro, como uma espécie de assessor para temas relativos à corrupção do PT – lembram do controle da narrativa?
Parece que a presença de Bolsonaro teve o mesmo efeito daquelas famosas pastas verdes e amarelas (recheadas de folhas em branco) que Collor levou ao debate da Globo de 1989, sugerindo que poderia disparar a qualquer momento uma bala de prata. Para desestabilizar emocionalmente o oponente.
Criados os freios e contrapesos, foram garantidas as condições seguras para a grande mídia manter o controle da narrativa.
Se não, vejamos. Como sempre, o rescaldo do debate foi polissêmico: a extrema direita diz que Bolsonaro ganhou, e por nocaute. Os progressistas mais pessimistas dizem que deu empate. E a esquerda mais otimista afirma que Lula ganhou, mas por pontos.
Assim como as mais de 700 pesquisas desse ano sempre apontaram para números estáveis, sugerindo um leitor já decidido (para tudo virar do avesso nos resultados do primeiro turno, depois de uma série de anomalias – clique aqui), também todos os debates promovidos até aqui renderam interpretações polissêmicas.
Pudera! Sempre os temas mais palpitantes para a opinião pública são deixados de fora para ficar na narrativa monofásica com os temas listados acima. Ou, no máximo, colocar um padre fake como estratégia diversionista.
Assim como, horas antes do debate, um acontecimento palpitante que revelava muito do modus operandi e caráter da extrema direita (a bucha de canhão do “Projeto de Nação” do PMiG – Partido Militar Golpista) foi deixado de fora pela ação do “Xandão do telecatch” que, dessa maneira, salvou o dia.
Colonistas uníssonos
Enquanto no espectro político dominava a polissemia, no campo dos “colonistas” do jornalismo corporativo a interpretação foi, ao contrário, uníssona: Lula ganhou no bloco sobre a pandemia, empatou nas perguntas dos jornalistas e perdeu de goleada no bloco sobre corrupção – supostamente Lula não soube aproveitar seu banco de minutos, deixando mais de cinco minutos livres para Bolsonaro fazer um monólogo. Essa foi a interpretação de dez em cada dez.
Acredito que isso foi deliberado na estratégia de Lula: tentou reverter os previsíveis argumentos de corrupção (mensalão, petrolão etc.) com poucas interrupções, contando ao final com a esperada desarticulação de Bolsonaro em falas longas (frases desescosturadas recheadas de ofensas) que poderiam render pedidos de repostas – Lula ficou frustrado, pois esperava pelo menos dois pedidos aprovados. Apenas contou com um direito de resposta.
Afinal, por que a interpretação dos “colonistas” ficou tão uníssona? Porque o debate rendeu o feedback tautista que mantém a grande mídia no controle narrativo: confirmou a agenda – Lula ganhou no primeiro bloco porque fez o “match” com a as críticas ao negacionismo feitas pela mídia corporativa contra Bolsonaro durante toda a pandemia.
E perdeu para Bolsonaro no bloco sobre corrupção porque, por sua vez, o presidente fez o “match” com todos os bordões criados pela grande mídia no período do jornalismo de guerra: “mensalão”, “o petrolão”, “o maior esquema de corrupção da história” etc. A fala de Bolsonaro, como sempre, foi um pot-pourri fragmentado e apoplético daquilo que a mídia ceivou com muito esmero.
Nesse tema, Lula está condenado a nunca mais ser inocente. Não importa se a Justiça, a ONU, o Papa o absolvam. Não importa o que fale ou a estratégia que utilize: depois de anos de guerra híbrida, “corrupção do PT” virou um meme autoimune, isto é, blindado a qualquer contra-argumento. Porque um meme autoimune não é um argumento: já está no campo da pós-verdade, é evidente por si mesmo.
Ou seja, Alexandre de Moraes foi o freio. E o tema da corrupção (depois os colonistas reclamam que não se discute “propostas”) o contrapeso.
Está claro que o plano geral com esses freios e contrapesos é manter um cenário estático e conter quaisquer surpresas que por acaso surjam – como o “efeito Janones”, o bateu-tomou como cura contra fake news, ao invés da “informação profissional” do jornalismo corporativo.
Mas porque a grande mídia quer tanto manter o cenário de estabilidade, sempre com uma pequena vantagem para Lula nas pesquisas? Será uma estratégia diversionista? Levando-se em conta as estranhas anomalias no primeiro turno por trás da verdadeira ducha de água fria no PT.
É bom ficarmos atentos ao jogo de freios e contrapesos que objetiva manter um quadro diversionista de uma suposta estabilidade. Desviando a atenção das anomalias que levaram a eleição ao segundo turno... e que poderão se repetir.
sábado, outubro 15, 2022
Live Cinegnose 360: Amy Winehouse, cinco indícios de que Bitcoin é uma religião e oito anomalias eleitorais
Fake news, golpes baixo, padre vaiado e ex-ministra assustando criancinhas... Mas aqui na Live Cinegnose 360 jogamos limpo na edição #77, nesse domingo (16/10), às 18h, no YouTube. Que começa com Amy Winehouse: a “perfeita cantora de sucesso” da indústria cultural. Na sessão de cinema e audiovisual vamos analisar o filme “Não Se Preocupe, Querida” (mais um filme da Era Joe Biden com a melancolia e resignação identitária) e “Salve-se Quem Puder!” (será que dá para vencer aliens sem smartphones, tutoriais, aplicativos e Google?). Cinco evidências de que as Bitcoins são uma religião e a próxima explosão de bolha financeira. E na quentíssima crítica midiática: Damares Alves é porta voz do QAnon no Brasil; Grande mídia bomba o balão quente das boas notícias econômicas; Depois do mercado, jornalismo corporativo arrasta Lula para a “Guerra Santa”; “Projeto Nação” do PMiG prevê militares no poder até 2035: será que a profecia de Jorge Bornhausen se cumprirá?; Mídia em pânico: esquerda decide lutar no mesmo campo simbólico da extrema direita; Oito anomalias eleitorais do primeiro turno.
sexta-feira, outubro 14, 2022
Mídia em pânico tenta minimizar 'efeito Janones' e oito anomalias eleitorais
quinta-feira, outubro 13, 2022
Filme 'Salve-se Quem Puder!': como vencer aliens sem smartphones, tutorial, aplicativo e Google?
Um jovem casal millennial, viciado em smartphones e que passa mais tempo falando com a IA Alexa do que conversando entre si, decide ser “seres humanos melhores”: ficar uma semana desconectados em uma cabana numa floresta remota, para recuperarem a intimidade perdida. Mas ficam alheios ao início de uma bizarra invasão alienígena que começa a ameaçar os arredores. Como combater aliens sem um aplicativo, tutorial ou a busca do Google? Esse é o hilário argumento da comédia “Salve-se Quem Puder!” (Save Yourselves!, 2020), um crítica bem humorada da geração millennial, a geração mais tecnológica e midiatizada da História.
quarta-feira, outubro 12, 2022
Melancolia e Resignação identitária no filme 'Não Se Preocupe, Querida'
Certa vez o pensador francês Jean Baudrillard falou que o filme “Matrix” era uma produção que a própria Matrix faria sobre si mesma. Algo parecido poderíamos dizer de “Não Se Preocupe, Querida” (Don't Worry Darling, 2022): um filme que a própria Era Joe Biden faria para si mesma. Segundo longa-metragem dirigido por Olivia Wilde, a crítica vem definindo-o como um mix de “Mad Men” com “Corra”. Acrescentaríamos mais: lembra um “Show de Truman”, porém com a melancolia e resignação da agenda identitária bancada pelos “novos democratas” do neoliberalismo progressista: Capitalismo? Ok! Desde que gerido não mais por homens sexistas e misóginos. Acompanhamos Alice, uma dona de casa em um subúrbio idílico sob o sol da Califórnia do sonho americano da década de 1950. Tudo é perfeito, com elegantes maridos que voltam do trabalho e festas incríveis regadas a martini. Enquanto as mulheres sabem muito bem qual é o seu lugar numa sociedade machista. Tudo é tão perfeito e hiper-real que algo parece estar muito errado. Esse será o buraco da toca do coelho no qual Alice entrará para encontrar uma estranha realidade.
domingo, outubro 09, 2022
Chico Science e o Manguebeat, a Teoria da Internet Morta e anomalias eletrônicas eleitorais. É na Live de domingo
Num país dividido, passe para o lado de cá, o lado da Live Cinegnose 360 #76, nesse domingo (09/10), às 18h, no YouTube. Depois dos Comentários Aleatórios que abre toda Live, na sessão híbrida CD/Vinil vamos conversar sobre Chico Science e o movimento Manguebeat: a parabólica na lama da Globalização. Depois, vamos analisar os filmes “Vortex” (Gaspar Noé volta-se para a velhice e a morte) e “A Noiva” (os mistérios esotéricos que envolvem a fotografia). A Teoria da Internet morta: será que a WWW morreu em algum momento entre 2016 e 2017? E na crítica midiática, a crônica de um país dividido: será que foi operada uma PsyOp de violência política em Itanhaém/SP?; o alerta de Noam Chomsky para a esquerda brasileira; a bomba semiótica da Maçonaria; a chantagem da Faria Lima: Lula deve “caminhar para o Centro”; grande mídia turbina os “apoios” a Bolsonaro; depois do “apagão” institutos de pesquisa “ajustam” os números pró-Bolsonaro; urnas eletrônicas e anomalias: “tem caroço nesse angu”. Vamos todos conspirar na Live Cinegnose 360!
sábado, outubro 08, 2022
A invenção misteriosa e esotérica da fotografia no filme 'A Noiva'
Desde o início, com a invenção do daguerreótipo, a fotografia esteve envolvida com o misterioso e o esotérico: afinal, em todas as culturas, ver o próprio duplo é um evento misterioso podendo até mesmo ser o prenúncio da morte. Com a fotografia, para começar, a possibilidade de ter a própria alma roubada. E na Rússia? Onde a Ciência e antigas crenças conviveram no período czarista. Esse é o universo que inspira o terror russo “A Noiva” (Nevesta, 2017): uma garota está prestes a se casar com seu namorado e é levada por ele para conhecer sua família numa região remota que parece ter parado no tempo. Uma família de gerações de fotógrafos, especializados em fotografar mortos, antiga crença de que isso os manteria vivos. Logo será incomodada com a estranheza dos seus anfitriões: algum tipo de experimento deve ter saído do controle em algum momento da história daquela família.
sexta-feira, outubro 07, 2022
Primeiro turno: urnas eletrônicas, anomalias e o buzz "tem caroço nesse angu"
Ocorreram nas eleições de domingo, por assim dizer, “anomalias” que foram um verdadeiro jato de água fria na esquerda. Para começar, discrepâncias entre a realidade e os números dos institutos de pesquisa. Meio timidamente (afinal, temem ser confundidos com o discurso da extrema-direita) perfis progressistas nas redes sociais e artigos na mídia alternativa começaram a demonstrar a estranheza diante dos resultados. “Tem caroço nesse angu”, era uma expressão que começou a pipocar aqui e ali. Surpreendentemente, Bolsonaro parecia ter recebido bem as apurações do TSE, agora voltando seu ceticismo contra as pesquisas “mentirosas”. Como se espera da lógica semiótica alt-right, assim que percebeu o “buzz” nas redes progressistas, imediatamente voltou a atacar as apurações, comparando-as às de 2014 que deram vitória a Dilma Rousseff. Antes que a esquerda avançasse o sinal, tratou de voltar a se apropriar da pauta. O que há por trás dessa estratégia semiótica?
quarta-feira, outubro 05, 2022
Em 'Vortex' a velhice e a morte são os grandes equalizadores da existência
Depois de filmes como “Irreversível”, “Enter the Void” e “Climax”, com perturbadoras cenas de violência sexual, extremos afetivos e lisérgicos, dessa vez o diretor franco-argentino Gaspar Noé volta-se para o tema da velhice e decrepitude física e mental em “Vortex” (2021, estreou no MUBI Brasil). Um casal de idosos passa seus dias em um apartamento labiríntico em Paris, cercado de objetos, pôsteres e livros, memórias de um passado de radicalismo político e engajamento intelectual. Aqui, a velhice e a espera da morte são grandes equalizadores existenciais - não importa quem você é ou foi. Sem exceção, todos estão indo na mesma direção. E todos os nossos índices das memórias e realizações serão deixados como testemunhos que deveriam ser duradouros. Mas numa sociedade em que o elo geracional se quebra, esses índices do passado estão condenados a se tornarem tão efêmeros quanto a nossa passagem por esse mundo.
sábado, outubro 01, 2022
Depois do voto: Itamar Assumpção, um Trickster na ditadura; smartphones e Walter Benjamin e apuração dos votos comentada
Depois do transe eleitoral, nada melhor do que participar da Live Cinegnose 360 para ver no que deu. Na edição #75, nesse domingo (02/10), às 18h, no YouTube, vamos acompanhar e comentar ao vivo as apurações. Mas antes, na sessão híbrida CD/Vinil, vamos conversar sobre Itamar Assumpção é a Vanguarda Paulista: Nego Dito, um Trickster no final da ditadura militar. Depois, vamos analisar o filme “A Mulher Rei” (a “Smoking Gun” da Era Joe Biden) e o sci-fi brasileiro “Branco Sai, Preto Fica” (eterno retorno e hipo-utopia na realidade brasileira). Mas também precisamos falar de smartphones: o que Charles Baudelarie e Walter Benjamin diriam desses dispositivos. E a crítica midiática da semana: o fascismo na Itália que Fernando Gabeira e os EUA adoram; a “bala de prata” do debate na Globo e... vamos acompanhar e comentar as apurações! Este humilde blogueiro espera os cinegnósticos nesse domingo.
sexta-feira, setembro 30, 2022
Debate da Globo tenta abduzir Lula e dar pernas à terceira via para forçar segundo turno
Não é por menos que sempre o último debate antes da eleição ocorre na maior emissora do País, a Globo – emissora com maior audiência, é sempre a janela de oportunidade para a “bala de prata”: a criação de um acontecimento que controle o cenário eleitoral, seja com um freio ou um contrapeso. Pela primeira vez a “Terceira Via” atuou em casa, ou seja, na emissora que a criou e deu pernas. Para gerar o contrapeso que impeça a vitória de Lula no primeiro turno. Aquilo que foi esboçado no debate da Band, na Globo foi colocado exponencialmente em prática: abduzir Lula para o ciclo vicioso de ataques e pedidos de resposta, enquanto Tebet, Soraya e D’Ávila olhavam para a câmera, balançando a cabeça e se queixando da “polarização” que impede “propostas”. Além do chefe do Executivo poder contar com um alter ego, o simulacro de padre chamado “Kelmon”, fazendo o trabalho “hard” para Bolsonaro poder falar mais mansinho. Para a Globo, ficou um farto material para uma possível edição “matadora” às vésperas da eleição.
quinta-feira, setembro 29, 2022
O smartphone matou a experiência urbana do flâneur
Já se tornou um lugar-comum na paisagem urbana: pessoas caminhando, sentadas em pontos de ônibus ou em terraços de café ou bares com as costas curvadas, cabeça inclinada e olhares fixos para a tela do smartphone. As nossas vidas nas bolhas das redes sociais e nos aplicativos de mensagens instantâneas nos obriga a olhar para baixo, blindando-nos de “felizes acidentes”, o acaso, o espanto, insight, a experiência do sublime ou mesmo inspiração poética no espaço real das ruas e parques. Em síntese, a experiência urbana do flâneur, tão enaltecida tanto por Charles Baudelaire quanto pelo filósofo Walter Benjamin como o personagem que fazia ponto crítico ao capitalismo, por estar no contrafluxo, resistindo à disciplina. Mas o capitalismo não pode tolerar tempo e espaço livres. A indústria cultural foi o primeiro passo para a disciplina do tempo livre. Depois, inventaram o smartphone.
quarta-feira, setembro 28, 2022
Filme 'A Mulher Rei' é a 'smoking gun' da Era Joe Biden
Sempre soubemos que Hollywood é o braço ideológico do império americano. Principalmente quando suas produções entram no terreno da História: começam a torcer os fatos para que se transformem em contos morais que justifiquem as agendas políticas do presente. O filme “A Mulher Rei” (The Woman King, 2022) é o mais novo exemplo, mas com uma torção histórica tão exagerada que virou a verdadeira “smoking gun” (objeto ou fato que serve como prova conclusiva de um crime) da propaganda política da Era Joe Biden – que acabou gerando um crescente movimento de boicote ao filme nos EUA: “#BoycottWomanKing”. O filme transforma o Reino de Daomé e seu exército de amazonas “Agojies” em um libelo do empoderamento feminino e da luta racial (historicamente, a violenta economia de Daomé era baseada na captura e comercialização de escravos para o tráfico europeu). “A Mulher Rei” é uma peça de propaganda dos chamados “Novos Democratas”, cujo apoio aos movimentos identitários serve para “colorir” a geopolítica do “Big Stick” ("Grande Porrete"), vigente desde a Era Roosevelt.
sábado, setembro 24, 2022
Nesse domingo, The Doors e PsyOp hippie, Las Vegas, Rosswell e crítica midiática: o custo semiótico da vitória de Lula
Faltando uma semana para o fim, quer dizer... as eleições, a Live Cinegnose 360 #74 desse domingo (25/09), às 18h, no YouTube, vai ter vinis, filmes, o incidente de Rosswell, Las Vegas, Gnosticismo e... Crítica Midiática. Na sessão clássica dos vinis, The Doors: será que Jim Morrison foi a “laranja mecânica” da PsyOp dos hippies? Depois, os filmes “Rubikon” (a hipo-utopia de um planeta totalmente privatizado) e “Land of Dreams” (o olhar lynchiano para o sonho americano de uma dupla de cineastas iranianos). E aprofundando o tema de “Land of Dreams”, vamos mergulhar nos arquétipos contemporâneos irradiados para o mundo pelos EUA, iniciados por três eventos seminais no Deserto de Nevada: Las Vegas, a bomba atômica e Rosswell. Na crítica midiática: grande mídia passa pano no voto de cabresto corporativo em Itapecerica da Serra/SP; Steven Levitsky no Roda Viva; grande mídia aceitará vitória de Lula, mas com alto custo semiótico; o caso Ciro Gomes e a estratégia alt-right de comunicação... e outras bombinhas semióticas. É tudo nesse domingo!
Grande mídia quer aceitar vitória de Lula com custo semiótico o mais alto possível
Diante de uma bancada de “isentões” que acreditam estar vivendo num processo eleitoral absolutamente normal, no “Roda Viva” da TV Cultura, o cientista político Steven Levitsky, autor do livro “Como as Democracias Morrem”, pediu que os brasileiros “acordem”. Para evitar uma crise, seria necessário “uma oposição massiva e uma vitória no primeiro turno”. O oposto da atual estratégia do jornalismo corporativo: dentro do script da “normalidade” que executa, agora os “colonistas” defendem um “debate transparente com propostas”. Falam que a polarização está impedindo um “debate com propostas” e numa vinheta os apresentadores do JN aparecem folheando as páginas da Constituição. Jogo de cena para dar pernas à “terceira via” e arrastar a eleição para o segundo turno. No qual será cobrado um custo semiótico o mais alto possível à vitória de Lula.
sexta-feira, setembro 23, 2022
A hipo-utopia de 'Rubikon': o futuro já está entre nós
Hipo-utopia: diferentes das distopias que imaginam mundos futuros totalitários com tecnologias e sociedades tão inéditas que se diferem das atuais, nas hipo-utopias vemos as tendências e mazelas atuais projetadas no futuro de forma hiperbólica. É o caso do filme austríaco “Rubikon” (2022) no qual vemos um futuro que é uma versão degradada e perversa do mundo que conhecemos. Em 2056 países e governos foram extintos, e cada região da Terra foi tomado e dividido entre corporações gigantes, cada qual com seu exército. Ricos escapam de uma atmosfera terrestre que virou tóxica enquanto a maioria luta para não morrer. Em uma estação espacial privada na órbita terrestre cientistas cultivam algas que produzem oxigênio. Dilema moral: entregam a descoberta para a empresa e salvam uma sociedade perversa ou assistem de camarote a erradicação da raça humana da superfície terrestre.
quarta-feira, setembro 21, 2022
Filme 'Land of Dreams': qual foi seu último sonho?
Os EUA irradiaram para todo o planeta uma autoimagem que mistura realidade e ficção, a tal ponto que a ilusão parece sempre preceder a realidade. Só um estrangeiro para entender a dinâmica onírica dessa nação. Ou melhor, dois estrangeiros: a dupla de cineastas iranianos Shirin Neshat e Shoja Azari, que dirigiu e adaptou um roteiro de Jean-Claude Carrière, colaborador de longa data de Luis Buñuel. É o filme “Land of Dreams” (2021) que acompanha uma recenseadora do US Census Bureau que faz uma pergunta inusitada aos entrevistados: qual foi seu último sonho? Além de querer entender o porquê de o Estado Profundo estar tão interessado em colecionar os sonhos dos cidadãos, o filme faz um mergulho no imaginário dos EUA. "Land of Dreams" não esconde suas intenções políticas: mostrar um país construído por imigrantes que se tornaram invisíveis.
domingo, setembro 18, 2022
Live Cinegnose: Mamonas Assassinas e o Plano Real, como combater fake news e crítica midiática da semana
Depois de uma semana inteira de propaganda política e bombas semióticas explodindo por aí, venha fazer um detox mental na Live Cinegnose 360 #73, nesse domingo (18/09), às 18h, no YouTube. Nesse domingo, mais uma sessão híbrida vinil/CD com o fenômeno brasileiro “Mamonas Assassinas”: a Teoria da Classe Ociosa de Thorstein Veblen e a MPB no auge do Plano Real. Vamos também discutir os filmes “A Garota Ideal” (Pets, boneca sexual inflável e multidão solitária) e “O Preço do Amanhã” (controle do Tempo é poder). Depois, vamos terminar a série sobre a classe média, estudando o seu papel na guerra híbrida brasileira. Na crítica midiática: a inutilidade do combate contra fake news ao confundir informação e comunicação; Por que as pesquisas eleitorais estão apresentando resultados tão divergentes? A bomba semiótica da violência e do medo na política; o “match” da grande mídia com Bolsonaro na propaganda política; Bolsonaro e TV Globo: “eu sei o que vocês fizeram no verão passado”; o “apito de cachorro” no caso da jornalista Vera Magalhães.
sábado, setembro 17, 2022
Mito da informação e fake news: como grande mídia confunde comunicação com informação
Agências de checagem, projetos de educação midiática em escolas públicas da periferia e nos grupos de WhatsApp, além da cada vez maior judicialização da política. Tudo apoiado pela grande mídia que acredita que o único antídoto para fake news é a informação. Pudera! É o produto que ela vende. E seu marketing é o mito da informação: a ingênua crença propagada para o distinto público de que a informação verdadeira é a única forma para combater a mentira. Do ponto de vista da ciência da Comunicação é um esforço inútil, porque há um mal-entendido conceitual: confundir os conceitos de sinalização, informação e comunicação. Fake news são fenômenos comunicacionais, enquanto as metodologias de checagem e apuração estão no campo da informação. Como combater um acontecimento comunicacional com informação? Como enfrentar um acontecimento a priori com uma informação a posteriori? Com o mito da informação grande mídia quer ocultar a causa de todas as fake news: a privatização da esfera pública.
quinta-feira, setembro 15, 2022
'O Preço do Amanhã': a imortalidade de poucos implica na mortalidade de muitos
Sempre ouvimos falar que Tempo é dinheiro. Com a financeirização do capital e a crescente utilização do dinheiro eletrônico e digital no lugar do papel-moeda, esse provérbio torna-se cada vez mais metafórico: não se trata mais tanto de dinheiro, mas da logística do Tempo – quanto mais rápido, maior oportunidade de lucros no cassino global em que se transformou o Capitalismo. Mas ainda temos que manipular signos do dinheiro (títulos, ações etc.). Mas, e se o próprio Tempo em si virar uma moeda acumulável e estocável? Esse é o intrigante argumento de “O Preço do Amanhã” (In Time, 2011), num futuro em que a imortalidade de poucos implica na mortalidade de muitos: uma elite consegue estocar séculos de Tempo, tornando-se virtualmente imortal, enquanto a maioria corre da morte (contada retroativamente num relógio subcutâneo), lutando para ganhar Tempo, seja através do salário, doações ou empréstimos. Nova forma de Capitalismo em que o Tempo vira moeda de especulação, reprodução da desigualdade e controle populacional.
quarta-feira, setembro 14, 2022
Boneca sexual, multidão solitária e alienação no filme 'A Garota Ideal'
sábado, setembro 10, 2022
Detox do domingo: Jungle Music, o gnóstico 'Liquid Sky', o gato no telhado do Brasil e pânico semiótico da mídia
Depois do Sete de Setembro, nada melhor do que fazer um detox na Live Cinegnose 360 #72, nesse domingo (11/09), às 18h, no YouTube. Para esquentar, uma seção híbrida CD/vinil com jungle music de Shy-FX e Uk Apache: luta de classes, racismo e gentrificação musical. Depois, vamos discutir os filmes “O Grande Hotel Budapeste” (o estranho imaginário dos hotéis no cinema) e “Liquid Sky” (mitologia gnóstica pop de sexo, drogas e euforia). Em seguida, vamos continuar dissecando o imaginário da classe média, agora no cinema e audiovisual. Na crítica midiática da semana, filme “No” e a derrota da esquerda no plebiscito chileno: o gato subiu no telhado? O Sete de Setembro e a estratégia de apropriação semiótica alt-right; a morte da Rainha Elizabeth e o pânico semiótico do jornalismo corporativo e mais... é o detox mental de todo domingo!