domingo, março 22, 2020
Coronavírus e o "sonho erótico totalitário": jornalismo no álcool em gel, panelas e papel higiênico
domingo, março 22, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quando, depois de mais de um ano de governo Bolsonaro, jornalistas do canal Globo News conseguem finalmente ligar lé com cré (admitir que as declarações do presidente não são “polêmicas” mas propositais) é porque realmente vivemos momentos muito especiais – bairros de classe média que votaram pesado no “17” agora batem panela gritando “Fora Bolsonaro!”, enquanto papel higiênico e máscaras desaparecem num típico comportamento irracional de psicologia das multidões. Além de assistirmos a um jornalismo asséptico, mergulhado no álcool em gel: fala em “solidariedade” enquanto ignora a distribuição desigual dos prejuízos. Para começar, dos mercados financeiros em relação à economia real. Essas são facetas da Pandemia do Coronavírus, revelando sua natureza de “domínio total de espectro”. Aquilo que, segundo o filósofo Slajov Zizek, representa “o sonho erótico de qualquer regime totalitário”. Não sejamos ingênuos semióticos: uma coisa é a ameaçadora mutação viral do novo coronavírus. Outra, é quando essa mutação vira um signo midiático, o sonho de qualquer regime totalitário.
sexta-feira, março 20, 2020
Os círculos dos vivos e dos mortos no horror sul-africano "8"
sexta-feira, março 20, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“8” (2019) é um horror sul-africano que foge totalmente os cânones do horror e do gótico euro-hollywood cêntrico. A partir da tensão racial como pano de fundo (os eventos ocorrem no auge do apartheid nos anos 1970) uma família branca é assombrada pela mitologia ancestral negra sul-africana, fugindo do tradicional maniqueísmo do gênero e figurar o confronto do Bem e Mal, Vida e Morte dentro dos ciclos da Natureza – a Morte capaz de tirar a vida, mas também capaz de criar vida. E o simbolismo mágico do número oito: o símbolo do infinito e do constante fluxo de energia. No caso do filme, o infinito intercâmbio entre vida e morte. O número que consiste em dois círculos ou anéis que se interligam e interagem: o mundo dos vivos e dos mortos. Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.
domingo, março 15, 2020
Coronavírus: circuit breaker político, engenharia social e domínio de espectro total
domingo, março 15, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Enquanto a grande mídia ocidental sustenta a narrativa de que o epicentro da Pandemia do COVID-19 estave numa feira de rua suja e úmida na China, reportagens da mídia do Japão e Taiwan começam a levantar evidências de que esse novo coronavírus teria sua origem nos EUA. Isso depois do repentino fechamento no ano passado de um laboratório de armas biológicas em Maryland, por ausência de salvaguardas contra vazamentos patógenos. Em seguida ocorreram crises de “fibrose pulmonar” nos EUA, cuja culpa foi colocada nos cigarros eletrônicos. Juntamente com a “coincidência” da realização dos Jogos Mundiais Militares em Wuhan pouco tempo antes da eclosão da crise, provavelmente o “Evento do Cornavírus” entrará para a História como um dos maiores eventos de engenharia social da humanidade. Marcará o início de uma nova era da biopolítica e bioeconomia: “circuit brakers” que extrapolam a simples ferramenta de frear um mercado financeiro em crise – uma nova forma de consenso social ao colocar todo o cotidiano dos indivíduos e cenários políticos em suspensão. Uma gigantesca “psy op” para criar o cenário geopolítico perfeito de “domínio total de espectro”.
sábado, março 14, 2020
Série "Rick e Morty": qual bateria o nosso universo alimenta?
sábado, março 14, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Rick and Morty (2013-) é uma das séries de animação atuais que mais explora a complexidade da mitologia gnóstica. Mas não apenas como um simples sci-fy: fã da dupla Doc e Marty do filme clássico “De Volta Para o Futuro”, o criador Justin Roiland queria fazer uma releitura, mas sem viagens no tempo e indo mais além - como a descoberta de infinitos planetas e multiversos (às vezes com versões melhoradas de nós mesmos) nos leva à amoralidade, o niilismo e o relativismo existencial. Mas é no episódio “The Ricks Must Be Crazy” que a série consegue materializar a totalidade da cosmologia gnóstica: mundos dentro de mundos criados com uma única finalidade – manter a bateria do veículo de Rick funcionando. E o nosso mundo, gera energia para quem? Teurgia, Alquimia e Vale do Silício se encontram num dos melhores episódios da série.
domingo, março 08, 2020
Curta da Semana: "Mobile" - a urgência "glocal" do telefone celular
domingo, março 08, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nossos dispositivos tecnológicos são cada vez mais “glocais”: o contraste entre o global e o local acaba desaparecendo e se fundindo no tempo real das redes digitais. E o celular é o dispositivo que mais captura essa natureza ao mesmo tempo dicotômica e ubíqua. Tudo ao mesmo tempo tão longe e tão perto, o que traz o imperativo moral de não mais ignorarmos crises humanitárias, sociais e políticas, cada vez mais “glocais”. “Mobile” (2018), do diretor norueguês Truls Krane Meby, traz essa discussão sobre as novas tecnologias de comunicação ao narrar o drama de um jovem refugiado sírio estabelecido na Noruega. Tendo o celular como única ferramenta para ajudar sua família, em situação de perigo na fronteira dos Balcãs.
sábado, março 07, 2020
O preço perigoso das tecnologias do espírito no filme "Perfect"
sábado, março 07, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Estreando em longas metragens, o diretor Eddie Alcazar faz uma extrapolação alucinatória das tendências atuais do aprimoramento cosmético do autoconhecimento através de uma viagem sensorial que combina ficção científica com horror corporal ao estilo Cronenberg. “Perfect” (2019) é um filme que lembra a narrativa sensorial e abstrata de “Mãe!” (2017) de Darren Aronofsky, no qual a viagem interior do protagonista combina com arquétipos e mitologias gnósticas. Um jovem psiquicamente perturbado é enviado para uma clínica com sofisticada tecnologia de reprogramação mental através de “implantes microbiônicos” no corpo do paciente, descobrindo da pior maneira possível o preço da “pureza da mente”. As atuais tecnologias do espírito prometem o sucesso ilimitado do autoconhecimento. Mas a viagem interior pode encontrar os mais perigosos instintos que ligam às nossas origens ancestrais.
quinta-feira, março 05, 2020
Coronavírus: quem está ganhando com a simulação de pandemia?
quinta-feira, março 05, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Não é motivo para pânico”, afirma a infectologista, enquanto o efeito de cenário virtual mostra dois gigantescos modelos 3D do novo coronavírus girando no estúdio, como se ameaçassem jornalista e entrevistados. Esse flagrante no Fantástico da Globo é o padrão recorrente da atual cobertura da ameaça de pandemia: a presunção da catástrofe induzida por uma narrativa ambígua que gera confusão e medo. Igual as chamadas “fake news”, o álibi da grande mídia para se livrar de qualquer suspeita. Por que essa ambiguidade deliberada? Quem está ganhando? Talvez a resposta esteja lá em outubro de 2019, no “Event 201 - A Global Pandemic Exercise” realizado no Johns Hopkins Center for Health Security, Baltimore. DOIS MESES ANTES da atual crise, o evento realizou uma simulação cuidadosamente projetada de uma possível epidemia de coronavírus, então chamado de “nCoV-2019” – muito próximo do acrônimo atual. Seguindo o mesmo “modus operandi” dos supostos atentados terroristas na Europa e EUA dos últimos anos, sempre antecipados por exercícios de simulação.
sábado, fevereiro 29, 2020
Coronavírus: Epidemia? Pandemia? Ou infodemia semiótica?
sábado, fevereiro 29, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quanto mais passa o tempo e quanto mais a cobertura midiática se transforma numa guerra de versões, a epidemia da estação, o novo coronavírus (depois de SARS, ebola, gripe aviária, gripe suína, que prometiam a letalidade de uma gripe espanhola ou da própria peste negra), mais revela a sua função social de manter a ordem por meio de uma calamidade natural externa. Epidemia? Pandemia? Arma biológica criada em algum laboratório secreto? Mais do que tudo isso: o novo coronavírus se revela uma verdadeira arma na guerra da informação – uma “infodemia” com alto rendimento semiótico. De um lado, na geopolítica dos EUA que se esforça em quebrar a crescente participação da China na cadeia produtiva global. E do outro, na narrativa da grande mídia brasileira reeditando o “jornalismo de conjunções adversativas” em que bolsa cai e dólar dispara porque foram viralmente infectados: a economia “agora vai!”, MAS... só que não! E a culpa são dos chineses, italianos... a infodemia de expectativas é tão especulativa quanto o estouro das bolhas do cassino das bolsas de valores ao sabor das notícias da epidemia ajudam a derrubá-las.
“Quem quer manter a ordem?
Quem quer criar desordem?
Não é tentar o suicídio
Querer andar na contramão?”
(“Desordem”, Titãs)
Quem quer criar desordem?
Não é tentar o suicídio
Querer andar na contramão?”
(“Desordem”, Titãs)
quarta-feira, fevereiro 26, 2020
Um quebra-cabeça paranoico no filme "Entre Realidades"
quarta-feira, fevereiro 26, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Sarah é uma jovem comum que vive uma vida muito comum: trabalha em uma loja de artesanato, adora cavalos e assiste sua série sci-fy favorita em casa todas as noites. Mas quando Sarah conhece um cara que ela gosta, começa a ter estranhos sonhos lúcidos que passam a se confundir com a realidade. Com histórico familiar de esquizofrenia e depressão, Sarah é aquilo que a narratologia chama de “narradora não confiável”. Mas o problema para o espectador é que sonho e realidade começam a ter uma estrutura lógica envolvendo aliens, abduções, clones e loops temporais. Haveria algo além de supostos surtos esquizofrênicos? “Entre Realidades” (“Horse Girl”, 2020) é um quebra-cabeça paranoico da Netflix na qual o espectador terá que se defrontar com truques narrativos e pistas tanto falsas como verdadeiras para responder essa questão: será que aquilo que entendemos como realidade é apenas o resultado da nossa percepção? Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.
domingo, fevereiro 23, 2020
Edison versus Tesla: o mistério do dispositivo para conversar com os mortos
domingo, fevereiro 23, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quase meio século depois de ter inventado a lâmpada incandescente e o fonógrafo, o inventor e empresário Thomas Edison enfrentou o físico sérvio Nikola Tesla na última batalha das invenções: criar um dispositivo para conversar com os mortos – o telefone espiritual, uma espécie de “disque-fantasma”. Embora fosse agnóstico e crítico feroz das sessões espíritas, muito populares na virada do século, Edison acreditava que a conexão com o Outro Mundo somente poderia ser realizada através da Ciência. Em si mesma, a eletricidade era, e ainda é, misteriosa: embora faça parte do nosso cotidiano, ainda não sabemos a real natureza dessa força – ela parece possuir todas as propriedades das velhas mitologias animistas do passado. Enquanto Tesla buscava essa comunicação com o Além através do rádio, Edison optou pelo telefone. Assim como o fonógrafo foi recebido como a realização do antigo sonho da imortalidade, Edison via no sinal telefônico a possibilidade de se comunicar com “partículas imortais”. Esse é mais um capítulo da História de como o avanço tecnocientífico é alavancado pelo misticismo e por mitologias milenares.
sábado, fevereiro 22, 2020
Fascistas e invisibilidade midiática não se combatem com flores
sábado, fevereiro 22, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O mais importante na grande mídia não é o que ela pauta. É o que ela não diz. O jornalismo corporativo tem o dom de atribuir invisibilidade a fatos que não atendem a atual pauta que sustenta a estratégia semiótica de guerra criptografada: a pauta identitária, cultural e de costumes. A invisibilidade do documentário “Democracia em Vertigem” na premiação do Oscar e os 20 dias de greve dos petroleiros são exemplos: depois que o documentário “perdeu” e a greve foi suspensa, de repente a mídia descobriu que existiam, mas como “derrotados”. O que há em comum nesses fatos “invisíveis”? São contra-pautas – revelam temas econômicos que mostram a insustentabilidade da agenda neoliberal. Grande mídia fala agora em impeachment de Bolsonaro depois do ataque à jornalista Patrícia Campos? Agora colunistas da grande mídia descobriram o “projeto de poder autoritário” de Bolsonaro? Mais uma tática de jornalismo Snapchat que hipnotiza a esquerda. Mas a retroescavadeira de Cid Gomes jogada contra policiais milicianos amotinados no Ceará mostra que não se combate o fascismo com flores, mas com uma contra-pauta que faça a esquerda abandonar as lacrações das guerras identitárias-culturais.
quinta-feira, fevereiro 20, 2020
Curta da Semana: "World of Tomorrow" - clonagem, memória e esquecimento
quinta-feira, fevereiro 20, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em um futuro próximo uma criança atende um chamado em um videofone. É ela própria, 227 anos no futuro. Na verdade, um clone seu na terceira geração. Na busca da imortalidade, uma elite abastada passou a clonar corpos e memórias. Cópias de cópias, copiando-se a si mesmas. Mas alguma coisa se perde na sucessão de gerações de clones – eles nunca são autênticos: o futuro é tomado por uma nostalgia daquilo que não se consegue mais lembrar. Indicado ao Oscar de melhor curta de animação em 2016, “World of Tomorrow” é uma narrativa criativa comovente e engraçada de um tema melancólico. Na busca da imortalidade, a tecnologia tenta traduzir digitalmente aquilo que nos torna humanos: as memórias. Assim como a arte perde a “aura” na reprodutibilidade técnica, também corpos e memórias clonadas perderão algo que jamais conseguiremos lembrar.
domingo, fevereiro 16, 2020
Cinco programas da TV (+ um bonus track) que "previram" a política atual: vida imita a arte?
domingo, fevereiro 16, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Série “Mundo da Lua”, “TV Pirata”, “Sai de Baixo”, “A Grande Família” e “Pânico na Band”. O que esses produtos audiovisuais da TV brasileira dos anos 1990 e começo dos 2000 têm em comum com a atual realidade política? Nos últimos dias, muitos internautas vêm apontando nas redes sociais “coincidências” ou “previsões” que estariam se realizando no atual cenário político. Muitos falam: “a vida imita a arte”. Mas é muito mais do que esse lugar-comum. A estratégia bolsonarista de guerra criptografada e do chamado “domínio total do espectro” transita por uma espécie de “twilight zone” entre ficção e realidade - a realidade faz uma bizarra paródia da ficção e, paradoxalmente, valida-se como “realidade” ao aproximar-se da ficção midiática. E, tal como a sineta de Pavlov, faz salivar de ódio todo espectro da esquerda: identitária, namastê, parlamentar... O “Cinegnose” analisa cinco “profecias” (e + um “bônus track”) revelando como a estratégia militar bolsonária se serve do contínuo midiático para emular narrativas ficcionais para o “controle do espectro”
quarta-feira, fevereiro 12, 2020
Por que "Parasita" ganhou o Oscar?... É a geopolítica, estúpido!
quarta-feira, fevereiro 12, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nem o mais otimista crítico poderia imaginar que a Academia, profundamente arcaica, quebrasse a tradição e premiasse com o Oscar máximo um filme falado em língua estrangeira. O drama satírico sul-coreano com forte crítica social à forma mais avançada de exploração capitalista (o capitalismo cognitivo), “Parasita”, de Bong Joon-ho, levou a estatueta de Melhor Filme – além de Roteiro Original, Filme Estrangeiro e Diretor. O que levou a Academia quebrar a tradição de 93 anos? Uma distribuidora independente que fez uma campanha excelente? Um diretor carismático que conquistou amizades em Hollywood? O momento atual em que as mídias sociais e plataformas de streaming estão ditando as regras? Ou seria o resultado de um movimento unificado por diversidade? É a geopolítica, estúpido! Desde o crash de 2008, a Academia tem premiado temas recorrentes, que atendem à agenda econômica e política externa. Mas a geopolítica mudou quando a China se tornou mais poderosa do que foi a União Soviética no passado. E Bong Joon-ho está no lugar certo e na hora certa: o tema da desigualdade entrou na agenda da democracia liberal diante da ascensão da maior ameaça anti-globalização: o nacional-populismo de extrema-direita.
segunda-feira, fevereiro 10, 2020
A Luta de classes no Capitalismo Cognitivo em "Parasita", vencedor do Oscar
segunda-feira, fevereiro 10, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O diretor sul-coreano Joon-ho Bong é um especialista no tema luta de classes. Seus filmes como O “Expresso do Amanhã” e “Okja” são variações sobre um tema cada vez mais aprofundado pelo diretor. Até chegar a “Parasita” (Gisaengchung, 2019), o grande vencedor do Oscar (melhor filme, diretor, filme estrangeiro e roteiro original), sua reflexão mais profunda tomando como cenário o chamado “Capitalismo Cognitivo”: “não-pessoas” com seus celulares e cercados de tutoriais e aplicativos, prontos para subempregos terceirizados – forma avançada de capitalismo na qual os patrões tornam-se invisíveis e a luta de classes oculta em camadas de apps. Desempregados e “uberizados”, a família Kin-taek passa a se interessar pela família Park. Ricos, terceirizam na sua residência todos as necessidades cotidianas. É a chance dos Kin-taek arrumarem um emprego mais estável. Mas uma perturbadora revelação trará consequências catastróficas para todos os envolvidos.
domingo, fevereiro 09, 2020
Rodrigo Bocardi: tautismo da Globo morre pela boca
domingo, fevereiro 09, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Racismo estrutural. Essa foi a acusação nas redes sociais contra o apresentador do telejornal “Bom Dia São Paulo”, Rodrigo Bocardi. A polêmica surgiu quando do estúdio, numa entrada ao vivo com um repórter numa estação do metrô, o apresentador interviu confundindo um jovem negro como gandula de quadras de tênis do Esporte Clube Pinheiros, clube de elite paulistana. Na verdade, era atleta da equipe de polo aquático do clube. O apresentador teria dado uma mostra do racismo brasileiro cotidiano e invisível – o chamado “racismo estrutural”. O problema é que ao transformar o jornalista em “Judas” amarrado ao poste para o linchamento público, é como se assumisse a função de bode expiatório. Para expiar, purificar o jornalismo. O racismo ao vivo foi apenas um nódulo de algo mais estrutural que compõe o atual campo jornalístico: a “saga dos cães perdidos” - metáfora do jornalista como um cão que perdeu o faro e se perdeu na origem psicológica de todos os lapsos éticos da profissão: a inveja criada pela diferença de classe social diante de entrevistados poderosos ou marginalizados, o que leva a ambição de acúmulo rápido de capital simbólico: busca de autoridade e prestígio. Somado ao tautismo midiático, Bocardi mordeu a própria isca da metalinguagem autopromocional que estrutura os telejornais atuais.
sexta-feira, fevereiro 07, 2020
Filme "Color Out of Space": por que o cinema do século XXI ama HP Lovecraft?
sexta-feira, fevereiro 07, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme “Color Out of Space” (2019) mostra como o cinema do século XXI está fascinado pelo escritor de terror, fantástico e ficção científica HP Lovecraft. Principalmente pelos seus mundos tentaculares dominados pela monstruosidade híbrida e metamórfica e pelo seu horror cósmico – como um universo sem deuses é completamente indiferente à existência humana. Três quartos das adaptações cinematográficas das obras lovecraftianas estão no século XXI. Por que esse “hype” em torno de Lovecraft? A resposta pode estar no filme “Color Out of Space”: expressa o espírito de época e sensibilidade que dominam o cenário cultural do século XXI - o hibridismo, o pós-humano e o gnosticismo. Uma fazendo isolada é atingida por um meteorito que traz o horror indescritível diretamente das profundezas do cosmos, atingindo a família que mora lá e, possivelmente, o mundo.
segunda-feira, fevereiro 03, 2020
Carma, alucinações lisérgicas e o airbag psicodélico da mente no filme "The Wave"
segunda-feira, fevereiro 03, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quando morremos saltamos para o desconhecido. Mas com um “airbag psicodélico”: a mente liberaria substâncias químicas para amenizar o medo da morte criando telas mentais alucinógenas. Porém, o carma pode transformar essa “viagem” numa “bad trip”. Esse é o argumento central do filme “The Wave” (2019), um mistério dramático e psicodélico: um advogado corporativo com uma típica vida consumista de classe média comemora sua promoção numa noite de festa e bebedeira. No processo, ele ingere uma misteriosa droga que o faz imergir em flash backs compostos por saltos no tempo, locais e realidades. Com tons budistas, hinduístas e gnósticos, “The Wave” descreve o quebra-cabeças que o protagonista terá que resolver enquanto está perdido nas alucinações lisérgicas: qual a mensagem que o Universo está querendo passar para ele? Filme sugerido pelo nosso leitor Alexandre Von Keuken.
sábado, fevereiro 01, 2020
Autoajuda e sociopatia em "A Serial Killer's Guide To Life"
sábado, fevereiro 01, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“A Serial Killer’s Guide to Life” (2019) é um filme para quem gosta de humor negro – uma arrasadora crítica à indústria da Autoajuda através de alusões a “Laranja Mecânica”, “Thelma e Louise” e, na sequência final, “Clube da Luta”. Uma jovem viciada em literatura de autoajuda involuntariamente se vê em uma onda de assassinatos com uma coach desequilibrada, que aspira se tornar uma autora comercialmente bem-sucedida na área. Como? Assassinando a concorrência! Organizada como um guia para o sucesso, a narrativa é dividida em sete passos com lições que revelam uma contradição fundamental na autoajuda: o primeiro passo para o crescimento é ser você mesmo, espontâneo, para libertar sua força interior. A ironia é que quanto mais você admite isso, mais precisará seguir as regras da autoajuda ditadas com um guru. E o resultado pode ser um comportamento sociopata.
quinta-feira, janeiro 30, 2020
"Contágio", "American Factory" e coronavírus: guerra semiótica ou armas biológicas?
quinta-feira, janeiro 30, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Milhões de pessoas em quarentena por ordem do Governo chinês. Uma misteriosa mutação de um coronavírus surge numa província da China, ameaçando dar início a uma pandemia, provocando alerta global da OMS. Esse é um breve resumo das notícias de uma crise que apavora o mundo, com expectativas de consequências econômicas imprevisíveis. Mas também é o plot do filme de 2011 “Contágio” de Steve Soderbergh. Muitos cinéfilos estão apontando as incríveis coincidências entre ficção e realidade. Ao mesmo tempo, o documentário “American Factory” é o favorito ao Oscar, no qual os chineses figuram como exploradores capitalistas que compram uma fábrica falida da GM para destruir sindicatos e oprimir americanos. Estamos em meio a uma guerra semiótica como arma híbrida dentro da batalha comercial e geopolítica EUA vs. China? Coronavírus é uma arma na guerra da informação ou uma arma biológica? Será que mais uma vez a ficção hollywoodiana (e dessa vez também um game chamado “Plague Inc.”) é usada como arma semiótica para tornar verossímil eventos arbitrários? No mínimo, os fatos apontam para uma dúvida plausível – como sempre, encontramos sincronismos, conveniências, timing com a velha pergunta em mente: quem ganha com o medo da pandemia?
quarta-feira, janeiro 29, 2020
Geração Millennial vivencia o terror do tempo em "Lake Artifact"
quarta-feira, janeiro 29, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O plot “cabana na floresta” acabou se tornando um subgênero do terror: jovens vão para um lugar remoto em busca de festa e bebedeiras. E lá encontram demônios ancestrais ou serial killers. Mas isso está mudando por uma marca geracional dos millennials: a convivência com a rápida evolução tecnológica digital – agora, nas cabanas e florestas jovens encontrarão anomalias temporais, paradoxos quânticos ou loops espaço-tempo, armadilhas que ameaçam a vida dos protagonistas. “Lake Artifact” (2019) é um exemplo: múltiplas linhas de tempo se encontram em uma região remota na floresta. O pesadelo é que cada decisão ou correção de curso daquele grupo de jovens pode criar novas linhas de tempo, novos loops e novas prisões temporais: ser o único sobrevivente é a condição para escapar dessa anomalia. O tema recorrente no cinema do tempo como ameaça é o sintoma de um conflito dessa geração: através de dispositivos móveis como smartphones estamos abandonando o espaço para vivermos no tempo através do ciberespaço. Filme sugerido pelo nosso leitor Alexandre Von Keuken.
domingo, janeiro 26, 2020
Curta da Semana: "What Did Jack Do?" - David Lynch, Meditação Transcendental e surrealismo
domingo, janeiro 26, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No 74º aniversário de David Lynch, sem aviso, a Netflix postou o curta-metragem (17 minutos) do diretor, chamado “What Did Jack Do?”. Na verdade, um enigmático projeto de 2016 no qual assistimos a um detetive interrogando um macaco capuchinho acusado de assassinato. Um crime passional, motivado por um intenso amor por uma galinha chamada “Toototabom”... – um argumento tão absurdo e engraçado quanto parece. Nesse curta, Lynch retorna a muitos elementos iniciados no seu filme de estreia “Eraserhead” (1977) e recorrentes na sua carreira. Mas esse curta deixa explícita duas influências criativas decisivas na sua obra: a prática, há 45 anos, de Meditação Transcendental e a continuação do legado dadaísta (cut-up) e surrealista (imagens como fluxo onírico) no cinema.
sexta-feira, janeiro 24, 2020
Cresce aprovação a Bolsonaro: a esquerda à sombra das maiorias silenciosas
sexta-feira, janeiro 24, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Era uma vez uma Oposição que achava que bastaria deixar Bolsonaro governar, tarefa para a qual é evidentemente desqualificado... e deixar sangrar até se demitir. Um ano depois, as coisas não estão bem assim: os números da pesquisa de opinião CNT-MDA deste mês revelaram um crescimento na aprovação a Bolsonaro. E que mais da metade dos entrevistados confia nas três grandes redes televisivas: Globo, Record e SBT. Bolsonaro continua um desqualificado (o início do apagão do serviço público começou com crises no INSS e Enem), mas a vitória, até aqui, na guerra da comunicação dá a vantagem da prestidigitação: a sua “guerra cultural”, na qual ganha de 7 X 1 de uma esquerda que caiu no alçapão deixado pela extrema-direita – a mídia progressista se esfalfa em denunciar que Bolsonaro é misógino, sexista, miliciano, pró-ditadura... e daí? Para a maioria silenciosa, sobrevivendo no cotidiano, tudo isso é abstrato, “politicagem”. A grande mídia cria o chamariz com a pauta da guerra cultural (identidade, gênero, raça, etnia, meio ambiente etc.), aprisionando a esquerda em seu tautismo (tautologia + autismo midiático) – abandona a comunicação direta com a maioria silenciosa e se desconecta do deserto do real: a economia.
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