domingo, abril 22, 2018
A família do século XXI em cacos na série Netflix "Perdidos no Espaço"
domingo, abril 22, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Toda refilmagem revela o espírito de época quando comparada com o
original. É também o caso da série Netflix "Perdidos no Espaço" (Lost In Space, 2018), nova versão
da série clássica de TV dos anos 1960 – que já contava com um longa-metragem em
1998. Agora os Robinsons não são mais a família nuclear perfeita do sonho
americano, mas uma família à beira da separação que tenta reunir os cacos
enquanto enfrenta os perigos de um planeta desconhecido. O novo “Perdidos no
Espaço” revela o espírito de época do século XXI: o militarismo e a amoralidade
do vilão. Além da relação histérica com o objeto do desejo, traço psíquico da
cultura contemporânea: só voltamos a desejar aquilo que amamos na eminência da
sua perda com a morte ou a destruição.
quinta-feira, abril 19, 2018
Ocupação do triplex: pontos para a esquerda na guerra semiótica
quinta-feira, abril 19, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Finalmente a esquerda marca pontos na atual guerra semiótica no front
do campo simbólico da sociedade (grande mídia + opinião pública): a ocupação do
indefectível “triplex do Lula” no Guarujá pelo MTST e a Frente Povo Sem Medo
apresentou todas as características de um petardo semiótico: Detonação,
Letalidade, Dilema Midiático e Dissonância Cognitiva. Uma ocupação curta (pouco
menos de quatro horas), mas o suficiente para a grande mídia viver um dilema e
dar uma guinada gramatical no seu discurso, como se sentisse o golpe. Mas o
melhor dessa bomba semiótica foi como a mídia corporativa mordeu a isca (o
álibi) para a ocupação revelar o seu verdadeiro propósito: a filmagem no
interior da verdadeira caixa preta em que se tornou o imóvel. Revelando a
dissonância entra as narrativas jurídico-midiática e da oposição. Uma ação
simbólica bem-sucedida que revela outras questões. Entre elas, a possível
criação de um grupo de inteligência semiótica para multiplicar essa ação
prototípica.
segunda-feira, abril 16, 2018
Niall Ferguson: baixa educação e ressentimento alimentam extremismo e guerra híbrida
segunda-feira, abril 16, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Historiador escocês, professor de Harvard e nome que esteve na lista
das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista “Time”, Niall Ferguson
afirmou: parcelas menos educadas da população tendem a aderir a discursos
extremistas de direita como solução para crise. Em passagem em evento promovido
pelo banco Itaú em São Paulo, Ferguson referiu-se como a baixa qualidade
educacional cria a percepção de que “o mundo não funciona” e a fácil aceitação
de que pessoas sozinhas com soluções extremistas resolveriam problemas como
criminalidade e imigração. Apesar de ser um intelectual muito solicitado como
palestrante em eventos corporativos, a fala de Ferguson revelou como a baixa
qualidade educacional cria o ressentimento: a matéria-prima psíquica da qual se
aproveitou a guerra híbrida brasileira. Mas agora, discursos extremistas de
direita brasileiros estão prontos para oferecer novos bodes expiatórios para
direcionar o ressentimento de jovens universitários que sentem que o “mundo não
funciona”: a distância entre o diploma conquistado com esforço e a realidade
profissional precarizada. Pauta sugerida pelo nosso leitor Paulo Manetta.
Niall
Ferguson não é apenas um historiador escocês, professor na Universidade de Harvard
e palestrante bastante requisitado na Europa e Estados Unidos. E que passou
esse mês aqui pelo Brasil no evento Macro Vision, promovido pelo banco Itaú em
São Paulo. Ele também é um “think tank” (instituição ou personalidade
especializada em influenciar a opinião pública e decisões políticas), que já
esteve na lista das 100 pessoas mais influentes da revista americana Time.
Ferguson
costuma vender o diagnóstico de que o mundo ocidental está em decadência: a
democracia, o capitalismo, o respeito às leis e a sociedade civil estão em
crise e que as políticas dos governos dos EUA e Europa só pioram a situação.
Como
não poderia deixar de ser, por onde passa diz que a solução é aquilo que as
atentas audiências formadas por CEOs e banqueiros já pensam: limitar o governo
e desregulamentar o mercado. Em outras palavras, Niall Ferguson é aquele que
atira primeiro a pedra na vidraça para depois tocar a campainha da casa para
vender seguro – a estratégia da “vidraça quebrada”.
Mas às vezes devemos ficar atentos às falas desses intelectuais insiders que acenam soluções neoliberais
para a banca. Muitas vezes apresentam dados cuja interpretação é “invertida”: apontam
para tendências e fenômenos sociais muitas vezes verdadeiras, porém não como
denúncia de uma realidade que precisa ser mudada. Mas como prospecção de
matéria-prima para futuras ações de guerra híbrida.
Baixa educação e populismo de direita
Em declaração ao jornal Valor
Econômico, Ferguson apontou que as experiências recentes do Brexit e das
eleições americanas de 2016 sugerem que a parcela menos educada da população
tende ao populismo de direita como solução para as crises – clique aqui.
“O que vimos é que pessoas de mais baixa educação têm maior
probabilidade de votar no populismo de direita. Isso se mostrou verdadeiro em eleições
europeias recentes”. Para Ferguson, “pessoas com maior educação tendem ao
centro, seja de esquerda ou direita, porque o mundo funciona para essa parcela
da população, que por isso é favorável à manutenção do status quo”.
E completou: “As pessoas que não se beneficiam do status quo são
atraídas por quem diz que pode mudar o sistema, que pode sozinha resolver o
problema, seja de imigração ou criminalidade”.
Segundo Ferguson, sempre após as crises o populismo de direita tende a
ter bom desempenho. E alerta os brasileiros: “imagino que o pesadelo de vocês
seja, com a ausência de Lula, uma disputa entre Bolsonaro e o substituto de
Lula”.
“O mundo não funciona”
Fica claro que o conceito de “baixa educação” não se refere a uma
insuficiência de nível escolaridade formal, mas à precarização da qualidade. Por
exemplo, conseguir um diploma de ensino superior em faculdades privadas de
baixo nível ou em cursos EAD acessíveis ao nível de renda. Como o pesquisador
escocês aborda no livro “The Great Degeneration: How Institutions Decay and
Economies Die” – veja “US education and economy are on the skids, says britsh
historian” In: Mercatornet, clique aqui.
Isso talvez explique o porquê de Bolsonaro ter melhor resultado entre os
mais escolarizados (aqueles que completaram o ensino superior) segundo pesquisa
Datafolha (clique aqui e aqui). Além da pesquisa apontar que 60% dos eleitores do parlamentar de
direita serem jovens – entre 16 e 34 anos.
Nem tampouco essa “baixa educação” tem a ver exclusivamente com a
desinformação que levariam jovens a serem seduzidos pelo canto da sereia dos
discursos extremistas – repostas simples baseadas em soluções finais do tipo
“subir a Rocinha dando tiros” como defendeu certa vez Jair Bolsonaro.
A chave de compreensão do diagnóstico de Niall Ferguson está na
percepção dessas pessoas de que, para elas, “o mundo não funciona”, apesar da
escolaridade superior conquistada a muito custo e motivada pela crença da
justiça do sistema meritocrático.
A percepção de que “o mundo não funciona” deixa de ser uma questão
eminentemente sociológica para entrarmos no campo explosivo psicossocial –
campo embrionário do fascismo que sempre esteve vinculado com o ressentimento
do indivíduo contra uma sociedade injusta que parece sempre burlar as regras do
jogo.
Os anos de governos lulopetistas das políticas de inclusão de estudantes
no ensino superior (crescimento de 65%, e destes 75% em instituições privadas, setor
que se tornou um parceiro do governo federal) criaram expectativas para a
chamada “Classe C” de que estava entrando no jogo da meritocracia em condições
de igualdade. Como reza a boa ideologia do mérito e do empreendedorismo.
Mas essa inclusão quantitativa não foi acompanhada pela qualificação das
escolas de ensino superior. O que significa que a conquista do diploma
universitário não significou necessariamente a conquista de empregos
qualificados ou uma carreira bem remunerada com perspectivas de crescimento
profissional.
Ressentimento e precarização
Pesquisadores como Giovanni Alves observaram que o modelo
neodesenvolvimentista conduzido pelos governos do PT basearam a inclusão social
através do mercado de consumo e da precarização do trabalho. Uma nova geração
de trabalhadores cujas noções de cidadania e trabalho passaram muito mais pelas
ambições por consumo do que pelos valores de classe social, direitos de
trabalho e sindicalização – leia ALVEZ, Giovanni, “Neodesenvolvimentismo e
precarização do trabalho no Brasil” – clique aqui.
E os diplomas conquistados em faculdades com educação também precarizada
fechou essa conta que mais ampliou expectativas do que as satisfez. Jovens
diplomados foram jogados em um mercado de trabalho que confundiu ícones de
softwares, sistemas operacionais e aplicativos como um verdadeiro saber
profissional. Quando na verdade não passavam de trabalho simplificado,
rotinizado e fragmentado, pronto para ser controlado e monitorado por gestores.
E nesse gap entre o diploma e
a realidade precarizada (carreira frustrante de baixa remuneração) está o mal
estar psíquico do ressentimento – a humilhação e revolta de que “o mundo não
funciona”, a percepção genérica de que “tudo que está aí” está errado.
Pronto! Temos a atmosfera psíquica perfeita que busca bodes expiatórios.
Apenas aguardando uma tradução em uma bomba semiótica, em um slogan, em uma
guerra híbrida.
Em postagens anteriores este Cinegnose
vem apontando que a combinação explosiva de meritocracia com ressentimento
motiva a atual guerra simbólica empreendida pelo complexo
jurídico-policial-midiático cujo ápice foi a prisão de Lula e a sua tradução
cinematográfica: o rebento de José Padilha, a série Netflix O Mecanismo – veja links abaixo.
Para o ressentido, o bode expiatório da corrupção é mais atraente do que
as críticas dos juros altos, das políticas
econômicas antinacionalistas, do neoliberalismo ou do sucateamento proposital
do patrimônio público para as privatizações serem aceitas como fato consumado –
de novo, a “estratégia da vidraça quebrada”.
A vantagem é que a corrupção pode ser midiaticamente personalizada em
políticos com rostos, partidos etc. – serem demonizados, caçados, presos em
espetáculos de meganhagem policial ao vivo na TV, com armas e carros negros
reluzentes. Alívio psíquico regressivo (sádico-masoquista) para o
ressentimento.
Crítica ao juros alto ou perda da soberania nacional são abstratas
demais para um ressentido.
Com a prisão de Lula (vendida a um preço simbólico muito baixo, sob a
égide da “rendição”) como o epílogo ideológico da Lava Jato, restam os
discursos extremistas de direita, como o de Jair Bolsonaro, herdarem o
ressentimento de uma massa de jovens universitários. Frustrados porque o “mundo
não funciona”.
De tudo isso, ficam duas questões que sempre atormentaram pesquisadores
como esse humilde blogueiro: por que historicamente a frustração social sempre
foi melhor traduzida politicamente como ressentimento pelos discursos
extremistas de direita? Por que até aqui o ressentimento nunca foi revertido em
frustração que motivasse uma crítica ao verdadeiro mecanismo, o sistema reprodutor
da desigualdade?
O fato é que diagnósticos como os de Niall Ferguson não são usados para
a transformação social. Mas para a prospecção de novas oportunidades no atual
quadro de guerra híbrida em escala planetária.
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sábado, abril 14, 2018
Filme "Thelma" faz versão muito além do terror de "Carrie - A Estranha"
sábado, abril 14, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em uma nova produção do cineasta dinamarquês Joachim Trier (de filmes
cult como “Oslo” e “Mais Forte Que Bombas”), dessa vez o diretor cria sua própria versão de “Carrie – A
Estranha” (1976) do mestre Brian De Palma. Em “Thelma” (2017) vemos o despertar
da sexualidade e do desejo de uma jovem educada por toda vida para ser uma
cristã devota. Longe de casa, estudando em uma universidade Thelma vê crescer
uma atração homoafetiva por uma colega, ao mesmo tempo que crises epiléticas
prenunciam poderes paranormais que eventualmente descobrirá. Mas ao contrário
do clássico de Brian De Palma, marcado pelo terror, “Thelma” se desloca para o
gênero fantástico: o despertar emocional de uma jovem extremamente reprimida cuja luta
interior criará emoções tão estressantes que romperão o próprio tecido da
realidade. Filme sugerido pelo nosso incansável leitor Felipe Resende.
quarta-feira, abril 11, 2018
Vazamento de áudio de Chico Pinheiro foi um não-acontecimento
quarta-feira, abril 11, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Dentro da caixa de ferramentas da guerra semiótica, o dispositivo do vazamento é o mais manjado. Porém, continua eficiente, como demonstraram os vazamentos de
Edward Sowden e o papel que desempenharam na guerra hibrida brasileira.
Vazamentos sugerem espontaneidade, acidente ou um escorregão de alguém
boquirroto. Na verdade, criam dissuasão, cortina de fumaça e, se voltada
diretamente para o oponente, desmobilização. Como simulação para conseguir um
determinado efeito midiático na opinião pública e um perfeito
não-acontecimento. Depois do “vazamento” do áudio do jornalista global Chico
Pinheiro no WhatsApp, criticando a cobertura da emissora e elogiando Lula, a
esquerda se alvoroçou: Pinheiro detonou a Globo! Uma voz dissonante! etc. Tal
como o “vazamento” do vídeo de William Waack, este do Chico Pinheiro tem timing
e um conteúdo que ajuda ainda mais a iconificar a figura de Lula, para
retirá-lo do campo da guerra simbólica.
domingo, abril 08, 2018
Na prisão de Lula mais uma vez a esquerda perde a guerra semiótica
domingo, abril 08, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Do significado da data da prisão de Lula determinada por Moro (06/04, dia
da morte do “Patriarca da Independência”, José Bonifácio); passando pelo
destino do comboio que levava Lula para a PF no bairro da Lapa (ao invés
de Congonhas, evitando que a militância petista entrasse em rede nacional
fazendo protestos na entrada do aeroporto); e chegando aos planos de câmera de
TV do helicóptero decolando, conduzindo o prisioneiro e no segundo plano prédios com luzes piscando em apartamentos que comemoravam o desfecho. Todos os detalhes revelaram a elaborada guerra
semiótica do complexo jurídico-policial-midiático. A resposta de Lula e do PT
foi rápida e promissora: se encastelar no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC,
sugerindo a estratégia de empate e desobediência civil. Para cobrar um alto preço
simbólico pela rendição. Mas acabou cedendo à indefectível narrativa da “luta e
resistência” e abandonou o campo de batalha semiótico, em rede nacional. Mas os
eventos deixaram mais uma vez nu o jornalismo da TV Globo ao dificultarem o
acesso da emissora às informações diretas do centro da crise em São Bernardo.
sábado, abril 07, 2018
A última interface da humanidade no filme "OtherLife"
sábado, abril 07, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“OtherLife” (2017) é um filme australiano independente (disponível na
Netflix) que aborda o tema da realidade virtual, mas não através da perspectiva
da simulação através de um software. Mas a realidade virtual como uma ideia
química e biológica. Mais precisamente, por meio de um “software biológico”: se
as nossas memórias são resultantes de complexas reações químicas, poderiam ser
codificadas e transformadas na última interface da história da tecnologia: a
bioquímica-digital. Uma droga na qual a realidade virtual comprime o
tempo-espaço, lembrando a abordagem de “A Origem” de Nolan: um minuto do tempo
real corresponderia a um ano de “férias” virtuais em praias paradisíacas ou nas
montanhas nevadas de cartão postal. Para pessoas “sem tempo para ter tempo
livre”, como anuncia a startup que promove o produto “OtherLife”. Mas conflitos
corporativos, além do drama pessoal da cientista criadora da droga virtual, tornarão a
interface “OtherLife” em um jogo perigoso. Filme sugerido pelo nosso emérito leitor Felipe Resende.
domingo, abril 01, 2018
Curta da Semana: "The Kiosk" - a crítica da vida cotidiana
domingo, abril 01, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um curta que é inspirado da própria experiência de vida da diretora, Anete
Melece. “The Kiosk” (2013) é um curta de animação sobre a difícil busca do
equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal. E a ainda mais difícil busca da
satisfação no trabalho. Com um raro senso de comédia estética e visual, “The
Kiosk” nos mostra uma protagonista literalmente presa no seu local de um
trabalho alienante, monótono e sem sentido. Um acidente força a protagonista
enfrentar uma jornada que transformará sua vida. Ou será que apenas realizou um
sonho dirigido pela mídia e o turismo? O curta aborda temas que envolvem a
“sociologia do cotidiano” do francês Henri Lefebvre – a “cotidianidade” como um
fenômeno das sociedades modernas: de um lado a rotina, tédio e monotonia dos
dias de trabalho. E do outro, as fantasias e compensatórias do que foi outrora
o “tempo livre”, hoje chamado “lazer”.
sábado, março 31, 2018
Em "Infinity Chamber" o homem enfrenta a versão mais diabólica de HAL-9000
sábado, março 31, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Desde o duelo mortal entre o astronauta Dave Bowman e o computador
HAL-9000 no filme “2001” de Kubrick, o cinema não havia conseguido repetir uma
luta tão icônica entre a inteligência humana e a artificial. Isso até o filme
“Inifinity Chamber” (2016), na qual o homem enfrenta a nova geração da IA: os
aplicativos e algoritmos capazes de aprender até o ponto em que poderiam saber
mais sobre nós do que nós mesmos. Um homem é raptado em uma cafeteria, para
acordar em uma cela high tech observado por uma câmera de teto: é o olho
artificial de um computador chamado Howard. Sua função: mantê-lo vivo, para
escanear suas memórias e fazê-lo repetir mentalmente em infinitas vezes o mesmo
dia em que foi raptado, para tentar achar a evidência da sua ligação com um
grupo terrorista. Um filme sobre tecnologia, sonhos e memória. Uma metáfora de
como atuais aplicativos que fazem a mediação dos nossos relacionamentos são apenas
pretextos para escanear nossos sonhos e pensamentos.
sexta-feira, março 30, 2018
Episódio "O Mecanismo" revela a inépcia da esquerda com a comunicação
sexta-feira, março 30, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como era de esperar, a reposta da esquerda a “O
Mecanismo” foram denúncias contra o conteúdo factual da série brasileira. Mordeu a isca jogada pelo
diretor José Padilha e suas eminências pardas da atual guerra híbrida: de que a
série era supostamente “baseada em fatos reais”. E começou a acusar o
“assassinato de reputações” ao não respeitar “o tempo que os fatos ocorreram”,
condenar a “distorção da realidade” e produzir “fake news”. Foi como se a
esquerda levantasse a bola no outro lado da rede para o adversário dar uma
violenta cortada. Como uma “obra de ficção”, a série deve ser criticada no seu
próprio campo semiótico: a Operação Lava Jato foi um mero pretexto para o
roteiro explorar a combinação explosiva de ressentimento com a meritocracia.
Combinação que fez recentemente as ruas encherem de camisas amarelas batendo
panelas. Como não consegue se descolar da visão conteudística da comunicação, a
esquerda é incapaz de lutar no mesmo campo simbólico no qual Netflix milita.
Além de oferecer mídia espontânea a uma série tosca e malfeita.
segunda-feira, março 26, 2018
Nietzsche explica "O Mecanismo": série explora o veneno psíquico nacional do ressentimento
segunda-feira, março 26, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O diretor José Padilha rebate às acusações de “Fake News” à série brasileira
Netflix “O Mecanismo” alegando que é uma obra de ficção: uma “dramatização” da
Operação Lava Jato. Porém, como obra de ficção, Padilha atirou no que viu e
acertou no que não viu: sem a prisão de Lula, planejada para a semana do
lançamento de “O Mecanismo”, a série foi deixada por si mesma. Sem o apoteótico
final que a impulsionaria, a série revelou ser feita do mesmo material de
propaganda indireta da atual guerra híbrida brasileira – o envenenamento
psíquico pela doença do ressentimento. Como narrativa ficcional, “O Mecanismo”
nada mais é do que uma tentativa de transformar ressentimento, ódio e
frustração dos protagonistas em valores estoicos, nobres e patrióticos. A
grande “virtude” de “O Mecanismo” é ser uma prova de como a “doença do
ressentimento”, a “condição mais perigosa do homem” para Nietzsche,
transformou-se em matéria-prima de propaganda política indireta.
sábado, março 24, 2018
"La Antena", um filme sobre como o monopólio midiático nos rouba a voz e as palavras
sábado, março 24, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um filme obrigatório para estudantes de graduação em Comunicação.
Influenciado pelo cinema “noir” e pelo expressionismo alemão do clássico “Metrópolis”,
o diretor argentino Esteban Sapir fez o filme “La Antena” (2007): uma curiosa
estética inspirada no cinema mudo e metalinguagem das histórias em quadrinhos.
Um filme crítico sobre os meios de comunicação, a imaginação e as palavras. Em
uma cidade escura e invernal todos ficaram sem voz. O Sr. TV, dono de um
monopólio televisivo (o Canal 9) tem um malévolo plano para dominar todos os
cidadãos: sequestrar A Voz, a única pessoa que conservou o dom da fala. Para
transformá-la na atração principal da sua emissora enquanto ele arquiteta outro
plano ainda mais sinistro: roubar as palavras, para completar o seu regime de
Telecracia. “La Antena” é uma provocativa metáfora dos monopólios
latino-americanos de comunicação e de como a mídia é usada como arma para
sustentar regimes totalitários.
domingo, março 18, 2018
Sapos verdes e a execução de Marielle: sobe o grau da guerra semiótica brasileira
domingo, março 18, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em um dia o industrial sem indústria e rentista Paulo Skaf lançava a
campanha “Chega de engolir sapo” (ironicamente contra os juros altos) em frente
ao prédio da Fiesp diante de um enorme batráquio verde inflado. E no dia
seguinte a vereadora do PSOL/RJ Marielle Franco era executada com quatro tiros
certeiros na cabeça. Intensifica-se a guerra semiótica com a ocupação do campo
simbólico da sociedade pela direita. No primeiro caso, principalmente pela
ironia dos autores da campanha, uma mensagem prá lá de ambígua que ainda tenta
surfar na onda anti-PT/Lula, pela proximidade do “grand finale” da sua prisão.
E no trágico episódio do Rio, uma vítima exemplar, escolhida a dedo, para
detonar a “bomba identitária”, ato inaugural (assim como o “laboratório” da intervenção
no Rio) para “melar” a eleição desse ano através do discurso da ameaça de um
inimigo interno: o crime organizado. Fator até aqui ignorado pelos analistas
políticos, mas que tem parte importante na guerra semiótica brasileira, desde
os ataques de 2006.
sábado, março 17, 2018
Em "Corpo e Alma" a gnose possível através de um sonho lúcido
sábado, março 17, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
À primeira vista, o filme húngaro “Corpo e Alma” (Teströl és Lélekröl,
2017), indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, é um conto bizarro e
brutal sobre amantes em um matadouro de gado: um casal de funcionários que
consegue se encontrar apenas quando dormem, no mundo dos sonhos. Mais
exatamente, em um sonho recorrente: um veado e uma corça procurando folhas
verdes em uma paisagem de inverno coberta pela neve. A diretora Ildikó Enyedi
faz uma incursão no dualismo gnóstico Corpo/Alma: a matéria como uma prisão do
espírito. E o sonho como o meio para superar essa divisão. Sem incorrer
nos clichês hollywoodianos e motivacionais do tipo “todos os sonhos são
possíveis!”. Mas através da imersão em um tipo especial de sonho: o sonho
lúcido. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
quarta-feira, março 14, 2018
" La Casa de Papel", segunda temporada: crítica brasileira não quer entender a série
quarta-feira, março 14, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Enquanto a crítica europeia sobre a série da TV espanhola “La Casa de
Papel” (2017) é diversificada, a crítica brasileira da mídia corporativa
rejeita em bloco a produção do canal Antena 3. “Arremedo de Tarantino”, “série
absolutamente ridícula” etc. dão o tom, enquanto para os espectadores
brasileiros a série se transformou em um fenômeno. Os críticos da grande mídia
descontextualizam a atual safra de produções espanholas que tematizam as
consequências sócio-econômicas da crise do euro e da especulação financeira no país,
para ficarem no confortável discurso do “gosto ou não gosto”, tomando como
termo de comparação para análise os próprios clichês que Hollywood faz das
produções fora do seu eixo. Principalmente na segunda temporada, a série assume
o manifesto político contra o rentismo, a especulação e o fetichismo do
dinheiro. Talvez porque seus patrões também sejam rentistas, os críticos tentam
exorcizar de “La Casa de Papel” o fantasma do mal-estar que paira sobre a
Globalização: com a financeirização, as fronteiras entre legal e ilegal, crime
e virtude ou bem e mal desapareceram.
quinta-feira, março 08, 2018
Do futebol argentino, uma lição de guerra semiótica para as esquerdas brasileiras
quinta-feira, março 08, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O “hit
de verão” começou nos estádios argentinos, como protesto contra suposto
favorecimento do Boca Junior na Federação de Futebol pela influência do
presidente Mauricio Macri. Um canto ofensivo que ultrapassou o futebol e nos
últimos dias se propagou para eventos culturais, shows de rock, memes e redes
sociais. Se há apagão ou um trem do metro quebra, indignados os argentinos
começam a cantar o “hit do verão”, canalizando o descontentamento. Um pequeno
conto sobre guerra simbólica na política: como o protesto transcende o futebol
e se transforma numa bomba em potencial. Enquanto isso no Brasil, um apagão de
quase uma hora no Pacaembu fez crescer um coro anti-Globo da torcida do Santos,
ao vivo na TV. Prontamente retalhado com a demonização da organizada “Torcida
Jovem” nos telejornais da emissora. Apenas a esquerda brasileira não percebe
esses sintomas simbólicos do descontentamento e como a grande mídia contra-ataca
sempre ganhando por WO a guerra semiótica. “Somente se ataca símbolos a partir
do simbólico”, afirma o pesquisador argentino Javier Bundio. Mas nunca as
esquerdas pensaram em ocupar esse plano da sociedade. Será que o papel da
derrota e da vitimização sempre lhes cai bem na velha narrativa de luta e
resistência?
segunda-feira, março 05, 2018
Curta da Semana: "The Walk Home" - Gnose e Política após a morte
segunda-feira, março 05, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um dos trunfos do blog “Cinegnose” para demonstrar as conexões que envolvem o Gnosticismo e a Política é o curta “The Walk Home” (2014) do animador e ilustrador inglês Steve Cutts. Sim! A gnose é um ato político. Principalmente após a morte quando conseguimos dissolver as ilusões que nos prendem à órbita terrestre e que nos capturam em um novo ciclo de reencarnação e esquecimento. Um jovem desperta em uma grande cidade violenta e dominada pelo crime organizado. Mas é também uma sociedade na qual a elite parece tirar vantagem dessa desordem e caos. Numa perigosa jornada noturna, o jovem tem uma revelação estarrecedora. Mas também libertadora.
domingo, março 04, 2018
Globo une gestão de imagem de Neymar com bomba semiótica da intervenção militar
domingo, março 04, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Assim como na Copa de 2014, mais uma vez Neymar sofre uma contusão que
o retira de uma cena catastrófica: lá atrás, livrou-se dos humilhantes 7 X 1 contra a
Alemanha; hoje, escapa de mais uma possível derrota para o Real Madrid que tiraria o PSG
da Champions League. O que tornaria ainda mais pesado o clima do craque com a
imprensa francesa. Mas parece que os interesses dos gestores da imagem do
jogador (o “Neymarketing”) estão se alinhando à estratégia diversionista da
grande mídia num momento de intervenção militar no Estado do Rio – ponto de
inflexão que representa o “laboratório” para “melar” as eleições desse ano pela
criação de inimigos internos: favelas e crime organizado. No dia da cirurgia do
jogador em Belo Horizonte, o veterano repórter esportivo Mauro Naves
protagonizou ao vivo uma desajeitada tentativa para criar um suposto clima de
comoção popular na frente do hospital. Sem um evento real, restou a
mise-en-scène e o não-acontecimento tautista: jornalista entrevistando outro
jornalista e as indefectíveis crianças com camisetas amarelas.
sábado, março 03, 2018
O estranho senso de justiça no filme "O Sacrifício do Cervo Sagrado"
sábado, março 03, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Os deuses exigem de nós sacrifícios para que provemos nossa devoção.
Mas, e se for exigido um sacrifício pessoal a eles? Um cirurgião bem sucedido e
respeitado parece pairar como um Deus sobre a vida e a morte, até que encontra
com um garoto que o faz se confrontar com algum tipo de justiça cósmica, que
exigirá dele o sacrifício de um membro da sua família. “O Sacrifício do Cervo
Sagrado” (“The Killing of a Sacred Deer”, 2017), do diretor grego Yorgos
Lanthimos (“The Lobster” e “Dente Canino”), segue a tendência atual de filmes
estranhos dirigido por gregos que misturam horror, violência, amor e culpa em
thrillers com situações bizarras. Aqui, Lanthimos lança seu olhar para os
mundos assépticos dos hospitais e condomínios suburbanos que vendem para as
massas as ilusões de controle patrocinado pela Ciência e racionalidade
tecnológica. E, como em todos os filmes de Lanthimos, consegue extrair desses
universos o estranho e o incontrolável.
sábado, fevereiro 24, 2018
A canastrice como fator subliminar na política
sábado, fevereiro 24, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Temer, Rodrigo Maia, Dória Jr., Lula, FHC, Mário Covas. O que esses
políticos têm em comum com as evoluções e regressões da teledramaturgia,
principalmente da Globo, que moldou o imaginário coletivo brasileiro? Partindo
da premissa de que por décadas a percepção do brasileiro médio foi moldada pela
teledramaturgia, será que a performance dos políticos refletiria as mudanças
das técnicas de atuação dos atores nas novelas? Ou em outros termos: será
que a verossimilhança e a credibilidade dos discursos e performances que
levaram esses políticos à cena pública é tirada do realismo ou do melodrama da
linguagem das telenovelas? A canastrice entra em cena na política e torna-se um
fenômeno pouco discutido pela ciência política ou propaganda. Um elemento
subliminar: até que ponto políticos canastrões, caricaturas de caricaturas,
ganham força não por ideologias ou virtudes, mas pela semelhança com a
canastrice original do cinema e TV?
domingo, fevereiro 18, 2018
Cinegnose e Savoir Cursos & Palestras promovem workshop "Guerra Híbrida e Bombas Semióticas"
domingo, fevereiro 18, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O Blog “Cinegnose” e a “Savoir Cursos e Palestras” promovem o workshop “Guerra Híbrida e Bombas Semióticas”. Este
humilde blogueiro desenvolverá o workshop no dia 10 de março, no Hotel São
Paulo Inn, no Centro de São Paulo. A partir da Guerra Híbrida implementada por
uma inédita estratégia política midiática no período de 2013-2016 que culminou
com o impeachment e a atual crise política, o workshop descreverá as diversas
ferramentas de ação na opinião pública que vão muito além das fake news:
Engenharia Social, Bombas Semióticas, Jornalismo Metonímico, Agenda Setting e
Espiral do Silêncio, Estratégias Virais etc. E as perspectivas de ações
políticas antimídia em um ano eleitoral... se tivermos eleições.
Em "The Man From Earth: Holocene" aquilo que o homem mais teme: o niilismo
domingo, fevereiro 18, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“The Man From Earth: Holocene” (2017) é a
continuação da saga iniciada com o primeiro filme em 2007 com um mix de ficção
científica e especulação religiosa: John é um homem que diz ter vivido 14 mil
anos, imortal. Um homem erudito que a cada dez anos se muda para ninguém
perceber que nunca envelhece. Se no primeiro filme, John faz um embate
filosófico e teológico com um grupo de cientistas, nesse segundo filme ele
enfrentará duas ameaças: as novas tecnologias invasivas que ameaçam revelar sua
identidade; e a busca desesperada do homem em busca de sentido para a
existência que vê na imortalidade de John a resposta. O problema é que John Young na verdade é o espelho
daquilo que o homem mais teme: o niilismo, a inexistência de qualquer propósito
na vida terrestre.
sábado, fevereiro 17, 2018
"Bomba Semiótica!": resposta à postagem de Fernando Horta no jornal GGN
sábado, fevereiro 17, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O articulista Fernando Horta, do Jornal
GGN, publicou a postagem “Bomba Semiótica?” na qual questiona o conceito como
“um tremendo erro” ao colocar “a semiótica na frente do material”. Como “uma
teoria maravilhosa” na qual se “esconde fracassos no sucesso de alguém”, ao
fazer referência à repercussão política do desfile da Paraíso de Tuiuti. Como o
termo “bomba semiótica” foi criado por este “Cinegnose” a partir do cenário da
Guerra Híbrida no qual o Brasil foi alvo desde 2013, este humilde blogueiro faz
algumas correções em uma interpretação errônea do conceito.
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