domingo, março 18, 2018
Sapos verdes e a execução de Marielle: sobe o grau da guerra semiótica brasileira
domingo, março 18, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em um dia o industrial sem indústria e rentista Paulo Skaf lançava a
campanha “Chega de engolir sapo” (ironicamente contra os juros altos) em frente
ao prédio da Fiesp diante de um enorme batráquio verde inflado. E no dia
seguinte a vereadora do PSOL/RJ Marielle Franco era executada com quatro tiros
certeiros na cabeça. Intensifica-se a guerra semiótica com a ocupação do campo
simbólico da sociedade pela direita. No primeiro caso, principalmente pela
ironia dos autores da campanha, uma mensagem prá lá de ambígua que ainda tenta
surfar na onda anti-PT/Lula, pela proximidade do “grand finale” da sua prisão.
E no trágico episódio do Rio, uma vítima exemplar, escolhida a dedo, para
detonar a “bomba identitária”, ato inaugural (assim como o “laboratório” da intervenção
no Rio) para “melar” a eleição desse ano através do discurso da ameaça de um
inimigo interno: o crime organizado. Fator até aqui ignorado pelos analistas
políticos, mas que tem parte importante na guerra semiótica brasileira, desde
os ataques de 2006.
sábado, março 17, 2018
Em "Corpo e Alma" a gnose possível através de um sonho lúcido
sábado, março 17, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
À primeira vista, o filme húngaro “Corpo e Alma” (Teströl és Lélekröl,
2017), indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, é um conto bizarro e
brutal sobre amantes em um matadouro de gado: um casal de funcionários que
consegue se encontrar apenas quando dormem, no mundo dos sonhos. Mais
exatamente, em um sonho recorrente: um veado e uma corça procurando folhas
verdes em uma paisagem de inverno coberta pela neve. A diretora Ildikó Enyedi
faz uma incursão no dualismo gnóstico Corpo/Alma: a matéria como uma prisão do
espírito. E o sonho como o meio para superar essa divisão. Sem incorrer
nos clichês hollywoodianos e motivacionais do tipo “todos os sonhos são
possíveis!”. Mas através da imersão em um tipo especial de sonho: o sonho
lúcido. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
quarta-feira, março 14, 2018
" La Casa de Papel", segunda temporada: crítica brasileira não quer entender a série
quarta-feira, março 14, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Enquanto a crítica europeia sobre a série da TV espanhola “La Casa de
Papel” (2017) é diversificada, a crítica brasileira da mídia corporativa
rejeita em bloco a produção do canal Antena 3. “Arremedo de Tarantino”, “série
absolutamente ridícula” etc. dão o tom, enquanto para os espectadores
brasileiros a série se transformou em um fenômeno. Os críticos da grande mídia
descontextualizam a atual safra de produções espanholas que tematizam as
consequências sócio-econômicas da crise do euro e da especulação financeira no país,
para ficarem no confortável discurso do “gosto ou não gosto”, tomando como
termo de comparação para análise os próprios clichês que Hollywood faz das
produções fora do seu eixo. Principalmente na segunda temporada, a série assume
o manifesto político contra o rentismo, a especulação e o fetichismo do
dinheiro. Talvez porque seus patrões também sejam rentistas, os críticos tentam
exorcizar de “La Casa de Papel” o fantasma do mal-estar que paira sobre a
Globalização: com a financeirização, as fronteiras entre legal e ilegal, crime
e virtude ou bem e mal desapareceram.
quinta-feira, março 08, 2018
Do futebol argentino, uma lição de guerra semiótica para as esquerdas brasileiras
quinta-feira, março 08, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O “hit
de verão” começou nos estádios argentinos, como protesto contra suposto
favorecimento do Boca Junior na Federação de Futebol pela influência do
presidente Mauricio Macri. Um canto ofensivo que ultrapassou o futebol e nos
últimos dias se propagou para eventos culturais, shows de rock, memes e redes
sociais. Se há apagão ou um trem do metro quebra, indignados os argentinos
começam a cantar o “hit do verão”, canalizando o descontentamento. Um pequeno
conto sobre guerra simbólica na política: como o protesto transcende o futebol
e se transforma numa bomba em potencial. Enquanto isso no Brasil, um apagão de
quase uma hora no Pacaembu fez crescer um coro anti-Globo da torcida do Santos,
ao vivo na TV. Prontamente retalhado com a demonização da organizada “Torcida
Jovem” nos telejornais da emissora. Apenas a esquerda brasileira não percebe
esses sintomas simbólicos do descontentamento e como a grande mídia contra-ataca
sempre ganhando por WO a guerra semiótica. “Somente se ataca símbolos a partir
do simbólico”, afirma o pesquisador argentino Javier Bundio. Mas nunca as
esquerdas pensaram em ocupar esse plano da sociedade. Será que o papel da
derrota e da vitimização sempre lhes cai bem na velha narrativa de luta e
resistência?
segunda-feira, março 05, 2018
Curta da Semana: "The Walk Home" - Gnose e Política após a morte
segunda-feira, março 05, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um dos trunfos do blog “Cinegnose” para demonstrar as conexões que envolvem o Gnosticismo e a Política é o curta “The Walk Home” (2014) do animador e ilustrador inglês Steve Cutts. Sim! A gnose é um ato político. Principalmente após a morte quando conseguimos dissolver as ilusões que nos prendem à órbita terrestre e que nos capturam em um novo ciclo de reencarnação e esquecimento. Um jovem desperta em uma grande cidade violenta e dominada pelo crime organizado. Mas é também uma sociedade na qual a elite parece tirar vantagem dessa desordem e caos. Numa perigosa jornada noturna, o jovem tem uma revelação estarrecedora. Mas também libertadora.
domingo, março 04, 2018
Globo une gestão de imagem de Neymar com bomba semiótica da intervenção militar
domingo, março 04, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Assim como na Copa de 2014, mais uma vez Neymar sofre uma contusão que
o retira de uma cena catastrófica: lá atrás, livrou-se dos humilhantes 7 X 1 contra a
Alemanha; hoje, escapa de mais uma possível derrota para o Real Madrid que tiraria o PSG
da Champions League. O que tornaria ainda mais pesado o clima do craque com a
imprensa francesa. Mas parece que os interesses dos gestores da imagem do
jogador (o “Neymarketing”) estão se alinhando à estratégia diversionista da
grande mídia num momento de intervenção militar no Estado do Rio – ponto de
inflexão que representa o “laboratório” para “melar” as eleições desse ano pela
criação de inimigos internos: favelas e crime organizado. No dia da cirurgia do
jogador em Belo Horizonte, o veterano repórter esportivo Mauro Naves
protagonizou ao vivo uma desajeitada tentativa para criar um suposto clima de
comoção popular na frente do hospital. Sem um evento real, restou a
mise-en-scène e o não-acontecimento tautista: jornalista entrevistando outro
jornalista e as indefectíveis crianças com camisetas amarelas.
sábado, março 03, 2018
O estranho senso de justiça no filme "O Sacrifício do Cervo Sagrado"
sábado, março 03, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Os deuses exigem de nós sacrifícios para que provemos nossa devoção.
Mas, e se for exigido um sacrifício pessoal a eles? Um cirurgião bem sucedido e
respeitado parece pairar como um Deus sobre a vida e a morte, até que encontra
com um garoto que o faz se confrontar com algum tipo de justiça cósmica, que
exigirá dele o sacrifício de um membro da sua família. “O Sacrifício do Cervo
Sagrado” (“The Killing of a Sacred Deer”, 2017), do diretor grego Yorgos
Lanthimos (“The Lobster” e “Dente Canino”), segue a tendência atual de filmes
estranhos dirigido por gregos que misturam horror, violência, amor e culpa em
thrillers com situações bizarras. Aqui, Lanthimos lança seu olhar para os
mundos assépticos dos hospitais e condomínios suburbanos que vendem para as
massas as ilusões de controle patrocinado pela Ciência e racionalidade
tecnológica. E, como em todos os filmes de Lanthimos, consegue extrair desses
universos o estranho e o incontrolável.
sábado, fevereiro 24, 2018
A canastrice como fator subliminar na política
sábado, fevereiro 24, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Temer, Rodrigo Maia, Dória Jr., Lula, FHC, Mário Covas. O que esses
políticos têm em comum com as evoluções e regressões da teledramaturgia,
principalmente da Globo, que moldou o imaginário coletivo brasileiro? Partindo
da premissa de que por décadas a percepção do brasileiro médio foi moldada pela
teledramaturgia, será que a performance dos políticos refletiria as mudanças
das técnicas de atuação dos atores nas novelas? Ou em outros termos: será
que a verossimilhança e a credibilidade dos discursos e performances que
levaram esses políticos à cena pública é tirada do realismo ou do melodrama da
linguagem das telenovelas? A canastrice entra em cena na política e torna-se um
fenômeno pouco discutido pela ciência política ou propaganda. Um elemento
subliminar: até que ponto políticos canastrões, caricaturas de caricaturas,
ganham força não por ideologias ou virtudes, mas pela semelhança com a
canastrice original do cinema e TV?
domingo, fevereiro 18, 2018
Cinegnose e Savoir Cursos & Palestras promovem workshop "Guerra Híbrida e Bombas Semióticas"
domingo, fevereiro 18, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O Blog “Cinegnose” e a “Savoir Cursos e Palestras” promovem o workshop “Guerra Híbrida e Bombas Semióticas”. Este
humilde blogueiro desenvolverá o workshop no dia 10 de março, no Hotel São
Paulo Inn, no Centro de São Paulo. A partir da Guerra Híbrida implementada por
uma inédita estratégia política midiática no período de 2013-2016 que culminou
com o impeachment e a atual crise política, o workshop descreverá as diversas
ferramentas de ação na opinião pública que vão muito além das fake news:
Engenharia Social, Bombas Semióticas, Jornalismo Metonímico, Agenda Setting e
Espiral do Silêncio, Estratégias Virais etc. E as perspectivas de ações
políticas antimídia em um ano eleitoral... se tivermos eleições.
Em "The Man From Earth: Holocene" aquilo que o homem mais teme: o niilismo
domingo, fevereiro 18, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“The Man From Earth: Holocene” (2017) é a
continuação da saga iniciada com o primeiro filme em 2007 com um mix de ficção
científica e especulação religiosa: John é um homem que diz ter vivido 14 mil
anos, imortal. Um homem erudito que a cada dez anos se muda para ninguém
perceber que nunca envelhece. Se no primeiro filme, John faz um embate
filosófico e teológico com um grupo de cientistas, nesse segundo filme ele
enfrentará duas ameaças: as novas tecnologias invasivas que ameaçam revelar sua
identidade; e a busca desesperada do homem em busca de sentido para a
existência que vê na imortalidade de John a resposta. O problema é que John Young na verdade é o espelho
daquilo que o homem mais teme: o niilismo, a inexistência de qualquer propósito
na vida terrestre.
sábado, fevereiro 17, 2018
"Bomba Semiótica!": resposta à postagem de Fernando Horta no jornal GGN
sábado, fevereiro 17, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O articulista Fernando Horta, do Jornal
GGN, publicou a postagem “Bomba Semiótica?” na qual questiona o conceito como
“um tremendo erro” ao colocar “a semiótica na frente do material”. Como “uma
teoria maravilhosa” na qual se “esconde fracassos no sucesso de alguém”, ao
fazer referência à repercussão política do desfile da Paraíso de Tuiuti. Como o
termo “bomba semiótica” foi criado por este “Cinegnose” a partir do cenário da
Guerra Híbrida no qual o Brasil foi alvo desde 2013, este humilde blogueiro faz
algumas correções em uma interpretação errônea do conceito.
quinta-feira, fevereiro 15, 2018
Cinegnose participa de debate sobre guerra antimídia e carnaval na TV 247
quinta-feira, fevereiro 15, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Respondendo ao convite do jornalista e editor-responsável pelo Brasil 247, Leonardo Attuch, esse humilde blogueiro participou de uma discussão no canal YouTube TV 247 sobre a repercussão do desfile da escola Paraíso do Tuiuti. O debate foi ontem à tarde (14/02), enquanto acontecia a apuração das notas do Grupo Especial do Carnaval do Rio.
O que, junto com a participação dos comentários dos internautas, rendeu um bom debate sob o calor dos acontecimentos.
Na verdade, o convite foi um desdobramento da última postagem deste Cinegnose sobre a guerrilha semiótica que representou esse último carnaval (" Guerra Antimídia no sambódromo, zumbis no carnaval e Grau Zero na Política... mas não conte prá esquerda" - clique aqui), desde " trolagens" e acontecimentos involuntários para jornalistas que faziam a cobertura da folia (repórteres pegos de surpresa com manifestações políticas etc.) até o ápice da bomba antimídia (contra-semiótica) das alas e carros alegóricos da Tuiuti.
Um debate proveitoso, porque pude explicar de uma forma mais detalhada os conceitos de bomba semiótica, guerra híbrida, a evolução da cultura midiática em três fases (propaganda-repetição; publicidade-sedução; e a atual cultura de disseminação viral) e as lições para uma ação política antimídia.
Confira o vídeo abaixo:
terça-feira, fevereiro 13, 2018
Guerra antimídia no sambódromo, zumbis no Carnaval e Grau Zero na política... mas não conte prá esquerda!
terça-feira, fevereiro 13, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Enquanto a escola Paraíso do Tuiuti no
Rio de Janeiro deixava Fátima Bernardes e Alex Escobar constrangidos ao vivo,
quebrando o silêncio com cacos de falas desconexas enquanto alas de passistas
mostravam Temer como “o vampiro neoliberatista”, “manifestoches” com patos
amarelos da Fiesp e operários bradando carteiras de trabalho, em Curitiba o
Carnaval era assombrado por uma Zombie Walk em plena cidade-sede da Lava Jato. Ao
mesmo tempo a esquerda pensa em “frentes suprapartidárias” para ganhar tempo na
eminente prisão de Lula e simplesmente se exime em ocupar o campo semiótico da
sociedade. E a grande mídia ganha a guerrilha semiótica por W.O.. Com raras
exceções como mostrou a Paraíso do Tuiuti... mas não conte para a esquerda,
sempre muito ocupada com o jogo parlamentar no qual cada um tenta salvar a
própria biografia com narrativas de “luta” e “resistência”. Será que alcançamos
o “grau zero da política” como anteviu o pensador Jean Baudrillard, a Matrix
política que simula escândalos e golpes para colocar em movimento signos
vazios? Teoria da Conspiração? E se descobrirmos que essa expressão foi criada
pela CIA em 1967 para tentar desacreditar todas as narrativas não-oficiais?
domingo, fevereiro 11, 2018
O homem é um hamster andando em uma roda no "VirtuSphere"
domingo, fevereiro 11, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um perfeito conto sobre tecnologia atual.
Dois engenheiros, Jim Damascio e Ray Latypov, criaram uma empresa chamada
VirtuSphere. E o seu produto também se chama VirtuSphere: uma bola de metal
gigante, na forma de uma roda de hamster. Aquela dentro da qual os alegres
roedores prisioneiros correm. As pessoas podem colocar seus óculos de realidade
virtual, entrar na VirtuSphere e simular qualquer coisa que elas quiserem,
andando, correndo e pulando como um hamster real. Um conto no qual a metáfora
passou para a literalidade – para muitos pesquisadores as metáforas da bolha (o
“filtro-bolha” de Eli Pariser) e da inércia (a “inércia polar” de Paul Virilio)
são aquelas que melhor descreveriam a relação atual do homem com as máquinas. E um
hamster correndo sem sair do lugar no interior de uma esfera é um exemplo de
como a atual imaginação tecnológica não esconde mais suas pretensões
tecnognósticas: de viajantes, nos transformar em passageiros, como apêndices de
uma máquina.
quinta-feira, fevereiro 08, 2018
Curtas da Semana: " Restart" e "Einstein-Rosen" - uma sensibilidade gnóstica do Tempo-Espaço
quinta-feira, fevereiro 08, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma jovem é sequestrada e levada para um bunker subterrâneo para ser uma cobaia humana em experiência de loop temporal pelo obscuros interesses corporativos de uma empresa. E em 1982, junto com seu irmão, um menino procura um " buraco de minhoca" no tempo-espaço de uma área do prédio em que mora. Para jogar através da passagem a bola que recuperará 35 anos depois no mesmo local. Esses são os curtas espanhóis "Restart" e " Einstein-Rosen" de Olga Osorio. Duas produções que mostram como a mitologia gnóstica hoje tornou-se o "espírito do tempo": uma nova sensibilidade ou olhar para a realidade tanto política quanto existencial.
domingo, fevereiro 04, 2018
O monstro é o espelho da matrix humana em "A Forma da Água"
domingo, fevereiro 04, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma fábula romântica ao estilo a Bela e a
Fera? Um libelo contra o racismo, a intolerância e a demonização do outro em
plena Era Trump? “A Forma da Água” (“The Shape of Water”, 2017) de Guillermo
Del Toro, com 13 indicações ao Oscar, é tudo isso, mas vai muito além da
estória de amor e de uma metáfora do contexto político atual. O “monstro”, um
homem anfíbio capturado na Amazônia para servir de cobaia em um complexo
científico-militar no auge da Guerra Fria, é o espelho da incomunicabilidade
humana. Cada personagem vê na criatura o reflexo do seu drama interior –
solidão, racismo, obsolescência etc. Preso nessa matrix de signos, o homem não
consegue ver aquilo que está lá fora – outros seres que vivem em toda a sua
especificidade e dignidade.
quinta-feira, fevereiro 01, 2018
Quando a mídia transforma vícios privados em virtudes públicas
quinta-feira, fevereiro 01, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Para
impor seu DNA, leões matam os filhotes da cria anterior ao desposar a leoa. Da
mesma maneira entre os humanos, em toda História, os vencedores submetem os
vencidos a castigos e crueldades como forma de demonstração simbólica do poder.
E no Brasil atual, os vencedores ostentam a conquista de terras arrasadas em
shows midiáticos de demonstração de poder, confirmando o sombrio presságio dos
escritores libertinos do século XVIII: um dia as perversões privadas
se transformarão em virtudes públicas. O bizarro vídeo da deputada quase
ministra Cristiane Brasil falando em “justiça” e “direitos” enquanto fortões
seminus ao redor dela encaram a câmera de forma intimidadora; o trocadilho
erótico de Rosângela Moro no Instagram; e a piada pronta de Temer no quadro
“Topa Tudo Por Dinheiro” de Silvio Santos que se deliciava com uma pistola que
disparava dinheiro são, além de exemplares da histórica violência simbólica dos
vencedores, lições de propaganda política para a esquerda. Nem Cristine Brasil
está preocupada com justiça e muito menos Temer quer convencer os
telespectadores. São meras provocações, bombas semióticas para ocupar espaço
midiático e criar espiral de polêmica diante de uma esquerda que apenas esperneia escandalizada.
terça-feira, janeiro 30, 2018
Em "Um Ponto Zero" a paranoia é a falha na matrix da realidade
terça-feira, janeiro 30, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Cisão
esquizofrênica? Falha da racionalidade? Em geral o cinema figura a paranoia
dentro dessas representações. Mas é no filme “Um Ponto Zero” (“One Point 0” aka
“Paranoia 1.0”, 2004) que a paranoia evolui de simples transtorno mental para
uma percepção especial: se em “Matrix” o déjà-vu era uma falha na realidade
codificada, em “Um Ponto Zero” essa falha chama-se “paranoia” - aproximando-se do insight do pensador
gnóstico Valentim, lá no distante século II DC. A paranoia não só como uma
“falha na racionalidade”, mas como a percepção da falha na própria sintaxe que
estrutura a realidade. Um solitário programador de computador começa a receber misteriosas
caixas vazias que o farão mergulhar em um universo cercado de câmeras de
vigilância em um edifício residencial em ruínas, nano tecnologia, redes de
computadores, e-mails infectados, um estranho vírus bio-cibernético, obscuros
interesses corporativos e um estranho experimento em Neuromarketing.
sábado, janeiro 27, 2018
O destino de Lula e a "Síndrome de Brian" da esquerda
sábado, janeiro 27, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No
momento que o destino de Lula era selado pelo TRF-4, sincronismos e
coincidências cercavam o evento: o “Dia D” da vacinação contra a febre amarela,
o “beijo incestuoso” do BBB da Globo e o estranho jornalismo paranormal da
grande mídia, capaz de antecipar resultados de votação (assim como a Globo “previu”
o sorteio do mando de campo da final da Copa do Brasil em 2016) e detalhes da
prisão de Lula. Enquanto isso, embargos declaratórios, infringentes e recursos
povoam as estratégias da executiva do PT, que vive uma crônica “Síndrome de
Brian” – relativo ao filme “A Vida de Brian” (1979) da trupe inglesa de humor
Monty Python: a estratégia paralisante da “Frente Popular da Judéia” contra o
imperialismo romano, mais preocupada em fazer propaganda auto-indulgente do que
enfrentar o oponente em seu próprio território: a psicologia de massas. Por
incrível que pareça, Kim Kataguiri e a cena em que o porta-voz da indústria de
tabaco, Nick Naylor, convence seu filho de que o sorvete de baunilha é melhor
que o de chocolate no filme “Obrigado Por Fumar”(2005) têm mais lições a ensinar
do que o discurso sobre “resistência”, “indignação” e “esperança” da esquerda.
E parece que a filósofa Marcia Tiburi foi a primeira a perceber a armadilha na
qual a esquerda está metida. Pauta sugerida pelo nosso leitor José Carlos Lima.
quinta-feira, janeiro 25, 2018
Morre Mark E. Smith, a Dialética Negativa do rock
quinta-feira, janeiro 25, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Para
muitos foi um compositor e vocalista que mudou tudo o que se pensava sobre
palavras e linguagens. Capaz de produzir um efeito sísmico sobre o poder da
música e as possibilidades do som, demonstrando que o rock poderia vir de algum
lugar mais profundo e escuro. Muito além do entretenimento. Morreu aos 60 anos
Mark E. Smith, líder do “The Fall”, banda que por 40 anos resistiu a todos os
tipos de rótulos da indústria do entretenimento. Embora solidamente enraizado
no punk das cidades industriais inglesas dos anos 1970, o prolífico compositor
de 32 álbuns Mark E. Smith conseguiu produzir uma música atemporal, cujas
composições referenciam nomes como Camus, Philip K. Dick, HP Lovercraft e
Edgard Alan Poe, criando uma atmosfera de pesadelo sci-fi. Assim como B.B. King
esteve para o blues, Mark Smith também esteve para o rock: criar na música
aquilo que Theodor Adorno chamava de “dialética negativa” – a recusa de conciliação com esse mundo. Ao invés
de síntese, criar o antagonismo radical: manter para sempre na música a memória
da rudeza da vida nas notas atonais, nas composições obscuras e cheias de
hipérboles ao estilo da escrita de Charles Bukowski.
terça-feira, janeiro 23, 2018
Em ano eleitoral Globo aciona a "Máquina de Narciso"
terça-feira, janeiro 23, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma
doutora e professora da Pós-graduação em Ciência Política da UFMG no BBB 2018.
Enquanto isso, pacientemente repórteres da Globo ensinam telespectadores a
gravarem vídeos com celulares para enviar depoimentos que respondam a pergunta:
“Que Brasil você quer para o futuro?” em exíguos 15 segundos. São dois lados de
um mesmo processo brasileiro detectado nos anos 1980, quando um jovem engraxate
da favela da Rocinha respondeu à pergunta “O que você quer ver na TV?”. “EU!”,
respondeu o jovem diante de um pesquisador perplexo. Nesse momento, a Globo
coloca em funcionamento a chamada “máquina de Narciso”: no momento em que o ano
eleitoral aponta para o acirramento da crise social e econômica, anomia e caos,
a mínima forma de uma coesão social é através das imagens. O final
do projeto midiático de substituir todas as formas políticas de mediação (a
representação, o voto, o partido, o sindicato etc.) pelos próprios meios de
comunicação – Berlusconi, Trump, Doria Jr. e o aspirante Luciano Huck seriam o
aspecto mais visível disso. Sem esperanças na Política e na Economia, restaria
a última boia salva-vidas oferecida pela mídia no mar da crise: a do ego mínimo
promovido a Narciso.
quinta-feira, janeiro 18, 2018
Em "La Casa de Papel" ladrões roubam o bem mais importante: o Tempo
quinta-feira, janeiro 18, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Diante de
toda uma geração que vive sob o impacto do desemprego e da perda de direitos sociais
desde o crash financeiro internacional de 2008, a Espanha vem produzindo uma série de filmes
que pensa essa condição. O mais recente é a série para TV “La Casa de Papel”
(2017-), disponível no Netflix, que reflete a perplexidade de todos diante da
natureza dessa crise: como conformar-se com bancos, agentes financeiros e
especuladores capazes de fabricar, sem limites, o próprio dinheiro enquanto o
restante da sociedade sofre as consequências? Um grupo de ladrões trajando
macacões vermelhos e com máscaras do Salvador Dalí invade a Casa da Moeda da
Espanha, liderado por alguém cujo codinome é “Professor”. Eles não vieram
roubar, mas fabricar seu próprio dinheiro com a ajuda dos próprios reféns. Mas
o “Professor” terá que roubar um bem menos tangível e muito mais importante:
roubar o tempo do Governo, da Polícia e da grande mídia. Quais as conexões
entre um sistema monetário-financeiro sem lastro e o controle do Tempo?
domingo, janeiro 14, 2018
Após 200 anos, "Frankenstein" continua o Prometeu acorrentado
domingo, janeiro 14, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nesse
mês comemoram-se os 200 anos da primeira edição impressa em janeiro de 1818 do
romance de Mary Shelley “Frankenstein ou o Prometeu Moderno”, cujo impacto na
cultura moderna começou com as primeiras adaptações ao teatro. Mas o filme
“Frankenstein” de 1931, com as correntes galvânicas, trovões, um cientista
louco gritando “Está vivo!” e a icônica maquiagem de Boris Karloff,
definitivamente consolidaram o personagem e suas variações (zumbis, autômatos,
replicantes etc.) na cultura popular.
Porém, nesses dois séculos as adaptações do livro clássico
invariavelmente giraram em torno da crítica à arrogância humana e científica do
homem querer se equiparar a Deus. E a punição e sofrimento, assim como no mito
de Prometeu acorrentado e punido pelos deuses. Por isso, ainda o cinema deve uma
adaptação fiel ao imaginário romântico de “Frankenstein”: a criatura como um
Prometeu desacorrentado que sintetizou o espírito revolucionário do Romantismo:
a rejeição tanto do cristianismo quanto do materialismo iluminista através do
sincretismo da ciência com o terreno espiritual - Alquimia, Cabala e
Gnosticismo. Pauta sugerida pelo nosso leitor Eduardo G.
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