domingo, fevereiro 11, 2018
O homem é um hamster andando em uma roda no "VirtuSphere"
domingo, fevereiro 11, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um perfeito conto sobre tecnologia atual.
Dois engenheiros, Jim Damascio e Ray Latypov, criaram uma empresa chamada
VirtuSphere. E o seu produto também se chama VirtuSphere: uma bola de metal
gigante, na forma de uma roda de hamster. Aquela dentro da qual os alegres
roedores prisioneiros correm. As pessoas podem colocar seus óculos de realidade
virtual, entrar na VirtuSphere e simular qualquer coisa que elas quiserem,
andando, correndo e pulando como um hamster real. Um conto no qual a metáfora
passou para a literalidade – para muitos pesquisadores as metáforas da bolha (o
“filtro-bolha” de Eli Pariser) e da inércia (a “inércia polar” de Paul Virilio)
são aquelas que melhor descreveriam a relação atual do homem com as máquinas. E um
hamster correndo sem sair do lugar no interior de uma esfera é um exemplo de
como a atual imaginação tecnológica não esconde mais suas pretensões
tecnognósticas: de viajantes, nos transformar em passageiros, como apêndices de
uma máquina.
quinta-feira, fevereiro 08, 2018
Curtas da Semana: " Restart" e "Einstein-Rosen" - uma sensibilidade gnóstica do Tempo-Espaço
quinta-feira, fevereiro 08, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma jovem é sequestrada e levada para um bunker subterrâneo para ser uma cobaia humana em experiência de loop temporal pelo obscuros interesses corporativos de uma empresa. E em 1982, junto com seu irmão, um menino procura um " buraco de minhoca" no tempo-espaço de uma área do prédio em que mora. Para jogar através da passagem a bola que recuperará 35 anos depois no mesmo local. Esses são os curtas espanhóis "Restart" e " Einstein-Rosen" de Olga Osorio. Duas produções que mostram como a mitologia gnóstica hoje tornou-se o "espírito do tempo": uma nova sensibilidade ou olhar para a realidade tanto política quanto existencial.
domingo, fevereiro 04, 2018
O monstro é o espelho da matrix humana em "A Forma da Água"
domingo, fevereiro 04, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma fábula romântica ao estilo a Bela e a
Fera? Um libelo contra o racismo, a intolerância e a demonização do outro em
plena Era Trump? “A Forma da Água” (“The Shape of Water”, 2017) de Guillermo
Del Toro, com 13 indicações ao Oscar, é tudo isso, mas vai muito além da
estória de amor e de uma metáfora do contexto político atual. O “monstro”, um
homem anfíbio capturado na Amazônia para servir de cobaia em um complexo
científico-militar no auge da Guerra Fria, é o espelho da incomunicabilidade
humana. Cada personagem vê na criatura o reflexo do seu drama interior –
solidão, racismo, obsolescência etc. Preso nessa matrix de signos, o homem não
consegue ver aquilo que está lá fora – outros seres que vivem em toda a sua
especificidade e dignidade.
quinta-feira, fevereiro 01, 2018
Quando a mídia transforma vícios privados em virtudes públicas
quinta-feira, fevereiro 01, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Para
impor seu DNA, leões matam os filhotes da cria anterior ao desposar a leoa. Da
mesma maneira entre os humanos, em toda História, os vencedores submetem os
vencidos a castigos e crueldades como forma de demonstração simbólica do poder.
E no Brasil atual, os vencedores ostentam a conquista de terras arrasadas em
shows midiáticos de demonstração de poder, confirmando o sombrio presságio dos
escritores libertinos do século XVIII: um dia as perversões privadas
se transformarão em virtudes públicas. O bizarro vídeo da deputada quase
ministra Cristiane Brasil falando em “justiça” e “direitos” enquanto fortões
seminus ao redor dela encaram a câmera de forma intimidadora; o trocadilho
erótico de Rosângela Moro no Instagram; e a piada pronta de Temer no quadro
“Topa Tudo Por Dinheiro” de Silvio Santos que se deliciava com uma pistola que
disparava dinheiro são, além de exemplares da histórica violência simbólica dos
vencedores, lições de propaganda política para a esquerda. Nem Cristine Brasil
está preocupada com justiça e muito menos Temer quer convencer os
telespectadores. São meras provocações, bombas semióticas para ocupar espaço
midiático e criar espiral de polêmica diante de uma esquerda que apenas esperneia escandalizada.
terça-feira, janeiro 30, 2018
Em "Um Ponto Zero" a paranoia é a falha na matrix da realidade
terça-feira, janeiro 30, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Cisão
esquizofrênica? Falha da racionalidade? Em geral o cinema figura a paranoia
dentro dessas representações. Mas é no filme “Um Ponto Zero” (“One Point 0” aka
“Paranoia 1.0”, 2004) que a paranoia evolui de simples transtorno mental para
uma percepção especial: se em “Matrix” o déjà-vu era uma falha na realidade
codificada, em “Um Ponto Zero” essa falha chama-se “paranoia” - aproximando-se do insight do pensador
gnóstico Valentim, lá no distante século II DC. A paranoia não só como uma
“falha na racionalidade”, mas como a percepção da falha na própria sintaxe que
estrutura a realidade. Um solitário programador de computador começa a receber misteriosas
caixas vazias que o farão mergulhar em um universo cercado de câmeras de
vigilância em um edifício residencial em ruínas, nano tecnologia, redes de
computadores, e-mails infectados, um estranho vírus bio-cibernético, obscuros
interesses corporativos e um estranho experimento em Neuromarketing.
sábado, janeiro 27, 2018
O destino de Lula e a "Síndrome de Brian" da esquerda
sábado, janeiro 27, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No
momento que o destino de Lula era selado pelo TRF-4, sincronismos e
coincidências cercavam o evento: o “Dia D” da vacinação contra a febre amarela,
o “beijo incestuoso” do BBB da Globo e o estranho jornalismo paranormal da
grande mídia, capaz de antecipar resultados de votação (assim como a Globo “previu”
o sorteio do mando de campo da final da Copa do Brasil em 2016) e detalhes da
prisão de Lula. Enquanto isso, embargos declaratórios, infringentes e recursos
povoam as estratégias da executiva do PT, que vive uma crônica “Síndrome de
Brian” – relativo ao filme “A Vida de Brian” (1979) da trupe inglesa de humor
Monty Python: a estratégia paralisante da “Frente Popular da Judéia” contra o
imperialismo romano, mais preocupada em fazer propaganda auto-indulgente do que
enfrentar o oponente em seu próprio território: a psicologia de massas. Por
incrível que pareça, Kim Kataguiri e a cena em que o porta-voz da indústria de
tabaco, Nick Naylor, convence seu filho de que o sorvete de baunilha é melhor
que o de chocolate no filme “Obrigado Por Fumar”(2005) têm mais lições a ensinar
do que o discurso sobre “resistência”, “indignação” e “esperança” da esquerda.
E parece que a filósofa Marcia Tiburi foi a primeira a perceber a armadilha na
qual a esquerda está metida. Pauta sugerida pelo nosso leitor José Carlos Lima.
quinta-feira, janeiro 25, 2018
Morre Mark E. Smith, a Dialética Negativa do rock
quinta-feira, janeiro 25, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Para
muitos foi um compositor e vocalista que mudou tudo o que se pensava sobre
palavras e linguagens. Capaz de produzir um efeito sísmico sobre o poder da
música e as possibilidades do som, demonstrando que o rock poderia vir de algum
lugar mais profundo e escuro. Muito além do entretenimento. Morreu aos 60 anos
Mark E. Smith, líder do “The Fall”, banda que por 40 anos resistiu a todos os
tipos de rótulos da indústria do entretenimento. Embora solidamente enraizado
no punk das cidades industriais inglesas dos anos 1970, o prolífico compositor
de 32 álbuns Mark E. Smith conseguiu produzir uma música atemporal, cujas
composições referenciam nomes como Camus, Philip K. Dick, HP Lovercraft e
Edgard Alan Poe, criando uma atmosfera de pesadelo sci-fi. Assim como B.B. King
esteve para o blues, Mark Smith também esteve para o rock: criar na música
aquilo que Theodor Adorno chamava de “dialética negativa” – a recusa de conciliação com esse mundo. Ao invés
de síntese, criar o antagonismo radical: manter para sempre na música a memória
da rudeza da vida nas notas atonais, nas composições obscuras e cheias de
hipérboles ao estilo da escrita de Charles Bukowski.
terça-feira, janeiro 23, 2018
Em ano eleitoral Globo aciona a "Máquina de Narciso"
terça-feira, janeiro 23, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma
doutora e professora da Pós-graduação em Ciência Política da UFMG no BBB 2018.
Enquanto isso, pacientemente repórteres da Globo ensinam telespectadores a
gravarem vídeos com celulares para enviar depoimentos que respondam a pergunta:
“Que Brasil você quer para o futuro?” em exíguos 15 segundos. São dois lados de
um mesmo processo brasileiro detectado nos anos 1980, quando um jovem engraxate
da favela da Rocinha respondeu à pergunta “O que você quer ver na TV?”. “EU!”,
respondeu o jovem diante de um pesquisador perplexo. Nesse momento, a Globo
coloca em funcionamento a chamada “máquina de Narciso”: no momento em que o ano
eleitoral aponta para o acirramento da crise social e econômica, anomia e caos,
a mínima forma de uma coesão social é através das imagens. O final
do projeto midiático de substituir todas as formas políticas de mediação (a
representação, o voto, o partido, o sindicato etc.) pelos próprios meios de
comunicação – Berlusconi, Trump, Doria Jr. e o aspirante Luciano Huck seriam o
aspecto mais visível disso. Sem esperanças na Política e na Economia, restaria
a última boia salva-vidas oferecida pela mídia no mar da crise: a do ego mínimo
promovido a Narciso.
quinta-feira, janeiro 18, 2018
Em "La Casa de Papel" ladrões roubam o bem mais importante: o Tempo
quinta-feira, janeiro 18, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Diante de
toda uma geração que vive sob o impacto do desemprego e da perda de direitos sociais
desde o crash financeiro internacional de 2008, a Espanha vem produzindo uma série de filmes
que pensa essa condição. O mais recente é a série para TV “La Casa de Papel”
(2017-), disponível no Netflix, que reflete a perplexidade de todos diante da
natureza dessa crise: como conformar-se com bancos, agentes financeiros e
especuladores capazes de fabricar, sem limites, o próprio dinheiro enquanto o
restante da sociedade sofre as consequências? Um grupo de ladrões trajando
macacões vermelhos e com máscaras do Salvador Dalí invade a Casa da Moeda da
Espanha, liderado por alguém cujo codinome é “Professor”. Eles não vieram
roubar, mas fabricar seu próprio dinheiro com a ajuda dos próprios reféns. Mas
o “Professor” terá que roubar um bem menos tangível e muito mais importante:
roubar o tempo do Governo, da Polícia e da grande mídia. Quais as conexões
entre um sistema monetário-financeiro sem lastro e o controle do Tempo?
domingo, janeiro 14, 2018
Após 200 anos, "Frankenstein" continua o Prometeu acorrentado
domingo, janeiro 14, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nesse
mês comemoram-se os 200 anos da primeira edição impressa em janeiro de 1818 do
romance de Mary Shelley “Frankenstein ou o Prometeu Moderno”, cujo impacto na
cultura moderna começou com as primeiras adaptações ao teatro. Mas o filme
“Frankenstein” de 1931, com as correntes galvânicas, trovões, um cientista
louco gritando “Está vivo!” e a icônica maquiagem de Boris Karloff,
definitivamente consolidaram o personagem e suas variações (zumbis, autômatos,
replicantes etc.) na cultura popular.
Porém, nesses dois séculos as adaptações do livro clássico
invariavelmente giraram em torno da crítica à arrogância humana e científica do
homem querer se equiparar a Deus. E a punição e sofrimento, assim como no mito
de Prometeu acorrentado e punido pelos deuses. Por isso, ainda o cinema deve uma
adaptação fiel ao imaginário romântico de “Frankenstein”: a criatura como um
Prometeu desacorrentado que sintetizou o espírito revolucionário do Romantismo:
a rejeição tanto do cristianismo quanto do materialismo iluminista através do
sincretismo da ciência com o terreno espiritual - Alquimia, Cabala e
Gnosticismo. Pauta sugerida pelo nosso leitor Eduardo G.
quarta-feira, janeiro 10, 2018
Luciano Huck: da vulgaridade regada a funk e pagode à "grande esperança branca"
quarta-feira, janeiro 10, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O
ex-cineasta e jornalista Arnaldo Jabor chamava-o de “fazendeiro de bundas” no
final dos anos 1990. Naquele momento, a elite bem-pensante de um país cujo
presidente era um sociólogo e doutor pela Sorbonne via-o como um personagem do nível de apresentadores como Gugu ou Ratinho. Produto da “revolução da
vulgaridade regada a funk e pagode”. Mas os tempos mudaram. Agora Luciano Huck
é a “grande esperança branca” depois de muitas idas e vindas – subliminarmente
lançou sua candidatura no “Domingão do Faustão” ao negar ser “o salvador da
pátria” e acrescentar: “não sei o que vai ser a minha vida”, ao lado da
candidata a primeira-dama Angélica. Como sempre, o “wishful thinking” das
esquerdas considera tudo uma “manobra desesperada dos golpistas”. Mas o golpe
não chegou até aqui, com um tic-tac milimetricamente calculado e eficiente com
o apoio logístico da Guerra Híbrida e do Lawfare do Departamento de Estado dos
EUA, para ver todas as “reformas” perdidas numa eleição democrática. A ocupação
midiática do Estado já superou a antiga visão da “Sociedade do Espetáculo” de
Guy Debord. Agora a grande mídia quer dispensar intermediários para alinhar de
uma vez o Estado ao tempo real midiático-financeiro.
segunda-feira, janeiro 08, 2018
"Paul Virilio - Pensar a Velocidade": o Acidente Integral é o nosso futuro?
segunda-feira, janeiro 08, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por
décadas o urbanista e pensador francês Paul Virilio, através de inúmeros
ensaios sobre estratégia, tecnologia e estética, nos alerta para o risco do
“Acidente Integral”: o momento em que a velocidade dos sistemas computacionais
automáticos, cujas decisões estão à cargo dos algoritmos, se precipitará
catastroficamente sobre o Tempo, a Sociedade e a História. A ameaça do Bug de
2000 foi o preâmbulo; e o risco probabilístico de que o acelerador de
partículas do CERN produza um buraco negro que trague todo o planeta o seu
principal simbolismo. O documentário “Paul Virilio: Pensar a Velocidade”
(2009), no momento exibido no Brasil pelo canal fechado “Curta!”, narra o pensamento
original do pesquisador francês cuja especialização que criou (a “Dromologia”)
parte de dois pressupostos: primeiro, toda tecnologia surgiu da guerra e, por isso,
irradia o princípio da velocidade como modo de vida. E segundo, toda tecnologia produz o
seu acidente: o trem, o descarrilamento; o avião, o acidente aéreo; o navio, o
naufrágio. Paul Virilio questiona: portanto, qual será o acidente produzido
pela “bomba informática”?
sábado, janeiro 06, 2018
"After Life": após a morte, cinema, memória e esquecimento nos esperam
sábado, janeiro 06, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme
japonês “After Life” (Wandafuru Raifu, 1998), de Hirokazu Koreeda, é um ponto
fora da curva das representações do pós-vida no cinema. O filme combina duas
representações que sempre se opuseram: de um lado, a representação do céu como
uma organização hierárquica com porteiros, anjos e tribunais; e do outro o céu
solipsista, como projeção dos nossos sonhos, memórias e desejos. Um grupo de
recém-falecidos chega a um velho prédio, no qual são recebidos por funcionários
que explicam que morreram. Os funcionários são roteiristas e produtores de
cinema. A missão: escolher uma memória a partir da vida de cada um. Para ser
roteirizada e transformada em um filme que reconstitua a cena mais feliz que
cada um levará para toda a Eternidade. Enquanto todo o restante da vida será
esquecido. Uma fábula sobre o tempo, morte e memória. Mas também suscita uma
reflexão sobre um tipo de memória criada a partir dos simulacros da imagem.
sexta-feira, janeiro 05, 2018
Guia para rastrear Fake News cria nova mitologia no Jornalismo
sexta-feira, janeiro 05, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A Abraji
(aquela associação de jornalistas que confunde “jornalismo investigativo” com
“checagem de informação”) divulgou o “Guia para Consumidores de Notícias” do
jornalista norte-americano Bob Garfield com “11 dicas simples para separar o
joio do trigo”. E, claro, o joio são aqueles sites e blogs
suspeitos de Fake News com “muita publicidade, banners e pop-ups”. Bem vindo ao mundo das
“plataformas de fact-checking” que, assim como fazem as próprias notícias falsas, requentam o
prato frio das Fake News, tão velhas quanto a história do jornalismo. Mas para os "checadores", as notícias falsas surgiram só depois de cinco séculos de jornalismo, com
a Internet, para profanar a inocência das vestais da grande imprensa. Fake News
é a nova mitologia publicitária para valorizar o produto notícia mediante a
produção da “escassez” informativa e também um novo selo de controle de
qualidade para "separar o joio do trigo” e manter o monopólio informativo da
grande imprensa. Além de ser mais uma arma da guerra híbrida: uma “plataforma
de fact-checking” para cada país com “eleições, corrupção e crise política”.
quarta-feira, janeiro 03, 2018
Curta da Semana: "5 Films About Technology" - cinco acidentes em nossas bolhas virtuais
quarta-feira, janeiro 03, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Cinco
contos sobre a nossa obsessão pelos smartphones. Cinco pequenas vinhetas
sobre acidentes (físicos, mal entendidos, incontroláveis efeitos virais etc.). Pequenos
momentos que retratam a vida de pessoas normais através de gags sobre efeitos
inesperados das nossas relações com os celulares nos quais cada efeito é rapidamente interligado com o personagem da próxima vinheta. É o
curta de Peter Huang chamado “5 Films About Technology” (2016) que nos permite
fazer uma reflexão sobre dois fundamentos da nossa experiência na modernidade:
a tecnologia e o acidente. Mas principalmente o irônico destino dos dispositivos
móveis: ao invés da comunicação, a incomunicabilidade – bolhas solipsistas que
tornam a realidade um conjunto de impressões sem existência própria. Mas o
acidente está sempre à nossa espera: sempre as bolhas estouram.
sábado, dezembro 30, 2017
Mídia esvazia significado oculto do Ano Novo
sábado, dezembro 30, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nesse
momento de contagem regressiva para o Ano Novo, cada telejornal e programa de
entretenimento recorre à pauta de sempre: as resoluções para o novo ano e as
simpatias e crendices para o reveillon. Principalmente agora, época em que desempregados
e trabalhadores temporários foram reciclados como “empreendedores” para tentar
elevar o astral da patuleia. Mas tudo isso esconde um significado oculto e
milenar das festividades de final de ano que envolve “Janus” - a divindade indo-europeia ambivalente com duas
caras, uma olhando para o futuro e a outra para o passado. De onde veio
“Janeiro”, cujo primeiro dia do mês na Roma antiga era dedicado a rituais e
sacrifícios ao deus criador das mudanças e transições, como progressão do
passado para o futuro, de uma visão para a outra, de um universo para o outro.
Janus olhava para o futuro, mas também para o passado para lembrar e aprender.
Mas para grande mídia é apenas a comemoração do fim de uma ano velho e a
celebração otimista de um ano supostamente novo. Não olhar para o passado e
repetir os mesmos erros no futuro. Celebrar o esquecimento.
quinta-feira, dezembro 28, 2017
No oitavo aniversário "Cinegnose" atualiza lista com 101 filmes gnósticos
quinta-feira, dezembro 28, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nesse
mês o “Cinegnose” faz aniversário. Oito anos analisando filmes gnósticos e também os chamados "filmes estranhos" - "weird movies". Procurando mapear, seja nos filmes hollywoodianos, pop ou
no cinema de arte, a presença e evolução dos diversos elementos gnósticos e
simbolismos místicos ou esotéricos associados ao sincretismo do chamado
Gnosticismo Hermético. Também baixamos à terra, onde “Cinegnose” exerceu a
crítica à política da grande mídia e à cultura pop – instrumentos que perpetuam
a ilusão desse mundo. Afinal, esse é o plot central do drama cósmico narrado
pela Cosmogonia gnóstica. Para comemorar esse oitavo aniversário, o “Cinegnose”
atualizou a lista dos filmes que receberam o “Certificado de Filme Gnóstico” do
blog. Agora são 101 filmes, analisados ao longo desses anos. Certamente filmes
diante dos quais não podemos passar indiferentes. Pelo menos, enquanto
estivermos nesse mundo.
segunda-feira, dezembro 25, 2017
Os sinais silenciosos que antecedem um golpe em "The Handmaid's Tale"
segunda-feira, dezembro 25, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Para a
revista “New Yorker”, publicação dos leitores bem pensantes liberais dos EUA, a
série “Handmaid’s Tale” (2017-) é um “distópico conto feminista” da atual era
Trump. Mas enquadrar a produção da plataforma de streaming Hulu nesse clichê é
confirmar aquilo que a própria série alerta: ao qualificar os sinais do
conservadorismo apenas como excrescências religiosas de gente ignorante é mau
informada, reduzimos tudo a uma estranha normalidade, sem percebemos os sinais silenciosos cotidianos que antecedem os golpes políticos. Em “The Handmaid’s Tale” a
América foi dominada por um estado teocrático fundamentalista cristão. Um
desastre ambiental tornou a maioria das mulheres estéreis. As poucas mulheres
férteis foram subjugadas e transformadas em “servas”, reduzidas a aparelhos
reprodutores de uma elite dominante masculina. O Congresso, a Casa Branca e o
Supremo Tribunal foram massacrados e a Constituição foi substituída pela leitura
radical dos versículos da Bíblia.
domingo, dezembro 24, 2017
O espírito do tempo do Natal em "Santa Claus" e "Star Wars Holiday Special"
domingo, dezembro 24, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que há em comum entre o filme mexicano “Santa Claus” (1959, aka “Santa Claus vs. The Devil”) e “Star Wars Holiday Special” (1978), o especial de Natal da CBS, considerado a pior coisa já feita para a TV? Cada uma dessas produções, na sua época, traduziu o Natal de acordo com o “espírito do tempo”. O primeiro, na esteira do início da corrida espacial e Guerra Fria EUA e URSS. E o segundo, no rastro do sucesso do filme de 1977, já antevendo o computador pessoal e compras e comunicação através da Internet. Contextos tecnológicos e políticos diferentes que criaram, cada um no seu tempo, formas diferentes de interpretar os simbolismos natalinos: o primeiro, global; o segundo, cósmico. Mas os destinos das produções foram diferentes: “Santa Claus” foi um dos filmes natalinos mais reprisados da TV norte americana; enquanto “Star Wars Holiday Special” foi renegado pelos atores, fãs e pelo próprio George Lucas: “eu queria apenas tempo e um martelo para destruir cada cópia”, lamentou.
quinta-feira, dezembro 21, 2017
Globo faz mais três "Contos Maravilhosos" para Natal do mérito-empreendedor
quinta-feira, dezembro 21, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Olhe
sempre para o lado brilhante da vida”, cantava um condenado à morte pelos
romanos, na cruz, no filme “A Vida de Brian” do grupo inglês de humor Monty
Python. Diante de uma realidade birrenta e teimosa que insiste em contradizer a
pauta da “retomada do crescimento econômico”, a mídia corporativa faz como Eric
Idle cantando naquele filme: tenta transformar más notícias em positivos “Contos
Maravilhosos”, conceito dos estudos de narratologia do
pesquisador Vladimir Propp – contos mágicos de perda e recompensa. Para tentar
elevar o astral da patuleia, agora convertida em mérito-empreendedores, a Globo
criou mais três edificantes contos para as festas de fim de ano: os contos
maravilhosos sobre o botijão de gás, o Conto Maravilhoso do resgate dos valores
natalinos e uma novidade – o Meta Conto Maravilhoso da jornalista demitida.
terça-feira, dezembro 19, 2017
Bebês, repolhos e Papai Noel no cruel mundo adulto de "Patch Town"
terça-feira, dezembro 19, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Bebês,
pés de repolhos e Papai Noel numa fábula sobre um mundo adulto que prepara
crianças para o futuro cruel que as espera – a exploração física e psíquica
pelo trabalho e sociedade de consumo. Um filme que combina a iconografia da era
soviética, folclore europeu oriental, a mitologia gnóstica do demiurgo, Papai
Noel e elfos. Um mundo no qual bebês são recolhidos em campos de repolhos para
serem vendidos como bonecas para crianças de todo o mundo. Para depois serem
recolhidas pelo “Coletor de Crianças”, a memória delas apagada e em seguida
exploradas em uma fábrica que produzirá mais bonecas com bebês presos em seu
interior. Tudo com pitadas de cenas musicais e dança. Este é o estranho filme
canadense “Patch Town” (2014): um cruzamento da estética “dark” de Tim Burton
com as atmosferas opressivas de Terry Gilliam.
sábado, dezembro 16, 2017
Nossas vidas são estradas e escadarias infinitas no filme "El Incidente"
sábado, dezembro 16, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Será que
na realidade somos como pobres hamsters prisioneiros de uma roda que gira
eternamente sem nos darmos conta da nossa terrível situação? Será que repetimos sempre os mesmos gestos,
em um mesmo cenário, sempre com os mesmos efeitos e as mesmas consequências?
Poderia ser essa a definição de loucura: tentar resultados diferentes repetindo
a mesma rotina? Duas estórias paralelas com personagens presos em loops
espaço-tempo eternos – um grupo em uma escadaria e uma família prisioneira em
uma estrada infinita na qual o sol nunca se põe. Esse é o filme mexicano “El
Incidente” (2014) do jovem diretor Isaac Ezban. Uma ambiciosa ficção científica
metafísica que aproxima as geometrias impossíveis de M.C. Escher com o universo conspiratória de Philip K. Dick, procurando aproximar a hipótese da existência dos mundos
paralelos da cosmogonia dos diversos
“céus” dos antigos gnósticos.
Três "Contos Maravilhosos" para novos mérito-empreendedores
sábado, dezembro 16, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Hoje a
grande mídia esforça-se para demonstrar imparcialidade para não se desmoralizar
de vez diante de telespectadores e leitores. Diante da crise econômica crônica e da
tragédia social brasileira, a mídia é obrigada a abandonar o confortável campo
semiótico da dissimulação (simplesmente mentir, omitir ou censurar) para
aplicar a estratégia mais trabalhosa da simulação: tem que mostrar as mazelas
brasileiras. Mas o desafio é transformá-las em “contos maravilhosos” no sentido
dado pelo pesquisador de narratologia, Vladimir Propp – o estudo da estrutura
narrativa recorrente em todos contos de fadas. Agora o jornalismo
corporativo tenta transformar personagens anônimos da tragédia brasileira em
protagonistas de contos de fadas pós-modernos. O “Cinegnose” analisa três contos
maravilhosos midiáticos: o conto “a economia alquímica para as massas”, o conto
do “presépio vivo de uma moradora de rua” e o conto “a virada maravilhosa de um
homem em um economia que cresceu 0,1%”.
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