terça-feira, dezembro 22, 2015
Pôsteres de "Central do Brasil" e "Que Horas Ela Volta?": coincidência ou sincronicidade?
terça-feira, dezembro 22, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma incrível semelhança entre os pôsteres promocionais dos filmes
brasileiros “Central do Brasil” (1998) de Walter Salles e “Que Horas Ela Volta?”
(2015) de Anna Muylaert. O “Cinegnose” não acredita em coincidências, mas em
sincronicidades: os dois filmes são apontados como obras-símbolos de duas eras:
o primeiro filme, a era FHC; o segundo, a era Lula. Por que os dois pôsteres
recorrem à mesma composição imagética? Há algo que os une, mesmo com um
intervalo de 17 anos: como filmes-símbolos de cada época, representam
iconicamente passado versus futuro; novo versus velho. Além de cada um desses
filmes expressarem as condições pelas quais foram produzidos: em 1998 uma
co-produção Brasil/França e em 2015 uma produção Globo Filmes.
Podemos considerar
o filme um documento primário de uma época. Através de imagens e movimento
expressam o imaginário e sensibilidade de cada época. E também as condições de
produção através das quais foi realizado.
domingo, dezembro 20, 2015
Curta da Semana: "Treevenge" - a vingança das árvores de natal
domingo, dezembro 20, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nessa época do ano surgem na Internet várias listas de filmes que fazem paródias com muito humor negro sobre o espírito do Natal. O curta canadense “Treevenge” (2008) é mais um exemplo – pinheiros arrancados da floresta por cruéis lenhadores para serem explorados no mercado de decorações natalinas planejam uma sangrenta vingança contra os humanos. Além da crueldade, os humanos ainda adoram as bregas músicas natalinas. O que irrita ainda mais os pinheiros que veem sua dignidade perdida aos serem transformados em árvores de natal no canto de uma sala de jantar qualquer. Por trás do horror trash de “Treevenge” há ainda mais: Nietzsche e o espírito de Natal transformado em valor agregado dos produtos.
sábado, dezembro 19, 2015
Em Observação: "Patch Town" - bebês e repolhos
sábado, dezembro 19, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Imagine um mundo onde bebês são recolhidos em um campo de repolhos,
vendidos para as crianças como bonecas de brinquedo para, depois que crescem, serem
recolhidos por um sinistro capataz que os escraviza em uma fábrica, depois de
remover suas memórias. Esse é o filme canadense “Patch Town” (2015), um conto
de fadas distópico narrado em um mix improvável entre folclore russo,
iconografia do comunismo soviético e crítica ao consumismo ocidental. “Patch
Town” é mais um filme atual que explora a metáfora de seres humanos como
bonecos manipulados por demiurgos.
Título: Patch Town (2015)
Diretor: Craig Goodwill
Plot: Jon (Rob Ramsay) vive em uma pequena
vila onde todos os moradores trabalham em uma única fábrica. Repolhos são
recolhidos em um imenso campo para passarem na linha de montagem dessa fábrica.
Os repolhos são cortados para serem retirados do seu interior bebês se
contorcendo; em seguida são colocados em bonecos de plástico para serem
vendidos em todo o mundo. Os bebês tornam-se objetos imóveis que continuam a
ver, ouvir e sentir a emoção, enquanto que residem em cima da cama de alguma
criança. O que Jon não percebe é que ele e todos os seus pares na fábrica já
foram, uma vez, esses bonecos: quando os bebês crescem, os brinquedos são
roubados pelo sinistro “recolhedor de bebês” e transformados em novos trabalhadores
para a fábrica e suas memórias são removidas de suas mentes.
Por que está “Em Observação”? – Ao fazer essa
espécie de contos de fada distópico, o diretor certamente tinha em mente Brazil, O Filme de Terry Gilliam e Ladrão de Sonhos de Marc Caro – sobre o
filme clique aqui. Um filme ambicioso que
combina a iconografia da era soviética, folclore europeu, pitadas de números
musicais e crítica ao consumismo ocidental.
Quando estamos
diante de um filme cujos temas passam pela prisão/escravidão a partir da
remoção de memórias, estamos em uma narrativa com um evidente sabor gnóstico.
Isso sem falar da analogia entre bebês e bonecas – a filmografia recente está
repleta de filmes onde fantoches, autômatos e bonecos são metáforas da própria
condição humana nesse mundo: as relações homem/autômato ou homem/Deus onde
algum Demiurgo nos manipularia. Um imaginário construído desde Platão nos
diálogos As Leis e A República: a metáfora de cada ser vivo
como um fantoche ou o jogo de sombras que os prisioneiros veem na parede da
caverna como fosse a própria realidade.
Patch
Town explora ainda o curioso folclore russo que envolve bebês e repolhos.
Por centenas de anos o repolho tem sido uma parte importante na dieta e
remédios caseiros na Rússia. Até o século 16, era um costume na Rússia colocar recém-nascidos
em folhas de couve, antes de serem lavados e vestidos. As folhas eram
suficientemente grande e disponíveis quase por todo o ano. Depois, a cada banho,
os bebês eram envolvidos em camadas de tecidos, como fossem folhas de repolho.
Talvez aí estejam
as origens arquetípicas do porquê quando muitos pais são confrontados pelos
filhos sobre questões das origens das crianças, contam histórias de cegonhas
fazem entregas de crianças recolhidas em campos de repolho.
O repolho tem uma
forte história de ser destaque na música, arte e literatura em todo o mundo.
Por exemplo, em The Cabbage Patch Mother,
do escritor russo Petrushevskaya, é narrada a história de um bebê chamado
Dewdrop, que nunca cresce. Ele é esquecido é deixado em uma plantação de
repolhos. Mais tarde a mãe descobre que Dewdrop tornou-se um desajeitado e
enorme bebê chorão.
Patch Town é uma versão estendida do curta
homônimo de 26 minutos feito em 2011, premiado em diversos festivais como de
Toronto e Fantasporto – festival de cinema fantástico na cidade do Porto em
Portugal.
Além do sabor
gnóstico que Patch Town promete –
perdas de memórias, escravidão, além da figura sinistra do “recolhedor de
crianças”, uma espécie de capataz que vai nas casas buscar as crianças
crescidas no interior das bonecas – há uma irônica crítica ao consumismo e
infantilização da cultura: o filme explora a ideia de que crianças modernas
crescem rápido e logo vão querer brinquedos mais adultos. O “recolhedor de
crianças” as sequestra e reconduz à fábrica onde se tornarão trabalhadores em
linhas de montagem e ávidas consumidoras de inutilidades da sociedade de
consumo.
O que confirma o sombrio
diagnóstico certa vez feito por Freud negando o suposto amadurecimento psíquico
que acompanharia o crescimento: o adulto não passa de uma criança crescida.
O que promete? – O espectador deverá preparar-se para um humor
escatológico e negro. A combinação parece ser muito bizarra: folclore russo
misturado com a iconografia da era do comunismo soviético, crítica à sociedade
de consumo capitalista e sequências musicais com canções e danças. A crítica
norte-americana define o filme como “loucura gonzo carnavalesca”. Mas temos que
levar em conta que para os americanos, os canadense são um povo muito
estranho...
quinta-feira, dezembro 17, 2015
"Star Wars: o Despertar da Força" mas... o que é "A Força"?
quinta-feira, dezembro 17, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Há muito tempo em uma galáxia muito distante não havia Deus... mas “A
Força”. “Star Wars” foi o ápice da popularização do Panteísmo no Ocidente,
iniciado com os Beatles nos anos 1960. Conceito tomado do livro “Relatos de Poder” de
Castaneda, George Lucas nunca deixou clara as conexões teológicas do termo “A
Força” com alguma religião em particular, mas há evidentes ligações com
cosmovisões budistas, taoístas e nas atuais religiões New Ages. Mas o panteísmo
de “Star Wars” é bem diferente: na saga, a “Força” ora é uma energia cósmica
impessoal, ora uma entidade inteligente que manipula deliberadamente os eventos
em busca do “equilíbrio” como fosse Deus, ora um instrumento de poder dos
Jedi. Estamos no panteísmo hollywoodiano onde o confronto entre Bem e o Mal
busca um equilíbrio sem redenção final para que a franquia torne-se uma
narrativa transmídia e se expanda infinitamente em múltiplas mídias e plataformas.
Assistir à saga Star Wars chega a ser uma experiência
quase religiosa.
A série salvou os
estúdios da 20th Century Fox da falência em 1977, criou o padrão blockbuster de
comercialização em Hollywood (onde um filme cria franquias de jogos, brinquedos
etc.), e foi tão influente que fez o presidente dos EUA Ronald Reagan a chamar
seu novo dispositivo de defesa militar durante a Guerra Fria nos anos 1980 de
“Guerra nas Estrelas”.
Além de ser o
primeiro “filme recuperativo”, série de retro-fantasias que se contrapôs à
chamada Nova Hollywood – conjunto de filmes críticos e realistas dos anos 1970
como Taxi Driver, com Robert De Niro,
e Um Estranho no Ninho, com Jack
Nicholson. Depois de Star Wars vieram
Indiana Jones, E.T., De Volta Para o Futuro, Ghost Busters,
etc.
domingo, dezembro 13, 2015
Curta da Semana: "The Box Man" - somos todos homens-caixa?
domingo, dezembro 13, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um curta inspirado em um livro surrealista do escritor japonês Kobo Abe.
“The Box Man” (2003) é uma animação em stop motion que mistura elementos do
cinema “Noir” com o Fantástico: em uma chuvosa cidade sombria um homem encontra
uma misteriosa caixa de papelão. Algo ou alguém o observa do interior da caixa
através de uma fenda. “The Box Man” reflete a atual cultura da paranoia e do
medo criada por nós mesmos e como a figura da caixa se transformou em uma
estratégia para supostamente nos protegermos.
sábado, dezembro 12, 2015
Filme "Lucia": você foi criado pela ilusão ou a ilusão foi criada por você?
sábado, dezembro 12, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Você foi criado pela ilusão ou a ilusão foi criada por você? Você é
parte de um corpo ou o corpo é parte de você? Há espaço dentro da casa ou a
casa está dentro do espaço? Para o filme hindu “Lucia” (2013) essas perguntas
não são meros jogos de palavras: escondem a estranha natureza da realidade
despertada por uma droga chamada “Lucia”. O filme “Lucia” não é um produto de
Bollywood, mas do cinema canará da Índia que procura conciliar a estética bollywoodiana
(muita música, carrões e mulheres) com séria crítica social e filosófica. Um
lanterninha de cinema com sérios problemas de insônia experimenta uma droga
chamada “Lucia” que produz sonhos lúcidos – a tal ponto que ele não mais saberá quando está acordado ou dormindo. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
A indústria de
cinema hindu é a maior do mundo em termos de vendas de ingressos, entre os mais
baratos do planeta. A cada três meses um número correspondente da toda
população da Índia visita as salas de cinema, de multiplex a pequenos teatros
de subúrbios das grandes cidades – os “talkies”.
Paradoxalmente, o
cinema hindu (com muitos romances, melodramas e musicais que
vendem sonhos de realizações e felicidade) se estabeleceu em uma sociedade com
uma antiquíssima divisão religiosa em castas – grau social transmitido por
herança que determina toda a existência de um indivíduo. Embora considerado
ilegal pela Constituição, a divisão em castas mantém sua força na Índia e já
registra mais de três mil classes e subclasses.
quinta-feira, dezembro 10, 2015
"Cinegnose" vê o futuro em escola ocupada
quinta-feira, dezembro 10, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Não veem mais TV, buscam informações na Internet através de dispositivos
móveis, ignoram a grande mídia. Suas diferenças em relação ao tripé grande
mídia, política e partidos não são ideológicas, mas simplesmente geracionais:
já estão imersos em outras formas de organização e de tomadas de decisões.
Essas foram algumas das conclusões finais da Oficina “Táticas de Guerrilha
Antimídia” realizada por esse humilde blogueiro em escola estadual ocupada em
Taboão da Serra/SP nessa semana. Os filmes "Muito Além do Cidadão Kane" e "Obrigado Por Fumar" foram o ponto de partida das discussões. O "Cinegnose" viu o futuro, e lá não mais estão as mídias, políticas e ideologias de massas que fizeram as cabeças do século
passado.
O "Cinegnose" viu o
futuro. E ele estava representado de forma fractal no grupo de alunos que
ocupam a Escola Estadual Antônio Inácio Maciel em Taboão da Serra. Assim como o
fractal na geometria (fragmento que reproduz dentro de si infinitamente o
todo), o grupo que ocupava naquela tarde a escola estadual pode até ser
considerado pequeno mas certamente é uma amostra de uma nova geração. Uma
geração que projeta uma relação com a política e as mídias totalmente distinta
da geração dos seus pais e que certamente colocará em xeque as atuais formas de
como a mídia e a política se organizam.
segunda-feira, dezembro 07, 2015
"Cinegnose" faz aula pública em ocupação escolar
segunda-feira, dezembro 07, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O “Cinegnose” oferece uma contribuição ao movimento estudantil de
ocupação das escolas estaduais contra as medidas de “reorganização”
(fechamento) de unidades escolares no Estado de São Paulo. Com a oficina
“Táticas de Guerrilha Antimídia” que será ministrada amanhã em escola ocupada
em Taboão da Serra, esse blogueiro mostrará o resultado das pesquisas da série “bombas semióticas” iniciada nesse blog a partir das grandes manifestações de
rua em 2013. E as táticas e armas de contracomunicação diante do inimigo mais
invisível e ardiloso que o movimento estudantil terá: a grande mídia.
domingo, dezembro 06, 2015
Curta da Semana: "The Black Hole" - escritórios são as Matrix atuais
domingo, dezembro 06, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que você faria se encontrasse no seu local de trabalho uma folha com
um círculo preto que revela ser um buraco tridimensional? Você seria dominado
pela curiosidade metafísica ou pela possibilidade de ganhos pessoais? Essa é
uma das leituras possíveis do curta inglês “The Black Hole” (2008). Com um afiado
humor negro, o curta mostra o quanto opressivo pode ser a atmosfera da
verdadeiras Matrix corporativas que são os escritórios atuais. Tão opressivas e
amorais que são capazes de nos fazer passar batidos diante de um evento
potencialmente além da imaginação.
sábado, dezembro 05, 2015
O sobrenatural pode ser digital?
sábado, dezembro 05, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Até aqui nos filmes de terror o Mal, fantasmas e maldições sempre se
espalharam principalmente por meio de linhas telefônicas, monitores de TV e
ondas de rádio. Isso sem falar das contaminações biológicas pelo sangue ou ar.
Ou seja, o Outro Mundo sempre nos alcança no mundo cinematográfico através das
tecnologias analógicas e meios físicos. O que dizer então de filmes recentes
onde o sobrenatural manifesta-se através das tecnologias digitais como Internet
e dispositivos móveis? É verossímil espíritos agirem através de sinais
fragmentados e binários? Se os fenômenos ocultos, mágicos ou espirituais
baseiam-se em um princípio de semelhança (o Outro Mundo precisa sempre de um
meio físico ou contínuo para estabelecer uma ponte com o mundo físico), seria
possível fantasmas ou forças espirituais manifestarem-se por meio das mídias digitais?
terça-feira, dezembro 01, 2015
CAOs, espiral do silêncio e a crise autorrealizável
terça-feira, dezembro 01, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
As intermináveis reviravoltas da Operação Lava Jato; o processo contra o
presidente da Câmera dos Deputados Eduardo Cunha envolvendo diversas
instituições e paralisando o Congresso. E como pano de fundo, o País à beira do
abismo da crise econômica. A grande mídia chegou ao estado da arte: a guerrilha
semiótica organizada pela tática de CAOs (Consonâncias, Acumulações e
Onipresenças das informações) turbinada por duas bombas semióticas: a profecia
autorrealizável e a espiral do silêncio. As mídias abandonaram o campo da propaganda
tradicional (repetição, persuasão e reforço) para ingressar no campo
sofisticado da cognição - mais do que discursos e conteúdos informativos,
construir percepções por meio de CAOs. Mesmo quando desmentidas, essas
informações nunca mais serão falsas porque já foram credíveis no clima de
opinião.
Era 1997. A
Globalização e a desregulamentação dos mercados triunfavam. Os chamados Tigres
Asiáticos (Taiwan, Coréia do Sul, Hong Kong, Tailândia e Cingapura) eram o
modelo econômico para o século XXI. De repente se transformaram no epicentro de
uma onda de pânico afundando as Bolsas em todo o mundo. Boatos e medo invadiram
a suposta racionalidade dos investidores que passaram a girar histericamente em
torno do próprio umbigo em uma onda de vendas baseada nas opiniões de outros
investidores provocando uma espiral viciosa de especulação.
Na época,
analistas de investimentos como Barton Biggs da Morgan Stanley apontaram o
pânico e a retroalimentação à ausência de memória dos profissionais financeiros:
com a ausência de História Econômica na formação acadêmica, os profissionais
eram condenados a repetir ciclicamente os mesmos erros, desde o crash de 1929.
domingo, novembro 29, 2015
Curta da Semana: "Life and The Mirror" e "Goodbye" - Estamos perdendo a fé na vida pós-morte?
domingo, novembro 29, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O Outro Mundo está ficando cada vez
mais parecido com esse. O “Cinegnose” vem percebendo uma tendência no cinema
recente em representar o pós-morte como uma projeção das mazelas já existentes
nessa vida, repetindo uma tendência do gênero ficção-científica: a
“hipo-utopia”, onde o futuro deixa de existir para virar uma projeção dos
problemas do presente. Os curtas da semana “Life and The Mirror” (2007) e
“Goodbye” (2015) são dois exemplos dessa estranha tendência. Assim como estamos
perdendo a fé na vida, também estaríamos perdendo a fé na vida pós-morte?
sábado, novembro 28, 2015
"The Zohar Secret" revela o misticismo no cinema russo atual
sábado, novembro 28, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O auge do Império Romano coincidiu com o surgimento dos textos mais
enigmáticos da humanidade, como o “Zohar” que é a própria mística da Cabala. Se
os seu conteúdo fosse revelado poderia provocar a queda do próprio Império. Mas o roubo
dos pergaminhos por um legionário romano marcará o destino da História do
Ocidente e da vida desse soldado que ficará prisioneiro em uma cilada Tempo-Espaço por sucessivas
reencarnações até os tempos atuais. Esse é o filme
“The Zohar Secret” (2015), mais uma recente produção russa onde está presente o
tema do misticismo gnóstico. Seria o misticismo russo uma forma de reação à
invasão do Marketing e da Publicidade na Rússia pós-comunismo? Uma reação
contra mais um império, assim como os textos místicos judaicos e gnósticos enfrentaram o Império Romano no passado? Filme sugerido pelo nosso
leitor Felipe Resende.
Cinco anos de
arrecadação de recursos por crowndfounding através da plataforma Kickstarter
(site de financiamento coletivo que busca apoiar projetos inovadores), envolvendo
1.300 pessoas de 54 países conseguiram levantar algo em torno de 10 milhões de
dólares entre dinheiro e equipamentos.
terça-feira, novembro 24, 2015
Uma jornada xamânica em "Blueberry: Desejo de Vingança"
terça-feira, novembro 24, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma verdadeira cápsula do tempo. Um daqueles filmes que mereciam ser
enterrados na época do seu lançamento para depois serem redescobertos como
verdadeiras pérolas. O filme “Blueberry” (aka "Renegade") do francês Jan Kounen (2004) foi
ridicularizado pela crítica e público para hoje ser saudado como um western
sobrenatural, um cult do xamanismo no cinema.
Blueberry não é apenas um filme sobre jornadas espirituais xamânicas de
um protagonista à beira da morte: os próprios efeitos especiais e imagens
cinéticas induzem o espectador a imergir em estados alterados de consciência. O
desejo de vingança de um protagonista transforma-se em jornada xamânica de
autoconhecimento desconstruindo as códigos do gênero faroeste – vingança,
honra, dominação e conquista.
O gênero western
já foi muitas vezes desconstruído no cinema por sátiras (Banzé no Oeste, 1974, de Mel Brooks), o exagero revivalista do
spaghetti western italiano dos anos 1960-70, a fusão do western com séries policiais urbanas nos anos 1970 (McCloud
– 1970-77) ou a paródia dos códigos e convenções dos duelos e violência nos
filmes de Tarantino.
Mas nada se equipara
ao western francês Blueberry. Baseado
no faroeste em quadrinhos francês homônimo de Jean-Michel Charlier e Jean
“Moebius” Giraud, o filme foi muito mais além da simples adaptação de um comic book: o filme transformou-se em
uma jornada espiritual após o próprio diretor do filme se encontrar com índios
xamãs que o iniciaram a rituais verdadeiros.
sábado, novembro 21, 2015
Curta da Semana: "Bloody Dairy" - Por que os gatos dominaram a Internet?
sábado, novembro 21, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O curta “Bloody Dairy” (2015), projeto de 100 dias de animações em gif,
e mais uma amostra de como os gatos cada vez mais estão tomando conta da
Internet com memes e vídeos virais, superando os seu eternos rivais: os cães.
Tornou-se fenômeno cultural, merecendo até uma exposição no Museum of Moving
Image em Nova York. Por que gatos ao invés de cachorros? A questão pode parecer
inútil e superficial, mas também pode nos conectar com os milenares simbolismos
ocultos e esotéricos dos gatos como guardiões e mediações com outros mundos. Portanto,
para onde os gatos nos apontam em memes e vídeos? Estamos diante de um fenômeno
sincromístico em plena cultura high tech?
sexta-feira, novembro 20, 2015
A lama de Mariana e os atentados de Paris entre os tempos histórico e midiático
sexta-feira, novembro 20, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Causou estranheza a muitos leitores o título da última postagem: “Os
Atentados de Paris não aconteceram”. Então foi tudo montagem? E os mortos? O
“Cinegnose” está delirando? Por isso, este humilde blogueiro decidiu fazer mais
um postagem detalhando melhor o argumento: os atentados de Paris "não
aconteceram", paradoxalmente, porque foi um acontecimento noticiável. Da lama de
Mariana aos atentados de Paris está em confronto duas noções de tempo: o
histórico (colocado em segundo plano pela mídia) e o midiático. Ambiguidade,
infogenia, noticiabilidade, tempo pontual e o terrorismo como um “pseudoevento”
foram fatores que tornaram os eventos de Paris muito mais noticiáveis para a
grande mídia do que a catástrofe humana e ambiental de Mariana.
Devido à grande
polêmica entre os leitores sobre a postagem anterior sobre os atentados de
Paris, o “Cinegnose” decidiu fazer um maior detalhamento para tentar esclarecer
dúvidas e uns tantos males entendidos. Parece que muitos leitores se apegaram
aos aspectos mais sensacionalistas da postagem - os atentados não aconteceram?
Foi tudo montagem? Falsa Bandeira? E os mortos? Foi tudo simulação? Mais uma
das malucas teorias sobre conspirações? Esse humilde blogueiro estaria virando
um Michael Moore brasileiro?
segunda-feira, novembro 16, 2015
Atentados em Paris não aconteceram
segunda-feira, novembro 16, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Acumulação, consonância e onipresença. Esses três palavras definem a
atual cobertura da grande mídia brasileira aos ataques em Paris. Ao contrário
da autêntica Chernobyl brasileira em que se transformou a catástrofe ambiental e humana
em Mariana/MG com o rompimento da barragem de detritos da Vale do Rio
Doce/Samarco. Por que essa diferença de tratamento? Há muitos motivos políticos
e econômicos em não expor uma empresa privada anunciante na grande mídia. Mas
também porque a essência do terrorismo é midiática para ser midiatizável. Os
atentados em Paris foram praticamente um kit imprensa dado de mão beijada para
as redações com personagens, histórias e roteiros prontos. Será que esse é o
motivo da recorrência de relatos sobre a sensação de irrealidade em depoimentos
de vítimas e testemunhas? E também o motivo da espiral de especulações sobre
uma suposta Operação False Flag? E se os mais de 100 mortos não forem prova de
que testemunhamos um acontecimento real?
Terminado o jogo
França X Alemanha no Stade de France na fatídica noite de sexta-feira 13 dos
ataques em Paris, os torcedores se dirigiram ao gramado à espera da autorização
para deixar o local. Depois a TV mostrou ao vivo a multidão dirigindo-se aos
corredores de saída. Cantavam a Marselhesa, agitando a bandeira da França e
erguendo os punhos.
Certamente não era
pela comemoração da vitória da França por 2 a 0. Informados pelos celulares
sobre o que transcorria fora do estádio, o clima era de ódio, revolta e
evidente desejo de revide contra os terroristas. Essa talvez tenha sido a
imagem mais emblemática daquela noite, porque mostrou ao vivo o resultado
imediato dos ataques terroristas, de conveniência política e geopolítica – com
a maior população muçulmana da Europa e uma das sociedades mais divididas do
continente, reforça ainda mais a xenofobia contra a atual onda de imigrantes
fugidos da guerra na Síria e Afeganistão.
sábado, novembro 14, 2015
Cacau, Gnosticismo e lisergia em "Charlie e a Fábrica de Chocolate"
sábado, novembro 14, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O livro infantil “A Fantástica Fábrica de Chocolate” escrito por Roald
Dahl em 1964 resultou em duas adaptações cinematográficas: a de 1971 de Mel
Stuart e a de 2005 de Tim Burton. Enquanto na primeira adaptação os chocolates
assumem um tom lisérgico com humor non sense, em Tim Burton há um retorno as
origens cruéis dos contos de fada, fazendo um mix entre a sensibilidade
gnóstica e todo um simbolismo místico milenar pouco conhecido que envolve o
cacau e o chocolate. Rios de chocolate e florestas de confeitos da “Fábrica de Chocolate” escondem trabalho escravo e injustiça. E um Demiurgo
arrependido que tenta resgatar o élan espiritual perdido na infância em um
mundo cercado de tentações.
A história de um
garoto pobre que consegue realizar seus sonhos por ser uma boa criança. Um
leitmotiv simples e direto, sobre o qual o livro e as duas versões
cinematográficas conseguiram criar diversas camadas simbólicas transformando a
jornada do protagonista em algo essencialmente místico: como encontrar a luz espiritual
interior se vivemos em um mundo cercado de tantas tenções que nos faz esquecer
de nós mesmos?
terça-feira, novembro 10, 2015
Pesquisas revelam que novelas reduzem fertilidade e aumentam divórcios: controle de natalidade?
terça-feira, novembro 10, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Muito se tem falado que as telenovelas são “veículos de alienação” ou de criação do “consumismo”, principalmente as da TV Globo. Mas há algo ainda mais profundo: por década elas estariam moldando a percepção dos brasileiros em relação a filhos e casamento, resultando ne expressiva queda da taxa de fertilidade e aumento no número de divórcios. Esse é o resultado de duas pesquisas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) sobre o papel da televisão e das novelas no Brasil nas três últimas décadas. As pesquisas concluem que as telenovelas seriam um importante instrumento para “educar a população em questões sociais”. Será que por “questões sociais” o BID (entre outros bancos internacionais) entende como “controle de natalidade”?
As chamadas “soap
operas” norte-americanas (ou “novelas” como as denominamos) já nasceram sob o
signo da ação política. Quando surgiram no Brasil, as soap operas americanas já eram transmitidas de Miami para Cuba para
consolidar o estilo de vida americano na ilha caribenha. Até estourar a
revolução de Fidel Castro, derrubando o então ditador pró-EUA.
domingo, novembro 08, 2015
Curta da Semana: "Os Filmes Que Não Fiz" - o fascínio pelos perdedores
domingo, novembro 08, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O Curta da Semana dessa vez vai para uma produção brasileira: “Os Filmes
Que Não Fiz” (2008). A irônica filmografia de um diretor sem filmes. Se a
História é contada somente pelos vitoriosos para pisar na cara daqueles que
perderam, esse curta propõe o avesso: onde estão aqueles que apesar da
persistência, esperança e empenho acabaram perdendo e caindo no anonimato?
Cegos que somos pelos “cases” de sucesso, jamais conheceremos as histórias
humanas dos “losers”. Um curta ao mesmo tempo cômico e ácido sobre a realidade
do cinema nacional que não consegue transformar-se em indústria.
sábado, novembro 07, 2015
A psicanálise de um fantasma no filme "I Am a Ghost"
sábado, novembro 07, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Talvez o mais difícil não seja morrer, mas despertar do outro lado e ter
de se dar conta de que já está morto. Ultrapassar a fronteira entre a vida e a
morte pode ser algo tão imperceptível que continuamos do lado de lá a conviver
com os antigos traumas e fantasmas que nos atormentaram quando quando éramos
vivos. O horror independente “I Am a Ghost (2012)” mostra alguém que ainda não
se deu conta de que está preso em algum lugar entre a vida e a morte, e
continua repetindo seus antigos hábitos como nada tivesse acontecido. Uma voz
tenta despertá-la, fazendo do filme um surpreendente encontro entre Espiritismo
e Psicanálise.
“Ninguém precisa
de um quarto para ser assombrado. Não precisa ser uma casa. O cérebro tem
corredores suficientes que ultrapassam a matéria”. Essa epígrafe de um poema de
Emily Dickinson abre I Am a Ghost e
dá o tom de um filme que pode ser inicialmente descrito como o cruzamento entre
o argumento de Os Outros com Nicole
Kidman com o tema e a atmosfera visual de O
Iluminado de Kubrick.
Com um baixíssimo orçamento de 10 mil dólares, esse filme independente
de H.P. Mendoza segue a tradição de filmes como A Passagem (Stay, 2005) e
O Terceiro Olho (The Eye Inside, 2004) onde põe em questão aquela expressão que
dizemos quando recebemos a notícia da morte de alguém: “partiu dessa para a
melhor!”.
sexta-feira, novembro 06, 2015
"Onde Vivem Os Monstros" faz cartografia da mente selvagem infantil
sexta-feira, novembro 06, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Pokemons,
Trashpacks, Gogo’s e Monstros da Pixar. Uma série de monstrinhos e seres
fantásticos que representam o imaginário de um mundo infantil que resiste em se
tornar adulto. “Onde Vivem os Monstros” (Where The Wild Things Are, 2009) de
Spike Jonze, baseado num best-seller infantil de 1963 de Maurice Sendak, faz
uma obra-prima alegórica sobre um menino, seu quarto, a solidão e o poder da
imaginação capaz de criar uma assombrosa cartografia mental da infância. O
filme consegue ser superior à cartografia da mente feita pela animação
“Divertida Mente”, principalmente porque consegue representar as “coisas
selvagens” que habitam a mente de cada criança.
As experiências na infância da perda,
abandono, solidão e a necessidade de sentir-se amado talvez sejam o conjunto de
experiências mais representadas arquetipicamente por meio de jogos,
brincadeiras, contos de fada e, finalmente, no cinema de animação.
terça-feira, novembro 03, 2015
"Perdido em Marte": o estranho filme destoante de Ridley Scott
terça-feira, novembro 03, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um filme
que destoa do conjunto da obra de Ridley Scott – “Alien”, “Blade Runner”,
“Prometheus” entre outros universos distópicos. “Perdido em Marte” é um sci fi
estranhamente otimista sobre um astronauta deixado só numa missão no planeta
vermelho após um acidente, à espera da morte. Mas ele é cientista e botânico
com a determinação de um MacGyver ou de um John McClane de “Duro de Matar”, com
suas principais armas: lonas e fitas de silver tape. Contando com o velho
clichê do “nenhum americano será deixado para trás”, o filme parece uma grande
peça de propaganda NASA/complexo militar americano. Será que foi alguma
obrigação contratual da Fox ao diretor Ridley Scott na sua quarta produção seguida pelo estúdio? Estaria Scott seguindo os supostos passos de Kubrick nas relações perigosas com a NASA?
“No espaço ninguém poderá ouvir seus
gritos”. É surpreendente que o autor dessa linha de diálogo do filme Alien, o diretor Ridley Scott (artífice
de universos distópicos e gnósticos como em Blade
Runner e Prometheus), tenha
dirigido Perdido em Marte com linhas
de diálogo como “o mundo inteiro está torcendo por um só homem”. E ainda com um
protagonista que tenha falas como “o primeiro homem a pisar fora dessa
sonda”... “o primeiro a subir essa colina”, “o maior botânico do planeta”... “o
pirata espacial”... “o colonizador de Marte”... “foda-se Marte...”.
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