Documentário da BBC "The Century of the Self" (2002) descreve a irônica jornada de como a revolução de psicoterapeutas e filósofos nos anos 60 e 70 contra as idéias de Freud sobre o inconsciente (acusadas de terem se tornado instrumentos do mundo do Markenting, Publicidade e Propaganda Política para fins de manipulação) resultou no oposto: o surgimento do sujeito fractal, vulnerável, isolado e, acima de tudo, ganancioso.
Em postagens anterioras (veja links abaixo) viemos desenvolvendo o conceito de cartografia e topografia da mente como uma tendência dentro da agenda tecnognóstica que, a partir da confluência das neurociências, ciências cognitivas, cibernética e Inteligência Artificial, procura fazer um mapeamento do funcionamento do cérebro para desvendar o enigma da mente e da consciência. Em termos práticos, criar modelos simulados do cérebro para sua virtualização, monitoramento e controle para fins mercadológicos e políticos.
Partindo da constatação que o cinema hollywoodiano reflete a agenda tecnocientífica das últimas décadas, em nossos estudos sobre os filmes gnósticos na produção cinematográfica norte-americana recente percebemos uma tendência introspectiva dos protagonistas: narrativas em que se descreve como o protagonista torna-se prisioneiro do seu próprio mundo mental (memórias, traumas, sonhos, projeções, etc.) e como ele realiza um mapeamento desse território onírico para encontrar o caminho de saída de conspirações e tramas.
De filmes como “Vanilla Sky” (talvez o primeiro nessa linha) até o recente “Alice no País das Maravilhas” de Tim Burton, vemos estórias com geografias alegóricas de mundos mentais, cartografias da mente coletiva (como a série “O Prisioneiro”, 2009) e elaboradas topografias da mente por meio de sonhos dentro de sonhos ("A Origem", 2010).
Tendo essa discussão como contexto, o documentário da BBC “O Século do Ego” (The Century of the Self, 2002) trás preciosas informações históricas sobre as origens desse verdadeira tendência de endocolonização dos indivíduos pela Ciência, Publicidade e Marketing. A série é dividida em quatro episódios: episódio 1: “Máquinas da Felicidade”; episódio 2: “Engenharia do Consenso”; episódio 3: “Há um Policial Dentro da Sua Cabeça e Devemos Destruí-lo”; episódio 4: “Oito Pessoas Bebericando Vinho em Kettering”.
A série (240 minutos no total) inicia descrevendo como as ideias de Freud foram traduzidas nos EUA através de sua filha, Anna Freud, e pelo seu sobrinho, Edward Bernays (o inventor da profissão de Relações Públicas) como técnicas para controle das massas na era da democracia: a teoria do inconsciente trazida para o cerne do mundo da propaganda e do marketing. É a era da produção em massa e do conformismo em uma sociedade de consumo cujo leque de opções para o mercado era limitado.