sexta-feira, novembro 07, 2025

Por que as manchetes trocaram o PCC pelo Comando Vermelho?


A Operação Carbono Oculto durou nas manchetes apenas o tempo das fotos icônicas de agentes da PF na Faria Lima. Assim que a investigação bilionária sobre o PCC no setor de combustíveis deixou a Faria Lima e começou a apontar para conexões políticas na oposição, a grande mídia trocou o PCC pelo Comando Vermelho na pauta. Essa trajetória expõe a "objetividade oportunista" da grande mídia: enquanto as imagens da Polícia Federal na Faria Lima renderam manchetes, a repercussão sobre os elos do PCC com a elite financeira e políticos da oposição foi rapidamente abandonada. Para evitar desgastes, o jornalismo corporativo trocou a complexa investigação financeira pela cobertura ostensiva da violência no Rio, reaquecendo a polarização e beneficiando narrativas da extrema direita. Transformando a Operação Contenção de Claudio castro numa bomba semiótica. Pelo menos as balas, bombas e porradas contra o CV não revelam tantas relações perigosas quanto uma investigação sobre o PCC.  

Para a grande mídia foi um show midiático. Rendeu fotos e vídeos icônicos, como, por exemplo, os camburões da Polícia Federal estacionados em frente ao conjunto comercial Iguatemi Plaza, numa das esquinas da também icônica Avenida Faria Lima, em São Paulo.

Era a estreia da Operação Carbono Oculto, investigação, fruto da cooperação entre Ministério Público, Receita Federal, Polícia Federal e Agência Nacional do Petróleo. Mobilizando 1,4 mil agentes em oito estados, a Operação revelou o esquema financeiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) no setor de combustíveis. Resultando em R$ 7,6 bilhões em impostos sonegados descobertos e R$ 3,2 bilhões em bens bloqueados.​

Porém, mesmo diante das sensíveis conexões reveladas pela investigação (a operação atingiu não apenas traficantes, mas empresários, gestores de fundos e uma complexa rede de corrupção no setor formal da economia.), passado o frisson das imagens de policiais federais carregando malotes com documentos e computadores pela icônica avenida, o jornalismo corporativo esqueceu o assunto.

De repente, para o distinto público, ficou a percepção que tudo se esgotou naquelas imagens. Depois, acabou. Mas a Operação Carbono Oculto continuou, sem merecer sequer uma atualização pelo jornalismo corporativo. Ou uma reportagem investigativa que puxasse o “fio de Ariadne” que levasse à complexa teia empresarial e financeira.

E, principalmente, conexões políticas... Talvez, um dos motivos para a grande mídia deixar para lá essa nitroglicerina pura.

Como, por exemplo, o fato de que o homem de confiança do senador Ciro Nogueira (PP), Victor Linhares de Paiva, foi alvo de mandado de busca e apreensão da Polícia Civil do Piauí - Victor Linhares recebeu a quantia de R$ 230 mil de outro alvo da mesma operação, o empresário Haran Santhiago Girão Sampaio, antigo dono da rede de postos HD que seria o epicentro do esquema criminoso no Piauí. 

Para a grande mídia, as ligações perigosas potenciais reveladas poderiam dar ainda mais (desculpe o trocadilho) “combustível” para o ciclo virtuoso de notícias positivas das últimas semanas que vêm empoderando o Governo Lula (defesa da democracia, da soberania etc.) e escanteando a agenda da extrema direita – a PL da Anistia, tarifaço de Trump etc.




Objetividade Oportunista

Certamente os “aquários” das redações corporativas avaliaram que num ano pré-eleitoral ter que dar notícias sobre as suspeitas de envolvimento de deputados e senadores da oposição com as cadeias de valor do PCC seria “ferir” o princípio da objetividade jornalística.

Isto é, mostrar as relações promíscuas da oposição e, involuntariamente, beneficiando Lula.

Então, preferiram optar por aquilo que este humilde blogueiro define como “objetividade oportunista”: tira da pauta a constrangedora operação Carbono Oculto (constrangedora porque poderia atingir, inclusive, anunciantes da banca financeira) para noticiar de forma “objetiva” e extensiva ao vivo as cenas de bala, bomba e porrada da Operação Contenção do governador do Rio Cláudio Castro.

Com o rendimento semiótico principal: sai de cena o PCC (exaustivamente coberto pela grande mídia, para ver se respingava alguma coisa contra o Governo federal), entra o, até então, esquecido Comando Vermelho.

Por que esquecido? Por que o PCC sempre teve um maior interesse como potencial bomba semiótica: a oportunidade bombástica de noticiar como o PCC se infiltra na máquina do Governo. E finalmente comprovar as conexões entre Lula e o crime organizado. Sempre denunciada pelos posts de Nikolas Ferreira (“PT: Partido do Tráfico”).

Por isso, facções como Comando Vermelho, Terceiro Comando Puro etc. jamais despertaram interesse para a grande mídia – são facções focadas principalmente no controle territorial armado, com violência e disputa de territórios em áreas como tráfico de drogas, gás, internet e imóveis.

Figuravam apenas dentro dos blocos das notícias policiais e de segurança pública.




Tudo muito prosaico diante do atrativo do PCC como potencial bomba semiótica contra Lula:  estrutura mais organizada, com controle sobre diversas áreas e estados, como São Paulo, Minas Gerais, Goiás, entre outros. Com aspirações mais políticas, com foco em negociações e regulação de cadeias de valor, tanto no mercado ilegal quanto no legal. 

Logicamente, trazia um risco mais sistêmico, com seus braços se estendendo para outros países.

Mas o appeal semiótico do PCC acabou, com o sucesso da Operação Carbono Oculto: revelou que não foi o crime organizado que se infiltrou no mundo legal e corporativo. Ao contrário, foram a Faria Lima e bancadas de partidos políticos no Congresso que se aproximaram das fortunas geradas pelo crime organizado que precisavam ser lavadas mais branco e com mais estilo: muito melhor lavar através de Fintechs e dos negócios de políticos que utilizam redes sociais que fabricam escândalos para ocultar as ligações financeiras do PCC (apud Nikolas Ferreira e o “Escândalo do Pix”).

O fim da Semiótica Nem-Nem?

Nas últimas postagens desse blog avaliávamos evidências de que a banca financeira já estava cansada do jogo da polarização política – historicamente iniciado na guerra híbrida brasileira com a progressiva visibilidade midiática do “Brasil Profundo” dos milhões de “tiozões do churrasco” e do protofascismo (ou “retrofascismo”) cotidiano.

E a consumação do golpe militar híbrido em 2018 com a vitória eleitoral de Bolsonaro.

Por isso, esforço midiático da “Semiótica Nem-Nem” para promover o governador Tarcísio de Freitas como o campeão da terceira via “técnica” da Faria Lima.

A “síndrome de Dr. Fantástico” (sobre esse conceito, clique aqui) que acometeu Tarcisão, com um constrangedor entusiasmo pelo tarifaço de Trump contra o Brasil, já tinha sido o primeiro golpe contra a estratégia de despolarização.

Mas potencial explosivo da Operação Carbono Oculto para a oposição, parece ter sido a pá de cal na Semiótica Nem-Nem: a operação da PF inverteu o jogo e transformou o PCC numa potencial bomba semiótica contra todo o espectro da oposição, da extrema direita à Faria Lima.



Restou ao jornalismo corporativo voltar a dar visibilidade às balas, bombas, porradas e corpos enfileirados no asfalto do Complexo da Penha na Operação Contenção de Cláudio Castro. Voltando a empoderar a extrema direita e sua política de segurança pública que privilegia o confronto armado, a retomada territorial pela força e a lógica do “bandido bom é bandido morto”.

E voltar à polarização ideológica, reproduzindo os clichês clássicos (popularizados em filmes como Tropa de Elite) de que a esquerda e organizações de defesa dos direitos humanos só se interessam em defender “os direitos humanos dos bandidos, e não dos cidadãos de bem”.

Essa abordagem alimenta-se de um sentimento de medo e ódio que é produto direto da desigualdade abissal que marca nossa sociedade.​

Dessa forma, temos o definitivo retorno da polarização política que, mais uma vez, marcará as próximas eleições – o jornalismo corporativo já vai entrar na terceira semana repercutindo a Operação Contenção do extremista de direita Cláudio Castro.

Principalmente, repercutindo o projeto defendido pela extrema direita no Congresso que equipara a atuação de facções criminosas no país a terrorismo.

A geopolítica de Trump que retrocede a América Latina aos tempos de Monroe e Roosevelt agradece.

E, de resto, as operações ao estilo “bala, bomba e porrada” têm, como sempre, o atrativo sensacionalista da linguagem da meganhagem do jornalismo corporativo: fotos e vídeos de moradores de favelas chorando seus mortos sempre têm o apelo humanitário hipócrita.

Enquanto as imagens de policiais armados até os dentes atrás de blindados entrando em comunidades pobres ecoam as produções exibidas pela Netflix de filmes da premiada diretora Kathryn Bigellow (Guerra ao Terror e A Hora Mais Escura) sobre perseguição aos terroristas no Iraque.

Bom para compartilhamento e engajamento de conteúdos nas redes.    


 

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