domingo, março 09, 2025

Jornalismo corporativo institui a não-mulher no Dia da Mulher


Dia da Mulher. Grande mídia celebra. Porém, quando se fala em política, curiosamente o jornalismo corporativo não quer celebrar e nem reconhece como mulher a ativista petista feminina. Vira a não-mulher. É o caso de Gleise Hoffmann, condenada a repetir o caso da presidenta Dilma – não é mais sexismo ou misoginia. É anti-petismo mesmo. Enquanto isso, aproveitando a efeméride, a única crítica possível da jornalista Natuza Nery contra as medidas anti-inflação dos alimentos  (ocultadas pelas medidas do PIX pelo BC) foi dizer que Alckmin era “um branco engravatado que não vai a supermercado” e, portanto, as medidas não tinham representatividade feminina (!!!). E o 8/1 pode não ter conseguido dar o golpe de Estado. Mas já está dando muito certo o seu ardil secreto: fazer o tempo correr com alopragem política e “Efeito Firehose”. Para contaminar as eleições 2026.

 

1- “Homens engravatados que nunca vão a um supermercado”

Em queda nas pesquisas tautistas de aprovação (aquelas pesquisas que tautologicamente apenas refletem a pauta midiática dominante) Lula sai de cena e deixa o eterno picolé de chuchu diet anunciar as medidas para a contenção da inflação dos alimentos. O anúncio das medidas do Governo já estava programado para o fim da tarde de quinta-feira. Razão pela qual armas e munições semióticas do jornalismo corporativo já estavam sendo preparadas: o que vem por aí? Intervenções? Medidas heterodoxas? Tabelamentos?

Nada disso (ou antes fosse)... renúncia fiscal, zerar alíquotas de importação, convidar os estados à luta, zerando ICMS de produtos da cesta básica... tudo bem comportado, sem estatismos, seguindo a cartilha neoliberal: com menos Estado, o mercado dá um jeito. 

Na Globo News, nada a comentar contra, já que as “medidas” acompanharam caninamente o consenso de mercado. Não houve, eufemisticamente falando, “intervenção artificial”.

Mas a apresentadora Natuza Nery estava visivelmente insatisfeita... como assim? Os “colonistas” Ana Flor e Gabeira nada acharam para tripudiar? 

Então, a apresentadora encontrou alguma inspiração na desgastada retórica Woke: “o que vimos no anúncio do Governo foram homens brancos, engravatados falando de alimentos... sem a experiência de ir ao supermercado, fazer comida para a família... as mulheres não estavam representadas...”.

Talvez nostálgica da crise autorrealizável do governo Dilma, certamente Natuza estaria com sorriso de orelha a orelha se, sentada entre Alckmin e o ministro da agricultura Carlos Fávaro, estivesse a Ana Maria Braga com avental, colher de pau na mão e usando o inesquecível colar de tomates...




 2 – Pix esconde pauta das medidas contra inflação dos alimentos

Em outros tempos, Lula entraria ao vivo, em rede nacional, para anunciar as medidas contra inflação dos alimentos, exortaria povo e empresários à união etc. Mas vivemos em tempos de um governo desidratado, sob a espada de Dâmocles da banca financeira, do Centrão etc. Por isso, entregou a tarefa ao chuchu diet – afinal, sua costumeira calma estoica deve acalmar os tais mercados.

Mas, inexplicavelmente, preferiu na quinta-feira de anúncio das isenções dos alimentos atrair a mídia às medidas do Banco Central contra irregularidades no Pix - alterou o regulamento do Pix para excluir chaves de pessoas e de empresas cuja situação não esteja regular na Receita Federal - CPF com situação cadastral “suspensa”, “cancelada”, “titular falecido” e “nula”. Segundo a autoridade monetária, a medida visa aprimorar a segurança das transações e impedir a aplicação de golpes via Pix, utilizando nomes diferentes daqueles armazenados na base de dados da Receita Federal.

O que deveria ser um acontecimento comunicacional (pautar a mídia com tema crucial para o povão), deixou em segundo plano às medidas de redução da inflação.

Quem fez gol foi Roberto Campos Neto e sua grande contribuição para a História e a circulação dos rendimentos dos trabalhadores precarizados elevados à condição eufemística de “empreendedores”. Grande mídia trata o Pix como a grande invenção desde a roda... E parece que os marqueteiros da Secom também!

Apenas serviu para assanhar a extrema direita a, mais uma vez, desinformar. Nicolas Ferreira rapidinho qualificou a medida do BC como “engenharia social” ... para o Governo vigiar e taxar o suado dinheirinho dos “empreendedores”.  

E toca a Secom, como sempre, a agir de forma comunicacional reativa. Quando tinha a pauta da mídia nas mãos.

Está puxado entender esse Governo!



3- Assim como Dilma, Gleise Hoffmann é não-mulher

A indicação por Lula da deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) para assumir a articulação política do governo, como ministra das Relações Institucionais, parece confirmar uma suspeita desse humilde blogueiro – de que para o jornalismo corporativo, uma mulher deixa a sua identidade feminina se for petista. Vira não-mulher.

Algo assim próximo ao vaticínio recente de Bolsonaro: “as mulheres do PT são feias e incomíveis”.

É claro que o jornalismo corporativo não chega ao nível chulo da observação de Bolsonaro – afinal, a grande mídia faz “jornalismo profissional”. Mas está quase lá...

Quando a ministra da Saúde Nísia Trindade foi demitida por Lula no âmbito da reforma ministerial, machismo e sexismo foi o mínimo que a grande mídia criticou: Nísia teria sido vítima de “fritura” política pública, viveu um clima de “angústia” e se sentiu “diminuída”, “desconfortável”.  E baixou a crítica identitária: só passou por isso por ser mulher. Para depois saber que o Ministério foi ocupado por um homem, Alexandre Padilha, ex-ministro das Relações Institucionais.

Ahhh! Então Lula equilibrou a presença feminina no ministério ao convidar Gleise Hoffmann, certo?

Errado, porque Gleise Hoffmann tem um sério defeito para ser considerada uma mulher plena: é militante petista!

Se Lula indicasse um nome do Centrão, certamente os “colonistas” falariam em “negociação política”. Mas com Gleise Hoffman se trataria sobretudo do início de uma crise: “radicalização”, “agenda do PT à esquerda isolando Haddad”, “modo make PT great again” e por aí vai.

Lembram de toda a terato-escatologia feita com a primeira mulher a ocupar o cargo máximo da República, Dilma Rousseff? Com anuência e visibilidade midiática? É o que espera Gleise Hoffmann. E não será machismo, sexismo ou gasligthing. 

Será só anti-petismo mesmo?




4- O 8/1 já deu certo!

O 8/1 não foi uma tentativa de golpe de Estado. Foi mais um momento de comunicação estratégica al-right que chamamos de “alopragem política” - estratégia de criação de factoides, pseudo-eventos ou não-acontecimento que criam aquele efeito de espuma midiática controle da pauta – muito próximo a outro conceito, o “efeito Firehose”: a criação de uma espiral interpretativa até o momento em que a diferença entre verdade e mentira desaparece. Para tudo permanecer na função performática: o barulho criado, a confusão, o escândalo etc.

Em postagem anterior já discorremos sobre a impossibilidade de um golpe de Estado old fashion no século XXI, transmitido vivo numa tarde de domingo – clique aqui

Na verdade, acompanhamos um golpe “efeito fliperama”: bastou alguém lançar a bolinha, para ela ir batendo aletoriamente. Assim como o “caos organizado” do 8/1, com milhares de aloprados (civis e militares) acreditando que faziam história e de que o golpe era real, enquanto os mentores diziam que não era nada com eles.



O golpe em si era apenas o álibi para um objetivo mais amplo: fomentar a pedagogia do medo para manter esquerda e Governo estrategicamente paralisados, terceirizando a práxis política na judicialização.

Se uma tentativa de golpe de Estado existiu, deveria ser resolvida no campo da POLÍTICA e jamais na judicialização, isto é, ser julgado como um crime penal comum.

O objetivo é ganhar tempo, fazendo o trâmite judicial de defesa e acusação de 34 indiciados correr por todo ano, para contaminar as próximas eleições no ano que vem.

Se não vejamos. Toda a espuma midiática levantada até agora (com o advogado de Bolsonaro ganhando espaço televisivo com entrevistas, enquanto os jornalões escalam repórteres para encontrar furos e contradições nas 900 páginas da Denúncia da PGR) corresponde apenas à fase da aceitação da denúncia pelo STF.

Advogados que representam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentaram sua defesa prévia no Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Prevista no Código de Processo Penal (CPP) brasileiro, a apresentação da defesa prévia é uma das etapas da tramitação na qual o acusado tem a oportunidade de se manifestar antes da decisão judicial que vai aceitar ou rejeitar a denúncia. Se houver novos documentos, o Ministério Público será chamado a se manifestar.

Parece que o 8/1 secretamente apostou nesse efeito Firehose para ganhar tempo, enquanto o julgamento acompanha a direção dos ventos da política nacional pré-eleição – se vai ter ou não anistia, os números da aprovação do Governo Lula etc.

O 8/1 não deu o golpe de Estado. Mas já está dando muito certo.

 

 

Postagens Relacionadas

 

A invasão de Brasília não aconteceu

 

 
Governo confunde comunicação com propaganda. Mídia e Faria Lima apostam nisso!

 

 

A extrema-direita tem um "Gabinete de Inteligência Semiótica". E o Governo?

 

 

 

O ato em memória do 8/1 e o jogo perde-perde da comunicação

 

 


Tecnologia do Blogger.

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Bluehost Review