Um casal perambula pelas ruas na madrugada como fossem sonâmbulos. Mas aos poucos vão ganhando vida ao experimentar visões, sons e sensações. Durante o dia são solitários, mas nos sonhos se encontram e tentam enviar algum tipo de sinal para a “realidade”. Esse é curta “ZZZZZZZ” (2013) de Tarik Karam, com um argumento que se aproxima da discussão atual onde filósofos e psicólogos tentam aproximar a questão dos sonhos da hipótese da “Interpretação dos Muitos Mundos” (MWI) derivada da mecânica quântica: os sonhos seriam simulações contra-factuais de nossos homólogos em mundos alternativos? Cada evento nesse mundo poderia criar diversas ramificações possíveis e poderíamos estar sonhando com cada uma delas. Ou nós somos os sonhos de cada um desses mundos.
Além de “Big Apple”, também Nova York também é
conhecida como “a cidade que nunca dorme”. Essa imagem da grande metrópole
acabou se tornando o parâmetro civilizatório para as outras grandes cidades do
mundo: vida intensa, com muitos acontecimentos e serviços disponíveis 24 horas.
Mas também há muito tempo a sociologia descobriu
que por trás dessa vida intensa onde parece que todos estão interagindo com
todos esconde-se a solidão e frustração. A multidão é solitária, afirmava David
Riesman na década de 1950.
O curta ZZZZZZZ
(2013) de Tarik Karam tematiza esse problema escondido pela intensidade de uma
cidade como Nova York e vai mais além: propõe o sonho como forma de verdadeiro
encontro entre as pessoas, já que fora desse mundo onírico reina distância e
frieza.
Henry e Lucy, um casal de namorados, passeia na madrugada pelas ruas de Nova York. A princípio parecem sonâmbulos, mas aos poucos vão ganhando vida na medida em que experimentam sensações, sons e visões. Durante o dia são solitários, não se conhecem e têm uma vida tediosa. Mas à noite, em sonhos, parecem sempre se encontrar, como namorados que já se conhecem há muito tempo.
Henry e Lucy, um casal de namorados, passeia na madrugada pelas ruas de Nova York. A princípio parecem sonâmbulos, mas aos poucos vão ganhando vida na medida em que experimentam sensações, sons e visões. Durante o dia são solitários, não se conhecem e têm uma vida tediosa. Mas à noite, em sonhos, parecem sempre se encontrar, como namorados que já se conhecem há muito tempo.
Quando sonhamos?
O curioso nesse curta é que Henry e Lucy não se
conhecem no mundo real. Talvez sejam vizinhos e mal chegam a trocar olhares.
Mas nos sonhos vivem experiências de prazer e descobertas e se entristecem quando
a noite vai acabando e chegando do fim do encontro. Mas, deixam uma mensagem
cifrada na esperança de que, no mundo real, Henry e Lucy juntem as peças e
relembrem de tudo.
Quando realmente estamos dormindo? Quando sonhamos
ou quando acordados? Os sonhos poderiam ser portais para uma outra realidade?
Uma existência paralela onde fizemos escolhas diferentes e vivemos uma linha do
tempo alternativa?
O argumento
do curta ZZZZZZZ lembra bastante uma
linha de diálogo do filme A Origem (Inception, 2010) onde os protagonistas
vão para Mombasa em busca de um especialista em drogas pesadas para auxiliá-los
em uma missão e encontram um porão com dezenas de pessoas adormecidas. Vão para
lá diariamente para vivenciarem seus sonhos como uma realidade paralela.
“Eles vêm aqui não para dormir, mas para despertar!”, diz o responsável pelo local.
“Eles vêm aqui não para dormir, mas para despertar!”, diz o responsável pelo local.
Sonhos e a MWI
Atualmente filósofos e psicólogos como o Ph.D.
Patrick McNamara estão abordando a questão dos sonhos como portas ou a
contraparte de mundos paralelos, aproximando a realidade onírica da realidade
quântica - sobre isso leia "Dreams and The Many Worlds Interpretation of Quantum Physics" - clique aqui.
A possibilidade da existência de universos
paralelos a partir da mecânica quântica não é nova. A chamada Interpretação de
Muitos Mundos (Many Worlds Interpretation – MWI) foi feita em 1957 por Hugh
Everett. Para ele, a famosa experiência do Gato de Schrödinger teria
demonstrado que seria possível que cada fenômeno produzisse diversos resultados
simultaneamente, enquanto estamos limitados a observar apenas um deles – seria
a chamada “decoerência quântica”.
Existiriam muitos mundos invisíveis, como múltiplos
resultados, escolhas ou ramificações surgidas em cada evento. A cada
decoerência ocorreria um evento de ramificação e um novo mundo nasceria.
A questão é: a MWI permitiria a hipótese de que esses
mundos possam interagir ou que sinais possam ser trocados entre os mundos? O
Cinegnose já discutiu essa questão (clique aqui), mas apenas dentro da
hipótese dos Mundos em Choque no âmbito do mundo microfísico quântico.
Mas o que atualmente busca-se é aproximar a MWI dos
sonhos. Se o quadro dos MWI for correto, os sonhos poderiam ser simulações
contra-factuais do que poderia ter sido o sonhador em um mundo que se ramificou
de algum evento. Seria possível que os sonhos realmente retratem o que está
acontecendo na vida do meu colega no mundo alternativo em que vive? Se for esse
o caso, então os sonhos seriam portais para a vida de um desses mundos
ramificados previstos pela MWI.
Sob este cenário o conteúdo dos sonhos seria
composto por percepções da vida dos nossos homólogos que vivem em mundos
alternativos e a interpretação dos sonhos seria uma simples questão de check-in sobre o que está ocorrendo na
vida dos nossos colegas e como eles são criados a cada vez que ocorre um evento
de ramificação. Sonhos lúcidos seriam tentativas de alterar as histórias de um
mundo alternativo e assim por diante ...
Essa teoria onírica quântica sugere que o sonho
antes de tudo é um processo perceptivo, muito mais do que é um processo de
memória. Assim como sugere o argumento do curta ZZZZZZZ: sonhamos com nossas contrapartes em mundos alternativos
que decorreram ramificações. No curta, nossas duplicatas tentam trocar sinais
com esse mundo “real”. Estariam também eles sonhando conosco?
Clique no link abaixo e assista ao curta no Vimeo.
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