domingo, junho 12, 2016

Curta da Semana: "O Homem na Multidão" - Allan Poe se encontra com física quântica


O homem da multidão do conto de Edgar Allan Poe se encontra com o paradoxo quântico da famosa experiência do gato de Schrödinger de 1935. É o curta “O Homem na Multidão”, adaptação do conto original de Allan Poe feita pelo trio de alunos Aderbal Machado, Ricardo Vos e Vitória Silva. O curta foi o resultado do trabalho de conclusão da disciplina Estrutura de Roteiros ministrada por esse humilde blogueiro na Universidade Anhembi Morumbi no curso de Produção Editorial em Multimeios. Um curta enigmático e estranho, com uma pitada de Gnosticismo onde o encontro somente é possível no estado de consciência suspensa entre a vida e a morte.

Um homem entrou em coma num hospital. Entre a vida e a morte relembra de fatos ocorridos no dia anterior: irritado com o seu gato que havia destruído um vaso, o vizinho invade o apartamento e leva o bichano embora. Inconsolável, o homem agora procura seu gato. Observa a multidão passando pelas calçadas, sentado em um café lamentando a perda.

Levanta-se e sai andando pelas ruas. De repente ouve miados que parecem vir de uma pequena caixa segurada por um homem que aparentemente é seu vizinho. Inicia-se então uma perseguição àquele suspeito de ter sequestrado seu gato.

O final reserva para o espectador um enigma onde o homem da multidão imaginado por Edgar Allan Poe se encontrará com o paradoxo quântico da famosa experiência do gato de Schrödinger de 1935.

Esse é o curta O Homem na Multidão (2016) de Aderbal Machado, Ricardo Vos e Vitória Silva. O curta é um trabalho de conclusão da disciplina Estrutura de Roteiros ministrada por esse humilde blogueiro no curso de graduação Produção Editorial em Multimeios da Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo.


O desafio do trabalho de conclusão era fazer um roteiro literário adaptado de um dos contos do escritor norte-americano Edgar Allan Poe e transformá-lo em um curta. O objetivo principal era a confecção do roteiro. Mas o trio de alunos conseguiu ir além, produzindo um vídeo enigmático e estranho em um inusitado encontro entre Allan Poe e o paradoxo quântico da experiência da caixa do gato.

Para quem não está familiarizado com a física quântica, o físico austríaco Schrödinger tentou através dessa experiência mostrar o aparentemente ilógico mundo das partículas subatômicas – o fato de que uma partícula poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo.

O físico quis transpor esse paradoxo para uma situação fácil de ser visualizada: um gato está preso numa caixa que contém um recipiente com material radioativo e um contador Geiger. Se o material soltar partículas radioativas e o contador detectar, acionará um martelo que, por decorrência, quebrará um frasco de veneno, matando o bichano.

De acordo com as leis da física quântica, a radioatividade pode se manifestar tanto como onda quanto partícula. Ou seja, na mesma fração de segundo, o frasco de veneno quebra e não quebra, produzindo duas realidades probabilísticas simultâneas. Segundo o raciocínio, as duas realidades aconteceriam simultaneamente dentro da caixa, até que fosse aberta – a presença de um observador e a entrada da luz intervindo nas partículas acabariam com a dualidade.


Ambas realidades existem simultaneamente dentro da caixa. Mas existe a chamada “decoerência quântica” que garante que essa situação “decaia” para um dos resultados: vivo ou morto. Isso impede que os “dois gatos” das situações diferentes interajam entre si.

É nesse ponto que o curta O Homem da Multidão leva o personagem de Allan Poe para o mundo quântico: o paradoxo que ocorreria no interior da caixa é levado para o próprio mundo do protagonista, lembrando bastante o filme Coherence (2013), onde complexos conceitos quânticos como “sobreposição”, “entrelaçamento” e “decoerência” são levados para as tensões das relações humanas – sobre esse filme clique aqui.

A adaptação do curta acrescenta ainda um elemento gnóstico: o estado de suspensão como estado alterado de consciência capaz de induzir a iluminação ou gnose – o autoconhecimento. O protagonista está em coma, em um estado de suspensão entre vida e morte.


Aqui o curta marca uma diferença com o conto original de Allan Poe. Enquanto lá, após perseguir o homem da multidão, o protagonista desistia porque aquele homem “não se deixava ler” e que “há certos segredos que não se deixam contar”, aqui o protagonista alcança seu objetivo ao defrontar-se consigo mesmo em um paradoxo quântico ao estilo do gato de Schrödinger.

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