Há pouco mais de seis meses o “Cinegnose” afirmava que o atentado à casa de show Bataclan em Paris não havia acontecido. O mesmo agora ocorreu com o massacre na casa noturna LGBT Pulse, em Orlando, EUA. Claro que essa afirmação é uma alusão à tese do filósofo francês Jean Baudrillard de que eventos atuais como o atentado ao WTC em 2001 não “acontecem” por serem eventos prioritariamente destinados ao impacto no contínuo midiático. Pelas recorrências presentes nesses atentados (sincronismos, coincidências etc.), deixam de ser eventos “históricos” para tornarem-se narrativas que confirmam agendas de Estado e pautas prontas das redações da grande mídia. Em todos esses eventos repetem-se os mesmos “plots”: a mitologia do “lobo solitário” que era velho conhecido da inteligência; estranhas ligações com o governo; o suicídio (variando com a execução do atirador); depoimentos contraditórios; exercícios de simulação nas proximidades do atentado; além de pistas deixadas na cultura pop.
Os leitores mais assíduos do Cinegnose devem ter
percebido que a busca de recorrências é o método preferido desse blog, seja no
campo cinematográfico como também no estudo dos eventos midiáticos.
Acontecimentos tornam-se eventos midiáticos quando
percebemos neles recorrências que caracterizam padrões ou a construção de uma
narrativa.
Em muitas postagens viemos destacando o modus operandi da grande mídia na
produções de notícias, tão invertida como a famosa pirâmide do método do texto
jornalístico: repórteres vão a campo com uma pauta ou script pré-definido pelos
seus editores e chefes de redação – fatos e depoimentos serão sempre índices ou
evidências que confirmarão uma narrativa. O texto já está pronto. Resta ao jornalista
preencher as suas lacunas.
A grande mídia
internacional, que a brasileira obedientemente replica, tem uma agenda e uma
narrativa recorrente desde o 9/11 dos EUA: a guerra ao terrorismo
internacional, mais precisamente o chamado “choque das civilizações” – Ocidente
X muçulmanos.
Diversos sites alternativos (sejam os chamados
“conspiratórios” ou os jornalísticos alternativos) vem apontando ligações
suspeitas, recorrências e “coincidências” no massacre de Orlando. O que indicam
que o atentado à casa noturna LGBT Pulse foi mais um evento midiático que
reforçaria esta narrativa.
Por “evento midiático” poderíamos compreender desde
um evento false flag, “trabalho interno” ou um cenário de terror
propositalmente preparado para impactar o contínuo midiático e a opinião
pública, reforçando o apoio a atual agenda do governo norte-americano da guerra
ao terror.
Recorrências ou “plots”
Vamos mapear algumas dessas recorrências ou “plots”
que tornam o massacre de Orlando (já rotulado pela grande mídia como o pior
atentado desde 9/11), no mínimo, uma narrativa com peças que repetem tantas
outras como o atentado da Maratona de Boston ou aqueles ocorridos na França no
ano passado.
(a) O atirador e seu pai
Como sempre, o atirador
Omar Mateen era investigado pelo FBI, mostrando como estranhamente os serviços
de inteligência parecem ter dificuldade de lidar com “lobos solitários”.
Omar foi interrogado três vezes em 2013 por suas
supostas conexões com o ISIS e Taliban. Se Omar estava já há algum tempo no
radar do FBI e sua vida era investigada, como foi possível planejar e executar
o massacre? Segundo as notícias, ele circulava por parques como a Disney
escolhendo o melhor lugar para cometer um atentado.
Assim como os terroristas da casa de show Bataclan,
em Paris, que também eram considerados “perigosos extremistas” e eram
observados pela inteligência francesa.
As coisas começam a ficar mais esquisitas quando
sabemos que Omar estava empregado em uma empresas de segurança britânica
chamada G4S Plc desde 2007, firma que conta com clientes em mais de 100 países.
Incluindo o governo dos EUA, desde os atentados de 9/11 – sim, ele tinha posse
das armas que usou no atentado: uma AR-15 e pistola. Omar tinha uma licença
para o trabalho de segurança na Flórida.
A G4S tem contratos com o governo de 89,3 milhões
de dólares em 2015, providenciando segurança em aeroportos, prisões,
instalações portuárias e transporte de dinheiro. Segundo o Chicago Tribune, o FBI não quis comentar se
comunicava à empresa suas investigações sobre as atividades do seu empregado
Omar Mateen.
As informações sobre o pai de Omar, Seddique
Mateen, são um verdadeiro prato cheio para os teóricos da conspiração:
ex-candidato às eleições presidenciais no Afeganistão, teve um encontro em 2015
com importantes membros do Departamento de Estado do Congresso norte-americano
de acordo com o Independent Journal.
(b) A mitologia do atirador solitário
Outro
elemento recorrente é a narrativa do atirador solitário que, embora sem
treinamento militar, é sempre extremamente rápido, calmo e preciso. Sandy Hook,
Aurora, San Bernardino etc. repetem a mesma história: são verdadeira máquinas
de matar, precisas e frias. Nesse caso da casa noturna Pulse, os primeiros
questionamento foram em torno dessa performance precisa onde um atirador
consegue ferir mais de 100 pessoas, destas matando 50?
(c) Depoimentos contraditórios
Isso conduz a um
sintoma que denuncia o artificialismo da construção narrativa: testemunhos
divergentes entre os sobreviventes – sobreviventes falam em apenas um atirador,
enquanto outros relatam participações de outras pessoas.
O canal do YouTube DAHBOO 777 conseguiu gravar um
flagrante em uma transmissão da emissora de TV Fox News. Um sobrevivente dava
um depoimento ao vivo quando começou a revelar o mais importante detalhe na
tragédia da Pulse: a testemunha dizia que “algumas pessoas” seguravam as
portas, impedindo as vítimas de fugirem da casa noturna – veja o vídeo abaixo.
O testemunho da vítima foi imediatamente cortado e
a testemunha retirada da transmissão ao vivo.
A SuperStation95 FM de Nova York reportou que
outro sobrevivente, Janeil Gonzalez, viu no momento do ataque outros homens
segurando as portas para evitar fugas. A emissora FM informou que esses
depoimentos estão sendo sistematicamente cortados das redes de TV americanas.
Foi necessário a Swat abrir com explosivos, uma
passagem para a fuga dos sobreviventes, além de matar o próprio atirador. A
grande mídia não questiona o porquê disso: um homem segurou todas rotas de
fuga?
(d) O atirador é morto ou se mata
Outro elemento
clichê dessa narrativa: no final o atirador comete suicídio ou rapidamente é
morto pela ação dos policiais. Outra variação dessa fórmula é uma emocionante
perseguição em alta velocidade transmitida ao vivo. Estranhamente parece que os
serviços de inteligência não querem interroga-lo ou extrair dele mais
informações que levem à descoberta da rede terrorista. Será por que essas
informações, divulgadas pela grande mídia, levaria a eles mesmos?
(e) Exercícios de simulação na proximidade dos atentados
Tal como no evento dos atentados de Paris, sempre na proximidade da
tragédia há algum tipo de exercício de simulação onde policiais ou para médicos
participam em situações análogas ao atentado que irá ocorre.
Recentemente em Orlando havia ocorrido um exercício
de simulação de vítimas de atentado por atirador, a Conferência de Enfermagem
de Emergência com socorristas do Gabinete de Orange County Sheriff e bombeiros.
Os participante sabiam que fariam parte de um exercício de socorro, mas não
sabiam que seria incluído uma simulação de evento com um atirador em massa – clique aqui e assista à matéria da Wesh2News.
(f) Pistas na cultura pop
Aqui estamos diante de
uma recorrência de natureza sincromística: muitas vezes envolve a representação
do próprio incidente que teria ocorrido em um filme ou programa de televisão.
Em outros casos, pode envolver a colocação visível ou mesmo imperceptível de
detalhes aleatórios do ataque em filmes e na televisão. Por exemplo, no filme The Lone Gunman, um spinoff de curta duração da série Arquivo X mostra uma história onde um avião de passageiros era
sequestrado por controle remoto e estava sendo levado contra as torres do World
Trade Center. Em The Dark Knight Rises, há uma referência muito curioso para Sandy
Hook com um mapa de Newtown, Connecticut na parede.
Um evento trágico envolvendo a cultura pop foi uma
sombria introdução ao que estava por vir: também em Orlando, na madrugada do
sábado, a cantora Christina Grimmie (terceiro lugar no programa The Voice) foi assassinada após um show
por mais um atirador solitário no momento dos autógrafos aos fãs... e que
também teve o destino clichê: matou-se.
(g) Quem ganha?
Para os especialistas em teorias
da conspiração, essa é a principal pergunta a ser feita diante de uma Operação
False Flag.
Seja um False Flag ou um Trabalho Interno, essas estratégias
possuem duas funções: reforçar uma agenda pré-existente, além de ser uma tática
diversionista.
Imediatamente após o massacre
em Orlando a grande mídia passou a concentrar o debate na polêmica do controle
de armas e na homofobia, desviando da evidente demonização do bode expiatório
que é o verdadeiro objetivo: a conexão natural entre islamismo e intolerância.
O que reforça a agenda do chamado “choque de civilizações”, ideologia que
legitima a política externa norte-americana.
Homofóbicos são covardes. Preferem atacar em bandos
indivíduos isolados e acuados. A narrativa de um homofóbico fortemente armado
entrando em uma casa noturna lotada para efetuar um massacre em massa foge
totalmente ao perfil dessas pessoas.
Outros analistas falam que essa tragédia reforça o discurso
racista e xenófobo do candidato republicano Donald Trump.
Essa é outra estratégia diversionista de busca de outro bode
expiatório para a crescente intolerância na sociedade norte-americana, como se
Trump fosse uma anomalia.
A agenda do “choque das civilizações” e as supostas Operações
False Flag do século XXI são a verdadeira origem da escalada de ódio, promovida
pelo terrorismo de Estado e não por “lobos solitários” ou candidatos aloprados
com discursos “de direita”.
Observe na foto acima como os senhores da guerra exercitam
seu voyeurismo acompanhando on line a caça e a morte de Bin Laden, excitados e tensos
como acompanhassem uma jogada em um vídeo game. É a sala de guerra do
terrorismo de Estado.
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