sexta-feira, junho 09, 2017

CNN flagrada fabricando notícia falsa nas ruas de Londres



Repercute nas redes sociais um vídeo no qual uma equipe de reportagem da CNN é pega com a mão na massa fabricando uma manifestação numa rua de Londres contra o Estado Islâmico. Supostamente são mulheres muçulmanas, com destaque para uma criança orientada a segurar um cartaz de papelão. A repórter se transforma em diretora de cena e até policiais colaboram com a produção da CNN, ajudando nas marcações de cena dos “atores”. Desde o “Royal Wedding”, o casamento de Lady Di e príncipe Charles em 1981, cada vez mais a mídia avança sobre a realidade produzindo “eventos-encenação”: roteirizados, dirigidos e produzidos como fossem “notícias” e o jornalista uma “testemunha ocular da História”. Essa pequena amostra de como se constrói a atual matrix de notícias dá o que pensar: imagine a construção de manifestações em larga escala como as sucessivas “primaveras” que varreram o mundo com seus black blocs e máscaras do Anonymous – a árabe, ucraniana, turca, brasileira...

quarta-feira, junho 07, 2017

Em "AfterDeath" o Inferno é a própria Criação


“AfterDeath” (2015) é uma grata surpresa dentro da onda “recente” (já dura quase três décadas) de representações da existência pós-morte no cinema. Inspirado na peça teatral “Entre Quatro Paredes” (1944) do filósofo existencialista Jean-Paul Sartre, “AfterDeath” consegue derivar do existencialismo (“o Inferno são os outros”, frase que encerra a peça sartriana) para o Gnosticismo (o Inferno é a própria Criação). Cinco jovens despertam em uma praia desolada trazidos pela maré. Só existe um farol e uma cabana, além de uma entidade ameaçadora, uma fumaça negra. Lá descobrirão que estão mortos e num lugar que é mais do que uma antessala para o Céu ou Inferno. Um filme sobre como a culpa e pecado podem fazer parte de um jogo perverso criado por alguém que não nos ama. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

terça-feira, junho 06, 2017

Ataques em Londres consolidam a tática do "meta-terrorismo"


Depois de quase duas décadas de “false flags” e “inside jobs”, desde os ataques de 2001 nos EUA, para justificar a agenda geopolítica norte-americana, esses não-acontecimentos se tornaram autoconscientes. O mesmo roteiro repetido “ad nauseam” se tornou cada vez mais evidente até para veículos de grande mídia com CNN cujos analistas e repórteres vem soltando termos como “psy ops” e “false flags”. Por isso, desde os ataques ao Charlie Hebdo em Paris começamos a acompanhar elementos da tática diversionista do “meta-terrorismo” cujo ápice foi alcançado nesses ataques a London Bridge e Borough Market: policiais flagrados trocando rapidamente de roupa por trás de vans, como estivessem mudando de figurino para desempenhar novos papéis, ou tatuagens nos braços de um dos terroristas mortos (proibidas pela religião muçulmana) parecem indícios plantados propositalmente para simular uma produção mal feita, feitos para atrair câmeras e celulares e repercutirem em redes sociais, desmoralizando críticas sérias como “teorias conspiratórias”. Mais camadas de simulações para tornar ainda mais opaco para a opinião pública os não-acontecimentos.

domingo, junho 04, 2017

Doria Jr. é vanguarda de um experimento e São Paulo o laboratório


Subir numa escavadeira para posar para as câmeras em demolições na Cracolândia, qualificar como “bobagem” quando questionado sobre as ameaças de agressão física do secretario André Sturm contra agentes culturais, o humilhante vídeo demitindo uma secretária de governo análogo à estética visual dos vídeos do ISIS, qualificar as ruas de São Paulo como “lixo humano” e pulverizar e despachar a Virada Cultural para lugares distantes entre si. Arrogante? “João Noia?” O gênio do prefeito João Doria Jr. é saber que foi eleito pela e para a mídia corporativa e que “opinião pública” resume-se a câmera e teleprompter. Sabe que nada deve ao respeitado público já que é uma experiência de vanguarda de um projeto no qual São Paulo é o laboratório. Por isso, de forma atávica, repete como farsa o roteiro do assalto nazifascista ao poder e guerra contra a sociedade: começa pelo banimento da “arte degenerada”, passando pela desautorização e humilhação das opiniões contrárias, terminando com a “Nova Berlim” paulistana na Cracolândia e “sacar revólveres” quando ouve falar em cultura. 

quinta-feira, junho 01, 2017

O horror e a patologia humana no filme "A Cura"


À primeira vista parece um gigantesco pastiche de duas horas e meia de referencias a filmes como “Ilha do Medo”, “O Iluminado”, “Drácula” e filmes B de terror. Mas tudo isso é uma superfície narrativa. “A Cura” (“A Cure for Wellness”, 2016) trata de como o homem tirou Deus do seu altar de adoração e pôs no lugar a Ambição, gerando a patologia do homem moderno. O que garantirá uma inesgotável matéria-prima para um experimento que mistura geneticismo e horror. Um jovem agressivo e ambicioso corretor do mundo financeiro vai resgatar um CEO da sua empresa em um spa nos Alpes suíços famoso pelas suas águas terapêuticas. Para ali encontrar uma jornada pelo horror e o fantástico que exigirá a verdadeira cura: a transformação interior. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

terça-feira, maio 30, 2017

Curta da Semana: "High Chaparral" - refugiados sírios perdidos na hiper-realidade


O que tem a ver os filmes de faroeste de Hollywood com um parque temático no interior gelado da Suécia chamado “High Chaparral” e refugiados sírios? Muitos vezes a ironia faz a realidade superar a própria ficção. Dois documentários curta-metragem, “High Chaparral” (2016) e “Return to High Chaparral” (2017) mostram como um parque temático sobre o Velho Oeste dos filmes hollywoodianos se transformou em abrigo para 500 refugiados sírios no inverno sueco. Vítimas do mundo real encontrando abrigo na hiper-realidade criada pelo “soft power” norte-americano. Um parque temático, que encena histórias de heróis com grandes armas derrotando vilões, dá abrigo a vítimas dessas mesmas armas, só que no mundo real. Refugiados de um país distante pouco familiarizados com filmes de faroeste, mas que, mesmo assim, ficam fascinados ao verem atores suecos repetindo narrativas hollywoodianas semelhantes àquelas deixadas em seus países destruídos.

domingo, maio 28, 2017

A Cracolândia e o documentário "Arquitetura da Destruição"


No filme “Ele Está de Volta” (2015) Hitler aparece no século XXI e vê os neonazistas na Alemanha. Irritado, chama-os de “fracotes!”. Para ele, não passavam de imitadores. Mas aqueles que realmente entenderam o seu legado não estão nas ruas: são os gestores em governos e corporações. Chamada pela mídia corporativa de “megaoperação de combate às drogas”, a ação na Cracolândia no Centro de São Paulo, comandada pelos “gestores” prefeito João Dória Jr. e o governador Alckmin é uma irônica confirmação daquele filme. Escavadeiras, demolições e a internação obrigatória de dependentes químicos são evidências de como dois princípios do legado nazifascista inspiram esse século: o “embelezamento do mundo” e o “princípio das ruínas”. Um dos melhores estudos do fenômeno nazi, o documentário “Arquitetura da Destruição” (1989) descreve que projetos nazistas como a “Nova Berlim” acreditavam que o embelezamento somente seria possível através da destruição e higienização social.  Projetos atuais como “Nova Luz” e o Programa “Cidade Linda” em São Paulo parecem confirmar a maior fé de Hitler: as ruínas da arquitetura monumental nazi de uma Alemanha derrotada inspirariam as gerações futuras.

sábado, maio 27, 2017

Alguém manipula nossas identidades no filme "Los Parecidos"


Imagine um diretor fascinado pelos filmes e séries sci-fi e de terror B dos anos 1950 como “Além da Imaginação” que produz um filme com mix da atmosfera dos filmes noir e do hotel Overloock de “O Iluminado”. O resultado é um filme estranho, fora da curva dos atuais thrillers de horror. É o filme “Los Parecidos” do diretor mexicano Isaac Ezban que vem conquistando prêmios no circuito internacional de festivais do fantástico e do horror. Em uma noite de forte tempestade, em 1968 no México, um grupo fica preso em uma pequena e remota estação rodoviária, à espera de um ônibus que nunca chega. Estranhas notícias pelo rádio dão conta que aquele temporal não é comum: o que cai do céu junto com a chuva provoca estranhas mudanças comportamentais, e suspeita-se de um fenômeno global. O filme utiliza elementos do fantástico para discutir um tema muito sério: se a nossa identidade é o resultado do jogo da percepção (o olhar de um para o outro), como isso pode ser moldado por influências externas? Mídia? Uma inteligência alienígena? Ou apenas o resultado da paranoia mútua?

quinta-feira, maio 25, 2017

Ataque em Manchester cria dissidências e armadilha do "meta-terrorismo"


Paris, Bruxelas, Nice, Berlim, Estocolmo, Londres, e agora Manchester. Sempre a recorrências dos mesmos elementos de um roteiro: o terrorista sempre morre no final, um homem-bomba que leva cartão de banco, o inexplicável relaxamento da segurança em uma arena com 21 mil pessoas etc. e etc. Mas dessa vez, as “coincidências” ficaram tão evidentes que opiniões dissidentes começam a surgir dentro da própria mídia corporativa (como a CNN) e no mainstream político britânico: agora temos opiniões “sérias” de que tudo poderia ser mais uma “false flag” – ou “não-acontecimento”, no jargão acadêmico. Como todo não-acontecimento, o ataque deixa uma proposital “assinatura” que os “teóricos da conspiração” chamam nesse ataque de Manchester de “22-22-22”: terrorista de 22 anos mata 22 pessoas no dia 22. Isca meta-terrorista para analistas independentes morderem e verem em tudo uma “cabala maçônica”, para então caírem nos estereótipos conspiratórios que a própria mídia noticiosa e o cinema criaram. Como, por exemplo, os livros/filmes de Dan Brown.

segunda-feira, maio 22, 2017

Luciano Huck e o jornalismo que perdeu o faro na classe média midiatizada


A corrida de celebridades como Luciano Huck para apagar fotos nas redes sociais com o, agora, radioativo senador Aécio Neves, é a face mais visível de um novo fenômeno: o surgimento uma classe média midiatizada: jornalistas, artistas, celebridades esportivas entre outros da fauna midiática que, por respirarem e viverem em uma bolha que os isola das ameaças do deserto do real, começam a criar relações promíscuas e comprometedoras com personagens empresarias e políticos que habitam no entorno do poder. Como sintoma “tautista” (tautologia + autismo) desses ambientes midiatizados, confundem câmeras, teleprompter e claque de aplausos em auditório com a própria realidade, chegando alguns a acreditar que de fato ocupam “espaço de poder”. Casadas com políticos e empresários além de manter amizades com centros de poder corporativos e governamentais fazem muitos jornalistas acreditar que também pertencem à classe dominante, criando um tipo de jornalismo e entretenimento marcado por relações promíscuas e conflitos de interesses.

domingo, maio 21, 2017

O terror racial do filme "Corra!"


A jovem branca vai apresentar o seu namorado negro para os seus pais, num evidente prenúncio de tensões raciais. Diversos filmes já exploraram esse tema. Mas nenhum como “Corra!” (Get Out, 2017) – afinal, estamos no século XXI e a crítica ao racismo e intolerância está no centro dos debates culturais. Agora, o jovem negro conhecerá pais liberais, esclarecidos e que votaram em Obama. Mas ainda assim há algo de errado e perturbador naquela família de típicos liberais democratas. “Corra!” é a grande novidade dentro do subgênero do terror racial: a combinação de elementos gnósticos (o controle da mente e o esquecimento induzidos pelas tecnologias do espírito) com a crítica social – aqueles que supostamente defendem a democracia racial, são os mesmos que cinicamente reproduzem a desigualdade.

sexta-feira, maio 19, 2017

Jogo Baleia Azul e suicídio: a morte é mais um produto à venda?, por Marcelo Gusmão


Torne a mentira grande, simplifique-a, continue afirmando-a, e eventualmente todos acreditarão nela”. Essa frase de Adolf Hitler descreve bem esse ‘e-fenômeno’ que se tornou o Jogo da Baleia Azul nos últimos meses.  O que aconteceu foi algo semelhante à frase do ditador, ou seja, o jogo é a mentira que se tornou grande, e por isso foi curtida, comentada e compartilhada tantas vezes mundo afora que, eventualmente, muitos acreditaram nela. Sabe-se agora, após investigações de sites especializados, que o Jogo da Baleia Azul é um “fake news” (notícia falsa), fruto do velho e conhecido telefone sem fio. Mas também a vida imita a arte: o  suposto jogo Baleia Azul foi explicitamente inspirado no filme “Nerve: Jogo sem Regras” (2016). E vice-e-versa, a arte imita a vida: a série "Os 13 Porquês” surge no momento em que a ONU divulga números de que ocorre um suicídio a cada 40 segundos: coincidências? sincronismos? Ou também a morte transforma-se em mais um produto à venda?

quinta-feira, maio 18, 2017

Delações da JBS deixam nu o jornalismo da Globo


Ao vivo repórteres e apresentadores nervosos, consternados, engolindo seco em uma profusão exponencial de gafes e atos falhos poucas vezes vista. Os jornalistas da Globo parece que foram pegos de surpresa: depois de diariamente martelar a narrativa da governabilidade e do “ruim com ele, pior sem ele”, de repente (como se fosse virada alguma chavinha seletora) o discurso mudou radicalmente. Tudo após a explosão nuclear das delações premiadas dos donos da JBS (terceiro maior anunciante da Globo) reveladas em suposto “furo” do jornal “O Globo”. E ainda com direito a cobertura com imagens estilo “black bloc” mostrando rolos de fumaça subindo diante do Palácio do Planalto em noite de protestos. Por que a surpresa consternada dos jornalistas globais, tidos como os mais bem informados e conhecedores dos bastidores do País,  como diz marketing da emissora? Mais do que provocar um terremoto político, as delações da JBS deixaram nu o jornalismo global: revelou profissionais alheios à realidade e que apenas repetem discursos ao sabor da mudança dos interesses corporativos da Globo. Mas isso traz um custo psíquico aos incautos jornalistas da emissora.

quarta-feira, maio 17, 2017

A obsessão pela felicidade: em defesa da melancolia


Neste momento a sociedade reúne todo um arsenal médico-terapêutico-psicológico-farmacêutico para extirpar o mal que atormenta milhares de almas: a melancolia e a depressão. O professor de literatura inglesa da Wake Forest University Erik Wilson vê na obsessão pela busca da felicidade na atual sociedade de consumo como uma desconsideração medrosa do valor da tristeza: a agitação da alma que se transforma no impulso vital de toda cultura próspera. Se o Prozac existisse desde séculos atrás, certamente não veríamos hoje muitas obras primas nos campos da literatura, pintura e ciências. Esse é o tema do recente livro de Wilson “Against Happiness: in praise of melancholy”

terça-feira, maio 16, 2017

Curta da Semana: "Day 40" - os animais se amotinam contra Deus na Arca de Noé


Como Noé conseguiu colocar a cadeia alimentar completa de animais dentro da Arca e por 40 dias todos viveram em paz e harmonia enquanto o planeta era punido pelo Dilúvio? O produtor, diretor e animador Sol Friedman, notório pelas suas produções que profanam contos sagrados e tradições religiosas de todo o mundo, no curta de animação “Day 40” (2014) apresenta com muito humor negro uma arca bíblica que mais parece um navio de piratas amotinados. Um lugar tão pecaminoso quanto o mundo deixado para trás e afogado pelo Dilúvio. Em muitos aspectos o curta lembra a leitura gnóstica que Darren Aronofsky fez em “Noah” (2014). “Day 40” não é uma produção aconselhada para pessoas religiosamente mais sensíveis.

segunda-feira, maio 15, 2017

Tentar lembrar pode ser uma armadilha em "Remainder"


A memória é o que nos torna quem somos. Mas, se as memórias são resultantes das nossas percepções mais subjetivas (cor, cheiro, sons etc.) podem ser interpretações e não gravações da realidade. Por isso, podem se tornar armadilhas, quanto mais imergimos nelas. Desde o filme “Amnésia” (2000) de Christopher Nolan esse perigo é tematizado mais seriamente pelo cinema, até chegarmos a “Remainder” (2015): após um acidente traumático, um jovem perde a memória e tenta montar o quebra-cabeças das lembranças que restaram com um método extremo: com o dinheiro da milionária indenização o protagonista monta gigantescos estúdios com atores contratados para obsessivamente encenar seus cacos de memória. Mas o que deveria ser uma progressiva conexão com a realidade, começa a se tornar um vício compulsivo. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

domingo, maio 14, 2017

Cinegnose discute filme gnóstico, semiótica narrativa e jogos digitais na "Fatecnologia"


O cinema gnóstico. Gnosticismo nas ciências e nos jogos digitais e o Universo como um game de computador. As mito-narrativas gnósticas e as transformações da Jornada do Herói nas HQs e no Cinema. As semióticas das narrativas como ferramentas de produção textual, de roteiros e apresentações. Esses foram alguns dos temas discutidos por esse humilde blogueiro na 9a. Fatecnologia na Faculdade de Tecnologia de São Caetano do Sul (SP) na noite dessa última quinta-feira para uma plateia de interessados e participativos estudantes. E com uma conclusão final após diversas indagações: o Herói, assim como nós mesmos, não enfrenta “vilões”. Mas a nossa própria Sombra interior projetada na ilusão do mundo. Veja o vídeo e os slides do evento.

sábado, maio 13, 2017

Startup britânica promete construir a verdadeira Matrix


Uma startup britânica chamada Improbable pretende criar a verdadeira Matrix: uma simulação em larga escala do mundo real. E o ponto de partida já existe – a plataforma SpatialOS e o jogo de computador Worlds Adrift, ainda restrito a acadêmicos e cientistas. O aporte de milhões de dólares na startup por empresas de capital de risco, além do interesse militar e indústria de entretenimento pelo projeto revelam evidentes aplicações nas áreas estratégica, bélica e engenharia social: construir mundo virtuais para simular o surgimento de extremismos violentos nas populações e comportamentos econômicos. Mas a iniciativa dos co-fundadores Herman Nerula e Rob Whitehead é também uma evidência da motivação místico-religiosa que possui atualmente o Vale do Silício: Tecnognosticismo, imortalidade e a crença de que já vivemos em uma gigantesca simulação. O game Worlds Adrift seria mais um exemplo de como a ciência experimental se encontra com a prática religiosa: a Teurgia.

sexta-feira, maio 12, 2017

Para quê serve a astrologia de massas?




Na década de 1950 o alemão Theodor Adorno (pelo olhar sócio-psicanalítico) e o francês Roland Barthes (pelo ponto de vista da semiologia) empreenderam pesquisas sobre as colunas de astrologia, respectivamente do Los Angeles Time e do semanário Elle. Ambos chegaram à mesma reposta: a astrologia de massas serve para exorcizar o real. A astrologia deixa de ser uma abertura para o Oculto, o Onírico e o Imaginário para se transformar num espelho realista e disciplinador da própria rotina diária dos leitores. Será que essa resposta pode ser aplicada à astrologia de massas atual, mais de cinquenta anos depois dessas análises?

terça-feira, maio 09, 2017

Cinegnose participa da "Fatecnologia" discutindo semiótica dos jogos e gnosticismo



Semiótica, Jogos e Gnosticismo é a discussão que esse humilde blogueiro levará para a 9a. Fatecnlogia, evento da Faculdade de Tecnologia de São Caetano do Sul. A palestra acontece dia 11/05 e tem como principal objetivo apresentar as contribuições dos estudos das mito-narrativas (do Herói e a Gnóstica) para o mundo dos jogos digitais – principalmente a possibilidade de criação de um nível meta da própria realidade através do entretenimento. Seria o mundo lúdico dos jogos um nível meta no interior do próprio Universo simulado em que vivemos?.

segunda-feira, maio 08, 2017

A construção do super-herói amoral nas capas de "Veja" e "IstoÉ"


Pela primeira vez em anos as capas as revistas “Veja” e “IstoÉ” escancaram sinceridade e franqueza: recursos semióticos como retórica, iconificação e analogia usados não mais para esconder, mas para explicitar aquilo que sempre essas publicações não ousavam admitir: o juiz de primeira instância Sergio Moro há muito deixou o campo do Direito para atuar como um líder político messiânico que não mais julga em posição equidistante entre promotoria e réu – assumiu uma batalha cujo ápice é o interrogatório de Lula no Fórum de Curitiba no dia 10/05. Que as revistas simbolizam como algo entre a luta livre mexicana ou uma contenda de box do século. Mas há algo mais nessas capas: o juiz Moro não é um herói que segue o modelo clássico (épico ou trágico), mas é o Super-Herói amoral das HQs e adaptações cinematográficas da Marvel e DC Comics: aquele que luta pela Justiça e a Verdade, acima do Bem e do Mal. Cimento ideológico necessário para a opinião pública se resignar ao ver a própria carne sendo cortada com as supostas “reformas”, como “efeito colateral” aceitável em nome da Verdade – se for necessário, o Super-Herói pode até destruir o mundo, mesmo que seja para derrotar vilões que também querem destruir o mundo.

sábado, maio 06, 2017

"Complicações do Amor": pode algo tão bom não funcionar mais?


Não se perca no infeliz título em português, que faz parecer uma comédia romântica de sessão da tarde. “Complicações do Amor” (The One I Love, 2014) é uma crítica ambígua e até sombria (ao melhor estilo das atmosferas da série “Além da Imaginação”) contra todo aparato fármaco, psicoterapêutico e neurocientífico atual mobilizados para supostamente nos fazer felizes. Porém o efeito colateral prático é viciosidade, dependência e compulsão. Afinal, é a alma do negócio para manter todos sob controle – as chamadas “tecnologias do espírito”. Um casal em crise terminal procura um terapeuta para tentar resgatar os momentos felizes que foram perdidos no passado e que fizeram Ethan e Sophie ficarem juntos. O terapeuta sugere um final de semana a sós em uma remota casa de campo onde tentem resgatar o que foi perdido na relação. O problema é que lá encontrarão uma espécie de sala de espelhos cada vez mais perturbadora com resultado imprevisível e ambíguo  - e até elementos CosmoGnósticos. Matrix nas relações conjugais?  

quinta-feira, maio 04, 2017

A morte de Belchior e a construção do estereótipo do "maluco beleza"


Belchior foi um verdadeiro objeto voador não identificado na MPB. Por décadas a mídia corporativa tentou enquadrá-lo em alguma categoria: “rapaz romântico”, “brega”, “figura de voz fanhosa e bigodão” etc. E nos últimos anos, procurou encaixá-lo na narrativa “desaparecido/aparecido” e, por fim, na sua morte, transformá-lo no estereótipo do “maluco beleza”. Para quê? Para enquadrá-lo na derradeira narrativa do modelo negativo moralizante: o “maluco beleza” irresponsável que não conseguiu dar a “volta por cima” numa suposta carreira que descia ladeira abaixo. Belchior sabia que a mídia fazia tábula rasa da sua obra e, por isso, de forma autoconsciente virou um OVNI da MPB. A forma como a grande mídia “reciclou” a morte de um ser inclassificável confirma uma tese do pensador Theodor Adorno sobre a função do entretenimento na Indústria Cultural: apertar ainda mais os arreios que nos prendem à disciplina do mundo do trabalho.

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