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quinta-feira, julho 15, 2021

Filme "A Guerra do Amanhã" é propaganda da Doutrina Biden para guerras do futuro


Desde que a Primeira-Dama Michelle Obama abriu o envelope de Melhor Filme do Oscar em 2013 em link ao vivo direto da Casa Branca, tornou-se explícita e sem rodeios a função de Hollywood como máquina de propaganda política. O Filme “A Guerra do Amanhã” (2021, disponível na Prime Video) é mais uma peça de propaganda, dessa vez escancarando a “Doutrina Biden” para o planeta. Do futuro vem uma força tarefa alertando que a humanidade está sendo dizimada por alienígenas xenomorfos e pede ajuda: enviar para lá mais tropas que auxiliem na batalha. Um mix dos clichês do gênero: viagem no tempo, monstros alienígenas, problemas mal resolvidos entre pai e filha, um herói que ao mesmo tempo tenta salvar o mundo e reunir a família etc. Mas também os indefectíveis RAVs (russos, árabes e vilões em geral e, agora, chineses também) que estão no filme, porém, de forma indireta, metonímica, com efeitos subliminares de propaganda política.

quarta-feira, abril 14, 2021

Experiência sensorial e anomalias telefônicas na série 'Calls'



Nove episódios constituídos por áudios de telefonemas que, pelo menos de início, não estão relacionados mas que eventualmente serão peças de um quebra-cabeças envolvendo um mistério. Áudios acompanhados de formas abstratas constituídas por ondas senoidais, oferecendo uma experiência sensorial inédita para o espectador, pelos menos em plataformas de streaming. É a série da Apple TV + chamada “Calls” (2021-). Uma espécie de podcast narrativo cuja virtude é o minimalismo e a imprecisão, instigando nossa imaginação a completar as informações que faltam. Em cada episódio acompanhamos diálogos telefônicos que são interrompidos por eventos inexplicáveis. O que quer que esteja acontecendo em um nível global tem elementos desagradáveis ​​de terror corporal com pessoas gritando sobre coisas que não podemos ver e apenas imaginar – há algum tipo de anomalia exponencial envolvendo uma estranha dessincronização entre os interlocutores das conversas telefônicas. 

segunda-feira, março 08, 2021

China nega que está fazendo uma 'máquina do tempo' em meio a sincronismos


Vazado de uma plataforma de informação de financiamentos, uma apresentação em Power Point detalha um estranho projeto envolvendo o laboratório estatal de física de partículas da China e uma startup chinesa chamada Ruitai, intitulado “Dispositivo Experimental de Geração de Túnel no Espaço-Tempo” que seria utilizado para “viagens no tempo, viagens interestelares, extensão da vida, etc.”. Será que a reação de uma superpotência em desmentir o projeto de forma tão rápida e veemente entraria nos anais do “não há nada para ver aqui”? O fato é que essa notícia esta cercada de sincronismos: em 2011, o governo já havia proibido a produção de filmes sobre viagem no tempo no país. Além de que, desde o início da civilização chinesa, prever, dominar o futuro e subjugar o tempo foram os objetivos estratégicos principais - Fo-Hi (mítico imperador da China e considerado o mestre do tempo) criou o “I Ching” ou “O Livro das Mutações”, forma de entender as diversas ramificações do tempo, lembrando conceitos da física quântica como os de entrelaçamento e sobreposição. 

Em postagem anterior, em 2011, este Cinegnose noticiava que autoridades chinesas estavam proibindo a produção de filmes sobre o tema viagem no tempo, no ano do 90o aniversário do Partido Comunista chinês. Na oportunidade, discutíamos a notícia no sentido estrito da linguagem cinematográfica: o governo chinês cobrava produções audiovisuais e cinematográficas com maior realismo, seja no campo ficcional ou documental. E temas de ficção como viagem no tempo seriam por demais “escapistas” – clique aqui.

Agora, de uma maneira sincrônica, novamente temos uma notícia que envolve o governo chinês com o tema da viagem no tempo. Porém, agora no sentido literal!

O maior laboratório estatal de física de partículas da China refutou de forma enfática uma informação que passou a circular a partir de uma apresentação em Power Point vazado on line de uma plataforma de informação de financiamentos Tourongjie. O documento sugere que o Instituto de Física de Altas Energias da Academia Chinesa de Ciências estaria fazendo parceria com a Ruitai Technology Development Technology Co. em algo chamado "Dispositivo Experimental de Geração de Túnel no Espaço-Tempo".




O noticioso chinês The Paper Journalist, via 6Park News, vazou as informações do projeto com uma seguinte descrição do aparelho:

O dispositivo pode distorcer o tempo e o espaço, controlar a taxa de fluxo do tempo, romper a barreira do tempo e do espaço e pode ser amplamente utilizado para viagens no tempo, viagens interestelares, extensão da vida, etc. O projeto planeja selecionar um local na China, e arrendar uma área de cerca de 16 acres para construir uma base de experimentos científicos. Espera-se que o dispositivo seja capaz de transportar com sucesso o experimento espaço-tempo de 7 a 12 meses após os fundos estarem disponíveis.

O PowerPoint também afirma que a equipe por trás do projeto "chegou a um acordo de cooperação preliminar com uma equipe de pesquisa e desenvolvimento composta por renomados especialistas e acadêmicos do Instituto de Física de Altas Energias da Academia Chinesa de Ciências", e que o Prêmio Nobel Charles Kao “reconheceu e elogiou” o dispositivo, além de outros conceituados cientistas como Li Jing, Zhao Guangheng e Niu Shuqiang.



De acordo com o plano, a Ruitai pretendia levantar US $ 200 milhões (US$ 30,9 milhões) para o projeto que estava "conservadoramente" avaliado em US$ 838,2 bilhões. 

Não muito tempo depois que o documento do PowerPoint vazou, o Instituto de Física de Altas Energias da Academia Chinesa de Ciências emitiu um comunicado negando veementemente seu envolvimento no projeto:

Não é verdade que nosso instituto e a 'Shanxi Ruitai Technology' mencionada no artigo Development Technology Co., tiveram algum contato ou cooperação, e nossa empresa não assumirá qualquer responsabilidade legal por quaisquer perdas causadas por sua falsa propaganda. 

A Ruitai também negou seu envolvimento com a estatal chinesa. A empresa alegou que a plataforma de informações de financiamento “gerou por engano” a apresentação, o que faz a Ruitai encerrar a cooperação com a plataforma, como informou o presidente Guo Weiwei, segundo o Chongqing Morning News – clique aqui

Instituto de Física de Altas Energias da Academia Chinesa


“Não há nada para se ver!”

Será que a China está construindo uma máquina do tempo? A notícia gerou muitas piadas e memes geeks nas redes sociais como, por exemplo, que se a China tem a tecnologia 5G é porque teria roubado dos americanos no futuro para trazê-la ao presente...

Para além desse folclore, jornalistas como Caroline Delbert, da revista norte-americana de ciência e tecnologia Popular Mechanics, considerou a estranheza de um desmentido tão rápido e veemente de um laboratório estatal: entraria nos anais do “não há nada para ver aqui!” – clique aqui. Quando uma superpotência faz um esforço especial para negar que está fazendo algo, o desmentido passaria a ter uma natureza ambígua. Produzindo uma espiral especulativa. Um plano de negócios em uma apresentação supostamente gerado “acidentalmente” e “vazado” por uma plataforma de informações de financiamentos poderia gerar uma negação tão forte de uma superpotência?

A estranheza é que nem mesmo diante da “teologia do COVID-19” espalhado pela mídia ocidental (um vírus chinês que se espalhou pelo mundo) o governo chinês foi menos enfático em desmentir ou criar sua própria narrativa do que veículos noticiosos do Japão e Taiwan que começaram a levantar evidências de que o novo coronavírus teria sua origem nos EUA – clique aqui. Menos enfático do que o atual desmentido de um vazamento de em estranho plano de negócios vazado na Internet.

I Ching e o mestre do tempo

Além desse sincronismo do governo proibir o tema específico “viagem no tempo” na produção fílmica e televisiva em 2011 e, agora, o vazamento de um estranho plano de negócios em torno da construção de “túnel no espaço-tempo” com uma startup chinesa, temos outra conexão sincrônica: tudo ocorre num país que que sempre se interessou muito mais pelo tempo do que pelo espaço – a geometria só entrou na cultura chinesa por meio de missionários ocidentais.



Algumas das teorias sobre o tempo datam  de mais de três mil anos e atualmente retomada por cientistas chineses. Esse conhecimento milenar afirma que o espaço não existe e que os objetos podem atuar uns sobre os outros a distâncias absolutamente fantásticas. Lembrando conceitos da física quântica como os de entrelaçamento e sobreposição. 

Portanto, prever e dominar o futuro e subjugar o tempo forma desde o início os objetivos da civilização chinesa.

Fo-Hi, a enigmática personalidade (imperador da China que pertencia ao reino Xia), foi considerado o mestre do tempo pelas crônicas chinesas dando a data do seu nascimento entre 5000 e 5000 A.C. 

Ele foi o criador do I Ching ou O Livro das Mutações. A tradição atribui a Fo-Hi a aplicação de oito trigramas essenciais de forma a desvelar fenômenos celestes que se desenvolvem na natureza, e tudo compreender. Esses trigramas compreendem duas linhas fundamentais: a linha contínua que representa o céu (yang) e a linha quebrada que representa a terra (yin).

I Ching  foi concebido para ser uma ferramenta à disposição do homem para desvendar as ramificações do tempo e basear suas ações nas informações no mais profundo inconsciente coletivo. O curioso é que a base do I Ching corresponde à moderna concepção quântica do tempo: a cada ponto do seu percurso, o tempo se separa em ramificações diferentes, das quais poderíamos dispor segundo a nossa vontade. Consequentemente, o Livro das Mutações fornece orientações para a escolha de uma decisão, de uma das ramificações do tempo.

Pela sua importância, foi estudado por Confúcio, pelo filósofo Leibniz, pela psicologia profunda de Carl Jung. O I Ching teria servido igualmente ao almirante japonês que tomou a decisão para o ataque a Pearl Harbor na Segunda Guerra Mundial.

I Ching teria sido a primeira conquista do tempo pelo homem. Para Jung, as escolhas em torno dos 64 hexagramas que compõem o I Ching seriam comandadas pelo fenômeno da sincronicidade – determinados eventos se influenciam também perpendicularmente a um fluxo temporal, como ondas produzidas na água por um navio, cujas ondas podem perturbar a trajetória de outros navios, ou de outras ondas.

Portanto, seria mera coincidência ou sincronismo  essas especulações em torno de um misterioso projeto de viagem no tempo justamente numa potência geopolítica tão obcecada pelo controle tático e político do tempo? 

Com informações de Popular Mechanics, Yicai Global, The Debrief, Planeta, Weird Theory, 6Park News.

 

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quinta-feira, fevereiro 04, 2021

Drogas sintéticas análogas e a persistente ilusão do tempo no filme 'Synchronic'


Drogas sintéticas análogas são uma febre no EUA nesse momento de isolamento social, com números recordes de overdose – são análogas às drogas ilegais, mas com uma ligeira modificação molecular que permite a “legalidade”, podendo causar efeitos imprevisíveis. E se um desses efeitos for um estado alterado de consciência que permita ao usuário viajar brevemente no tempo? Junte essa experiência com a teoria do “Bloco Universal” de Bradford Skow, professor do MIT (a coabitação do passado, presente e futuro no mesmo contínuo tempo-espaço), e teremos o filme “Synchronic” (2019): dois paramédicos encontram estranhas mortes no turno da noite, todas envolvendo uma nova droga chamada “Synchronic”. Seus efeitos trarão efeitos devastadores em suas vidas: a ruptura da ilusão do tempo.

terça-feira, janeiro 12, 2021

'Palm Springs': o loop temporal é déjà-vu do nosso isolamento social na pandemia

Para além dos aspectos econômicos, os reflexos da pandemia e isolamento social no cinema e audiovisual também se apresentam nos picos temáticos dos roteiros: além da “covid exploitation” e do tema da “viagem no tempo”, há uma alta do subgênero “time loop” – personagens tornam-se prisioneiros de um período de tempo que se repete. A produção indie “Palm Springs” (2020) é mais um loop temporal entre as produções desse período: um protagonista preso desde sempre no dia de uma festa de casamento. Ele mal se recorda da vida anterior e está adaptado ao seu destino vivendo todos os prazeres que uma vida amoral e hedonista pode proporcionar. Até uma das convidadas cair sem querer em seu loop, quebrando a sua confortável rotina. Por que tantos loops no cinema e audiovisual em 2020? Será um “déjà-vu” dos espectadores na pandemia? Ou seria também um sintoma do chamado “presente extenso”, consequência das nossas vidas agora hipermediadas por dispositivos tecnológicos?

terça-feira, dezembro 15, 2020

Série 'Travelers': por que precisamos da viagem no tempo?


A partir de 2016, o cinema e audiovisual (principalmente séries) vive um surto de narrativas sobre a viagem no tempo. Principalmente envolvendo a mitologia da segunda chance: a ciência relativística e quântica parece ter trazido mais angústias existenciais do que respostas. E as sombrias previsões políticas, econômicos e climáticas, só alimentam ainda mais essa angústia. A série original Netflix “Travelers” (2016-18) é mais uma estória sobre “segunda chance”, dessa vez para a história humana: através de “hospedeiros”, viajantes do futuro chegam no século XXI para desfazerem uma cadeia de eventos que levará o mundo a algum tipo de catástrofe climática e econômica futura que transformará o planeta num mundo árido e hostil. Depois dos deuses, messias e discos voadores vindos dos céus, agora a esperança vem através de viajantes do Tempo. 

quarta-feira, dezembro 09, 2020

Biocentrismo e imortalidade quântica no filme 'No Limite do Amanhã'


Na superfície, “No Limite do Amanhã” (“Edge of Tomorrow”, 2014, agora disponível na Netflix) é mais um sci-fi daqueles que gostam de heróis com armaduras robóticas enfrentando monstruosos aliens com muitas explosões em computação gráfica. De fato, Tom Cruise gasta os seus cinquenta anos, mais uma vez, tentando salvar o mundo. Mas, dessa vez, em um alto conceito presente no cinema desde os clássicos “Matadouro 5” (1972) e “O Feitiço do Tempo” (1993): um protagonista prisioneiro em um loop temporal, repetindo indefinidamente o mesmo dia até a sua morte. Porém, “No Limite do Amanhã” acrescenta o toque da mecânica quântica: a interpretação dos Muitos Mundos onde o simples fato de observar provocaria efeitos no mundo atômico – a bifurcação na qual todas as opções ocorrem, criando muitos mundos. Disso decorreria a hipótese do “biocentrismo”: nossa consciência persistiria nesses múltiplos mundos, criando uma imortalidade quântica. 

segunda-feira, novembro 23, 2020

Não existe ficção científica no país do futuro em 'Branco Sai, Preto Fica'

O ano é 1986. Cidade-satélite de Ceilândia. Uma violenta repressão policial em um baile funk resulta em dois jovens negros com sérias sequelas: um, na cadeira de rodas; e o outro, andando com ajuda de uma prótese. Baseado nesse fato real, o filme “Branco Sai, Preto Fica” (2014), do documentarista Adirley Queirós, constrói uma curiosa ficção científica (gênero rarefeito no cinema brasileiro) “hipo-utópica”: o futuro não existe nem mesmo como distopia, sendo uma mera projeção hiperbólica do presente dos protagonistas – um apartheid racial e social em volta de uma Brasília sitiada. De um futuro que parece o Brasil atual, vem um “agente terceirizado do Estado brasileiro” investigar os responsáveis pela tragédia de 1986. A mistura de gêneros documentário e sci-fi é proposital: mostrar como no “País do Futuro”, passado, presente e futuro se estendem num estranho eterno presente. Sem existir o amanhã.

sábado, novembro 14, 2020

A nova Guerra Fria quântica divide a humanidade na série "Counterpart"


Em todas as culturas, conhecer o seu duplo (o “doppelgänger”) é uma experiência terrível e talvez prenúncio da morte. Tema recorrente no cinema, a série “Counterpart: Mundo paralelo” (2017-2019) leva esse tema para outra direção: e se você descobrisse que cada um de nós possui um duplo que vai muito além de um doppelgänger? Um duplo que partilha da mesma genética, memórias e experiências. Mas que criou uma personalidade e uma linha do tempo muito diferente da sua. Qual seria o impacto nas nossas vidas e no nosso mundo ao descobrirmos o segredo da existência de um mundo duplicado (efeito de um experimento científico durante a Guerra Fria que criou acidentalmente uma Terra Paralela) no qual, por exemplo, as torres gêmeas jamais foram derrubadas em 2001 e que o cantor Prince continua lançando CDs?  “Counterpart” explora as consequências existenciais e políticas em uma nova Guerra Fria envolvendo espionagem e novas formas de terrorismo, dessa vez a partir de um acidente quântico que dividiu a humanidade.

sexta-feira, outubro 30, 2020

O Tempo destrói o cinema e a vida no filme 'Irreversível'


“Irreversível” (Irréversible, 2002) é brutal e cruel. Assim como o Tempo, no qual todo momento de felicidade depende de uma linha tênue que é corroída pela entropia na medida em que avançamos para o futuro. O diretor franco-argentino Gaspar Noé nos mostra como a vida seria insuportável sem a inocência da nossa ignorância sobre o Tempo – uma estória contada em ordem cronológica invertida: começamos pelas cenas brutais e selvagens para recuarmos para as cenas calorosas e divertidas de um casal apaixonado cujas vidas estão prestes a ser alteradas para sempre. Gaspar Noé desconstrói tanto o tempo da narrativa cinematográfica (que nos deixa desarmados diante das sequenciais iniciais), quanto a nossa inocência diante do Tempo: a ilusão do livre-arbítrio diante do Tempo que tudo destrói.

quarta-feira, outubro 14, 2020

Descendo pela toca do coelho da viagem no tempo com Christopher Nolan em 'Tenet'


Um filme opulento em que o estrondoso orçamento de US$ 200 milhões aparece em cada enquadramento. Somente o diretor Christopher Nolan poderia obter tamanho orçamento com um roteiro original. Em “Tenet” (2020) ecoam todos os temas de seus filmes anteriores (Amnésia, A Origem, Interestelar, Dunkirk etc.), chegando ao estado da arte de um tema recorrente na sua obra: a desconstrução da realidade. Em “Tenet”, Nolan combina conceitos abstratos (entropia invertida, viagem no tempo, universos em colisão etc.) com o gênero mais norte-americano do cinema: os filmes de perseguição. Uma bomba espaço-tempo invertida é enviada do futuro com o objetivo de destruir a nossa geração, a causadora do futuro apocalipse climático. Um rico e poderoso traficante de armas tenta reunir os fragmentos do dispositivo escondidos no tempo. Enquanto um grupo de agentes especiais tentam detê-lo. Acompanhamos uma guerra no tempo entre universos com tempo-espaço invertidos. Que muitas vezes ocorrem na mesma sequência, batalhas impossíveis no mesmo espaço-tempo. Nolan desafia o espectador a descer pela toca do coelho da viagem no tempo.

sábado, agosto 01, 2020

Série "Dark" Temporada 3: uma luz gnóstica no fim da caverna


A terceira e última temporada da série “Dark” (2017-2020) confirma aquilo que todos suspeitavam: toda a complexidade da narrativa está repleta de “paradoxos de inicialização” ou aquilo que em Física chama-se CTC – Closed Timelike Curve – linha de tempo fechada, inspirada em clássicos como “Em Algum Lugar do Passado” (1980). Como, então, os criadores da série poderiam dar uma solução aos ciclos aparentemente infinitos sem criar um final aberto e com muitas pontas soltas? Assim como nos acostumamos a ver em muitas séries do gênero, desde “Lost”. A luz no final do túnel (ou da caverna, no caso) foi a mitologia gnóstica: uma releitura de Adão e Eva do Paraíso bíblico e a Criação como um acidente. E o estranho mundo da mecânica quântica como a confirmação da secreta suspeita dos gnósticos: o Universo é imperfeito por ter sido obra de um acidente cosmológico.

domingo, julho 19, 2020

Série "Dark": o campo unificado da ciência com a tradição mística ocidental


A série alemã “Dark” (2017-2020) coloca o último grão de areia que faltava na ampulheta das viagens no tempo no cinema e audiovisual: a “Teoria de Tudo” ou do “Campo Unificado” - ao lado dos campos nucleares (fortes e fracos), eletromagnético e da força gravitacional, também o campo do conhecimento hermético. A grande novidade na abordagem de “Dark” sobre a viagem no tempo é que ela não é exatamente sobre o “Tempo”, no sentido dado pelos cânones da ficção científica. Viagem no tempo tem a ver com metáforas de passagens, túneis, buracos negros, buracos de minhoca, labirintos criados pelas diferentes linhas de tempo. Tudo isso remete à milenar mitologia das cavernas (elemento central na série), que condensa a tradição mística Ocidental: Tábua de Esmeralda, Alquimia, Ouroboros etc. – Imitar Deus dominando o Tempo para escapar do loop que nos prende ao perverso eterno retorno criado por Ele.

sábado, junho 27, 2020

O cinema como máquina de viagem no tempo em "La Belle Époque"


Quando falamos em viagem no tempo logo lembramos dos cânones da ficção científica: Relatividade e Mecânica Quântica materializadas em máquinas e dispositivos intrincados e misteriosos. Ou viagens místicas e estados alterados de consciência. Mas o cinema nunca imaginou a si próprio como um dispositivo de viagem no tempo: spots de luzes, cenografia, figurinos etc. Por que então não usarmos os recursos cinematográficos para vivermos uma experiência imersiva que nos remeta a qualquer lugar do passado? Esse é o conceito da comédia romântica francesa "La Belle Époque" (2019): com a ajuda de cenários, figurinos e extras, uma empresa oferece “viagens no tempo”: um jantar na corte na época da monarquia ou uma noite bêbada com Hemingway. E um cartunista frustrado com a era digital vai tentar reencontrar a paixão perdida, tanto amorosa como profissional, em uma noite de 1974 - festas, muitos cigarros de maconha, amor livre e movimentos contra culturais. Memórias reais ou hiper-reais?

segunda-feira, fevereiro 03, 2020

Carma, alucinações lisérgicas e o airbag psicodélico da mente no filme "The Wave"


Quando morremos saltamos para o desconhecido. Mas com um “airbag psicodélico”: a mente liberaria substâncias químicas para amenizar o medo da morte criando telas mentais alucinógenas. Porém, o carma pode transformar essa “viagem” numa “bad trip”. Esse é o argumento central do filme “The Wave” (2019), um mistério dramático e psicodélico: um advogado corporativo com uma típica vida consumista de classe média comemora sua promoção numa noite de festa e bebedeira. No processo, ele ingere uma misteriosa droga que o faz imergir em flash backs compostos por saltos no tempo, locais e realidades. Com tons budistas, hinduístas e gnósticos, “The Wave” descreve o quebra-cabeças que o protagonista terá que resolver enquanto está perdido nas alucinações lisérgicas: qual a mensagem que o Universo está querendo passar para ele? Filme sugerido pelo nosso leitor Alexandre Von Keuken.

sábado, novembro 16, 2019

Bike elétrica é a resposta neoliberal à resistência do ciclismo


Inconformismo, revolta, veículos de libertação da tediosa rotina diária, liberdade... Essas são as representações mais comuns que o cinema faz sobre as bicicletas. Principalmente porque as bikes andaram, por assim dizer, na contramão da modernidade industrial: recusou-se a ser transformada em máquina, mantendo-se como ferramenta cuja fonte de energia e equilíbrio é exclusivamente o corpo humano. As bikes resistem à queda de braço do controle do Tempo entre Capital e Trabalho. Porém, vemos agora bikes elétricas circulando por ruas e ciclovias. Com a expansão da solução ciclística como resposta à crise neoliberal urbana (concessão privada dos transportes e colapso do transporte individual automobilístico), o neoliberalismo contra-ataca ao se apropriar de um veículo que resistia ao imaginário maquínico – com a motorização elétrica, as bicicletas se rendem ao ritmo do trabalho, ao sedentarismo e parasitismo humano tecnológico, ao mito da energia limpa ecologicamente correta e ao consumo bárbaro como símbolo de distinção e prestígio social

domingo, setembro 15, 2019

O preço sombrio da felicidade em "A Porta"


Por trás de uma grande fortuna há um crime. O que você faria se tivesse a oportunidade de voltar no tempo e consertar decisões erradas? Essas duas ideias são combinadas em um curioso filme sobre viagem no tempo, sem o tradicional tom sci-fi e muito mais com uma atmosfera de conto de fantasia ao estilo “Alice no País das Maravilhas”. É o filme alemão “A Porta” (“Die Tür”, 2009) sobre um artista plástico bem-sucedido remoído pela culpa com a morte da sua filha, destruindo seu casamento e a si mesmo. À beira do suicídio, descobre uma estranha porta nos fundos de um jardim que o conduz ao dia exato da morte da sua filha. É a chance de consertar o erro. Mas também descobrirá que há um preço sombrio a pagar pela felicidade. Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.

sábado, agosto 24, 2019

Capitalismo e Comunismo prisioneiros em um loop temporal em "Excursion"


A lista de filmes que exploram paradoxos da viagem no tempo é extensa e até parece que todas as possibilidades já foram exploradas. Mas as conexões entre as causas e efeito de fatos políticos históricos associados a paradoxos temporais é um campo ainda pouco abordado. Séries como “The Man in the High Castle”, sobre realidades alternativas, nazismo e Segunda Guerra Mundial, é um dos poucos exemplos. O filme indie britânico “Excursion” (2019) junta-se a essa abordagem política da viagem no tempo, com um roteiro ousado e complexo, explorando dois paradoxos tempo-espaço famosos: o paradoxo do avô e do loop de informação. Um homem no presente é despertado pela sua versão mais jovem vinda do passado: um militante do Partido Comunista da extinta União Soviética de 1987. Sua missão era viajar no tempo para testemunhar como o comunismo iria prosperar no futuro. Ao ver que nada disso ocorreu e o Capitalismo triunfou, acredita que houve algum erro: um loop entre 1987 e 2019 que deve ser revertido a todo custo. Para que aquela linha do tempo não interceda na linha de 1987 na qual supostamente o Comunismo venceria. Filme sugerido pelo nosso leitor Dudu Guerreiro.

sábado, julho 27, 2019

A angústia humana diante do Tempo e das escolhas em "O Homem Infinito"


Confusões em torno de viagens no tempo oferecem uma gama de situações cômicas, desde o clássico “De Volta Para o Futuro”, graças a inesperados efeitos exponenciais quando tentamos consertar as coisas numa oportunidade de “segunda chance” no passado. O filme australiano “O Homem Infinito” (2014) explora todas essas possibilidades cômicas com um dos roteiros mais afiados dos últimos tempos nesse subgênero do sci-fi – da fantasia cômica inicial gradualmente evolui para a sofisticação de uma emaranhada cadeia de eventos em loop. Um solitário cientista tenta consertar o que deveria ter sido um final de semana perfeito com sua namorada: um ano depois da trágica separação, ele põe em ação uma estranha máquina do tempo baseado num scanner das memórias. Levando a comédia a uma sombria reflexão sobre as nossas angústias e responsabilidades em relação ao tempo, existência e escolhas. Filme sugerido pelo nosso incansável colaborador Felipe Resende.  

quinta-feira, maio 09, 2019

Sartre, angústia existencial e mecânica quântica no filme "+1"


E se você tivesse a chance de voltar no tempo e corrigir um erro terrível, embora soubesse estar moralmente errado porque o resultado anterior era o que teria de realmente acontecer? Voltando ao passado, como reagiria ao se defrontar com seu próprio clone que tem todas suas memórias, porém limitadas por um delay de 15 minutos? Essas são algumas questões morais levantadas pelo filme “+1” (aka “Plus One, 2013), do diretor grego Dennis Iliadis. Não é propriamente um filme sobre “viagem no tempo”, mas a proposta de transformar uma festa universitária numa espécie de “Caixa de Schrödinger” (experimento imaginário de mecânica quântica do físico austríaco) no qual os mesmos eventos duplicados ocupam o mesmo espaço, porém com um delay a partir de 15 minutos progressivamente diminuindo. Tudo em decorrência de um misterioso fenômeno elétrico-astronômico. É mais um filme sobre o mito da “segunda chance”, mas dessa vez revelando que essa recorrência no cinema é o sintoma do atual espírito de época – a crescente angústia existencial humana, tal como descreveu o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre. Filme sugerido pelo nosso leitor Fábio Hofnik. 

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