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sábado, setembro 07, 2019

Por que rimos no filme "Iron Sky - The Coming Race"?


Em 2012 o filme “Iron Sky” (em português “Deu a Louca nos Nazis”) foi um fenômeno cult: produzido através de crowdfunding, ganhou uma legião de fãs. Mais uma vez, com o financiamento coletivo dessa legião de adeptos, o diretor finlandês Timo Vuorensola fez a sequência “Iron Sky – The Coming Race” (2019) – um pastiche alucinado sobre uma base nazista secreta no lado oculto da Lua, Teoria da Terra Oca, Atlântida, Ocultismo Nazi, energia esotérica do Vril, conspirações reptilianas na política etc.  Um humor que chega às raias do non sense. Porém, o que torna tudo tragicômico é que a maioria das ideias inverossímeis de “Iron Sky” foram retiras das doutrinas que inspiraram grupos radicais políticos do início do século XX que culminaram no nazi-fascismo, Segunda Guerra Mundial e Holocausto. “Iron Sky” virou um cult imediato porque arranca seu humor da atual onda anti-intelectualista criada pela chamada “direita alternativa” (“alt-right”), na qual a Teoria da Terra Plana é o seu principal hit de sucesso.
“Rimos para o fato de que não há nada de que se rir”
(Adorno e Horkheimer)

terça-feira, junho 25, 2019

O Mal e o "pressuposto da privada" no filme "Aterrorizados"



Como todo bom filme de terror não falado em inglês, logo Hollywood se interessa rapidamente em fazer um remake. É o caso da produção argentina “Aterrorizados” (“Aterrados”, 2017) na qual acompanhamos o que poderiam ser espíritos e fenômenos poltergeist infernizando a vida dos vivos. Mas agora, não é uma casa mal-assombrada. É uma rua inteira em uma tranquila rua de classe média de Buenos Aires. E não o mal como aparentemente conhecemos: surge de ralos, canos e fendas de paredes. O filme joga com uma interessante metáfora de uma sociedade que acredita que se eliminar tudo aquilo que é incômodo, ele desaparece. Assim como quando apertamos o botão da descarga do vaso de um banheiro. Mas o reprimido retorna numa espécie de “pressuposto da privada”.

sábado, junho 15, 2019

Um ensaio poético sobre a morte e perdas em "Onirica"


“Onirica” (2014), do diretor e poeta polonês Lech Majewski, é uma produção que entra na categoria de “filme estranho”: com densas linhas de diálogo filosóficas, inspirado na “Divina Comédia” de Dante Aligheri e uma narrativa surreal e enigmática, acompanhamos a história de Adam – ele perdeu em um acidente de carro aqueles que mais amava e agora se encontra perdido entre a realidade e os sonhos com fortes simbologias sobre Deus, pecado e redenção. Sem encontrar na religião uma explicação para a impotência humana diante da perda e da morte, Adam encontrará na filosofia de Heidegger e Sêneca a redenção que o levará do Purgatório ao Paraíso.

sexta-feira, junho 14, 2019

A fina casca que protege a civilização no filme "Climax"


Mais um filme para cinéfilos aventureiros e destemidos. Os filmes do diretor argentino Gaspar Noé são disruptivos: ou você ama ou odeia. Tal como “Irreversível” ou “Enter The Void”, o filme “Climax” (2018) nos apresenta um verdadeiro assalto à nossa percepção através de imagens alucinatórias, música techno implacável, pesada, e movimentos de câmera vertiginosos, tomando nossos sentidos e embaralhando o cérebro. Confronta-nos com uma experiência imersiva na qual acompanhamos uma trupe de dança após audição preparatória para uma turnê na América. Depois, todos comemoram com uma festa na qual, repentinamente, as coisas começam fugir do controle. E de maneiras cada vez mais perturbadoras - prazer e morte se confundirão, transformando o jogo artístico, de instrumento civilizatório, em bomba de autodestruição. Gaspar Noé quer nos mostrar que apenas uma fina casca protege a civilização de si mesma.

sábado, junho 01, 2019

Estrelas do futebol são espelhos da uma sociedade que se auto-destrói em "Diamantino"


Qual a relação entre um jogador que emula o craque Cristiano Ronaldo, cientistas genéticos loucos e um movimento de extrema direita que pretende cercar o país com um muro? Portugal é um dos países que mais recebem refugiados na Europa (sejam africanos e brasileiros), com uma seleção que, apesar de contar com uma das maiores estrelas do futebol mundial, não consegue ganhar nenhum título. Esse é o explosivo mix da coprodução luso-franco-brasileira “Diamantino” (2018) sobre um craque que vive numa bolha de dinheiro e fama. Completamente alienado mas, ao mesmo tempo, sentindo-se culpado por ser milionário em um mundo injusto, Diamantino decide adotar um “refugiadinho”. Mas ele não sabe que virou a estrela de uma campanha xenófoba e nacionalista, o “Brexit” português. Tudo num tom de conto fantástico – alguma coisa entre um thriller policial, ficção científica e um estranho senso de humor. “Diamantino” mostra que podemos até odiar as estrelas alienadas do futebol. Mas elas não passam de espelhos de uma sociedade igualmente alienada que é capaz de se voltar contra si mesma.

terça-feira, maio 07, 2019

Um dia as meninas serão devoradoras de homens em "Grave"



“Uma história de amadurecimento de uma personagem desgarrada em uma hora e meia manchada de sangue”, dessa maneira a diretora francesa Julia Ducournau define seu filme "Grave"(Raw, 2016), co-produção França/Bélgica. Se “Corra” (“Get Out”, 2017) foi um filme de terror racial, aqui em “Grave” encontramos uma espécie de terror de gênero: como se a protagonista descobrisse a sensação de poder no cruzamento da linha de um tabu. Ducournau parece querer dizer às espectadoras: meninas, um dia vocês serão devoradoras de homens! Uma brilhante e inocente adolescente entra num curso superior de veterinária e se defronta com um sistemático trote de humilhação e doutrinação dos veteranos. Até despertar algo de primitivo nela – uma fome insaciável que nunca percebeu estar lá. Uma violenta narrativa de auto-afirmação e descoberta de identidade através de sangue, canibalismo e luxúria.

domingo, abril 07, 2019

Os contos de fadas se vingam da humanidade em "Border"


Outro filme para cinéfilos corajosos. O filme sueco Border (“Gräns”, 2018) nega ao espectador dois princípios básicos da narrativa hollywoodiana: verossimilhança e identificação. “Border” joga com a curiosidade e repugnância do público diante de um estranho casal de protagonistas: Tina é uma policial alfandegária com a capacidade incomum de farejar medo, culpa ou raiva nos passageiros, conseguindo detectar algo ilegal que estejam portando na passagem da fronteira. E Vore é um estranho viajante que atrai a curiosidade de Tina. A “feiúra” e os hábitos estranhos deles (a instrospecção deprimida de Tina e os risos de Vore como se soubesse de todos os apetites reprimidos de Tina) nos causam distanciamento. Mas um distanciamento necessário para refletirmos sobre o tema da “fronteira”: o que separam os gêneros? Qual a fronteira entre o bem e o mal? Entre humanos e monstros? Em uma atmosfera de fábula, Border mostra como a humanidade é incapaz de dar essas respostas. E como os mitos dos contos de fadas retornam para se vingarem de nós.

domingo, março 10, 2019

O horror da elite poderosa e amoral no filme "Society"


Tente misturar referências cinematográfica como “Veludo Azul” com “Eles Vivem” e “Invasores de Corpos”, para depois se apropriar das obras de Salvador Dali, Goya e Bosch como se elas estivessem vivas e em movimento. O resultado estranho e bizarro será o filme cult de terror “Society” (1989): no subterrâneo da ensolarada vida em tons pastéis de mansões e ricaços de Beverly Hills, suspeita-se que se esconda algum tipo de lodo subterrâneo libidinoso e surreal de festas privadas, orgias e estranhos rituais. A suspeita e a paranoia farão os protagonistas suspeitarem de algo satânico, para descobrirem que é algo ainda maior e incompreensível, numa das sequências finais mais estranhas da história do cinema, podendo ser colocada ao lado de finais com viradas narrativas como Cidadão Kane e O Sexto Sentido. Mas também “Society” cria a perfeita metáfora de uma classe dominante rica, poderosa e amoral.
“Somos uma grande família feliz... Exceto por um pequeno incesto e psicose.”
(linha de diálogo do filme “Society”)

quarta-feira, janeiro 30, 2019

No filme "Apóstolo" o assassinato e a mentira fundam seitas e religiões

Há um “modus operandi” na fundação de seitas e religiões: um assassinato que se transforma no sofrimento necessário do mártir; e a mentira decorrente dessa narrativa. Em consequência, o Sagrado mistura-se com o profano, e o Divino com a violência. Como é possível emergir amor e compaixão nesse modelo psíquico doentio? Essa é a questão principal do filme “Apóstolo” (“Apostle”, 2018). Um jovem ex-religioso, descrente de tudo após um passado traumático, tem a missão de resgatar sua irmã, raptada por uma estranha seita reclusa em uma ilha. Ele se infiltra entre os seguidores de um profeta enlouquecido, mas estranhamente não consegue determinar, afinal, o quê aquela seita adora. Através do horror gore (nada gratuito, já que o tema do filme é como sangue e violência são a outra face das seitas e religiões), o protagonista mergulha em uma sociedade que se pretendia utópica, mas que revela uma questão bem atual: o flerte da religião com o poder político por meio do Estado Teocrático. Filme sugerido pelo nosso incansável leitor Felipe Resende.

quinta-feira, janeiro 03, 2019

O trabalhador precarizado vai ao Paraíso em "Sorry to Bother You"

Uma surreal comédia de humor negro com realismo fantástico e ficção científica inspirado no mundo do telemarketing. “Sorry to Bother You” (2018), filme de estreia de Boots Riley, pode ser tanto o momento atual como aquilo que nos espera em um futuro muito próximo: modernos trabalhadores precarizados que viram máquinas cognitivas de vendas sem quaisquer garantias ou direitos. Cassius Green é um jovem excluído negro que descobre a chave para a ascensão corporativa na RegView, a gigante do telemarketing: encontrar a “voz de branco” interior. Mas tal como “Fausto”, de Goethe, o Diabo vai cobrar algo de volta – algo assustador e surreal que definitivamente fará o protagonista cair “na real” e perceber o cenário entorno.

sábado, dezembro 22, 2018

A ilusão das festas de Ano Novo no filme "Goodbye, 20th Century"

Sombrio, artístico, apocalíptico e surreal. Essas palavras sintetizam “Goodbye, 20th Century” (Zbogum na dvaesetiot vek, 1998), definitivamente um filme para cinéfilos aventureiros. Dirigido por dois diretores macedônios, Darko Mitrevski e Aleksandar Popovski, começa num deserto pós-apocalíptico ao estilo Mad Max para terminar num velório que se degenera em sangue e violência ao som de “My Way”, na versão punk rock de Sid Vicious. Um filme cujo pôster promocional da época resumia o filme da seguinte maneira: “como o Papai Noel, em fúria, destruiu o nosso mundo”.  Uma reflexão para as festas de final de ano de que, na verdade, tanto o Tempo como a “passagem de ano” não existem. São uma persistente ilusão que escondem um eterno retorno. E como esquecemos do principal simbolismo das festas de Ano Novo: a dupla face do deus Janus – uma que olha esperançoso para o futuro; e a outra que procura entender os erros do passado. Assista ao filme aqui no “Cinegnose”.

segunda-feira, novembro 19, 2018

Cultura, prostituição e barbárie no filme "Bibliothèque Pascal"


Uma mulher desesperada em recuperar a guarda da sua filha. Uma mãe que foi vítima de uma rede europeia de prostituição de mulheres e crianças que realiza sequestros no Leste Europeu para o mercado sexual da elite intelectual e corporativa inglesa. Para ter sua filha de volta, deve relatar onde esteve nos últimos dois anos. Ela descreve o cabaré-bordel chamado “Bibliotheque Pascal”, em Liverpool, repleto de estantes com livros e quartos que recriam em tons futuristas e sadomasoquistas cenas literárias das obras de Shakespeare, Nabokov, Wilde, Shaw entre outros. O filme húngaro “Bibliothèque Pascal” (2010) dança nas bordas entre fantasia e realidade, civilização e barbárie. É impossível não lembrar do pensador alemão Walter Benjamin, principalmente nas sequências do cabaré-prostíbulo. Lá a barbárie não parece ser o avesso da civilização, mas um pressuposto dela. O impulso bárbaro parece não estar fora, mas no interior do movimento de criação e transmissão cultural.

domingo, novembro 18, 2018

O assombro cósmico e psíquico de aranhas e fantoches em "Possum"

“Possum” (2018) é terror silencioso e psicológico. E principalmente simbólico: consegue articular dois simbolismos cósmicos e psicológicos – a aranha e o fantoche, aglutinados num bizarro boneco com corpo e pernas de aranha e a cabeça rachada de uma boneca. Alguma coisa entre os brinquedos mutantes de Toy Story e as animações de Jan Svankmajer. Um estranho fantoche que exerce um poder sufocante sobre o seu titereiro. Depois de muitos anos, Philip retorna para a cidade da sua infância para confrontar o seu cruel padrasto e os segredos que torturaram sua vida inteira. Mas o bizarro fantoche aracnídeo continua assombrando-o, por mais que tente destruí-lo. Filme sugerido pelo nosso leitor... bem, você sabe quem...

quarta-feira, novembro 07, 2018

Estamos todos à espera de algo que nunca chega em "Esperando Godot"

Obra-prima do Teatro do Absurdo de Samuel Beckett, “Esperando Godot” sempre esteve à espera de uma adaptação cinematográfica. A qual Beckett resistia por temer que o espírito de dissonância original da peça fosse perdido na linguagem fílmica. Mas o projeto “Beckett in Film” do diretor irlandês Michael Lindsay-Hogg certamente superou esses temores de Beckett. Em “Esperando Godot” (2001), a peça em dois atos em que nada acontece ganha novos tons, principalmente gnósticos: por que dois mendigos à espera do misterioso Godot que nunca aparece, simplesmente não viram as costas e vão embora? O que temem? O absurdo e surrealismo de "Esperando Godot" é apenas a superfície de um horror metafísico de Beckett que parece remeter ao trauma do Holocausto: como foi possível uma barbárie jamais vista na Segunda Guerra Mundial? Que cosmos é esse em que vivemos que cria condições para acontecer horrores que jamais deveriam acontecer?

sexta-feira, outubro 26, 2018

O capitalismo é apenas mais uma forma de gerir o hospício humano em "Insanidade"



O filme checo “Insanidade” (“Silení, 2005) é para poucos pela sua alta carga de niilismo e humor negro. O diretor Jan Svankmajer volta à crítica da sociedade de consumo do filme anterior “Little Otik” (2000), mas dessa vez por um viés político e ontológico: a história humana é comparada a um problema de gestão de um manicômio no qual há duas formas de fazê-lo - ou a liberdade absoluta na qual o prazer e orgia se aproximam do crime e da morte, ou o totalitarismo da dor e castigo que também flerta com a morte. Um jovem tem recorrentes pesadelos até encontrar um milionário excêntrico que emula o próprio Marquês de Sade. Ele apresenta o médico gestor de um manicômio que apresenta uma técnica supostamente revolucionária que irá livrá-lo dos seus pesadelos. “Insanidade” é uma fábula sobre como a História até aqui não conseguiu conciliar Eros e Thanatos, prazer e morte. E como o capitalismo é mais uma forma de gerir essa loucura.

terça-feira, outubro 23, 2018

Memória, identidade e controle mental no filme "Upstream Colour"



Um filme inclassificável. Pode ser um romance com uma racionalização sci-fi. Uma jovem engole uma capsula medicinal contendo um estranho verme cuidadosamente cultivado em estufa, tornando-se hospedeira tanto da larva como do controle mental de alguém que a transformou numa cobaia involuntária de um experimento. Agora ela terá flashbacks, flashfowards e flahs periféricos tornando o filme “Upstream Colour” , 2014, de Shane Carruth (“Primer”) num filme estranho, surreal. Num verdadeiro quebra-cabeças que cobra do espectador esforço cognitivo para restabelecer a linearidade. Uma experiência enigmática, única, hipnótica e surreal. “Upstream Colour” nos dá a sensação de, através de um microscópio, estarmos vendo a matéria-prima das nossas memórias e identidades: as sensações mais básicas dos nossos cinco sentidos. Tão efêmeras e frágeis que podem ser roubadas quando menos esperamos.

domingo, setembro 23, 2018

Estranhas portas que jamais foram fechadas em "Mandy"


Um filme que parece ter saído de alguma capa de disco heavy metal dos anos 1980, começando pelo pôster promocional. E que exige do espectador uma entrega ativa, ao invés de passivamente analisa-lo. Por isso, a maioria da crítica considera “Mandy” (2018), do diretor canadense Pano Cosmatos, um filme absolutamente insano, estranho e difícil de ser resenhado. Na verdade, nem seria um “filme”, mas uma “experiência” non-sense e surrealista com um mix alucinado de referencias a comerciais, animações, HQs, rock metal e mais da cultura pop dos anos 1980. Tirando as camadas de exercício de estilo, Cosmatos dá continuidade à reflexão iniciada no filme anterior “Beyond The Black Rainbow” (2010): as consequências do “despertar místico” do esoterismo e ocultismo na cultura pop em torno das viagens alucinógenas psicodélicas do LSD. De como toda uma geração tentou buscar um atalho para a iluminação espiritual, mas acabou encontrando uma “bad trip”: o Demiurgo existente em cada um de nós.

domingo, agosto 19, 2018

Em "A Harmonia Werckmeister" o eclipse da Razão que antecede tempos sombrios


Um circo, cuja principal atração é uma enorme carcaça de baleia empalhada, chega a um remoto vilarejo no interior da Hungria, gélido e envolto numa permanente neblina. E junto com o circo, medo e presságios de crise e escassez de carvão para aquecer as casas. E o oportunismo político espreita as incertezas e o obscurantismo local. Por que? Para um velho musicólogo porque desde que o compositor barroco Andreas Werckmeister ofereceu ao mundo a afinação temperada (base do sistema tonal), o mundo quebrou a harmonia com as músicas das esferas celestes trazendo o desencanto e a desesperança. Esse é o filme “A Harmonia Werckmeister” (Werckmeister Harmoniák, 2000) do diretor húngaro Béla Tarr. Uma fábula política sombria filmada em longos planos-sequência descrevendo como o mal pode se esgueirar numa comunidade aparentemente pacífica. E a Razão ser eclipsada pelo desencantamento do mundo.  

domingo, agosto 05, 2018

"As Boas Maneiras": um lobisomem brasileiro em São Paulo num país dividido


O filme brasileiro “As Boas Maneiras” (2017), da dupla de diretores e roteiristas Juliana Rojas e Marco Dutra, parece dialogar com o clássico expressionismo alemão Gabinete do Dr. Caligari (1919) e o brasileiro “Que Horas Ela Volta?” (2015). Como o filme alemão, combina a crítica social com o realismo fantástico. Mas “As Boas Maneiras” torna “Que Horas Ela Volta” em um filme datado: o drama de uma empregada doméstica que acompanha a estranha gravidez da sua patroa rica (que em noites de Lua cheia se torna sonâmbula), reflete o imobilismo de uma sociedade ainda fundada na antiga ordem escravocrata. Diferente do momento otimista do filme de 2015 (o clima de progresso econômico e mobilidade social), tal como um sismógrafo, “As Boas Maneiras” reflete o imobilismo e desencanto de uma sociedade dividida: o Mal que surge das entranhas da elite do bairro do Brooklin para invandir a periferia pobre do Capão Redondo – um lobisomem brasileiro em São Paulo.

domingo, junho 03, 2018

Curta da semana: "The Cut-Ups" - o filme que fez pesoas fugirem desorientadas do cinema


Esse curta metragem é para cinéfilos aventureiros e corajosos. Numa parceria entre o escritor norte-americano “beatnik” William Burroughs e o distribuidor de filmes de terror B Anthony Balch, o curta “The Cut-Ups” (1966) foi exibido por duas semanas em Londres naquele ano, causando uma “desorientação de sentidos” na plateia pega de surpresa. Pessoas corriam da sala de projeção largando seus pertences, com sensações de náusea, nojo e desorientação. Burroughs conhecia a técnica dadaísta do “cut-up” (recorte) de justaposição aleatória de recortes. Então, o escritor resolveu aplicar em outras mídias como fitas de áudio e cinema. Para ele,  a técnica (muito usada depois por compositores do rock como David Bowie) ajudaria a nos libertarmos das formas de controle da linguagem que nos tranca em formas tradicionais de pensamento. Seria a saída para uma questão semiótica: se o que chamamos de real é apenas o signo do real, o que existe lá fora, para além dos signos?

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