sábado, fevereiro 21, 2015
Em "O Destino de Júpiter" os Wachowski esquecem a pílula vermelha do Gnosticismo Pop
sábado, fevereiro 21, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Com o filme “O
Destino de Júpiter”, mais uma vez os irmãos Wachowski criam uma fábula gnóstica
pop. E dessa vez sincronizando um evento astronômico (a ascensão do planeta
Júpiter nos céus em fevereiro) com uma releitura do mito gnóstico da Criação,
Queda e Ascensão do “Apócrifo de João” escrito em 150 DC. Tal como na “Trilogia
Matrix”, a humanidade é prisioneira dos Demiurgos para ter sua energia drenada.
Lá em Matrix presos em incubadoras. Aqui
em “O Destino de Júpiter” para serem semeados e colhidos por uma casta real
alienígena em uma espécie de gigantesco latifúndio cósmico. Porém, dessa vez os
Wachowski fizeram grandes concessões à Hollywood: a pílula vermelha da gnose
que despertava para a Verdade da Matrix desapareceu para ser substituída pelo obediente
retorno do espectador à ordem.
Originalmente
O Destino de Júpiter (Jupiter Ascending, 2015) tinha
lançamento previsto para junho do ano passado. Foi adiado e, “coincidentemente”,
só entrou em cartaz em fevereiro desse ano, no momento em que o planeta Júpiter
ascendeu à posição oposta ao Sol – Júpiter sobe no céu no momento em que o Sol
se põe, brilha mais alto à meia-noite e se põe em torno do nascer do Sol.
Júpiter nesse momento está mais próximo da Terra, aparecendo maior e mais
brilhante.
Em se tratando dos irmãos Wachowski e pelo emaranhado de
simbologias gnósticas e esotéricas que o filme explora, tudo NÃO é mera
coincidência. Andy e Lana Wachowski sabem o que estão fazendo: com essa
sincronia entre os eventos cinematográfico e astronômico, reforçam ainda mais a
mitologia por trás do verdadeiro delírio visual de um filme que parece que
fundiu Matrix, Star Wars e Flash Gordon
dentro de uma gigantesca space opera.
quarta-feira, fevereiro 18, 2015
Vídeos de execuções do Estado Islâmico apontam para a "Hipótese Fox Mulder"
quarta-feira, fevereiro 18, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Certa vez o
agente especial do FBI Fox Mulder, da série televisiva “Arquivo X”, criou uma
instigante hipótese: Hollywood propositalmente encenaria nos plots de seus
filmes conspirações políticas para que as críticas contra essas mesmas
conspirações, dessa vez na realidade, fossem desmoralizadas como meras
“ficções”. A série recente de vídeos do Estado Islâmico sobre supostas
decapitações de reféns estaria repetindo como farsa os vídeos fakes mostrados
em filmes como “Mera Coincidência” (1997) e Homem de Ferro 3 (2013)? Diferente de
antigos vídeos jihadistas de execuções, os atuais apresentam estranhas
“anomalias” para vídeos supostamente realistas do estilo de antigos vídeos VHS
como “Faces da Morte” – ao contrário, possuem superproduções análogas a
blockbusters hollywoodianos com Dolby Digital Surround e suspeitas de uso de
Chroma Key 3 D.
A
hipótese Fox Mulder: em um dos episódios da série Arquivo X vemos o agente
especial do FBI, Fox William Mulder, participando como convidado de um
congresso de ufólogos. A certa altura alguém lhe pergunta o motivo de ao mesmo
tempo em que o governo dos EUA tenta esconder o fenômeno UFO, permite que
Hollywood produza tantos filmes sobre contatos com aliens. E Mulder responde:
“para que todos pensem que os contatos com UFOs e aliens são do mundo da
ficção, coisas de cinema. Por isso, quando surgem notícias verdadeiras, ninguém
acredita”.
Nas
últimas décadas, Cinema e Guerra estão se tornando uma espécie de sala de espelhos que se refletem mutuamente, até não sabermos distinguir o
reflexo daquilo que é refletido. No Oscar 2013
Michelle Obama aparece em link ao vivo direto da Casa Branca abrindo o
envelope do prêmio de Melhor Filme para Argo,
cujo plot narra uma estratégia militar norte-americana de simulação de produção
de um filme para libertar reféns do Irã nos anos 70;
domingo, fevereiro 15, 2015
Por que "Birdman" é o favorito ao Oscar?
domingo, fevereiro 15, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Não é por acaso
que “Birdman” é o grande favorito ao Oscar. O filme promete discussões
profundas sobre a importância de se sentir amado nesse mundo. Mas tudo o que o
diretor mexicano Alejandro Iñárritu nos entrega é uma agradecida homenagem à
indústria de entretenimento dos EUA que lhe abriu as portas: um filme
supersaturado de metalinguagem e colagens de auto-referências que acabou
resultando em uma produção complacente, auto-indulgente e subserviente. Iñarritu
faz homenagem a uma Broadway que não mais existe, reforçando a mitologia que
ainda dá algum verniz “artístico” a Hollywood: atores autopiedosos, divas
narcisistas que se entregam ao “Método” e críticos implacáveis que transformam
artistas em “gênios incompreendidos”. Com isso, o diretor mexicano parece ter um
grande futuro na noite do Oscar.
Alejandro
Gonzáles Iñárritu é um diretor mexicano que já conta com uma sólida e bem
sucedida carreira em Hollywood (21
Gramas, Babel, Biutiful). Por isso, é chegado o momento de Iñárritu prestar
uma homenagem à indústria do entretenimento que lhe abriu às portas para aquele
país. E como sempre, a melhor forma é através da metalinguagem, alusões e
paráfrases.
Birdman é um filme supersaturado que obriga o
espectador a caminhar por um desfile interminável de colagens e referencias que
acaba se tornando tão claustrofóbico quanto os corredores dos bastidores de uma
peça da Broadway onde a maior parte da trama acontece. O filme engata longos planos-sequências
que simulam um filme totalmente sem montagem, mas com sutis cortes que separam
os atos.
quinta-feira, fevereiro 12, 2015
Dez filmes arruinados pelas novas tecnologias
quinta-feira, fevereiro 12, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Com as novas tecnologias cada vez mais intrusivas e onipresentes, o Cinema vive um paradoxo: os filmes não têm o menor problema para fazer o público acreditar em fantasmas, gremlins, maníacos sobrenaturais, feiticeiros, vampiros, poltergeists ou extraterrestres. Mas está cada vez mais difícil fazê-los aceitarem que o herói de um filme não esteja munido com a tecnologia necessária (smartphones, Ipads, GPS etc.) para frustrar as intenções do Mal. O avanço tecnológico está criando um impasse entre roteiristas e diretores: muitos plots de filmes do passado, hoje seriam impossíveis de serem realizados como “Esqueceram de Mim”, “Psicose” etc. Internet e dispositivos móveis estão cada vez mais inviabilizando os arquétipos clássicos do cinema que tornavam dramática a jornada do herói. Por isso, os roteiristas ou se voltam para filmes ambientados em décadas passadas ou fazem de tudo para anular esses dispositivos – perda de sinal etc., o que pode tornar o roteiro inverossímil. Vamos analisar uma lista de dez filmes cujos plots hoje seriam impossíveis de serem filmados.
terça-feira, fevereiro 10, 2015
Tecnologias de comunicação escondem o isolamento no filme "Bird People"
terça-feira, fevereiro 10, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No meio do caminho entre o realismo documental e o sobrenatural, o filme “Bird People” (2014) do francês Pascale Ferran nos mostra os dilemas dos momentos da vida em que precisamos assumir riscos e dar saltos no vazio. Pessoas que transitam em espaços impessoais como aeroportos e hotéis e que tentam mascarar o isolamento por meio de tecnologias de comunicação como dispositivos móveis e computadores. Ferran nos mostra a contradição de como pessoas cercadas de interfaces de comunicação podem, ao mesmo tempo, sofrerem do mal da incomunicabilidade. Escondem o isolamento, mas sofrem os sintomas da claustrofobia e alienação. E sentem a necessidade de darem um salto nas suas vidas, assim como os pássaros e aviões.
"Garota Exemplar" e a tragédia como delineadora da vida, por Sonielson de Sousa
terça-feira, fevereiro 10, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Grande favorito
ao Oscar (provavelmente nas categorias Melhor Filme, Melhor Ator/Atriz, Melhor
Roteiro e Melhor Diretor, dentre outros) “Garota Exemplar” (Gone Girl, 2014) é um suspense de
aproximadamente duas horas e meia que tem a habilidade de mostrar a tênue linha
entre a normalidade e a face nebulosa das pessoas - a “Sombra” de que fala Jung.
"O Homem é o lobo do homem, em guerra de todos contra todos" (Thomas Hobbes)
Baseado no livro homônimo escrito por Gillian
Flynn, o filme trata da estória de Amy Dunne (Rosamund Pike), que na infância é
tratada pelos pais e por todos à sua volta com extrema excepcionalidade e que,
depois de casada, é obrigada a ter uma vida mediana e a morar no interior para
acompanhar o marido. Dunne desaparece no dia do seu quinto aniversário de
casamento, deixando o esposo Nick (Ben Affleck) em apuros. Neste ínterim, Nick torna-se
o principal suspeito do desaparecimento, e conta com a ajuda da irmã para tentar
provar sua inocência.
O diretor David Fincher (de Millennium – Os Homens Que Não Amavam as
Mulheres) transpôs para as telas, dentre outras coisas, o chamado “fruto
tardio do romantismo”, traduzido essencialmente como o que alguns intelectuais chamam
de “fracasso afetivo”, tema amplamente debatido pelos filósofos Luiz Felipe
Pondé (PUC-SP) e Daniel Omar Perez (Unicamp), e pelo pensador Michael Foley, só
para citar alguns. Neste processo, o amante é “incompleto e errante” e, no
fundo, procura “um encontro consigo mesmo sem ter a menor ideia do que procura
de si no outro” (PEREZ, 2014). No percurso, pode-se descobrir de forma dolorosa
que não é nada fácil (re)conhecer o outro (e, de quebra, a si mesmo).
domingo, fevereiro 08, 2015
Ligações perigosas nas séries "Felizes Para Sempre?" e "Questão de Família"
domingo, fevereiro 08, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
As séries televisivas “Felizes Para Sempre?” e “Questão de
Família” (Globo e GNT) apresentam sincronismos e insólitas coincidências
envolvendo autor, diretor e o timing dos episódios que parecem espelhar na
teledramaturgia notícias e imagens do telejornalismo da grande mídia . Estaria
a todo vapor funcionando uma correia de transmissão entre os núcleos de novelas
e o jornalismo da emissora? O sincronismo seria favorecido pelo vazamento
antecipado de informações das investigações do Judiciário? Por outro lado
poderia ser um sintoma do tautismo da TV Globo que, em crise, injeta realismo
na teledramaturgia para recuperar a relevância perdida? Ou são apenas eventos
sincromísticos?
Em 1982 ia ao ar na TV Globo a minissérie Quem Ama Não Mata, escrita por Euclydes
Marinho. Eram épocas de abertura política na ditadura militar. O título fazia
alusão a pichações nos muros de Belo Horizonte por conta do julgamento do
playboy Doca Street, acusado de ter matado a mulher Ângela Diniz. A minissérie
foi polêmica e contribuiu para o debate sobre os direitos da mulher numa
sociedade que procurava o caminho para a democracia.
Trinta e três anos depois, Euclydes Marinho escreve a minissérie Felizes Para Sempre?, retornando ao tema
dos dramas de relacionamentos de vários casais de uma mesma família da série de
1982. Somente que agora num contexto bem diferente: numa TV Globo que tenta
reverter a sua crise de audiência e que simultaneamente assumiu o papel de
oposição ao Governo Federal.
sexta-feira, fevereiro 06, 2015
Uma crítica irônica ao racismo europeu em "Charleston Parade"
sexta-feira, fevereiro 06, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Estamos em 2028. A Europa foi arrasada por uma guerra mundial e
Paris está em ruínas com poucos sobreviventes. Um explorador desce numa esfera
voadora e descobre um dos sobreviventes. Ela é uma mulher selvagem que, com seu gorila de estimação, dança nas ruas um ritmo estranho chamado Charleston. Esse explorador é negro e
vem da África que se tornou o centro da civilização, enquanto a Europa branca
tornou-se arruinada e selvagem. Estamos falando de algum filme distópico atual?
Não, esse é um estranho e irônico curta de ficção científica francês de 1927
“Charleston Parade” (Sur Un Air De Charleston) de Jean Renoir, filho do famoso pintor impressionista. O
curta é uma engraçada crítica politicamente incorreta ao racismo e colonialismo europeu. A produção tornou-se obscura e esquecida pelas diversas coletâneas do diretor. Mas
o “Cinegnose” descobriu e mostra para os leitores.
Filho do pintor impressionista francês
Pierre-Auguste Renoir, Jean Renoir foi um dos menos conhecidos pioneiros do
cinema. A carreira dele resultaria mais tarde em filmes realistas convencionais
como A Grande Ilusão (1935) e Regras do Jogo (1937). Mas a sua
primeira fase composta por filmes mudos foi subestimada e incompreendida no seu
tempo, obrigando Renoir a vender quadros do pai famoso para financiar seus
filmes.
Essa primeira fase composta de nove filmes mudos é marcada pelo
experimentalismo e temas engraçados e bizarros. Uma amostra dessa fase é o
surpreendente curta de ficção científica Charleston
Parade (1927) realizado em uma tacada só em três dias.
quinta-feira, fevereiro 05, 2015
O enigma da calma estoica de Alckmin
quinta-feira, fevereiro 05, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Enquanto a crise hídrica é anexada à energética pela grande mídia,
nacionalizando a pauta e sobrando as medidas impopulares para a presidenta
Dilma, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, passa incólume pela
crise. Alckmin tira vantagem de uma
blindagem midiática? A resposta não é assim tão simples, onde a grande mídia
supostamente teria poderes para operar uma lavagem cerebral em um Estado
inteiro. Uma pista talvez esteja no impagável apelido dado pelo colunista José
Simão ao governador em 2001: “picolé de chuchu diet”. O colunista foi profético
– pressentiu o papel que Alckmin desempenharia no futuro onde essa imagem “diet”
junto à opinião pública seria fundamental: o papel de líder de um Estado que,
de locomotiva da Nação, se transformaria em laboratório sócio-econômico de
dolorosas experiências neoliberais. Com sua “calma estoica”, Alckmin reflete um
novo conservadorismo baseado num mecanismo de defesa psíquico para os tempos
difíceis anunciados diariamente pela mídia.
Quando em 2001 o então vice Geraldo Alckmin
assumiu interinamente o cargo de governador de São Paulo em decorrência do
agravamento de saúde e posterior morte de Mário Covas, o colunista da Folha
José Simão o apelidou de “picolé de chuchu diet”.
Mal sabia o colunista que esse apelido seria profético:
Simão conseguiu sintetizar nessa impagável analogia a physic du rôle necessária a um político para o papel que
desempenharia no futuro – o de líder de um Estado que, de locomotiva da Nação,
se transformaria em laboratório social e econômico das experiências
neoliberais.
terça-feira, fevereiro 03, 2015
A mecânica quântica nas relações humanas no filme "Coherence"
terça-feira, fevereiro 03, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em uma noite amigos se reúnem para um jantar regado a vinho. Um cometa cruza o céu. O físico austríaco Schrödinger em 1935 imaginou a famosa experiência do gato preso em uma caixa para ilustrar os paradoxos da mecânica quântica. O filme "indie" “Coherence” (2013) junta esses três elementos para criar um dos mais inventivos roteiros dos últimos anos. Complexos conceitos da física quântica como “sobreposição”, “entrelaçamento” e “decoerência” são transferidos do mundo subatômico para as tensões das relações humanas. E se todos naquele noite estiverem na mesma situação angustiante do gato de Schrödinger? Mas também pode ser a oportunidade de realizar o sonho da segunda chance e corrigir as escolhas erradas de uma vida.
sábado, janeiro 31, 2015
Série "Mundo da Lua" previu crise atual da água em 1991?
sábado, janeiro 31, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Assistir ao episódio “Esquadrão do Sabonete” da série de TV brasileira
“Mundo da Lua” apresentado em 1991 é a oportunidade de ter uma desconcertante experiência de "dèjá
vu": teria lá no passado o protagonista Lucas previsto a atual crise da água? O
episódio reserva estranhas conexões entre passado e futuro – coincidências ou
sincronicidades? Essas possíveis conexões trazem a discussão sobre as
fronteiras entre ficção e realidade tal como propostas por escritores como Charles Bukowski e Philip K. Dick: para o primeiro, a realidade consegue
superar a ficção em bizarrice, por isso a literatura deve ser mais estranha que
o real; para o segundo, a realidade é o futuro como profecia auto-realizável. É
a hipótese sincromística: haveria um subtexto com linhas sincrônicas que dariam
um sentido (natural ou conspiratório) a uma realidade aparentemente caótica? Pauta sugerida pelo nosso leitor Carlos Vinícius.
Certa vez o escritor underground e maldito
Charles Bukowski (1920-1994) foi questionado sobre o porquê do seu estilo bizarro e
exagerado de escrever, para começar os títulos que costumava a dar aos seus
contos (“A Máquina de Foder”, “Kid Foguete no Matadouro, “Doze Macacos Alados
não conseguem trepar sossegados” etc.): “em um mundo onde notícias e
acontecimentos são tão estranhos, somente uma ficção literária bizarra pode
tentar superar a realidade”.
Essa estranha percepção de Bukowsky sobre o limiar entre a ficção
e a realidade vai de encontro a atual hipótese do Sincromisticismo: a
onipresença do contínuo midiático e a forma como os meios de comunicação
exploram verdadeiras egrégoras de formas-pensamento e arquétipos, torna os
limites entre ficção e realidade cada vez mais tênues e confusos – a vida imita
a ficção ou vice-e-versa?
sexta-feira, janeiro 30, 2015
Conteudismo: a doença infantil da comunicação
sexta-feira, janeiro 30, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
As estruturas de comunicação de instituições públicas são lentas
para reagir a ambientes midiáticos negativos. Mas no caso atual do Governo
Federal o problema não é de “timing”, mas principalmente do paradigma que orienta suas estratégias: o Conteudismo, a doença
infantil da Comunicação. Da vulgarização da utilização de filmes
em sala de aula para ilustrar de maneira linear conteúdos curriculares à ordem da presidenta Dilma
para que os ministros sejam “claros e precisos” e “comuniquem iniciativas e
acertos” para enfrentar a “batalha da comunicação”, todos partilham de um mesmo
equívoco: de que a questão da Comunicação se trata unicamente de transmissão de
conteúdos. O cenário midiático atual não se identifica mais com uma “batalha da
comunicação”, mas com verdadeiras “guerrilhas semióticas” – recursos formais de
linguagem que visam muito mais corações do que mentes, muito mais construção de
percepções do que transmissão de conteúdos. Guerrilhas semióticas têm a ver com batalhas de percepções e não de informações.
Quando o videocassete surgiu no Brasil nos anos
1980, foi recebido com euforia pelos professores. A imediata disponibilidade de
filmes que até então somente era possível de serem assistidos no cinema,
vislumbrou a imediata aplicação em sala de aula.
Assim como os espectadores comuns, os
professores se fixaram no conteúdo temático dos filmes que poderia ser
associado linearmente aos conteúdos programáticos de cada disciplina: aula
sobre a independência do Brasil? Exiba Independência
ou Morte com Tarcísio Meira para os alunos; algo sobre a Idade Média? O Nome da Rosa; Ditadura Militar? O
filme O Que é Isso Companheiro? E
ainda teve professor que para ilustrar o porquê da queda do Império Romano
apresentou o controvertido filme Calígula
– com o previsível escândalo do diretores, coordenadores e pais de alunos.
quarta-feira, janeiro 28, 2015
Filme "Borgman" mostra como uma família burguesa se autodestrói
quarta-feira, janeiro 28, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Esqueça a maldade representada pela tradição hollywoodiana: serial killers, monstros, psicopatas, terroristas, russos, árabes e vilões em geral (RAVs). Para assistir ao filme “Borgman” (2013), do diretor holandês Alex Van Warmerdan, o espectador deve ter em mente que está entrando no terreno do Mal surrealista e metafísico. O Mal na tradição gnóstica que, no Ocidente, tem na obra de Marques de Sade um dos seus melhores representantes. Em um mix de thriller, sobrenatural e humor negro, “Borgman” narra como uma típica família burguesa é capaz de se autodestruir até o limite da insanidade – e Camiel Borgman, um presumível sem-teto que um dia bate à porta da família, seria o suposto responsável por tudo – hipótese mais tranquilizadora para nós. Mas Van Warmerdan não pensa assim: e se o Mal não estiver nos espreitando? E se ele já estiver dentro de nós? Filme insistentemente (ainda bem!) sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
segunda-feira, janeiro 26, 2015
O fantasma da adolescência no filme "Divergente"
segunda-feira, janeiro 26, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O fantasma da adolescência assombra o Capitalismo: como estender o
período da vida que conhecemos como “juventude”, com toda a sua ansiedade e
revolta, com a finalidade de adiar cada vez mais a entrada do jovem no mercado de
trabalho? Filmes como "Divergente" (Divergent, 2014) é um exemplo da solução
desse problema e, ao mesmo tempo, a descoberta de uma inesgotável fonte de
lucros. Em cada década a indústria do entretenimento explorou essa
“adolescência estendida”: rebeldes sem causa, punks, darks, góticos, emos. E
agora, rebeldes “teens distópicos” de filmes como “Jogos Vorazes” ou “Ender’s
Games”. Baseado em mais um indefectível romance infanto-juvenil, o filme
“Divergente” traz a ambígua mensagem desses novos tradicionalistas de início de
século: revoltem-se, sejam audaciosos, mas se abstenham de drogas e sexo e na
segunda-feira voltem para a escola.
Divergente (Divergent, 2014) é
mais um filme que se associa a outras franquias infanto-juvenis de sucesso como
Crepúsculo e Jogos Vorazes. Desde Harry
Potter (2001) Hollywood vem expandindo essa tendência em adaptar para as
telas best sellers para o público
jovem. Nesse início de século, a lista já é extensa, só para citar alguns: Eu Sou o Número 4 (2010), Cidade
das Sombras (2008), Jogos
Vorazes (2012), Instrumentos Mortais
(2013), Ender’s Game (2013), Percy Jackson (2010) entre outros.
A procura da própria identidade e a descoberta
do sexo e do amor são os temas universais da adolescência presentes nesses
filmes, cujo desenvolvimento é amarrado por uma fórmula que parece comum:
protagonistas que levavam uma vida aparentemente normal até um dia descobrirem
que possuem estranhos poderes e que, por isso, são vigiados por entidades
sombrias ou sistemas totalitários distópicos. E no transcorrer dessas sagas
cinematográficas descobrirão o sexo e o amor que, em geral, tendem ou para os
amores platônicos e impossíveis, ou então simplesmente para a abstinência
sexual como um valor positivo.
sexta-feira, janeiro 23, 2015
A Ponte Estaiada é uma bomba sincromística?
sexta-feira, janeiro 23, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Foto: André Nunez |
“Estilingão”, “X” da Xuxa”, “X” dos analfabetos foram alguns dos apelidos recebidos pela Ponte Estaiada Otávio Frias de Oliveira quando inaugurada em 2008 na cidade de São Paulo. Certamente sintomas da perplexidade de uma estrutura em “X” equivalente a um prédio de 46 andares de onde saem estais que sustentam pistas sobrepostas em curva. Para além da funcionalidade viária, a ponte nasceu para ser emblemática, midiática e símbolo global. Para atingir essas funções ideológicas do “Soft-capitalismo” (midiático-financeiro), tornou-se um evento sincromístico: além dos feixes de estais, ela representa um feixe de simbolismos herméticos, esotéricos e matemáticos como a espiral de Fibonacci e o Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci. Simbolismos que transformam a ponte numa celebração ritual de um Neo-Renascimento onde o mundo do mercado e dos negócios teria descoberto a beleza e simetria em meio ao caos. Seria a ponte uma bomba semiótica sincromística para diariamente fazer a apologia da Nova Ordem?
quarta-feira, janeiro 21, 2015
O estranho clássico cult "The Cars That Ate Paris"
quarta-feira, janeiro 21, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Estranhos carros tunados que correm o Outback australiano
provocando acidentes cujas vítimas serão ou assassinadas, ou incorporadas à
comunidade de um lugarejo chamado Paris ou se transformarão em cobaias de um estranho
experimento psiquiátrico. O clássico cult “The Cars That Ate Paris” (1974),
dirigido por Peter Weir (“Show de Truman”, “Sociedade dos Poetas Mortos”) em
início de carreira, é um filme estranho e enigmático e que por décadas se
mostrou impossível de ser rotulado em um gênero. Apesar da sua estranheza, a produção acabou influenciando diversos
filmes por gerações como “Mad Max”, “Veludo Azul”, “Chumbo Grosso” ou “Velozes
e Furiosos”. Como mais tarde faria em “Show de Truman”, em “The Cars” Peter
Weir quer encontrar o bizarro e o anormal por baixo da aparente rotina de um
lugarejo com doces vovós em cadeiras de balanço e fiéis que não perdem uma
missa aos domingos. Mas todos escondem um terrível segredo.
Um filme estranho? Com certeza. Gnóstico?
Talvez, ainda mais sabendo que o diretor australiano Peter Weir tem um especial
interesse pelas teorias sobre os mitos e sonhos e nos seus filmes sempre
demonstra estar atento ao tema de como o senso comum sobre a realidade pode ser
frágil e como podemos encontrar o extraordinário dentro da vida ordinária. Seu
filme Show de Truman foi a
consolidação desses temas que sempre estiveram na cabeça do diretor.
The
Cars That Ate Paris (1974, “Os
Carros que Comeram Paris”) é um estranho filme do início da carreira de Peter
Weir, ainda no cenário cinematográfico australiano. Uma das primeiras características de um
“filme estranho” – sobre esse conceito fílmico clique
aqui – é a dificuldade em rotulá-lo em um gênero: nos anos 1970, o filme
teve uma difícil comercialização, porque era impossível categorizá-lo: humor
negro? Comédia dramática? Ficção Científica? Terror? Na era do VHS nos anos
1980, as locadoras colocavam o filme nas prateleira de “terror”.
domingo, janeiro 18, 2015
O gênio do Chefe Shang inspira dedo-durismo da grande mídia
domingo, janeiro 18, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Há quase 3 mil anos na China, Chefe Shang, dirigente na
totalitária Disnastia Ch’in, criou a ardilosa tática de estímulo ao
dedo-durismo generalizado entre agricultores: preocupados em vigiar seus
vizinhos, esqueciam-se que estavam sob um regime de terror e autoritarismo.
Desde então, o dedo-durismo passou a ser a prática recorrente nos regimes
totalitários. Pois o gênio do Chefe Shang continua vivo – sob o pretexto de
“exercício da cidadania” durante a chamada “crise hídrica” em São Paulo, a
grande mídia vem estimulando pessoas a enviar vídeos e fotos de vizinhos que
supostamente desperdiçam água. Mais uma vez a grande mídia pisa no pântano do
proto-fascismo: uma suposta cruzada cívica que pode se transformar em vingança
e violência por motivos oportunistas como racistas, sexistas ou político-ideológicos.
Com isso, São Paulo dá mais um passo para o seu futuro distópico – uma cidade
transformada em um deserto igual ao filme "Mad Max" com milícias de “fiscais da
Sabesp” executando aqueles que escondem não mais gasolina, mas agora água.
Desde a explosão do nazi-fascismo no período
entre guerras no século XX, a sociologia tenta entender como é possível a
ascensão de regimes ou atmosferas totalitárias em países formalmente
democráticos. Mais do que um sistema totalitário centralizado nos moldes de
1984 de George Orwell, o que chama a atenção é o fenômeno do totalitarismo
descentralizado e difuso, com o apoio de quase toda a população.
Sociólogos como o norte-americano Barrington
Moore Jr. (1903-2005) apontam para similaridades entre o totalitarismo moderno e das
sociedades pré-industriais. Práticas totalitárias modernas que se repetem ao
longo da História, desde a antiguidade – veja “Totalitarian Elements in
Pre-industrial Societies”, In: Political
Power and Social Theory, Havard University Press, 1958.
sexta-feira, janeiro 16, 2015
A humanidade está no fogo cruzado entre deuses e reis no filme "Êxodo"
sexta-feira, janeiro 16, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O homem está colocado em uma espécie de fogo cruzado entre deuses
e reis, demiurgos vingativos e ciumentos perante os quais somos apenas aquilo
que representa a mosca para uma criança. Ao homem nada mais resta do que
desafiá-los para, no final, resgatar dentro de si o bem mais precioso –
aqueles a quem ama. Esse é o tema que perpassa a obra do diretor Ridley Scott e
que, mais uma vez, está presente na versão do Êxodo bíblico feita por um
cineasta assumidamente ateu. “Êxodo: Deuses e Reis” (2014) retrata um Moisés
convertido em anti-herói amargurado: “É tudo vingança!”, critica em um dos
ríspidos diálogos com Deus. Scott repete a mesma desesperança dos tripulantes
da nave Prometheus que, ao descobrirem a raça dos criadores do homem em um planeta distante, na verdade
encontraram “Engenheiros” enlouquecidos.
O diretor Ridley Scott tem um inegável talento
para lidar com narrativas em diferentes épocas históricas: da Roma antiga (Gladiador, 2000) para a época das
Cruzadas ( Cruzada, 2005; Robin Hood, 2010); da era do
Renascimento (1492 – A conquista do
paraíso, 1992) para o século XIX (Os Duelistas, 1977); e no futuro com Alien (1979), Blade Runner (1982) e Prometheus
(2012).
Confirmando uma velha crença de que um artista
conta uma única história em toda a sua vida, em Scott percebe-se que ele volta
sempre ao tema do estranho que desafia a tudo e a todos ao seu redor para, no
final, resgatar algo que é exclusivamente precioso para si mesmo.
Foi assim com Deckard em Blade Runner (o simbolismo do unicórnio que o protagonista resgata
para saber se ele é humano ou mais um replicante) e também com a Dra. Elizabeth
Shaw em Prometheus (desafiando a tudo
para manter a fé em um sentido para a criação humana perpetrada pelos “Engenheiros”).
quarta-feira, janeiro 14, 2015
As bombas semióticas do "Charlie Hebdo" e das "árvores-que-caem-e-matam" em São Paulo
quarta-feira, janeiro 14, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Enquanto o jornal Charlie Hebdo foi repentinamente arrancado da crise
financeira e da ameaça de fechamento para a condição de “pièce de résistance”
da liberdade de expressão Ocidental, em São Paulo as costumeiras árvores que
caem a cada tempestade de verão também repentinamente foram elevadas da cobertura local aos
telejornais diários de rede nacional como o fenômeno generalizado das “árvores-que-caem-e-matam”. O que há em comum nesses dois eventos que dominam a
atual pauta midiática? A bomba semiótica diversionista, cujas origens estão nas
táticas militares dos campos de batalha desde a Antiguidade. Hoje é a principal
arma na luta pela conquista da atenção
da opinião pública. Tática manjada e
canastrona pelo seu evidente sendo de oportunismo, timing e conveniência.
Porém, continua sendo a mais eficiente no desvio de atenção dos problemas reais.
“Aquele que aprender a usar o artifício do diversionismo será um
conquistador. Eis a arte de fazer manobras”( Sun Tzu)
Nas táticas militares, o diversionismo é uma das mais antigas.
Para ganhar a guerra de Tróia, um comandante grego criou a ilusão de oferecer
um cavalo de madeira de presente para distrair o inimigo e afrouxar a
segurança. Na Arte da Guerra, Sun Tzu
falava em seguir uma rota longa e circular para ludibriar o inimigo e fazê-lo
se afastar do caminho.
Quando as guerras passaram dos campos de batalha para as mídias
(sejam elas as telemétricas e telemáticas que transformaram as guerras em
videogames letais, ou então as mídias de massas), tudo transformou-se em uma
guerra de comunicação onde os oponentes lutam para decidir o que está na alça
de mira do inimigo ou na pauta das discussões na imprensa.
segunda-feira, janeiro 12, 2015
"Atazagorafobia": a nova fobia das redes sociais no curta "Remember Me"
segunda-feira, janeiro 12, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Você lembra de mim, logo existo”. Isso é uma questão de sobrevivência para um novo tipo humano que domina as redes sociais, pessoas que sempre estão em busca da atenção das pessoas. Psicólogos chamam essa nova fobia de “Atazagorafobia” ou “fear of missing out” (FOMO) – o pânico de estar perdendo alguma oportunidade de interação ou de reconhecimento. Esse é o tema do curta canadense “Remember Me” (Mémorable Moi, 2013) do diretor Jean-François Asselin: “Você está pensando em mim?”, é a dúvida obsessiva do protagonista, sempre colado ao computador e dispositivos móveis tentando fingir ser qualquer coisa, enquanto sua vida conjugal vai para o ralo. Depois da Internet prometer a “inteligência coletiva” na cultura e a “estrada para o futuro” nos negócios, parece agora amplificar em tempo real o “demasiado humano” já presente nas mídias tradicionais: solidão, intolerância, narcisismo, superfluidade, necessidade de reconhecimento, hedonismo, niilismo, e assim por diante. – com a diferença de que agora os efeitos são exponenciais por meio de fobias e síndromes.
sexta-feira, janeiro 09, 2015
O atentado ao "Charlie Hebdo" foi um filme mal produzido?
sexta-feira, janeiro 09, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como em todos
eventos agudos que envolvem a interminável “guerra contra o terrorismo”, muitos
analistas apontam inconsistências, ambiguidades e lacunas na cobertura
midiática ao atentado contra o jornal "Charlie Hebdo" em Paris. São tantas que parece que estamos diante de
um roteiro de um filme mal produzido: uma ação militar profissionalmente
cirúrgica feita por jovens que esquecem um cartão de identidade no carro da
fuga. Coincidências e conveniências para muitos lados (e até para a grande
mídia brasileira) envolvem a chacina dos jornalistas e cartunistas franceses, gerando
uma espiral de especulações e conspirações. Será que alcançamos o estágio mais
avançado do terrorismo, o “meta-terrorismo”? O
relato midiaticamente ambíguo de um atentado pode se tornar tão letal quanto o
próprio atentado.
Como diria a
personagem Church Lady (feita pelo comediante Dana Carvey no programa Saturday
Night Live, sempre preocupada com as conspirações satânicas por trás das
coincidências): “How Con-VEEN-ient!” (“Tão conVEEEniente!”).
Numa primeira
análise, o ataque terrorista (alguns afirmam que foi na verdade uma ação
militar pela precisão) ao jornal satírico francês Charlie Hebdo em Paris, que
vitimou 12 pessoas entre eles cartunistas, editores e colunistas do veículo
francês, tem se revelado bem conveniente para três personagens do atual cenário
internacional e, de quebra, para o senso de oportunismo da grande mídia
brasileira:
quarta-feira, janeiro 07, 2015
Sociopatas produzem as notícias da grande mídia no filme "O Abutre"
quarta-feira, janeiro 07, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O cinema tem mais
de 50 anos de uma sólida tradição de filmes críticos à TV e à produção midiática
das notícias. Mas o filme “O Abutre” (Nightcrawler, 2014) de Dan Gilroy vai
mais além: não só faz uma didática apresentação de como os fatos são
semioticamente turbinados para se tornarem “noticiáveis”, mas principalmente
como parasitas midiáticos voam como aves de rapina em torno da carcaça daquilo
que um dia foi chamado de “notícia”. Para o diretor, o protagonista Lou Bloom (cinegrafista freelance
que vive de vender vídeos de acidentes e homicídios para a TV) é o protótipo do
homem do futuro – os sociopatas limítrofes que, através dos slogans do
empreendedorismo e autoajuda, tornam-se
os mais bem sucedidos manipuladores dos sentimentos humanos. E cada vez mais bem sucedidos na grande mídia.
Desde o filme A Montanha dos Sete Abutres (Ace in The Hole, 1951), o cinema criou
uma longa tradição de críticas impiedosas à dinâmica de produção de notícias,
principalmente pelas redes de TV. Network
– Rede de Intrigas de 1976 (a sádica exploração do desespero de um
evangelista televisivo), a ambição assassina da moça do tempo de um telejornal
feita por Nicole Kidman em Um Sonho Sem
Limites (To Die For, 1995), a
manipulação de um episódio com reféns em um museu feita por um repórter de TV
em baixa no filme O
Quarto Poder (Mad City,
1997), sem falar na exploração humana por reality e quiz shows como Show de Truman, The
Hunger Games ou Death Race 2000.
O mais recente
exemplar dessa tradição é O Abutre, estreia
do roteirista Dan Gilroy na direção e contando com a melhor performance até
aqui na carreira de Jake Gyllenhall no papel do protagonista Lou Bloom: armado com uma câmera de vídeo, um rádio
da polícia e uma cabeça cheia de dicas de negócios de segunda mão aprendidas na
internet repletos de slogans do empreendedorismo e autoajuda, Lou cruza as noites de Los Angeles como um vampiro. Alimenta-se do sangue
de vítimas de homicídios e acidentes de carros. Tanto melhor para rejuvenescer
a carreira da produtora de TV Nina Romina (Rene Russo). O vídeo dos sonhos de
Romina para turbinar a audiência é “uma mulher gritando e correndo rua abaixo
com a garganta cortada”. E Lou fará de tudo para corresponder e expandir o seu
negócio promissor.
segunda-feira, janeiro 05, 2015
Os olhos dos mortos retornam nos recém-nascidos no filme "I Origins"
segunda-feira, janeiro 05, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Aos 21 anos o diretor Mike Cahill teve um estranho sonho e quando acordou sentiu a necessidade de escrever a seguinte frase: “Os olhos dos mortos retornam nos recém-nascidos”. Catorze anos depois tornou-se interessado no tema da biometria através íris. Junto com a lembrança da misteriosa frase do passado, Cahill escreveu o argumento do roteiro do filme “I Origins” (2014) – um biólogo molecular obcecado pelo design complexo do olho humano quer terminar de vez o debate entre criacionistas e evolucionistas, conseguindo preencher definitivamente a lacuna do mapeamento evolutivo do órgão humano, provando a inexistência de Deus. Sem ser um filme New Age disfarçado, Cahill opõe os argumentos dos dois lados, mostrando que Ciência e Espiritualidade podem andar juntas, embora em planos separados da existência. E o que as uniria seria o acaso, representado por uma misteriosa garota com a íris multicolorida, a "Sophia" da mitologia gnóstica. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
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