segunda-feira, setembro 28, 2020

Bolsonaro na ONU, grande mídia e as queimadas: esquerdas devem conhecer Ernst Bloch


O filósofo alemão Ernst Bloch foi uma das influências de Theodor Adorno e da chamada “Escola de Frankfurt”: foi o primeiro pensador marxista a considerar o imaginário nos meios técnicos (rádio e cinema) explorados pela propaganda nazi-fascista no século passado. Sua “Teoria da Assincronia” mostrou como o imaginário social foi politizado pela propaganda política: os tempos latentes, arcaicos e idílicos se mantêm em camadas mais antigas nas mentes das pessoas, mantendo a contradição em relação às modernizações tecnológicas e econômicas. E a propaganda atuou nesse tempo assíncrono do imaginário. Tanto o discurso de Bolsonaro na ONU quanto a cobertura da grande mídia das queimadas no Pantanal e Amazônia exploram esse imaginário assíncrono do “ódio ao presente”, o material explosivo das bombas semióticas da extrema-direita: religião, nacionalismo etc. A esquerda precisa urgentemente conhecer Ernst Bloch: como atuar nesse espaço assíncrono do imaginário? 

sábado, setembro 26, 2020

Série 'Upload': quando as corporações irão monetizar a imortalidade?


No cinema e audiovisual, sempre as representações sobre a existência após a morte fala muito mais sobre os vivos do que sobre o Além.  Porque o espírito de cada época cria sua própria representação da morte – hoje, influenciada pela Inteligência Artificial e a possibilidade de a alma ser transcodificada em bytes para um dia, conquistarmos a imortalidade no “céu” de uma nuvem de dados. A série da Amazon Prime “Upload” (2020-) tematiza esse sonho que é na atualidade levado bem a sério pelos engenheiros das Big Techs do Vale do Silício. A série acompanha a trilha atual de diversas séries e filmes onde a imortalidade é conquistada por meio da transferência da consciência digital. À beira da morte, um programador aceita os termos de um serviço de upload da consciência para um Paraíso transformado em luxuoso resort virtual hospedado em um servidor da corporação Horizon. No pós-morte descobrirá que a imortalidade pode ser tão enlouquecedora quanto a vida entre os vivos. E como as corporações serão capazes de monetizar a mais íntima experiência humana.

quinta-feira, setembro 24, 2020

Cinegnose lança livro 'Cinema Secreto: temas gnósticos, alquímicos e quânticos no cinema, audiovisual e cultura pop'

Este editor do Cinegnose está lançando o livro: “Cinema Secreto: Temas Gnósticos, Alquímicos e Quânticos no Cinema, Audiovisual e Cultura Pop”. O livro é o resultado dos dez anos de pesquisa deste blogue em mapear as principais mitologias gnósticas presentes no cinema (o Mito do Demiurgo, o Mito da Alma Decaída, o Mito do Salvador, o Mito do Feminino Divino etc.) e a sua categorização: filmes CosmoGnósticos, TecnoGnósticos, PsicoGnósticos, AstroGnósticos e CronoGnósticos. E as implicações tanto na cultura pop quanto na Ciência que esse conjunto de filmes sugere: as conexões do Gnosticismo com as filosofias herméticas, Alquimia e Física Quântica. 

domingo, setembro 20, 2020

Curta da Semana: 'Lady Gaga: 911" - o esotérico airbag mental diante da morte


Basicamente a estética videoclipe consiste na passagem de significante a significantes (alusões, referências etc.), sem apresentar significados, criando jogo para as referências culturais presentes no repertório do espectador. Essa é a chave do sucesso da cultura pop:  a metonímia no lugar do aprofundamento de metáforas. O novo videoclipe de Lady Gaga, “911” (faixa do seu novo álbum “Chromatica”) confirma essa lógica, mas vai além ao aproximar a fórmula metonímica pop da linguagem freudiana dos sonhos e do fenômeno esotérico da “tela mental” criada no momento da morte – o “airbag” emocional criado pela mente como proteção diante do medo da morte, do mergulho no desconhecido. Dos filmes de Jodorowsky (“El Topo” e “A Montanha Sagrada”) o videoclipe pega inúmeros simbolismos cristãos, budistas, zen, magia negra, paganismo etc. E dos filmes “The Wave” e “A Passagem”, o tema do fenômeno da “tela mental” no momento da morte. Criando um final ambíguo: Lady Gaga foi ressuscitada pelos paramédicos ou está morta num limbo entre vida e morte?

sexta-feira, setembro 18, 2020

Entre a utopia e a distopia, 'O Dilema das Redes' esquece do principal dilema do Capitalismo


“O Dilema das Redes” (The Social Dilemma, 2020) chega à Netflix na trilha de uma série de produções sobre a manipulação mercadológica e política dos dados de usuários das mídias sociais, desde a controvertida vitória eleitoral de Trump em 2016. Mas traz uma novidade: entrevista os primeiros executivos de Bigtechs como Twitter, Facebook e Instagram. Envergonhados, tentam explicar como projetos tão altruístas deram tão errado, como o botão do “Curtir” que pretendia “espalhar positividade pelo mundo”. O documentário tenta apresentar o “dilema” que dá título à produção: as redes e aplicativos simultaneamente entre utopias e distopias. Porém, não consegue enxergar o principal dilema que tem a ver com própria natureza do Capitalismo: bens de interesse público (comunicação, conhecimento, informação) apropriados como produtos de interesse privado – o lucro.

quarta-feira, setembro 16, 2020

'The Boys' e 'O Dilema das Redes': esquerda precisa de hackers e 'artivistas'

Ataques massivos de hackers de extrema-direita estão derrubando lives acadêmicas com temáticas progressistas revelando o campo mais bruto da guerra semiótica: os ataques cibernéticos em uma terra de ninguém no qual hackers agem livres como as gangs no deserto distópico de “Mad Max”.  Escandalizada, a esquerda ainda crê no senso de obrigação moral a direitos universais ou republicanos, simplesmente ignorando o paradigma comunicacional da viralização. Séries ficcionais como a segunda temporada de “The Boys” (2019-) e o documentário “O Dilema das Redes” (2020) mostram com a tática de viralização leva ampla vantagem sobre as estratégias tradicionais de propaganda. Restará à esquerda lutar no mesmo campo semiótico da extrema-direita, mesmo que seja nos limites da moral e da ética. Como mostra a “violência metafórica” do “Freedom Kick” do coletivo de artistas ativistas “Indecline”: vídeos de protesto com esculturas de cabeças hiper-realistas de Putin, Trump e... Bolsonaro – chegam aos países afetados pelas suas políticas para os seus opositores jogarem futebol com elas. A esquerda precisa de harckers e "artivistas".

sábado, setembro 12, 2020

Na série 'Ares', 'O Guia Pervertido da Ideologia' de Zizek encontra-se com as sociedades secretas


O documentário “O Guia Pervertido da Ideologia” (2012), com o filósofo Slavoj Zizek, no qual mapeia uma série de filmes para explicar a natureza atual da ideologia, certamente contaria com a série holandesa “Ares” (2020-) como mais um exemplo audiovisual. Disponível na Netflix, acompanha uma jovem e ambiciosa estudante de Medicina que, apesar de não carregar um sobrenome com pedigree, é convidada a entrar numa sociedade secreta de universitários que mais parece um culto. Cujos participantes são capazes de identificar seus tataravôs na conhecida pintura de Rembrandt “Ronda Noturna”. Um terror psicológico que sintetiza a ideologia cínica que permeia todas as elites: “Eu sei muito bem o que estou fazendo, mas mesmo assim faço”. Uma sociedade secreta que gira em torno de um culto aparentemente demoníaco cujo propósito principal é a expiação do sentimento de culpa - o legado do colonialismo da história da Holanda na sua elite: uma riqueza fundada historicamente na exploração, escravidão e violência.  

quinta-feira, setembro 10, 2020

A canastrice na política: os vídeos do Porta dos Fundos, Bolsonaro e Lula

Três vídeos marcaram esse feriado da Independência. O primeiro, um vídeo da série “#Polêmicadasemana” da trupe de humor Porta dos Fundos. E depois, o pronunciamento do presidente Bolsonaro e a fala de Lula à Nação. Dois paradigmas comunicacionais opostos: o vitorioso, até aqui, da viralização (através da canastrice na política em linguagem audiovisual tosca) da direita alternativa; e do outro o paradigma da “sedução”, com vídeo profissionalmente produzido trazendo o discurso racional de um estadista. E o vídeo do Porta dos Fundos, mais um exemplo da estranheza do humor que tenta fazer a paródia da política que já faz de antemão uma paródia de si mesma. Onde as esquerdas encontrarão o alfinete para furar a bolha que separa esses dois paradigmas comunicacionais? No campo semiótico da canastrice,  meta parodiado no vídeo do Porta dos Fundos.  

segunda-feira, setembro 07, 2020

Os infinitos mundos interiores da mente em "Estou Pensando em Acabar com Tudo"


Uma estória simples e direta: Jake quer apresentar a sua namorada para seus pais. Cruzam uma noite gelada de neve em direção à fazenda dos pais em uma pequena cidade. Porém, estamos em um filme do diretor e roteirista Charlie Kaufman: nada é tão simples ou parece ser o que aparenta. O filme “Estou Pensando em Acabar com Tudo” (I’m Thinking of Ending Things, 2020), disponível na Netflix, carrega todas as obsessões temáticas e ousadias formais dos filmes anteriores de Kaufman (“Quero Ser John Malkovich”, “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” etc.) – personagens presos nos labirintos do próprio psiquismo. Explorações sobre arrependimento, fracassos e solidão contadas através de narrativas surrealistas que parecem dobrar sobre si mesmas em infinitos mundos interiores. Por isso, muitos sentem-se “bugados” ao assistir a um filme “confuso” e “enigmático”. O “Cinegnose” explica.

sábado, setembro 05, 2020

VAR no país da Lava Jato transforma futebol em esporte quântico


“Existe Justiça no Futebol?”, pergunta o Globo Esporte depois das polêmicas envolvendo o VAR nas últimas rodadas do Campeonato Brasileiro. Diferente da Europa onde a ferramenta tecnológica é um mero assistente do árbitro no campo, aqui foi contaminada pelo paradigma do moralismo ao estilo Lava Jato: teremos que passar tudo a limpo - política, economia, esporte... tudo deverá ser regido pelos princípios da Transparência, Verdade e Justiça. Então, o VAR é o instrumento para encontrar o “quantum” da Verdade que deve estar em algum frame infinitesimal da mecânica cinemática. Ao pretender remover a suposta subjetividade de um esporte essencialmente interpretativo, a “objetividade” do VAR pode ser uma farsa. Em busca do último frame, do quantum da Verdade, o VAR transforma o futebol em um “esporte quântico”. Porém, a separação dos frames, a resolução da imagem e interferência humana no processo para determinar o instante exato do passe ou posição dos atletas envolvidos na sucessão dos quadros esquece do “Princípio da Incerteza” de Heisenberg: o olhar do observador sempre altera aquilo que é observado.

quinta-feira, setembro 03, 2020

A mercadoria notícia da grande mídia banaliza a pandemia e seus mortos


Por que, apesar de toda a extensiva cobertura midiática da pandemia, a percepção do público parece muito mais de fastio, cansaço, do que de mobilização e emergência? Parece que a pandemia foi banalizada, como se as notícias não passassem de mais do mesmo. A grande mídia se autodescreve como de “utilidade pública”: o cidadão precisaria de informações para se orientar num momento de crise sanitária. Porém, a notícia é mais um produto mercadológico com interesses privados: atrair anunciantes e proporcionar ao espectador/consumidor uma experiência positiva. Horror, indignação ou mal-estar são sensações evitadas por estratégias discursivas: abstração dos números e infográficos, “canastricização” dos mortos, as palavras “população” e “sociedade” substituindo “classes sociais” e a indignação seletiva: aglomeração nas praias não pode, ônibus e metrôs lotados sim... desde que a aglomeração esteja gerando mais-valia aos anunciantes do noticiário.  

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