quinta-feira, junho 30, 2022

'Fruto da Memória': o olhar inédito da "onda estranha grega" para pandemia e esquecimento


Uma pandemia global provoca amnésia irreversível em um número crescente de pessoas. Parece que já vimos muitos filmes tratando desse tema. E sem memórias, como descobrir quem somos? Também já vimos outros filmes sobre isso. Porém, lembre-se: o leitor vai assistir a um filme da chamada “Onda Estranha Grega” – narrativas bizarras onde amor, culpa, misticismo e horror se misturam. No filme “Fruto da Memória” (Mila, 2020), o diretor grego Christos Nikou mostra um protagonista amnésico que terá que reiniciar sua identidade em um programa neurológico inédito: reaprender todos os papéis, scripts e convenções sociais, desde as banais como andar de bicicleta, flertar alguém numa festa ou ir ao cinema. Sob comandos de fitas cassete gravadas com orientações para as “tarefas”. O filme é uma oportunidade para descobrirmos o “non sense” dos rituais cotidianos que mecanicamente repetimos, sem percebermos o artifício, muitas vezes involuntariamente cômico.

quarta-feira, junho 29, 2022

A desconstrução do patriarcado na cozinha sônica no filme 'Flux Gourmet'


Que tal transformar a bancada de uma cozinha numa performance de um “chefe-DJ”? Microfones enfiados na manteiga ou suspensos sobre frigideiras e panelas, mixers e caixas de efeitos como frangers colocados ao lado do consommé e teremins, além de fios conectados a delicados sensores para captar os delicados sons de frituras, refogados e fervuras. Essa é a “cozinha sônica”, performance artística radical de um coletivo que pretende desconstruir a ordem patriarcal da cozinha. O filme “Flux Gourmet” (2022) de Peter Strickland (“In Fabric”) é uma comédia de humor negro elegante e estranha mostrando as contradições de todas as desconstruções pós-modernas. Com uma simbologia alquímica de fundo, “Flux Gourmet” mostra como as práticas acabam repetindo aquilo que o discurso queria destruir. Porque “o que não é assumido, não pode ser redimido”. 

sábado, junho 25, 2022

Ladytron e o electroclash, guerra híbrida nas festas juninas, dissimulações e blefes midiáticos na Live do domingo


Sem intervenções federais (a não ser da esposa do humilde blogueiro, quando ultrapassa 3 horas de duração), nesse domingo (26/06), a edição #61 da Live Cinegnose 360, às 18h, no YouTube. Na sessão agora híbrida (vinis/CDs) vamos conversar sobre o electroclash da banda “Ladytron”: a anomalia na globalização tecno. Depois, vamos discutir o último filme do mestre David Cronenberg “Crimes do Futuro” (o encontro de McLuhan com o horror corporal tecnológico) e o terror “Morte Instantânea” (a história oculta da fotografia no Ocidente). O economista Thorstein Veblen explica o papel das festas juninas no golpe híbrido brasileiro: coxinhas 2.0 e a gourmetização das quermesses. E a crítica midiática de uma semana de mais uma crise de blefes e dissimulações: como o projeto militar brasileiro da Guerra Híbrida (o regime de guerra permanente) explicam os últimos acontecimentos que deixaram a grande mídia aloprada! É tudo ao vivo! Nesse domingo! O melhor antídoto para a depressão pré-segunda.

sexta-feira, junho 24, 2022

McLuhan inspira o horror corporal tecnológico de Cronenberg em 'Crimes do Futuro'


O horror corporal no cinema tem em David Cronenberg o seu grande representante. A sua peculiar fusão do horror com a ficção científica foi inspirada nos tempos de estudante na Universidade de Toronto, quando o guru e profeta da Globalização Marshall McLuhan foi seu professor. “O Meio é a Mensagem” é a tese de McLuhan que perpassa toda a filmografia de Cronenberg, só que tomada na aterrorizante literalidade: a tese resultou no pós-humano, a ideologia do século XXI. “Crimes do Futuro” (2022) é o filme-síntese de toda a filmografia do diretor: num futuro indeterminado uma dupla de artistas faz performances públicas de cirurgias através de dispositivos biomórficos para um público extasiado que vê sendo retirados do corpo do artista novos órgãos híbridos misteriosos que não existem na morfologia humana normal. Um mundo em que softwares moldaram a “New Flesh”: o corpo reduzido a objeto de controle e perversão pornô.

quinta-feira, junho 23, 2022

Do Vale do Javari ao cárcere da PF: as estratégias semióticas de ocultamento e blefe do PMiG



Esses últimos quinze dias foram caóticos: os assassinatos de Dom e Bruno no Vale do Javari; o reajuste dos combustíveis e a renúncia do presidente da Petrobrás com a previsível reação “nervosa” dos “mercados”; prisão do ex-ministro do MEC Milton Ribeiro pela PF. Para, no dia seguinte, ser solto por um desembargador do cárcere da PF em São Paulo. Porém, esse aparente frenesi de notícias é apenas superfície. Há um modus operandi semiótico do Partido Militar Golpista (PMiG): o timing do encadeamento dos eventos, dissimulação (ocultamento das operações do PMiG) e simulação (blefes de não-notícias) com o objetivo de sequestrar a pauta da mídia (grande e independente) que sempre anda a reboque dessa central do PMiG, por ação e reação.

sábado, junho 18, 2022

Domingo com Iron Maiden, a IA do Google que ganhou autoconsciência e sobe temperatura da guerra semiótica eleitoral


Mais um domingo (19/06) com música, participação e discussão na Live Cinegnose 360, na edição #60, às 18h, no Youtube. Depois da sessão dos comentários aleatórios (nesse domingo, aleatoríssimo!) vamos fazer uma jornada headbanger com os vinis do Iron Maiden: História, religião e transcendência no Heavy Metal. Em seguida, vamos discutir os filmes “Mad God” (Jung e Gnosticismo com o mestre da animação Phil Tippett) e o terror brasileiro “O Cemitério das Almas Perdidas”: o fetichismo católico pela morte é a matriz de todo terror. E depois: por que o Google afastou o engenheiro que denunciou que a Inteligência Artificial da empresa ganhou autoconsciência? E mais! Crítica midiática de uma semana em que subiu a temperatura da guerra semiótica: Por que a grande mídia está tão chocada com os assassinatos de Dom e Bruno? A encenação semiótica da PF nas fotos e vídeos no Vale do Javari. Dando pernas à não-notícia: o “contador ligado a Lula”. O telecatch da alta dos combustíveis. O que está por trás do drone de Uberlândia? O aumento da taxa Selic e a “Inteligência Financeira” hipster do Itaú. E mais Conversas Aleatórias com os cinegnósticos. 

sexta-feira, junho 17, 2022

'O Cemitério das Almas Perdidas': matriz do terror está no fetichismo católico pela morte



O terror brasileiro “O Cemitério das Almas Perdidas” (Rodrigo Aragão, 2020) é um filme que Zé do Caixão faria com um orçamento maior. Mas também é um exemplo didático de como o gênero literário e cinematográfico é tributário da matriz imaginária católica: a obsessão fetichista pela morte, da missa (a ritualização diária do assassinato de Cristo) ao sangue e esquartejamentos do terror slasher – a obsessão pela punição da carne. Mas também, um filme com forte crítica social: do genocídio indígena colonial ao fanatismo religioso atual que motiva ódio e intolerância, o terror está na própria história brasileira. Um grupo de jesuítas faz um pacto com as trevas através do Livro de São Cipriano. Mas o pacto volta-se contra eles, vivendo para sempre em túmulos de um cemitério, à espera de vítimas do ódio no Brasil atual.

quarta-feira, junho 15, 2022

'Mad God': de Star Wars e Jung ao Gnosticismo


Um projeto de animação que levou 30 anos para ser realizado sobre um mundo distópico que mistura visões infernais sobre a Natureza de William Blake e as composições fantásticas e diabólicas de Hieronymus Bosch. Com criaturas que, muitas delas, não foram aproveitadas na trilogia “Star Wars”. Esse é “Mad God” (2021), uma animação em stop-motion da lenda dos efeitos especiais dos anos 1970 a 1990 Phil Tippett (de Star Wars a Starship Troopers), uma viagem interior ao psiquismo do autor nos mesmos moldes do célebre “Livro Vermelho” do psicanalista suíço Carl Jung. “Mad God” é um pesadelo abstrato em que se misturam temas pós-apocalípticos em steampunk, citações bíblicas, alusões anarco-punk em um mundo subterrâneo com todos os tipos de criaturas grotescas. E que encontra o inconsciente coletivo gnóstico da suspeita de que vivemos sob o jugo de um Deus que não nos ama.

Entrevista com Fábio Shiva, autor de 'Favela Gótica' e ópera-rock 'Anunnaki', por Claudio Siqueira


Ex- baixista da banda doom metal Imago Mortis e autor do romance Favela GóticaFábio Shiva desenvolveu, junto com seu irmão Fabrício Barretto, a ópera-rock Anunnaki, da banda Mensageiros do Vento. A história mais antiga da humanidade é contada na forma de um desenho animado, onde as músicas narram a epopeia dos Anunnaki e o consequente surgimento mítico(?) da humanidade. O Cinegnose teve o prazer de entrevistar o autor e compositor de uma das bandas mais importantes para o cenário underground nacional e autor de uma das melhores obras cinematográficas de nossa filmografia. Cinegnósticos, Fábio Shiva.

sábado, junho 11, 2022

Pizzicato Five, um sci-fi da Etiópia, ardil PMiG no caso Dom e Bruno e abafa midiático pós-privatização na Live de domingo


Como o Brasil e o mundo não deixam esse humilde blogueiro em paz, a Live Cinegnose 360 continua nesse domingo com a edição #59, 12/06, às 18h, no YouTube. Vamos começar com uma sessão híbrida CD/vinil: trio “Pizzicato Five”: da mitologia do “Japão Inc.” ao gênio japonês do “Shibuya-Key”. Na sessão dos filmes, começamos com “Círculo” (por que o século XXI é fascinado por jogos mortais no cinema e TV?). No filme “Sentidos do Amor”, um ponto fora da curva das pandemias no cinema. E a primeira ficção científica da Etiópia: “Crumbs”: como a África vê o apocalipse ocidental. Política e transtornos mentais: por que sempre surtos psicóticos são aderentes aos signos da extrema-direita? E no radar da crítica midiática da semana: o recorrente fenômenos dos atos falhos na mídia, o ardil do PMiG no desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips na Amazônia, a operação abafa midiática e privatização da Eletrobrás e mais outras bombinhas semióticas.

sexta-feira, junho 10, 2022

Por que transtornos mentais são aderentes à extrema-direita?

  


Do nada, uma senhora começou fazer ofensas racistas contra uma família negra que entrou em um vagão do metrô em Belo Horizonte. Foi repercutido pela grande mídia e redes sociais como mais um caso de uma escalada de racismo, intolerância e ódio no País. Visivelmente os ataques partiram de uma pessoa que sofria de transtornos mentais. Esse não é um caso isolado: por que, na sua esmagadora maioria dos casos, os transtornos mentais se expressam através de significantes de extrema-direita? Por que o ódio, intolerância, racismo, preconceito, estereotipagem do outro etc. são signos aderentes aos transtornos psíquicos? Alguém já viu um psicótico tendo surtos “esquerdistas” de intolerância contra a classe dominante? Há uma farta bibliografia sobre pesquisas que conectam transtornos mentais com extremismo de direita. As mais recentes são sobre a hipótese da “cognição socialmente motivada” – quando casos como esse criam visibilidade midiática cria-se um paradoxal “efeito copycat”: o efeito de imitação como feedback, matéria prima psíquica da cismogênese da guerra híbrida.

quinta-feira, junho 09, 2022

A pandemia da incomunicabilidade e do esquecimento em 'Sentidos do Amor'

 


“Sentidos do Amor” (Perfect Sense, 2011) é um ponto fora da curva dentro do batido tema do” fim-do-mundo-como-o-conhecemos”. Uma pandemia rapidamente toma conta do planeta. Mas não vemos serem humanos decrépitos, exércitos contendo massas humanas desesperadas ou pessoas lutando ou matando para sobreviver. Apenas a luta das pessoas tentando levar a vida em frente, enquanto um a um dos sentidos vão sendo anulados por algo que nenhum cientista sabe a origem: primeiro o olfato. Depois o paladar, e assim por diante. “Sentidos do Amor” é uma reflexão literário-filosófica sobre como o desaparecimento progressivo dos nossos sentidos faz “um oceano de imagens do passado desaparecer”, remetendo às reflexões de Marcel Proust sobre a memória involuntária e identidade. E uma poderosa metáfora da incomunicabilidade, a verdadeira pandemia tecnológica dos nossos tempos.  

Filme "Círculo": da Bíblia aos jogos mortais midiáticos Deus quer ver o pior de nós


No cânone religioso judaico-cristão a Criação é divina e perfeita. Mas o homem estragou tudo com a sua natureza pecadora. Expulso do Paraíso terrestre, o Criador passou a testar o homem em provas arbitrárias para testar a sua fé para ver se, finalmente, a humanidade conseguia expiar a natureza pecadora. A Bíblia fez esses relatos. Hoje, temos no seu lugar filmes e gêneros audiovisuais (reality shows, vídeos de “pegadinhas” etc.) cujo entretenimento é assistir incautos prisioneiros em jogos mortais que arrancam o pior de nós mesmos. O filme “Círculo” (Circle, 2015 – disponível no Netflix) é mais um filme de uma longa lista desse subgênero, dessa vez cruzando abdução alien com um jogo mortal: 50 estranhos despertam em um quarto escuro, dispostos em círculo. Qual o objetivo do experimento? Existe alguma saída? Eles devem tentar cooperar ou competir com os homens e mulheres ao seu redor? Ou é apenas um entretenimento alienígena voyeur e sádico, divertindo-se com o pior da nossa natureza?

sábado, junho 04, 2022

Live Cinegnose 360: Tchaikovsky na cultura do cancelamento, fantasias apocalípticas da Big Tech e crítica midiática


Passado, presente e futuro na Live Cinegnose 360 #58 deste domingo (05/06), às 18h, no YouTube. Com uma novidade! A sessão “Conversas Aletórias”: no final, um bate papo do humilde blogueiro no chat respondendo a perguntas dos cinegnósticos. Nos vinis teremos música clássica: Tchaikovsky, em dois tempos - do Romantismo na música à cultura do cancelamento atual. Depois, vamos discutir dois filmes: o documentário “I Think We’re Alone Now” (a origem da matéria-prima psíquica da guerra híbrida) e “IO – O Último na Terra” (o filme mais anti-Elon Musk do Netflix). E falando em Elon Musk...como os bilionários estão se preparando para o Apocalipse: uma resenha do Livro “Survival of the Richest – Escape Fantasies of the Tech Billionaires” de Douglas Rushkoff. A crítica midiática da semana e a nova sessão “Conversas Aleatórias” com os cinegnósticos. Venha participar da Live Cinegnose 360: a melhor chance de fugir do tédio do final de domingo...

sexta-feira, junho 03, 2022

Bilionários do Vale do Silício se preparam para o apocalipse do Grande Reset do Capitalismo


Era uma vez uma época em que empreendedores tecnológicos Musk, Bezos, Thiel, Zuckerberg tinham planos de negócios otimistas sobre como a tecnologia poderia beneficiar a humanidade. Agora, eles reduziram as expectativas ao verem todo o progresso tecnológico como uma espécie de macabro videogame em que somente aquele que encontrar a escotilha de escape será o vencedor. Será Musk ou Bezo migrando para o espaço? Thiel escondendo-se num complexo na Nova Zelândia? Ou Zuckerberg imortal no Metaverso? Nesse momento, Big Tech e Big Money estão se preparando para “O Evento”: algum tipo de catástrofe que se aproxima (climática, nuclear, hackers, desmoronamento da sociedade por conflitos etc.). O livro “Survival of the Richest - Escape Fantasies of the Tech Billionaires”, de Douglas Rushkoff detalha o que ele chama “The Mindset”: a mentalidade que vê a humanidade não como um recurso, mas um bug no sistema, no qual somente uma elite sobreviverá de um colapso que que eles próprios criaram. E como os fundos de hedge mundiais investem em filmes sobre zumbis e sci-fis que normalizam essa agenda. 

quinta-feira, junho 02, 2022

O filme anti-Elon Musk 'Io - O Último na Terra'


O que há em comum entre Musk, Bezos, Thiel e Zuckerberg? Além da fortuna e dos fundos de investimentos turbinando seus projetos, está o niilismo apocalíptico e a urgência de fugir desse planeta, seja para colônias em Marte ou para Multiversos. Nove em cada dez produções sci-fi atuais está alinhada com a agenda desses super-ricos. E a exceção confirma a regra. Uma das poucas exceções é o filme “Io – O Último na Terra” (Io - Last on Earth, 2019), o filme mais anti-Musk dos últimos tempos. Uma cientista vive solitária na Terra pós-apocalíptica, dominada por uma nuvem tóxica que matou grande parte da humanidade – os sobreviventes migraram para uma estação espacial na lua de Júpiter Io. Seu namorado em Io (ironicamente chamado Elon) tenta convencê-la a embarcar na última nave que partirá da Terra. Porém, entre colmeias de abelhas e obras de arte que pega dos escombros de um museu de Arte Moderna, tenta provar que a vida no planeta é mais resiliente do que imaginamos. E somos os guardiões do renascimento.

quarta-feira, junho 01, 2022

A produção social da loucura híbrida no documentário 'I Think We're Alone Now'


Não é por menos que a guerra híbrida tornou-se a tática de intervenção política mais bem-sucedida do século XXI, impulsionando “revoluções coloridas” por todo o planeta. A cultura pop, centrada no culto das celebridades, gerou a matéria-prima psíquica necessária para a criação das cismogêneses que evenenam as sociedades. O documentário “I Think We’re Alone Now” (2008) retrata dois fãs da cantora pop adolescente dos anos 1980, Tiffany, que passaram a acreditar que estavam envolvidos em um relacionamento intenso e pessoal com a celebridade. Fãs limítrofes prisioneiros na cilada imaginária do “duplo vínculo” (Gregory Bateson), condição esquizo criada por relações familiares danificadas e ampliada pela relação paradoxal dos espectadores com as mídias que diluem as fronteiras entre relação exclusiva/anonimato, intimidade/massificação, público/privado. Oferecendo a vulnerabilidade necessária para sociedades-alvo serem corroídas por dentro.

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