domingo, janeiro 30, 2011

A Gnose após a Morte no filme "O Terceiro Olho"

O Filme “O Terceiro Olho” (The I Inside, 2004) talvez seja um dos primeiros filmes a representar a experiência pós-morte de uma forma gnóstica. Ao abandonar as representações demoníacas e grotescas do sobrenatural, a dimensão pós-morte é apresentada não somente como uma oportunidade da gnose, mas, também, como a continuidade da ilusão da realidade terrena: o esquecimento da dimensão espiritual, aqui simbolizada pela perda da memória do protagonista. (alerta: esse post tem spoilers)

Perda da memória, paranoia, incerteza dos limites entre a realidade e a fantasia/ilusão/delírio e a procura do protagonista de alguma coisa perdida dentro dele mesmo (identidade, memória, certeza, verdade, iluminação etc.). Essas são algumas características do filme gnóstico. É claro que poderíamos encontrar tais características em muitos filmes de diversos gêneros como Thriller, terror, drama e assim por diante.

Mas uma diferença fundamental é encontrada, o que torna o filme gnóstico uma abordagem distinta dos demais filmes: a diferença entre daimon e demon.

quarta-feira, janeiro 26, 2011

Jaron Lanier e a Religião das Máquinas do Vale do Silício

Para o cientista de computadores Jaron Lanier, criador do conceito de "Realidade Virtual", uma nova religião criada a partir da cultura da engenharia computacional seria a idéia corrente no Vale do Silício, Califórnia, e princípio orientador para a criação da Inteligência Artificial e Internet. Para Lanier seria a criação de um dogma digital: o "computacionismo" ou o "totalitarismo cibernético".

Sempre nos telejornais aparecem notícias pitorescas sobre os últimos desenvolvimentos em Inteligência Artificial (IA): máquinas que sorriem, um programa que pode prever os gostos humanos musicais, robôs que ensinam línguas estrangeiras para crianças etc. Este fluxo constante de histórias nos sugere que as máquinas estão se tornando cada vez mais inteligentes e autônomas? Devemos considerá-las criaturas ao invés de ferramentas?

Não na opinião do cientista de computadores Jaron Lanier. Para ele, isso está não só alterando a maneira como pensamos os computadores. Também está alterando de forma errada os pressupostos de como pensamos nossas vidas: a criação de um dogma digital com o seu credo – o “computacionismo” ou “totalitarismo cibernético” – uma religião das máquinas que, ao encarar os computadores como criaturas, inversamente passamos a interpretar a mente e a consciência como fossem um computador. E o centro dessa nova religião com os seus messias está no Vale do Silício, Califórnia.


segunda-feira, janeiro 24, 2011

Cristo Salva? Não, Cristo Funciona! A Fé Pragmática no filme "O Paraíso é Logo Ali"

Quem assiste ao filme “O Paraíso é Logo Ali” (Henry Poole is Here, 2008) pensa estar diante de um filme com tema espiritual ou religioso. Nem uma coisa nem outra. Embora estejam presentes elementos como a imagem de Cristo, fé, milagres e um padre, o filme é uma abordagem tragicômica sobre o tema da esperança. Dessa forma, esse filme é um flagrante exemplo de como roteiristas de Hollywood trabalham com elementos religiosos e espirituais: os convertem em cenários ou signos que evocam a vida espiritual, quando na verdade o filme trata da vida interior – a fé convertida em pensamento positivo. É a influência da filosofia do Pragmatismo americano ao converter o espiritual e o religioso ao “inspirador” e “motivacional”. A fé em Cristo não salva. Ela apenas funciona.

Henry Poole (Luke Wilson) é o protagonista do filme. Ele é um homem desiludido que tenta se isolar em uma casa no subúrbio degradado na periferia de Los Angeles. Desenganado por um médico, Poole acredita que morrerá em breve. Tudo o que ele quer é se isolar, acumulando várias garrafas de vodka e muitos sacos de salgadinhos, melancolicamente à espera da morte. Mas, para o seu incômodo, os vizinhos se recusam a deixá-lo sozinho.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Do Projeto Biosfera 2 ao reality show "Big Brother": a Ecologia Maléfica

O que há em comum entre o fracasso científico do Projeto Biosfera 2 em 1991 e o atual sucesso do gênero reality show? A ecologia maléfica. Das baratas e ervas daninhas que destruíram o Biosfera 2   à crueldade, preconceito e violência dos reality shows, ambos mantêm um vínculo secreto: a prospecção da mente e da consciência.

Em 26 de setembro de 1991 quatro homens e quatro mulheres entraram numa gigantesca estrutura geodésica de vidro e metal com 12.000 metros quadrados, em Tucson, Arizona, em pleno deserto, para ali ficarem trancafiados por dois anos. Era o projeto Biosfera 2, abrigando 3.800 espécies animais e vegetais e simulações dos cinco principais biomas do planeta Terra , com o propósito de entender como a biosfera planetária funciona e como o ser humano interage com os ecossistemas. Foram monitorados por dois mil sensores eletrônicos e assistidos por 600 mil pagantes em todo o mundo.

Alguns meses depois, em 15 de fevereiro de 1992 sete jovens entre 18 e 25 anos entraram no prédio 565 da Broadway Street, em Nova York, para ali permanecerem por três meses com diversas câmeras acompanhando suas vidas e seus relacionamentos. Era o início daquele que é considerado o primeiro Reality Show da TV mundial, o “The Real World” (Na Real) da MTV norte-americana.

quarta-feira, janeiro 19, 2011

A "Barriga" Jornalística do Cão Caramelo: uma lição sobre a racionalização do Mal na mídia

Mais do que sintoma da espetacularização da notícia, a “barriga” jornalística do cão Caramelo é uma lição de como a mídia busca eliminar o Mal do horizonte da experiência humana. Por trás da urgente busca pela comoção do público está a racionalização e moralização para eliminar dos fatos a sua crueza, estupidez e tragédia.

Podemos aprender muito sobre o funcionamento da indústria do entretenimento em momentos trágicos como os que atravessamos com as enchentes e deslizamentos de terra em Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo no Estado do Rio de Janeiro.

A chamada “barriga” (gíria jornalística para designar uma grave bobeada de um jornalista que pensa estar publicando um “furo” quando não passa de engano ou má fé do próprio repórter) publicada por diversos veículos de imprensa ao comover a todos com a suposta história do cão Caramelo que guardava o túmulo da dona morta pelos deslizamentos de terra que atingiram as regiões serranas do Rio é um desses casos que denunciam a verdadeira natureza da indústria do entretenimento: ela não apenas produz “infotenimento” (informação + entretenimento) ou espetacularização da notícia, mas também em um nível ontológico, ela tem que produzir scripts para racionalizar a presença do Mal em nossas vidas.

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Incomunicabilidade em banda larga no filme “A Rede Social”

"A Rede Social" é mais do que um filme sobre a história do Facebook: é sobre as consequência da virtualização das relações humanas. O filme explora o paradoxo de como a incomunicabilidade pode definir uma geração que, como nenhuma outra, teve em suas mãos tantas mídias e ferramentas de comunicação.

O diretor David Fincher já havia nos brindado com o filme “O Clube da Luta” nos anos 90 centrado na personalidade dividida de um executivo yuppie, incapaz de se comunicar com o mundo exterior e diluindo sua ansiedade por meio do consumismo e da violência ao arrebentar a cara dos outros no Clube da Luta, irmandade marcial underground do qual aos poucos vai perdendo o controle até se transformar numa gigantesca rede terrorista.

“A Rede Social” (“The Social Network”, 2010) desenvolve um tema muito semelhante. 



Um jovem nerd de Havard (Mark Zuckenberg, interpretado por Jesse Eisenberg), gênio em algoritmos e linguagem de programação, com uma grande dificuldade em se comunicar e estabelecer uma rede de relacionamentos, desconta sua ansiedade difamando pessoas em um blog enquanto tem uma ideia divertida, pelo seu ponto de vista: um jogo com as fotos de todas as moças da universidade para que as pessoas possam escolher qual a mais bonita.

Dessa ideia vai surgir o Facebook que, de rede de relacionamentos de alguns campi universitários nos EUA, cresce até atingir outros continentes. Pela sua incomunicabilidade em relações humanas, perde a noção das tramas de interesses e dos inimigos que vai acumulando ao longo do caminho na medida em que o projeto cresce empresarialmente.

“A Rede Social” é muito mais do que um filme sobre a história do site Facebook e relacionamentos humanos. É sobre a virtualização dos relacionamentos humanos e do perfil da geração desse início de século por trás da idealização de sites de relacionamentos como o Facebook.

terça-feira, janeiro 11, 2011

O Delírio Digital de Nicolelis: o Brasil alinhado à agenda tecnognóstica internacional

A entrevista ao jornal "O Estado de São Paulo" concedida pelo internacionalmente prestigiado neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis é um flagrante exemplo das principais características da retórica do "delírio digital" que justifica a agenda tecnognóstica atual: o mix de messianismo, exterminismo e transcendentalismo para racionalizar os esforços das neurociências e ciências cognitivas em virtualizar a consciência.

Definitivamente, a pesquisa científica brasileira se alinha à agenda tecnognóstica desse início de século. Miguel Nicolelis, um dos pesquisadores brasileiros de maior prestígio mundial, na última quarta-feira foi nomeado membro da Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano, na qual já foi membro Galileu Galilei e tendo como um dos seus atuais membros o físico inglês Stephen Hawking.

quinta-feira, janeiro 06, 2011

As origens do "Paradigma Disney": arquétipos na comunicação globalizada


O “Paradigma Disney” é um exemplo dessa forma globalizada de explorar os arquétipos, ao mesmo tempo repetitiva e transformadora, ao confinar os símbolos do insconsciente coletivo na ideologia do mundo globalizado e seus valores corporativos: individualismo, empreendedorismo, mobilidade social, inovação e relativismo ético e moral.


Em uma postagem do ano passado falávamos sobre a habilidade das animações norte-americanas, voltadas para o público infantil, de tornar divertidos temas trágicos, pesados e adultos (para ver clique aqui). Para ficarmos nos exemplos das produções dos Estudios Disney, desde Bambi (onde o protagonista perde a mãe de forma cruel) até Wall-E (ficção científica cínica e dark) as animações dos estúdios norte-americanos exercitam essa capacidade de fazer crianças rirem do cruel e do trágico.

segunda-feira, janeiro 03, 2011

"Tron: O Legado": simbologias alquímicas e gnósticas esvaziadas pelos Estúdios Disney

"Tron: O Legado" (Tron: Legacy, 2010) é mais um exemplo do conservadorismo dos Estúdios Disney. Se em "Tron" de 1982, uma das primeiras representações cinematográficas do mundo digital, tinhamos uma abordagem heróica e contestadora de uma ciberutopia que desafiava as grandes corporações computacionais, nessa continuação temos um enfraquecimento desse ímpeto. Todos os elementos místicos e gnósticos que motivavam essa ciberutopia esboçados há 28 anos com "Tron", são até ressaltados e mais desenvolvidos nessa continuação atual. Porém, são representados de forma esvaziada e submetidos à ideologia que o primeiro "Tron" tanto combatia.

Ao assistirmos a essa continuação do clássico filme de ficção científica "Tron: Uma Odisséia Eletrônica" (1982) temos a sensação de uma atmosfera de final de festa. Comparado com o primeiro Tron de 28 anos atrás (expressão de uma cibercultura emergente em tons épicos e heroicos), “Tron, O Legado” parece ser um réquiem para toda uma ciberutopia. Se na década de 80 o protagonista Flynn lutava pela liberdade do servidor da empresa ENCOM contra a tirania do PCM (Master Control Program – que expressava a luta pela liberdade dos primeiros PCs feitos em garagens contra os gigantescos main frames corporativos), aqui nessa continuação Flynn se confronta contra seu próprio avatar, numa jornada sem mais tons épicos, mas, agora, numa narrativa solipsista e introspectiva.

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