sábado, novembro 22, 2014
Da caridade ao cinismo do marketing social em "Quanto Vale ou é por Quilo?"
sábado, novembro 22, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Desde a ideia do amor ao próximo transmitida por Jesus, a
tragédia transformou-se em farsa: a caridade transformou-se em filantropia
para, nos tempos cínicos atuais, finalmente se converter em marketing social.
Esse é o tema do filme de Sérgio Bianchi “Quanto Vale ou é por Quilo?” (2005).
Inspirando-se num conto de Machado de Assis e em processos judiciais do século
XVIII disponíveis no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, Bianchi faz de uma
narrativa que mistura sarcasmo e drama um flagrante de como a “escravidão
moderna” perpetua as formas coloniais de dominação através do chamado Terceiro
Setor com suas ONGs. Partindo do mito da exclusão e marginalidade, o marketing
social esquece de que a miséria já está há muito tempo integrada: como oportunidade
de lucro, lavagem de dinheiro e formas irregulares de captação de dinheiro público.
Misericórdia,
compaixão, amor ao próximo e o perdão foram os valores civilizatórios trazidos
pela ética e moralidade cristã. As epístolas do Novo Testamento descrevem como
Jesus queria que o ódio e a indiferença fossem substituídos pelos “amar o
próximo como a si mesmo”, forma de Deus permanecer em nós.
Depois disso, a caridade
passou a ser considerada obra piedosa onde o autor abdicaria de toda a sua
vaidade. O anonimato é o valor máximo por ser o ato da caridade uma descoberta
íntima de Deus. As hospedarias para peregrinos de Santo Agostinho e o hospital
para vítimas da fome e epidemia em Constantinopla de São João Crisóstomo na
Idade Média foram exemplos do ascetismo como impulso voltado para o interior de
si mesmo.
Tudo muda em meados do
século XVIII quando a caridade se transforma em filantropia, entendida como a
caridade cristã laicizada: “fazer o bem” deixa de ser uma virtude cristã para
ser uma virtude social.
quinta-feira, novembro 20, 2014
A fotografia pode roubar nossa alma no filme "Skew"
quinta-feira, novembro 20, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Aclamado em diversos festivais de filme de terror, o filme independente “Skew” (2011) parte de uma curiosa teoria da fotografia formulada pelo escritor francês Balzac no século XIX: toda fotografia é um “crime espectral” – cada exposição à câmera nos rouba uma das camadas espectrais que compõem o nosso ser. A cada fotografia morremos um pouco. Com essa premissa, o diretor Sevé Schelenz constrói uma narrativa com câmera na mão que no início parece se filiar a estilo de filmes como “Bruxa de Blair” ou “Rec”. Apenas parece. Ao se inspirar no temor de Balzac, Schelenz não só leva a premissa às últimas consequências como também a atualiza: na verdade, as imagens estariam roubando não as nossas camadas espectrais, mas as camadas de memórias que compõem quem nós somos. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
segunda-feira, novembro 17, 2014
A escassez de água é uma bomba semiótica?
segunda-feira, novembro 17, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Enquanto a Grande São Paulo vive a contagem regressiva para o
fim do volume morto na crise de abastecimento de água do sistema Cantareira, sincronicamente
estreia nos cinemas “Interestelar” cujo plot se inicia com o planeta Terra
devastado por tempestades de areia e escassez de recursos naturais. Hollywood e
os telejornais da grande mídia se tornaram uma verdadeira caixa de ressonância:
enquanto o jornalismo diariamente apresenta sua natural presunção pela
catástrofe ao querer “globalizar” a crise de água da Grande São Paulo como
exemplo de uma suposta crise climática mundial, nos últimos 20 anos Hollywood
aumenta o número de produções cujo tema da escassez e luta pelo controle da
água é a chave central do roteiro. Depois de catorze anos da chamada “Guerra da
Água” na Bolívia, São Paulo seria o “Beta Test” de uma agenda mundial de
mercantilização da água? Esse sincronismo faria parte de uma engenharia de
opinião pública cujo mito da escassez de água seria a principal bomba
semiótica?
Em meio à
verdadeira contagem regressiva diária para o fim do chamado volume morto do
sistema Cantareira de abastecimento de água da Grande São Paulo, o apresentador
do SPTV da Globo, César Tralli, fala em tom dramático: “temos que economizar
água, gente. Está acabando a água em todo o planeta!”.
Sincronicamente,
estreia nos cinemas o filme Interestelar
de Christopher Nolan, cuja narrativa se situa em um futuro próximo onde as
fontes naturais do planeta Terra se tornam escassas e os ecossistemas são
varridos por tempestades de areia, ameaçando a sobrevivência da espécie humana.
quinta-feira, novembro 13, 2014
Lenin inventou o Marketing?
quinta-feira, novembro 13, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Lenin com o Comunismo prometeu felicidade. Isso é o
Marketing!”. Essa linha de diálogo do filme “Branded” (2012), sobre um
protagonista que se transforma em expert em Marketing na Rússia pós-comunismo, seria mais do que uma piada irônica? O líder da Revolução Bolchevique que
abalou o mundo em 1917 teria sido o precursor da invasão da sociedade pelas
marcas? Enquanto o capitalismo vivia a era da Publicidade como “a arte de
vender a qualquer preço”, Lenin estaria na vanguarda da política como a “venda”
da marca – o Marketing não trata mais de vender produtos ou serviços, mas da
valorização do imaterial, do intangível. Da marca da foice e do martelo ao “M”
do McDonald’s o Capitalismo levou algum tempo para entender isso. Se isso for
verdade, teria existido uma linha de continuidade entre União Soviética e
Sociedade de Consumo? A Guerra Fria teria sido na verdade um “Teaser” para
aquecer o mercado de marcas?
Na coprodução
Rússia/EUA chamada Branded (2012), filme
sobre a trajetória do jovem russo Misha que se transforma em expert em
Marketing e espião corporativo na Rússia pós-comunismo, a certa altura o
protagonista formula uma polêmica tese: Lenin foi o inventor do marketing em
1918 ao criar uma forma absolutamente única de divulgar o Comunismo – ele teria
feito o produto prometer algo: terra para os camponeses, fábricas para os
trabalhadores e paz para os soldados.
“Lenin com o
Comunismo prometeu felicidade. E isso é o Marketing! Os melhores designers...
as marcas oficiais de cor... o vermelho, o logotipo com a estrela de cinco
pontas. A super-marca. A KGB veio depois, como uma espécie de polícia da
marca”, defende Misha ao contemplar os cartazes da estética realista socialista
nas cores dominantes preto, branco e vermelho – sobre o filme Branded clique
aqui.
terça-feira, novembro 11, 2014
"Quando Eu Era Vivo" mergulha na matriz edipiana do terror
terça-feira, novembro 11, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O gênero
terror é um ótimo objeto para as análises de psicanálise no cinema.
Principalmente porque a sua matriz é essencialmente edipiana: dramas envolvendo
culpa, incesto, a sedução da inocência, sexo culpado (sadomasoquista), a
percepção corpo fragmentada do corpo pelo infante pré-formação do ego (daí o porquê
do fascínio pelos corpos despedaçados, vísceras e sangue no cinema de terror)
etc.
E,
principalmente, o Mal e o Estranho como os nossos próprios impulsos aos quais
deveremos renunciar na resolução do Édipo e na entrada ao mundo da Cultura. Os
filmes de terror dramatizariam a nossa própria luta interna em ter que
renunciar a Natureza (prazer, impulso, gratificação imediata) em nome da
Cultura (renúncia e sublimação).
sábado, novembro 08, 2014
Física e Metafísica se encontram no filme "O Enigma do Horizonte"
sábado, novembro 08, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“O
Enigma do Horizonte” (Event Horizon, 1997) é uma ficção científica curiosa. Mal
recebida pela crítica, a produção de Paul Anderson, que segue a linha de terror
sci fi iniciada por “Alien” em 1979, junta alusões a clássicos como “Solaris”
de Tarkovsky e “2001” de Kubrick. Mas por trás de camadas de explosões e
clichês de terror espacial, há uma interessante combinação de física e
metafísica, Cosmologia e Teosofia: um portal dimensional que curva o
tempo-espaço não nos levará para novos mundos ou dimensões. Apenas revelará os
nossos infernos íntimos, capazes de criar mundos etéricos que podem nos
aprisionar. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
No livro Uma Breve História do Tempo, o físico
Stephen Hawking define o “horizonte de eventos” como a região fronteiriça de um
buraco negro, a fronteira da região do espaço-tempo a partir da qual não é
possível escapar. E Hawking comenta: “Pode-se dizer sobre o horizonte de
eventos a mesma coisa que o poeta Dante disse da entrada no Inferno: Vós que
entrais aqui, abandone todas as esperanças”.
Esta frase
foi o ponto de partida do roteiro do filme O
Enigma do Horizonte do diretor Paul Anderson (Resident Evil, Alien versus
Predador). Numa audaciosa combinação do filme Solaris (1972) de Andrei Tarkovsky com o terror de Clive Barker de Hellraiser (1987) e com muitas alusões
visuais ao clássico 2001: Uma Odisséia no
Espaço de Kubrick. Paul Anderson tentou se enveredar por um subgênero da
ficção científica iniciado por Alien de Ridley Scott em 1979: o terror sci fi,
típico subgênero pós-moderno que abandona o otimismo futurista da ficção
científica para sugerir um destino sombrio do progresso tecnológico – lá no futuro o homem
encontrará monstros, predadores e o horror.
quarta-feira, novembro 05, 2014
O ovo da serpente do PT e a concepção fascista de vida
quarta-feira, novembro 05, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A
política econômica neodesenvolvimentista do PT resgatou o povo não das misérias
do capitalismo moderno, mas das misérias herdadas do passado
colonial-escravista da Casa Grande e Senzala. Por isso, a sociedade do consumo,
a precarização do trabalho e a ideologia meritocrática chocaram o ovo da
serpente cujos filhotes surgem agora, polarizando o cenário político. Esses
filhotes vão reeditar a mesma psicogênese da chamada “personalidade
autoritária” encontrada em pesquisas empíricas feitas pela Universidade de
Bekerley, Califórnia, coordenadas pelo pesquisador alemão Theodor Adorno há 64
anos. Naquela oportunidade a pesquisa descobriu uma conexão entre o
conservadorismo político e o “caráter neurótico” marcado por nove traços de
personalidade como “convencionalismo”, “submissão acrítica”, “destruição” e
“cinismo”. Em um contexto diferente, o Brasil estaria repetindo o mesmo cenário
psicossocial daquela época, a concepção fascista de vida?
O que há em
comum nessas três cenas abaixo?
(a) Um jovem
profissional, imerso e confinado numa dessas baias dos modernos ambiente corporativos,
alterna páginas do Facebook, pesquisas profissionais e consulta ao calendário
buscando as datas dos próximos feriados e os dias que poderão ser “enforcados”.
Um pequeno devaneio em meio à estressante ordem meritocrática em busca de
desempenho, resultados e promoções;
(b) Manifestação
pelo impeachment da presidenta Dilma na avenida Paulista em São Paulo na semana
passada. “Não queremos o vermelho na nossa bandeira!”, bradam enfurecidos
manifestantes trajando amarelo, muitos deles com a bandeira brasileira sobre os
ombros. Pouco depois na mesma manifestação, agora gritam “São Paulo é o meu
país!”… porem, há a cor vermelha na bandeira desse Estado…;
domingo, novembro 02, 2014
Em Observação: "Interstellar" (2014) - uma astrofísica gnóstica?
domingo, novembro 02, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Com
lançamento previsto para o dia 6 de novembro, em “Interstellar” o diretor
Christopher Nolan retorna às complexidades narrativas que o tornaram famoso em
filmes como “Amnésia” e “A Origem”. Viagem espacial se mistura com viagem no
tempo e astrofísica com relatividade geral: astronautas viajam através de um “buraco
de minhoca” (wormhole) para chegarem a um universo alternativo em busca de novos
planetas habitáveis, conseguindo fugir da catástrofe climática terrestre. A
construção da realidade como camadas de eventos que se influenciam mutuamente,
apesar de ocorrerem em tempo-espaços diferentes, se conecta a princípios
gnósticos da astronomia e alquimia da antiguidade – o Princípio da
Correspondência.
sexta-feira, outubro 31, 2014
Em "Amantes Eternos" a melancolia dos vampiros denuncia a decadência dos vivos
sexta-feira, outubro 31, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Conhecido pelos seus protagonistas que vivem sempre à margem da
sociedade, arrebatados pelo vazio existencial e, por isso, capazes de um olhar mais
crítico e verdadeiro, o diretor Jim Jarmusch (“Estranhos no Paraíso”, “Down By
Law”, “Dead Man”, “Flores Partidas”) agora acrescenta os vampiros a sua
galeria de anti-heróis. Em “Amantes Eternos” (Only Lovers Left Alive, 2013) Jarmusch questiona
como seria viver eternamente em um mundo de seres mortais. Como seres que atravessaram séculos por todas as cenas culturais, científicas e artísticas
poderiam viver num mundo que parece ter esquecido de tudo que de mais
importante a História ofereceu (como, por exemplo, o trágico destino das ideias do
cientista Nikola Tesla), e vê no You Tube a sua única fonte de cultura e
entretenimento. Ironicamente, para os
vampiros os mortais não passariam de “zumbis” – seres condenados
pela morte a recomeçarem sempre do zero do esquecimento.
Parecia que
o cinema já tinha mostrado tudo sobre os vampiros: seres da noite, mortos
vivos, encarnação do próprio Mal, seres dotados de perigoso poder de sedução,
amores platônicos entre vampiros e mortais, amaldiçoados com a imortalidade,
doentes contagiosos etc. Mas faltava um diretor como Jim Jarmusch para trazer
esse personagem para a sua galeria de anti-heróis underground, aqueles que
vivem à margem da sociedade e que, por isso, são capazes de um olhar crítico
para uma sociedade de resignados.
terça-feira, outubro 28, 2014
O humano, demasiado humano no filme "Relatos Selvagens"
terça-feira, outubro 28, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O homem atual seria um Sísifo moderno? Assim como o personagem da mitologia grega, condenado a carregar eternamente uma enorme pedra ao topo da montanha, o homem estaria condenado a não encontrar Deus, sentido ou propósito na existência, a não ser encontrar a si próprio – o humano, demasiado humano. Esse é a desconcertante co-produção Argentina/Espanha “Relatos Selvagens”, seis curtos relatos de pessoas comuns diante de circunstância incomuns: situações extremas com muito humor negro (e bota negro nisso) onde acabam sendo despertados em cada um os instintos mais básicos de vingança e violência. Em falso tom de comédia, o diretor Damián Szifrón parece querer brincar com o espectador: afinal, estamos rindo do quê?
domingo, outubro 26, 2014
A grande mídia ameaça: meu ódio será a sua herança
domingo, outubro 26, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Tal qual uma serpente, um muro cinza escuro serpenteia o
Brasil dividindo o País do Acre ao litoral. É com essa sinistra animação que o
infográfico do site da “Folha de São Paulo” chamado “Folhacóptero” explica o
cenário eleitoral brasileiro, em um previsível silogismo cuja conclusão é a de
que somente os pobres e ignorantes mantêm a candidata Dilma Rousseff na frente
das pesquisas eleitorais. Divisão e Muro são as metáforas que a grande mídia
sistematicamente vem utilizando para explicar o cenário político. Enquanto
publicações estrangeiras como a “The Economist” usam infográficos mais neutros
e elegantes para explicar as desigualdades históricas do Brasil, nossa grande
mídia usa a imagem do muro, simbolicamente carregada de ódio e separatismo. A
grande mídia sabe que vive o fim do seu poder político-financeiro e parece
querer deixar para a História o ódio como a sua única herança.
Quem não se
lembra do filme clássico do mestre da violência, Sam Peckimpah, Meu Ódio Será Sua Herança (The Wild Bunch, 1969)? Considerado o
sexto melhor western de todos os tempos pela American Film Institute (AFI). O
filme é um hino ao crepúsculo da era do Velho Oeste e da figura mítica do
cowboy, com um general mexicano aparecendo em um carro vermelho no lugar do
cavalo e metralhadoras e pistolas automáticas substituindo o tradicional
revólver de seis tiros.
O mau
presságio para os protagonistas do filme começa com a célebre cena quando
entram em uma cidade e avistam um grupo de crianças que empurram dois
escorpiões para um formigueiro para se divertirem com a imagem da violência no
meio natural.
sábado, outubro 25, 2014
A "bala de prata" é sintoma do "tautismo" da revista Veja
sábado, outubro 25, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Motivo de piadas e memes nas redes sociais, o verdadeiro remake do layout
da capa de 2012 sobre a novela Avenida Brasil em mais uma “bala de prata” da
revista “Veja” (matéria de capa sobre suposta denúncia de que Dilma e Lula
sabiam de todos os esquemas na Petrobrás) é muito mais do que falta de
criatividade ou preguiça de uma revista que definha financeiramente. É um
sintoma do “tautismo” (tautologia + tautismo), fenômeno de fechamento da mídia
em si mesma, a tal ponto que desaparecem as diferenças entre ficção e não-ficção,
telenovela e notícia. A própria resposta dada pela “Veja” às críticas comfirma
aquilo que pretende negar: através de um raciocínio tautológico diz que os acontecimentos
são verdadeiros porque “teimosamente” têm relevância eleitoral... e por isso sempre
acontecem na reta final das eleições!
O programa Redação Sport TV recebeu na semana
passada o ex-presidente do Fluminense Francisco Horta. Famoso nos anos 1970 por
ter montado a chamada “máquina tricolor” na base do “troca-troca” (intercâmbio
ao invés de compra de jogadores), ele era entrevistado por André Rizek e Xico
Sá. Para demonstrar a relevância do entrevistado, foram mostrados para os
espectadores fac-símiles de edições do Jornal O Globo da época, com manchetes sobre o ex-dirigente.
Rizek, então,
passou a fazer uma rápida contabilização do número de manchetes que o
Fluminense gerava no jornal entre 1975-77. Para o jornalista, o sucesso da
estratégia de Horta passou a ser discutido não pela sua contribuição para o
futebol brasileiro, mas pela capacidade de Horta tinha em produzir manchetes
para O Globo. Auto-referência: o
jornal toma a si mesmo como medida para avaliação da realidade. O jornalista
passou a confundir relevância midiática com relevância histórica.
sexta-feira, outubro 24, 2014
Em Observação: "Amantes Eternos" (2013) - por que os vampiros são melancólicos?
sexta-feira, outubro 24, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Profundos
conhecedores de arte, literatura, música e cinema. Aristocráticos, vintages, sensíveis,
e... melancólicos. Esses são os vampiros do diretor Jim Jarmusch em “Amantes
Eternos” (Only Lovers Left Alive, 2013). Por que seres imortais e tão poderosos
podem ser tão tristes e melancólicos? Esqueça os clichês de maldições,
insaciabilidade por sangue e amores platônicos tão comuns nos vampiros para
adolescentes da franquia “Crepúsculo”. Jarmusch recoloca o mito do vampiro na
sua tradição romântica e literária. Mas tem algo mais: o toque gnóstico ao ver
o vampiro como um ser privilegiado – ele jamais esquece, ao contrário dos
mortais presos no ciclo vicioso morte-reencarnação-esquecimento.
quinta-feira, outubro 16, 2014
A simplicidade descolada, coxinhas 2.0 e o novo neoconservadorismo
quinta-feira, outubro 16, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Diga
adeus a nomes de pratos requintados e ornamentais da culinária francesa, se
despeça de bikes de alta performance, abandone esportes de elite. Agora prefira
osso buco e rabada, bicicletas caloi 10 dos anos 1970 reformadas e peladas
regadas a cervejas artesanais. O coxinha evoluiu para a sua versão
“sustentável”: a simplicidade descolada. Eles são os novos tradicionalistas,
uma simplicidade estudada e “descolada”, isto é, de grande valor agregado no
mercado cultural. Sua psicografia é hoje explorada pelo marketing tanto
político como de consumo – ele aspira à simplicidade, pureza e renovação, muito
mais por atitudes do que por ações. Por isso, é campo fértil para crescer o
neoconservadorismo: a aversão à Política como algo complicado e, por isso,
suspeito e corrupto.
Assim como
os Pokemons evoluem para se adaptar melhor às batalhas nos game cards, da mesma forma o chamado “coxinha” parece ter evoluído
para fazer frente às críticas e rejeições que sempre marcaram a sua cena social:
evoluiu para a “simplicidade descolada”, um novo tipo humano aparentemente mais
“consciente”, antenado e sintonizado aos novos tempos mais politicamente
corretos e sustentáveis.
Essa sua
nova roupagem, esse verdadeiro coxinha 2.0 é o protagonista de uma série de
programas da grande mídia e seguido por um séquito de fiéis jovens que se distribuem em inúmeras áreas onde exibem seus requintados gostos pela
“simplicidade”: gastronomia, bebidas, futebol, bicicletas, moda etc.
quarta-feira, outubro 15, 2014
Aranhas, morte e identidade no filme "O Homem Duplicado"
quarta-feira, outubro 15, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ver a si mesmo em uma réplica ou imagem sempre foi
considerado um evento misterioso e mágico. Em muitas culturas, ver o próprio
duplo pode ser um prenúncio da morte. Inspirado em livro do escritor português
José Saramago, o filme “O Homem Duplicado” (Enemy, 2013) do diretor canadense
Denis Villeneuve vai atualizar essa mitologia, trazendo-a para uma tradição de
filmes que tematizam o problema da identidade: o que você faria se visse em um
filme um ator que fosse uma réplica exata sua? Villeneuve vai explorar o
tema psicanalítico da busca da identidade através do espelho. Uma jornada
perigosa, pois nesse caminho podemos nos confrontar com os nossos desejos mais
íntimos, criando uma nova ordem: caos é a ordem que ainda não foi decifrada.
Em um
cultura atual de selfies e timelines das redes sociais repletas com
nossas fotografias fica difícil imaginarmos um tempo onde as pessoas podiam
ficar com medo das suas própria imagens.
Do espelho à
fotografia, a contemplação de uma réplica de si mesmo sempre foi considerado um
evento misterioso, como, por exemplo, todo o misticismo que cerca os espelhos
ou os primórdios da fotografia – as pessoas ficaram assustadas com a fidelidade
do resultado, só se tornando popular depois que descobriram que era possível
retocá-las. Ou seja, depois de que elas passaram para o campo da simulação.
domingo, outubro 12, 2014
Ebola é bomba biológica ou semiótica?
domingo, outubro 12, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Desde que os nazistas elaboraram as primeiras peças de
propaganda antitabagistas durante a Segunda Guerra Mundial, sabe-se que a
questão da saúde é uma poderosa arma semiótica. Ebola, vaca louca, gripe
aviária, gripe suína e outras ameaças sazonais de pandemias, mais do que
ameaças biológicas, tornaram-se bombas semióticas arquitetadas para criar
vitimização, culpa e segregação. O ebola é agora a pandemia da moda onde, no
Brasil, surge em um “timing” perfeito: o segundo turno das eleições
presidenciais. A grande mídia cinicamente anuncia que a informação é a única
forma para “tranquilizar a população”. Um pouco de teoria semiótica revela que
as manchetes da grande mídia são tudo, menos informativas: elas são “performativas”,
desenvolvem uma ação – ambiguidade, boatos, medo e segregação.
Nos anos
1990 e no auge da carreira como técnico do Palmeiras na chamada vitoriosa era
Parmalat, Vanderlei Luxemburgo sabia como ninguém manipular os jornalistas
esportivos e as mesas redondas de debates da TV. Após mais um jogo do
Palmeiras, Luxemburgo, no meio de uma coletiva para a imprensa, disparava do
nada: “quero aproveitar esse momento e dizer que eu jamais fui sondado pelo
Corinthians. É tudo mentira!”. Os jornalistas se entreolhavam: quem disse isso?
De onde partiu essa informação?
Pronto! Era
tudo o que Luxemburgo queria. O seu balão de ensaio corria como fogo em
rastilho de pólvora pelos debates nas TVs. E os desmentidos da diretoria do
Corinthians só alimentavam ainda mais os boatos.
Luxemburgo
nada mais fazia do que explorar a natureza performática da linguagem: os signos
não apenas existem para designar o mundo – eles são proferidos dentro de um
contexto, o que resulta numa ação performativa. Segue-se que toda comunicação
tem uma função constatativa (o
enunciado, a informação, o relato factual) e outra performativa - a enunciação onde implicitamente podem estar
comandos como ordens, pedidos, ofensas, promessas, apostas etc.
sábado, outubro 11, 2014
"Jogo de Cena" embaralha cartas da ficção e do real
sábado, outubro 11, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Câmeras
de vigilância, celulares através dos quais performamos constantes selfies,
telas de computador, de TVs e de cinema, imagens dos indivíduos captas pelas
câmeras de vitrines nos shoppings e exibidas para os próprios consumidores etc.
Estamos cercados de dispositivos visuais que acabaram criando uma espécie de
saber inconsciente audiovisual: criamos nossas próprias auto-mis-en-scènes.
Sabemos criar personas através do cinema e fotografia, de tal maneira que
ficção e História, ilusão e realismo acabaram se fundindo na modernidade. Esse é o tema latente no
documentário “Jogo de Cena”(2007) de Eduardo Coutinho: anônimos contam suas
histórias, enquanto atores tentam reencenar essas narrativas anônimas. Quem é
ator e quem é anônimo, quem é profissional e quem é amador diante da câmera?
Esse é o vertiginoso jogo proposto por Eduardo Coutinho.
Na banalidade do cotidiano
estão os rastros da verdade. Esta parece que foi a grande revolução estética
trazida pela modernidade, desde que Vitor Hugo escreveu que uma sociedade se
conhece através do seu esgoto, ou quando Marcel Proust descobre as memórias
involuntárias em cheiros, flagrâncias e sons do dia-a-dia na sua obra-prima Em Busca do Tempo Perdido.
Graças a essa revolução na
sensibilidade moderna, desviamos nossa atenção artística das grandes narrativas
dos gêneros tradicionais (tragédia, comédia, drama etc.) com seus temas
elevados sobre heróis, nobres ou pícaros, para a vida dos esquecidos nas
multidões. A fórmula foi invertida: o anônimo tornou-se o objeto artístico e o
seu registro através da fotografia e o cinema como as novas obras de arte.
Por isso, o documentário Jogo de Cena de Eduardo Coutinho se
inscreve nessa tradição modernista da linha de Dziga Vertov e seu filme O Homem da Câmera de 1929 ou Berlin –
Sinfonia de uma Metrópole (1927) de Walther Huttmann: trazer para a cena
artísticas as massas e os anônimos.
quarta-feira, outubro 08, 2014
Adendo ao post "Sociedade de Consumo e o ovo da serpente do PT": César Tralli, MasterChef e o metrô
quarta-feira, outubro 08, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Após a publicação da
postagem anterior “Sociedade de Consumo e o ovo da serpente do PT” uma curiosa
sequência de eventos sincrônicos em questão de horas foram vivenciados por
esse humilde blogueiro. Suspeitas de supostas mensagens subliminares do PT no metrô
de São Paulo, palestra do jornalista César Tralli em uma Universidade, leituras
de time lines do Facebook no metrô e as humilhantes “lições de vida”
meritocráticas do reality MasterChef da Band. O ovo está se quebrando e através
da fresta um olho ameaçador observa o futuro.
Cinco horas da tarde na
conexão CPTM/linha amarela do metrô na Estação Pinheiros em São Paulo. Seguindo
a multidão que se aperta preparo-me para descer mais uma escada rolante. Dou de
cara com um cartaz de viagens turísticas para Cuba. O nome do país em destaque com uma estrela logo abaixo com a
foto de uma paradisíaca praia dominado o anúncio.
Atrás de mim, dois jovens
trajados com roupas sociais e mochilas, indicando que estão saindo do trabalho.
Param de conversar entre si e olham para o grande cartaz. “Olha lá: Cuba... e
uma estrela vermelha embaixo... não lembra coisa do PT?”. Trocam rapidamente
sugestões de um possível propaganda subliminar do partido. E voltam a conversar
sobre empresas para trabalhar, falando daquelas “que te achincalham” e daquelas
“que te tratam bem”, nas palavras dos jovens.
terça-feira, outubro 07, 2014
Sociedade de Consumo e o ovo da serpente do PT
terça-feira, outubro 07, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Qual o significado de uma comédia brasileira chamada “O Candidato Honesto” (sobre um candidato à
presidência popular, corrupto e mentiroso) ser lançada nos cinemas em plena
reta final das eleições? Mais do que senso de oportunismo mercadológico, a
produção surfa na onda da aversão popular à Política e o fenômeno da
despolitização. A inclusão de grande parte dos brasileiros na sociedade de
consumo implementada pelo neodesenvolvimentismo dos governos do PT parece
mandar a conta: chocou o ovo da serpente que agora arma o bote. Sem educação
política, a sociedade de consumo brasileira produz os efeitos ideológicos do
próprio consumismo verificados desde o pós-guerra – ideologia meritocrática,
ilusão de mobilidade social por meio do consumo de gadgets e aparatos
tecnológicos, a competitividade e o
ressentimento. Combustíveis para o discurso midiático da corrupção que ironicamente só
cola no PT.
O cinema tem uma longa
tradição de representar os políticos (assim como os jornalistas) como
personagens corruptos, que abusam da autoridade e sempre metidos em narrativas
conspiratórias de negociações obscuras ou figurados como fantoches de
interesses inconfessáveis.
A comédia brasileira O Candidato Honesto, de Roberto
Santucci, é o último exemplo desse clichê cinematográfico. Pelo oportunismo de
ser lançado em plena reta final da campanha eleitoral, o filme se reveste de
significado político inegável – o reforço de um sentimento anti-política alimentado pela oposição ao Governo Federal como arma de
impedir a reeleição de Dilma Rouseff.
sábado, outubro 04, 2014
"O Doador de Memórias" e a terceira onda do Gnosticismo Pop no cinema
sábado, outubro 04, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Com o filme “O Doador de
Memórias” (The Giver, 2014) Hollywood acrescenta mais uma produção a uma série
de filmes sobre mundos distópicos dominados por estados policiais totalitários.
Essas produções vem retomando símbolos e narrativas gnósticas, mas dessa vez em
uma nova fórmula: um mix de Gnosticismo
com “1984” de Orwell e “Admirável Mundo Novo” de Huxley. Essa terceira onda de
Gnosticismo pop no cinema, assim como nas ondas anteriores, está relacionada
com alterações nos paradigmas tecnológicos. Na atualidade, o projeto da
Internet das Coisas e a nanotecnologia, criando
possibilidades de geolocalização e controle total da privacidade. A obsessão
atual de Hollywood por essas distopias faz surgir teorias conspiratórias como a
chamada “hipótese Fox Mulder”, extraída de um episódio da série “Arquivo X”.
O
Doador de Memórias,
adaptação do livro de 1993 The Giver
de Lois Lowry (premiado best seller
de ficção científica para o público jovem) é o último filme de uma série de
produções recentes que exploram distopias futuristas totalitárias: Snowpiercer (2013), No Limite do Amanhã (Edge of
Tomorrow, 2014), Elysium (2013), Jogos Vorazes (The Hunger Games, 2013), A Viagem (Cloud Atlas, 2012), Oblivion (2013), Capitão América 2: O Soldado Invernal (2014) etc.
Por que o público está sendo
inundado com essas narrativas futuristas sobre novas ordens mundiais e estados
policiais despóticos? Por que esse súbito interesse de Hollywood em nos fazer
torcer por heróis que lutam por escapar de sistemas totalitários enquanto
tentam encorajar a todos (inclusive o espectador) a fazer o mesmo?
terça-feira, setembro 30, 2014
A canastrice de Marina Silva e o DNA hollywoodiano
terça-feira, setembro 30, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Muitas teorias
conspiratórias veem a candidata Marina Silva como um “instrumento de
Washington”, “a nova direita” etc. Se isso for verdade, não seria tanto pelas
teses neoliberais que seu programa de governo defende. Seu DNA não está em
Washington, mas em Hollywood. Marina Silva se filia a uma lista de personagens
políticos construídos a partir do imaginário coletivo cinematográfico como
Hitler e Mussolini (o cinema mudo), Jânio Quadros (Jacques Tati) e Collor de
Mello (Gordon Gekko de “Wall Street”). É a “canastrice” na propaganda, noção
que a ciência política deveria levar mais à sério: políticos tornam-se
verossímeis quando se reconhecem neles elementos de uma certa mitologia pop ou
cinematográfica. Mas por que eleitores não percebem o artificialismo das performances
exageradas, melodramáticas e esteticamente kitschs, características da
canastrice? Talvez porque um século de Hollywood não apenas tenha afetado nossos
corações e mentes, mas a própria percepção.
Era
1997. Em plena crise de um escândalo sexual envolvendo o então presidente dos
EUA Bill Clinton e uma estagiária da Casa Branca, era lançado o filme Mera Coincidência (Wag The Dog). O Título em português não poderia ter sido mais feliz
pela ironia. No filme, um presidente concorrendo à reeleição nos EUA é
envolvido em um escândalo sexual. Com a ajuda de um produtor de Hollywood e um
relações públicas cria uma guerra fictícia com a Albânia como estratégia de
desvio da atenção.
Um
suposto vídeo documental (na verdade produzido em estúdio como tática
diversionista) é exibido pelas emissoras de TV: vemos uma jovem albanesa
com um gatinho branco nos braços fugindo de terroristas estupradores em meio ao
fogo cruzado de bombas e incêndios. Tudo muito melodramático, over, kitsch, estereotipado e com o appeal
e look semelhante às produções medianas
de Hollywood e “sitcons” do horário nobre. Apesar disso, jornalistas e a
opinião pública mordem a isca do suposto vídeo “vazado” como fosse um vídeo
realista.
sábado, setembro 27, 2014
O carro e a experiência fora do corpo
sábado, setembro 27, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um carro pode proporcionar uma experiência mística fora do corpo? Com a
análise semiótica em 360 graus do caso do filme publicitário do Novo Honda
Civic 2015, que apresenta o consumo como um ato muito mais de transformação
espiritual do que de aquisição, o curso "A Linguagem das Mercadorias" da pós em
Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi fez seu último encontro dissecando a
mais nova ferramenta semiótica: a “Adgnose”. Diferente das formas anteriores de
busca de identificação do consumidor por meio de fantasias-modais (através de pesquisas
por perfis sócio-econômicos e de estilos de vida), hoje o Marketing e a
Publicidade obtêm o descolamento máximo do consumo em relação à materialidade
do produto com a exploração dos arquétipos: símbolos e imagens do inconsciente
coletivo. Surge uma irônica operação semiótica publicitária: ao invés de
“comprar-consumir-ter”, agora temos “comprar-consumir-espiritualizar-se”.
Nessa
última segunda feira (22 de setembro) esse humilde blogueiro ministrou o último
encontro do curso “A Linguagem das Mercadorias” da pós-graduação em Comunicação
e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi (informações sobre o curso clique aqui). Nos seis encontros do curso,
acompanhamos como a linguagem que promove as mercadorias no capitalismo através
da Publicidade foi progressivamente tornando-se cada vez mais abstrata:
estudamos uma série de ferramentas semióticas que operaram um verdadeiro
descolamento dos signos em relação à materialidade dos produtos.
Vimos
que essa operação de “descolamento” é necessária por duas exigências econômicas
bem concretas:
(a)
Acompanhando o raciocínio dos teóricos da chamada Crítica da Estética da Mercadoria (Peter Haug, Michael Schneider),
percebemos que todas as estratégias do Capital em maximizar lucros se chocam no
limite físico do valor de uso das mercadorias: sua materialidade e finitude
pode limitar o consumo no tempo e espaço (satisfação, saciedade, durabilidade
etc.), diminuindo a velocidade da substituição dos produtos no mercado. Por
isso, historicamente o grande papel da Publicidade foi convencer o consumidor a
comprar o produto não pela sua utilidade,
mas pela inutilidade. Isto é,
associar o produto simbolicamente a um tipo de signo que torna-se cada vez mais
abstrato.
quinta-feira, setembro 25, 2014
Filme "O Fantasma do Paraíso" e o "cinema da meia-noite" dos anos 1970
quinta-feira, setembro 25, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma época em que o cinema era menos auto-indulgente e jovens diretores
tinham acesso a altos orçamentos para realizar os projetos mais bizarros. Foi
nos anos 1970, na onda de um subgênero chamado de “cinema da meia-noite” onde
cinéfilos aventureiros embalados com muita maconha frequentavam cinemas nas
madrugadas, assistindo a filmes que foram imediatamente cultuados. Foi o caso
de “O Fantasma do Paraíso” (1974) de Brian De Palma, em uma ousada paródia em que
funde os clássicos “Fausto” com “O Fantasma da Ópera” e o glam rock e o hard
rock da época. Nesse subgênero começou também o revival de muitos temas
mitológicos gnósticos, como nesse filme: o mito do Demiurgo ressurgindo como um
cruel produtor musical que se apossa definitivamente da alma de seus artistas
por meio de pactos de sangue.
Antes de toda onda do gnosticismo
pop que esse blog detectou a partir do filme Dead Man (1995) de Jim Jarmusch e cujo ápice de popularidade foi
inegavelmente Matrix (1999), os temas
gnósticos eram explorados em filmes cults ou autorais. Filmes ainda sem
pretensão de popularidade e restrito a pequenos grupos de cinéfilos com gostos
bem particulares.
É o caso do filme de Brian de
Palma O Fantasma do Paraíso, um filme
produzido deliberadamente para ser um sucesso cult, para um nicho de público
que nos anos 1970 era chamado de “cinema da meia-noite”: filmes com temática
livremente estranha e bizarra que eram exibidos em horários alternativos das
madrugadas, para espectadores aventureiros e sedentos por experimentações. Uma época em que a indústria do entretenimento
permitia que jovens diretores fizessem todo tipo de filme.
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