domingo, novembro 02, 2014

Em Observação: "Interstellar" (2014) - uma astrofísica gnóstica?

Com lançamento previsto para o dia 6 de novembro, em “Interstellar” o diretor Christopher Nolan retorna às complexidades narrativas que o tornaram famoso em filmes como “Amnésia” e “A Origem”. Viagem espacial se mistura com viagem no tempo e astrofísica com relatividade geral: astronautas viajam através de um “buraco de minhoca” (wormhole) para chegarem a um universo alternativo em busca de novos planetas habitáveis, conseguindo fugir da catástrofe climática terrestre. A construção da realidade como camadas de eventos que se influenciam mutuamente, apesar de ocorrerem em tempo-espaços diferentes, se conecta a princípios gnósticos da astronomia e alquimia da antiguidade – o Princípio da Correspondência.

sexta-feira, outubro 31, 2014

Em "Amantes Eternos" a melancolia dos vampiros denuncia a decadência dos vivos

Conhecido pelos seus protagonistas que vivem sempre à margem da sociedade, arrebatados pelo vazio existencial e, por isso, capazes de um olhar mais crítico e verdadeiro, o diretor Jim Jarmusch (“Estranhos no Paraíso”, “Down By Law”, “Dead Man”, “Flores Partidas”) agora acrescenta os vampiros a sua galeria de anti-heróis. Em “Amantes Eternos” (Only Lovers Left Alive, 2013) Jarmusch questiona como seria viver eternamente em um mundo de seres mortais. Como seres que atravessaram séculos por todas as cenas culturais, científicas e artísticas poderiam viver num mundo que parece ter esquecido de tudo que de mais importante a História ofereceu (como, por exemplo, o trágico destino das ideias do cientista Nikola Tesla), e vê no You Tube a sua única fonte de cultura e entretenimento. Ironicamente,  para os vampiros os mortais não passariam de “zumbis” – seres condenados pela morte a recomeçarem sempre do zero do esquecimento.

Parecia que o cinema já tinha mostrado tudo sobre os vampiros: seres da noite, mortos vivos, encarnação do próprio Mal, seres dotados de perigoso poder de sedução, amores platônicos entre vampiros e mortais, amaldiçoados com a imortalidade, doentes contagiosos etc. Mas faltava um diretor como Jim Jarmusch para trazer esse personagem para a sua galeria de anti-heróis underground, aqueles que vivem à margem da sociedade e que, por isso, são capazes de um olhar crítico para uma sociedade de resignados.

terça-feira, outubro 28, 2014

O humano, demasiado humano no filme "Relatos Selvagens"



O homem atual seria um Sísifo moderno? Assim como o personagem da mitologia grega, condenado a carregar eternamente uma enorme pedra ao topo da montanha, o homem estaria condenado a não encontrar Deus, sentido ou propósito na existência, a não ser encontrar a si próprio – o humano, demasiado humano. Esse é a desconcertante co-produção Argentina/Espanha “Relatos Selvagens”, seis curtos relatos de pessoas comuns diante de circunstância incomuns: situações extremas com muito humor negro (e bota negro nisso) onde acabam sendo despertados em cada um os instintos mais básicos de vingança e violência. Em falso tom de comédia, o diretor Damián Szifrón parece querer brincar com o espectador: afinal, estamos rindo do quê?

domingo, outubro 26, 2014

A grande mídia ameaça: meu ódio será a sua herança

Tal qual uma serpente, um muro cinza escuro serpenteia o Brasil dividindo o País do Acre ao litoral. É com essa sinistra animação que o infográfico do site da “Folha de São Paulo” chamado “Folhacóptero” explica o cenário eleitoral brasileiro, em um previsível silogismo cuja conclusão é a de que somente os pobres e ignorantes mantêm a candidata Dilma Rousseff na frente das pesquisas eleitorais. Divisão e Muro são as metáforas que a grande mídia sistematicamente vem utilizando para explicar o cenário político. Enquanto publicações estrangeiras como a “The Economist” usam infográficos mais neutros e elegantes para explicar as desigualdades históricas do Brasil, nossa grande mídia usa a imagem do muro, simbolicamente carregada de ódio e separatismo. A grande mídia sabe que vive o fim do seu poder político-financeiro e parece querer deixar para a História o ódio como a sua única herança.

Quem não se lembra do filme clássico do mestre da violência, Sam Peckimpah, Meu Ódio Será Sua Herança (The Wild Bunch, 1969)? Considerado o sexto melhor western de todos os tempos pela American Film Institute (AFI). O filme é um hino ao crepúsculo da era do Velho Oeste e da figura mítica do cowboy, com um general mexicano aparecendo em um carro vermelho no lugar do cavalo e metralhadoras e pistolas automáticas substituindo o tradicional revólver de seis tiros.

O mau presságio para os protagonistas do filme começa com a célebre cena quando entram em uma cidade e avistam um grupo de crianças que empurram dois escorpiões para um formigueiro para se divertirem com a imagem da violência no meio natural.

sábado, outubro 25, 2014

A "bala de prata" é sintoma do "tautismo" da revista Veja

Motivo de piadas e memes nas redes sociais, o verdadeiro remake do layout da capa de 2012 sobre a novela Avenida Brasil em mais uma “bala de prata” da revista “Veja” (matéria de capa sobre suposta denúncia de que Dilma e Lula sabiam de todos os esquemas na Petrobrás) é muito mais do que falta de criatividade ou preguiça de uma revista que definha financeiramente. É um sintoma do “tautismo” (tautologia + tautismo), fenômeno de fechamento da mídia em si mesma, a tal ponto que desaparecem as diferenças entre ficção e não-ficção, telenovela e notícia. A própria resposta dada pela “Veja” às críticas comfirma aquilo que pretende negar: através de um raciocínio tautológico diz que os acontecimentos são verdadeiros porque “teimosamente” têm relevância eleitoral... e por isso sempre acontecem na reta final das eleições!

O programa Redação Sport TV recebeu na semana passada o ex-presidente do Fluminense Francisco Horta. Famoso nos anos 1970 por ter montado a chamada “máquina tricolor” na base do “troca-troca” (intercâmbio ao invés de compra de jogadores), ele era entrevistado por André Rizek e Xico Sá. Para demonstrar a relevância do entrevistado, foram mostrados para os espectadores fac-símiles de edições do Jornal O Globo da época, com manchetes sobre o ex-dirigente.

Rizek, então, passou a fazer uma rápida contabilização do número de manchetes que o Fluminense gerava no jornal entre 1975-77. Para o jornalista, o sucesso da estratégia de Horta passou a ser discutido não pela sua contribuição para o futebol brasileiro, mas pela capacidade de Horta tinha em produzir manchetes para O Globo. Auto-referência: o jornal toma a si mesmo como medida para avaliação da realidade. O jornalista passou a confundir relevância midiática com relevância histórica.

sexta-feira, outubro 24, 2014

Em Observação: "Amantes Eternos" (2013) - por que os vampiros são melancólicos?

Profundos conhecedores de arte, literatura, música e cinema. Aristocráticos, vintages, sensíveis, e... melancólicos. Esses são os vampiros do diretor Jim Jarmusch em “Amantes Eternos” (Only Lovers Left Alive, 2013). Por que seres imortais e tão poderosos podem ser tão tristes e melancólicos? Esqueça os clichês de maldições, insaciabilidade por sangue e amores platônicos tão comuns nos vampiros para adolescentes da franquia “Crepúsculo”. Jarmusch recoloca o mito do vampiro na sua tradição romântica e literária. Mas tem algo mais: o toque gnóstico ao ver o vampiro como um ser privilegiado – ele jamais esquece, ao contrário dos mortais presos no ciclo vicioso morte-reencarnação-esquecimento.

quinta-feira, outubro 16, 2014

A simplicidade descolada, coxinhas 2.0 e o novo neoconservadorismo

Diga adeus a nomes de pratos requintados e ornamentais da culinária francesa, se despeça de bikes de alta performance, abandone esportes de elite. Agora prefira osso buco e rabada, bicicletas caloi 10 dos anos 1970 reformadas e peladas regadas a cervejas artesanais. O coxinha evoluiu para a sua versão “sustentável”: a simplicidade descolada. Eles são os novos tradicionalistas, uma simplicidade estudada e “descolada”, isto é, de grande valor agregado no mercado cultural. Sua psicografia é hoje explorada pelo marketing tanto político como de consumo – ele aspira à simplicidade, pureza e renovação, muito mais por atitudes do que por ações. Por isso, é campo fértil para crescer o neoconservadorismo: a aversão à Política como algo complicado e, por isso, suspeito e corrupto.

Assim como os Pokemons evoluem para se adaptar melhor às batalhas nos game cards, da mesma forma o chamado “coxinha” parece ter evoluído para fazer frente às críticas e rejeições que sempre marcaram a sua cena social: evoluiu para a “simplicidade descolada”, um novo tipo humano aparentemente mais “consciente”, antenado e sintonizado aos novos tempos mais politicamente corretos e sustentáveis.

Essa sua nova roupagem, esse verdadeiro coxinha 2.0 é o protagonista de uma série de programas da grande mídia e seguido por um séquito de fiéis jovens que se distribuem em inúmeras áreas onde exibem seus requintados gostos pela “simplicidade”: gastronomia, bebidas, futebol, bicicletas, moda etc.

quarta-feira, outubro 15, 2014

Aranhas, morte e identidade no filme "O Homem Duplicado"

Ver a si mesmo em uma réplica ou imagem sempre foi considerado um evento misterioso e mágico. Em muitas culturas, ver o próprio duplo pode ser um prenúncio da morte. Inspirado em livro do escritor português José Saramago, o filme “O Homem Duplicado” (Enemy, 2013) do diretor canadense Denis Villeneuve vai atualizar essa mitologia, trazendo-a para uma tradição de filmes que tematizam o problema da identidade: o que você faria se visse em um filme um ator que fosse uma réplica exata sua? Villeneuve vai explorar o tema psicanalítico da busca da identidade através do espelho. Uma jornada perigosa, pois nesse caminho podemos nos confrontar com os nossos desejos mais íntimos, criando uma nova ordem: caos é a ordem que ainda não foi decifrada.

Em um cultura atual de selfies e timelines das redes sociais repletas com nossas fotografias fica difícil imaginarmos um tempo onde as pessoas podiam ficar com medo das suas própria imagens.

Do espelho à fotografia, a contemplação de uma réplica de si mesmo sempre foi considerado um evento misterioso, como, por exemplo, todo o misticismo que cerca os espelhos ou os primórdios da fotografia – as pessoas ficaram assustadas com a fidelidade do resultado, só se tornando popular depois que descobriram que era possível retocá-las. Ou seja, depois de que elas passaram para o campo da simulação.

domingo, outubro 12, 2014

Ebola é bomba biológica ou semiótica?

Desde que os nazistas elaboraram as primeiras peças de propaganda antitabagistas durante a Segunda Guerra Mundial, sabe-se que a questão da saúde é uma poderosa arma semiótica. Ebola, vaca louca, gripe aviária, gripe suína e outras ameaças sazonais de pandemias, mais do que ameaças biológicas, tornaram-se bombas semióticas arquitetadas para criar vitimização, culpa e segregação. O ebola é agora a pandemia da moda onde, no Brasil, surge em um “timing” perfeito: o segundo turno das eleições presidenciais. A grande mídia cinicamente anuncia que a informação é a única forma para “tranquilizar a população”. Um pouco de teoria semiótica revela que as manchetes da grande mídia são tudo, menos informativas: elas são “performativas”, desenvolvem uma ação – ambiguidade, boatos, medo e segregação.

Nos anos 1990 e no auge da carreira como técnico do Palmeiras na chamada vitoriosa era Parmalat, Vanderlei Luxemburgo sabia como ninguém manipular os jornalistas esportivos e as mesas redondas de debates da TV. Após mais um jogo do Palmeiras, Luxemburgo, no meio de uma coletiva para a imprensa, disparava do nada: “quero aproveitar esse momento e dizer que eu jamais fui sondado pelo Corinthians. É tudo mentira!”. Os jornalistas se entreolhavam: quem disse isso? De onde partiu essa informação?

Pronto! Era tudo o que Luxemburgo queria. O seu balão de ensaio corria como fogo em rastilho de pólvora pelos debates nas TVs. E os desmentidos da diretoria do Corinthians só alimentavam ainda mais os boatos.

Luxemburgo nada mais fazia do que explorar a natureza performática da linguagem: os signos não apenas existem para designar o mundo – eles são proferidos dentro de um contexto, o que resulta numa ação performativa. Segue-se que toda comunicação tem uma função constatativa (o enunciado, a informação, o relato factual) e outra performativa - a enunciação onde implicitamente podem estar comandos como ordens, pedidos, ofensas, promessas, apostas etc.

sábado, outubro 11, 2014

"Jogo de Cena" embaralha cartas da ficção e do real

Câmeras de vigilância, celulares através dos quais performamos constantes selfies, telas de computador, de TVs e de cinema, imagens dos indivíduos captas pelas câmeras de vitrines nos shoppings e exibidas para os próprios consumidores etc. Estamos cercados de dispositivos visuais que acabaram criando uma espécie de saber inconsciente audiovisual: criamos nossas próprias auto-mis-en-scènes. Sabemos criar personas através do cinema e fotografia, de tal maneira que ficção e História, ilusão e realismo acabaram se fundindo na modernidade. Esse é o tema latente no documentário “Jogo de Cena”(2007) de Eduardo Coutinho: anônimos contam suas histórias, enquanto atores tentam reencenar essas narrativas anônimas. Quem é ator e quem é anônimo, quem é profissional e quem é amador diante da câmera? Esse é o vertiginoso jogo proposto por Eduardo Coutinho.

Na banalidade do cotidiano estão os rastros da verdade. Esta parece que foi a grande revolução estética trazida pela modernidade, desde que Vitor Hugo escreveu que uma sociedade se conhece através do seu esgoto, ou quando Marcel Proust descobre as memórias involuntárias em cheiros, flagrâncias e sons do dia-a-dia na sua obra-prima Em Busca do Tempo Perdido.

Graças a essa revolução na sensibilidade moderna, desviamos nossa atenção artística das grandes narrativas dos gêneros tradicionais (tragédia, comédia, drama etc.) com seus temas elevados sobre heróis, nobres ou pícaros, para a vida dos esquecidos nas multidões. A fórmula foi invertida: o anônimo tornou-se o objeto artístico e o seu registro através da fotografia e o cinema como as novas obras de arte.

Por isso, o documentário Jogo de Cena de Eduardo Coutinho se inscreve nessa tradição modernista da linha de Dziga Vertov e seu filme O Homem da Câmera de 1929 ou  Berlin – Sinfonia de uma Metrópole (1927) de Walther Huttmann: trazer para a cena artísticas as massas e os anônimos.

quarta-feira, outubro 08, 2014

Adendo ao post "Sociedade de Consumo e o ovo da serpente do PT": César Tralli, MasterChef e o metrô

Após a publicação da postagem anterior “Sociedade de Consumo e o ovo da serpente do PT” uma curiosa sequência de eventos sincrônicos em questão de horas foram vivenciados por esse humilde blogueiro. Suspeitas de supostas mensagens subliminares do PT no metrô de São Paulo, palestra do jornalista César Tralli em uma Universidade, leituras de time lines do Facebook no metrô e as humilhantes “lições de vida” meritocráticas do reality MasterChef da Band. O ovo está se quebrando e através da fresta um olho ameaçador observa o futuro.

Cinco horas da tarde na conexão CPTM/linha amarela do metrô na Estação Pinheiros em São Paulo. Seguindo a multidão que se aperta preparo-me para descer mais uma escada rolante. Dou de cara com um cartaz de viagens turísticas para Cuba. O nome do país  em destaque com uma estrela logo abaixo com a foto de uma paradisíaca praia dominado o anúncio.

Atrás de mim, dois jovens trajados com roupas sociais e mochilas, indicando que estão saindo do trabalho. Param de conversar entre si e olham para o grande cartaz. “Olha lá: Cuba... e uma estrela vermelha embaixo... não lembra coisa do PT?”. Trocam rapidamente sugestões de um possível propaganda subliminar do partido. E voltam a conversar sobre empresas para trabalhar, falando daquelas “que te achincalham” e daquelas “que te tratam bem”, nas palavras dos jovens.

terça-feira, outubro 07, 2014

Sociedade de Consumo e o ovo da serpente do PT

Qual o significado de  uma comédia brasileira chamada “O Candidato Honesto” (sobre um candidato à presidência popular, corrupto e mentiroso) ser lançada nos cinemas em plena reta final das eleições? Mais do que senso de oportunismo mercadológico, a produção surfa na onda da aversão popular à Política e o fenômeno da despolitização. A inclusão de grande parte dos brasileiros na sociedade de consumo implementada pelo neodesenvolvimentismo dos governos do PT parece mandar a conta: chocou o ovo da serpente que agora arma o bote. Sem educação política, a sociedade de consumo brasileira produz os efeitos ideológicos do próprio consumismo verificados desde o pós-guerra – ideologia meritocrática, ilusão de mobilidade social por meio do consumo de gadgets e aparatos tecnológicos,  a competitividade e o ressentimento. Combustíveis para o discurso midiático da corrupção que ironicamente só cola no PT.

O cinema tem uma longa tradição de representar os políticos (assim como os jornalistas) como personagens corruptos, que abusam da autoridade e sempre metidos em narrativas conspiratórias de negociações obscuras ou figurados como fantoches de interesses inconfessáveis.

A comédia brasileira O Candidato Honesto, de Roberto Santucci, é o último exemplo desse clichê cinematográfico. Pelo oportunismo de ser lançado em plena reta final da campanha eleitoral, o filme se reveste de significado político inegável – o reforço de um sentimento anti-política alimentado pela oposição ao Governo Federal como arma de impedir a reeleição de Dilma Rouseff.

sábado, outubro 04, 2014

"O Doador de Memórias" e a terceira onda do Gnosticismo Pop no cinema

Com o filme “O Doador de Memórias” (The Giver, 2014) Hollywood acrescenta mais uma produção a uma série de filmes sobre mundos distópicos dominados por estados policiais totalitários. Essas produções vem retomando símbolos e narrativas gnósticas, mas dessa vez em uma nova fórmula:  um mix de Gnosticismo com “1984” de Orwell e “Admirável Mundo Novo” de Huxley. Essa terceira onda de Gnosticismo pop no cinema, assim como nas ondas anteriores, está relacionada com alterações nos paradigmas tecnológicos. Na atualidade, o projeto da Internet das Coisas e a nanotecnologia, criando possibilidades de geolocalização e controle total da privacidade. A obsessão atual de Hollywood por essas distopias faz surgir teorias conspiratórias como a chamada “hipótese Fox Mulder”, extraída de um episódio da série “Arquivo X”.

O Doador de Memórias, adaptação do livro de 1993 The Giver de Lois Lowry (premiado best seller de ficção científica para o público jovem) é o último filme de uma série de produções recentes que exploram distopias futuristas totalitárias: Snowpiercer (2013), No Limite do Amanhã (Edge of Tomorrow, 2014), Elysium (2013), Jogos Vorazes (The Hunger Games, 2013), A Viagem (Cloud Atlas, 2012), Oblivion (2013), Capitão América 2: O Soldado Invernal (2014) etc.

Por que o público está sendo inundado com essas narrativas futuristas sobre novas ordens mundiais e estados policiais despóticos? Por que esse súbito interesse de Hollywood em nos fazer torcer por heróis que lutam por escapar de sistemas totalitários enquanto tentam encorajar a todos (inclusive o espectador) a fazer o mesmo?

terça-feira, setembro 30, 2014

A canastrice de Marina Silva e o DNA hollywoodiano

Muitas teorias conspiratórias veem a candidata Marina Silva como um “instrumento de Washington”, “a nova direita” etc. Se isso for verdade, não seria tanto pelas teses neoliberais que seu programa de governo defende. Seu DNA não está em Washington, mas em Hollywood. Marina Silva se filia a uma lista de personagens políticos construídos a partir do imaginário coletivo cinematográfico como Hitler e Mussolini (o cinema mudo), Jânio Quadros (Jacques Tati) e Collor de Mello (Gordon Gekko de “Wall Street”). É a “canastrice” na propaganda, noção que a ciência política deveria levar mais à sério: políticos tornam-se verossímeis quando se reconhecem neles elementos de uma certa mitologia pop ou cinematográfica. Mas por que eleitores não percebem o artificialismo das performances exageradas, melodramáticas e esteticamente kitschs, características da canastrice? Talvez porque um século de Hollywood não apenas tenha afetado nossos corações e mentes, mas a própria percepção.

Era 1997. Em plena crise de um escândalo sexual envolvendo o então presidente dos EUA Bill Clinton e uma estagiária da Casa Branca, era lançado o filme Mera Coincidência (Wag The Dog). O Título em português não poderia ter sido mais feliz pela ironia. No filme, um presidente concorrendo à reeleição nos EUA é envolvido em um escândalo sexual. Com a ajuda de um produtor de Hollywood e um relações públicas cria uma guerra fictícia com a Albânia como estratégia de desvio da atenção.

Um suposto vídeo documental (na verdade produzido em estúdio como tática diversionista) é exibido pelas emissoras de TV: vemos uma jovem albanesa com um gatinho branco nos braços fugindo de terroristas estupradores em meio ao fogo cruzado de bombas e incêndios. Tudo muito melodramático, over, kitsch, estereotipado e com o appeal e look semelhante às produções medianas de Hollywood e “sitcons” do horário nobre. Apesar disso, jornalistas e a opinião pública mordem a isca do suposto vídeo “vazado” como fosse um vídeo realista.  

sábado, setembro 27, 2014

O carro e a experiência fora do corpo

Um carro pode proporcionar uma experiência mística fora do corpo? Com a análise semiótica em 360 graus do caso do filme publicitário do Novo Honda Civic 2015, que apresenta o consumo como um ato muito mais de transformação espiritual do que de aquisição, o curso "A Linguagem das Mercadorias" da pós em Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi fez seu último encontro dissecando a mais nova ferramenta semiótica: a “Adgnose”. Diferente das formas anteriores de busca de identificação do consumidor por meio de fantasias-modais (através de pesquisas por perfis sócio-econômicos e de estilos de vida), hoje o Marketing e a Publicidade obtêm o descolamento máximo do consumo em relação à materialidade do produto com a exploração dos arquétipos: símbolos e imagens do inconsciente coletivo. Surge uma irônica operação semiótica publicitária: ao invés de “comprar-consumir-ter”, agora temos “comprar-consumir-espiritualizar-se”.

Nessa última segunda feira (22 de setembro) esse humilde blogueiro ministrou o último encontro do curso “A Linguagem das Mercadorias” da pós-graduação em Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi (informações sobre o curso clique aqui). Nos seis encontros do curso, acompanhamos como a linguagem que promove as mercadorias no capitalismo através da Publicidade foi progressivamente tornando-se cada vez mais abstrata: estudamos uma série de ferramentas semióticas que operaram um verdadeiro descolamento dos signos em relação à materialidade dos produtos.

Vimos que essa operação de “descolamento” é necessária por duas exigências econômicas bem concretas:


(a) Acompanhando o raciocínio dos teóricos da chamada Crítica da Estética da Mercadoria (Peter Haug, Michael Schneider), percebemos que todas as estratégias do Capital em maximizar lucros se chocam no limite físico do valor de uso das mercadorias: sua materialidade e finitude pode limitar o consumo no tempo e espaço (satisfação, saciedade, durabilidade etc.), diminuindo a velocidade da substituição dos produtos no mercado. Por isso, historicamente o grande papel da Publicidade foi convencer o consumidor a comprar o produto não pela sua utilidade, mas pela inutilidade. Isto é, associar o produto simbolicamente a um tipo de signo que torna-se cada vez mais abstrato.

quinta-feira, setembro 25, 2014

Filme "O Fantasma do Paraíso" e o "cinema da meia-noite" dos anos 1970

Uma época em que o cinema era menos auto-indulgente e jovens diretores tinham acesso a altos orçamentos para realizar os projetos mais bizarros. Foi nos anos 1970, na onda de um subgênero chamado de “cinema da meia-noite” onde cinéfilos aventureiros embalados com muita maconha frequentavam cinemas nas madrugadas, assistindo a filmes que foram imediatamente cultuados. Foi o caso de “O Fantasma do Paraíso” (1974) de Brian De Palma, em uma ousada paródia em que funde os clássicos “Fausto” com “O Fantasma da Ópera” e o glam rock e o hard rock da época. Nesse subgênero começou também o revival de muitos temas mitológicos gnósticos, como nesse filme: o mito do Demiurgo ressurgindo como um cruel produtor musical que se apossa definitivamente da alma de seus artistas por meio de pactos de sangue.

Antes de toda onda do gnosticismo pop que esse blog detectou a partir do filme Dead Man (1995) de Jim Jarmusch e cujo ápice de popularidade foi inegavelmente Matrix (1999), os temas gnósticos eram explorados em filmes cults ou autorais. Filmes ainda sem pretensão de popularidade e restrito a pequenos grupos de cinéfilos com gostos bem particulares.


É o caso do filme de Brian de Palma O Fantasma do Paraíso, um filme produzido deliberadamente para ser um sucesso cult, para um nicho de público que nos anos 1970 era chamado de “cinema da meia-noite”: filmes com temática livremente estranha e bizarra que eram exibidos em horários alternativos das madrugadas, para espectadores aventureiros e sedentos por experimentações. Uma época em que a indústria do entretenimento permitia que jovens diretores fizessem todo tipo de filme.

sábado, setembro 20, 2014

Sílvio Santos anteviu Patrícia Poeta e o Infotenimento


Quando revelou que ia sair da bancada do Jornal Nacional (acendendo as mais diversas teorias conspiratórias), Patrícia Poeta disse que preparava um “projeto de programa de entretenimento” e afirmou “ter se preparado a vida inteira para isso”. Se isso for verdade, é a repetição de um fenômeno que vai da apresentadora Daniela Albuquerque (que descobriu a profissão de jornalismo em uma caixa de toddinho) ao jornalista esportivo Tiago Leifert escalado para apresentar o reality show musical da TV Globo “The Voice Brasil” – confirmando a profética iniciativa de Silvio Santos quando colocou a jornalista Lilian Witte Fibe no júri do “Show de Calouros” em 1991. É o infotenimento, fenômeno no passado restrito ao mundo das “notícias diversas”(notícias insólitas e inexplicáveis),  mas hoje recorrente quando jornalistas egressos das “hard news” decidem partir para projetos de entretenimento. Mais que exceções, parecem revelar secretas conexões que sempre existiram entre notícia e entretenimento.

Três parábolas televisivas:

(a) Em 1991 a jornalista Lilian Witte Fibe foi contratada por Silvio Santos para comandar o Jornal do SBT. Logo depois, a jornalista foi convocada pela dono da emissora para fazer uma participação especial no Show de Calouros, quadro do programa das tardes de domingo de Silvio Santos, ao lado de figuras como Pedro de Lara e Elke Maravilha. Contrariando o princípio da época da credibilidade do jornalismo, Silvio coloca a apresentadora do principal telejornal da emissora em um programa de auditório ao lado das figuras mais caricatas da TV brasileira ;

(b) No início dos anos 2000 é lançado em Toronto, Canadá, o Naked News. Apresentado pela Internet e TV a cabo, é um telejornal apresentado ainda hoje onde as apresentadoras fazem strip-tease enquanto leem as notícias. Com o slogan “um programa que não tem nada a esconder”, faz um irônico trocadilho com o suposto ideal do jornalismo por “transparência”  e de querer apresentar “a realidade nua e crua”.

quarta-feira, setembro 17, 2014

A Química transforma-se em Alquimia na série "Breaking Bad"



Após cinco temporadas, a premiada série televisiva de dramas, crimes e thriller “Breaking Bad” (2008-2013) ingressou na lista de filmes de diversos gêneros que exploram simbologias alquímicas de transformação como “Blue Velvet” de David Lynch ou “Beleza Americana” de Sam Mendes. Narrativas que exploram as possibilidades de transformações íntimas em nossas vidas através de elementos que tradicionalmente tomamos como negativos: caos, trevas e morte. Um professor de Química confronta a morte, o câncer e um vida fracassada por meio de uma jornada radical de redenção no submundo do narcotráfico. A metanfetamina azul se transforma na série em simbologia alquímica ao mesmo tempo de redenção espiritual e destruição de um mundo de aparências. Por isso, “Breaking Bad” também foi um “experimento sociológico”, segundo seu criador Vince Gilligan.

sábado, setembro 13, 2014

Professora da PUC aponta suposto perigo subliminar das ciclofaixas em SP

A professora da PUC/SP e uma das principais especialistas em Semiótica no Brasil, Lucia Santaella, alertou em rede social que as ciclofaixas pintadas de vermelho em São Paulo são “uma descarada propaganda vermelha do PT, provavelmente encomendadas do diabo em pessoa” e recomenda que prefeito e assessores leiam sobre Semiótica para descobrirem o quanto essa diabólica cor afeta o sistema nervoso central dos incautos cidadãos. Curiosa semiose seletiva da eminente pesquisadora e da grande mídia: quando bicicletas são da cor laranja com o logo de um conhecido banco chama-se “projeto de sustentabilidade”; mas quando ciclofaixas são pintadas de vermelho pelo poder público viram demoníacas propagandas políticas subliminares. Mas a discussão sobre cores, Semiótica e Neurociência pode ser um mero sintoma de algo mais profundo: a zona cinza do conservadorismo.

Cuidado, incauto leitor. Você talvez não tenha percebido, mas está em andamento nesse exato momento uma sórdida estratégia de espalhar mensagens subliminares pelas ruas de São Paulo: estranhas faixas vermelhas, supostamente ciclofaixas, seriam na verdade uma estratégia subliminar para furtivamente direcionar a intenção de voto dos cidadãos para o partido do maquiavélico prefeito da cidade, o PT.

Em seu perfil no Facebook a professora Lucia Santaella (titular do Programas de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica e Tecnologias da Inteligência da PUCSP e autora de diversos livros adotados em inúmeras faculdades de comunicação pelo Brasil afora) acusou que “essas faixas não passam da mais descarada propaganda vermelha do PT”.

quinta-feira, setembro 11, 2014

Freud explica: encha o estômago antes de comprar

Por que as pessoas quando olham para vitrines das lojas em shopping centers passam a língua ou mordem os lábios, ficam de boca aberta e roem unhas? Por que os comerciais de produtos de limpeza domésticos como sabão em pó ou desinfetantes utilizam tantas hipérboles como mostrar a sujeira como monstrinhos que se escondem na trama dos tecidos ou nos vasos sanitários? Por que ao lado de cada Ferrari ou Masserati em feiras de automóveis estão sempre lindas e atraentes modelos? Por que precisamos encher o estômago antes de comprar para evitar o consumo impulsivo? Durante o quarto encontro do curso “A Linguagem das Mercadorias” na Universidade Anhembi Morumbi (UAM), ministrado por esse humilde blogueiro, as discussões mergulharam no universo das técnicas psicanalíticas aplicadas pelo Marketing e Publicidade. 

Dentro do Módulo 2 da pós em Comunicação e Semiótica da UAM, nessa última segunda-feira demos continuidade ao curso “A Linguagem das Mercadorias” que objetiva apresentar e discutir as diversas mutações que a forma-mercadoria assume na sociedade de consumo. Pressionada pelas constantes mudanças das necessidades mercadológicas, vimos que a mercadoria deve se transformar em signo (abandonar a materialidade do “aqui está o produto, agora compre-o!) para assumir sucessivas mutações como o signo-fetiche, o signo-afeto, o signo-desejo, o signo-dádiva etc.

Isso significa que a mercadoria deve cada vez mais ocultar a sua operação econômico-comercial (compra, troca e consumo) para se transformar em signos de experiências, narrativas pessoais, fantasias e desejos. Nesse quarto encontro do curso acompanhamos os mecanismos de transformação da mercadoria em signo-desejo e signo-dádiva mergulhando no universo da psicanálise do consumo.

sábado, setembro 06, 2014

Morpheus retorna, mas sem as pílulas vermelha e azul no filme "The Signal"

Premiado nesse ano no festival Sundance de filmes independentes, “The Signal” (2014) escrito e dirigido por William Eubank faz um instigante mix entre a atual onda de insegurança com a fauna digital que habita nossos pesadelos cibernéticos (hackers, worms, bugs, vírus etc.), agência governamentais de espionagem eletrônica e a mitologia gnóstica e platônica de que toda a tecnologia computacional na verdade seria uma gigantesca caverna digital em que viveríamos ignorando a verdadeira natureza da realidade. Laurence Fishburne parece reviver o mítico personagem Morpheus da trilogia “Matrix”, porém sem as pílulas vermelha e azul com as quais oferecia uma oportunidade de escolha. Em “The Signal”, a Verdade será empurrada goela abaixo dos espectadores.Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

Computadores, Internet e todo o mundo dos bytes sempre exerceu sobre seus usuários um misto de fascínio e mistério. Nós, usuários de redes sociais e aplicativos, lidamos muito mais com efeitos de conhecimento do que propriamente com o conhecimento em si: lidamos apenas com interfaces gráficas, sem compreender o intrincado mundo dos códigos fontes, algoritmos e das complexas linhas de programação que faz tudo funcionar. Então, quem os cria (uma fechada casta de nerds, geeks, hackers etc.), passam a ser cercados por uma aura de lendas e mitos. E suas empresas e start ups carregados de uma visão mágica de sucessos instantâneos supostamente iniciados por simples ideias.

 E por sermos meros usuários de um conhecimento que nos chega encapsulado, sem termos acesso à compreensão de como funcionam hardwares e softwares, somos tomados periodicamente pela paranoia: malwares, vírus, bugs, phishing, cavalos de troia, worms e toda fauna digital que habita em nossos pesadelos.

Por isso, também periodicamente o cinema expressa essa sensibilidade social em relação a essas novas tecnologias. O filme independente de ficção científica The Signal (2014), premiado nesse ano no Sundance Film Festival de cinema independente nos EUA, é mais um produto fílmico que expressa essa sensibilidade ambígua em relação ao mundo digital – a história de uma sinistra realidade por trás de um misterioso hacker.

quinta-feira, setembro 04, 2014

Curso discute o afeto no consumo e no marketing político

Através da linguagem das mercadorias a grande mídia e a sociedade de consumo conseguem produzir efeitos ideológicos através de meios não ideológicos: a captura dos nossos afetos, uma dimensão pré-cognitiva e corporal que é cooptada por uma cadeia semiótica para produzir emoções e decisões de consumo e políticas. Esse foi o tema de mais um encontro do curso “A Linguagem das Mercadorias”, ministrado por esse humilde blogueiro, na pós em Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi. Afastando a confusão que normalmente fazemos entre as noções de afeto, sentimento e emoção, as discussões revelaram a ainda pouca estudada dimensão dos fenômenos da percepção: como o mundo e principalmente as mídias nos afetam não só mentalmente mas, principalmente, fisicamente e como essas sensações podem ser instrumentalizadas.

Dando continuidade ao curso “A Linguagem das Mercadorias” na pós em Comunicação em Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi, nesse segunda-feira aprofundamos a noção de “signo-afeto” – na aula anterior discutimos o conceito de “signo-fetiche” presente tanto em Marx como em Freud e as suas aplicações na sociedade de consumo contemporânea – sobre esse tema clique aqui.

O principal objeto das discussões foi apresentar como as estratégias semióticas da linguagem das mercadorias consegue capturar nossos afetos para direciona-los através de construções simbólicas que suscitem emoções e pensamentos previamente indexados nas imagens publicitárias.

Afastando a confusão que normalmente fazemos entre as noções de afeto e emoção, tomamos o conceito de afeto como afecção, isto é, a materialidade da sensação, a concreticidade da experiência – nosso percepção e o corpo são constantemente afetados por sensações e intensidades como cores, sons, cheiros, texturas, tonalidades, timbres etc., que nos sinalizam para a existência de alguma coisa, evento ou realidade e que, posteriormente, os simbolizamos em emoções ou pensamentos – a chamada “cadeia semiótica” ou cognição.

domingo, agosto 31, 2014

Marina e as novas bombas semióticas do "Sim!" e do "Storytelling"

O trágico mergulho fatal do Cessna Citation em Santos não só mudou o cenário eleitoral como modernizou o arsenal de bombas semióticas midiáticas. No momento em que a grande mídia esgotava sua estratégia semiótica ainda condicionada pela Guerra Fria (criar a percepção de caos e pré-insurreição ao anabolizar as manifestações de rua), eis que surge Marina Silva com o mix de ambientalismo, fundamentalismo religioso e neoliberalismo potencializado por duas poderosas bombas semióticas saídas diretamente do atual kit linguístico de manipulação do mundo corporativo globalizado: a bomba do “Sim!” e a bomba neuromarketing do “Storytelling”. O problema para os marqueteiros é que Marina Silva não é um candidato à venda, mas uma narrativa sincromística oferecida para pessoas sedentas por histórias que seduzem mais do que os dados frios e duros da realidade.  

Quem não se lembra do personagem Church Lady feito pelo comediante Dana Carvey no quadro chamado Church Chat no programa Saturday Night Live de 1986-1990? Sempre preocupada com as conspirações de Satã nesse mundo, Church Lady sempre soltava um bordão irônico ao perceber satânicas coincidências: “How con-VEEN-ient!” ("Tão conveniente!").


É difícil não perceber a extrema feliz coincidência e conveniência no trágico acidente aéreo de Santos que vitimou o candidato à presidência Eduardo Campos: foi um divisor de águas no cenário eleitoral, substitui um combalido Aécio Neves pelo fator novidade de Marina Silva e, principalmente, renovou de uma hora para outra o arsenal de bombas semióticas justamente a poucos meses das eleições. Exatamente num momento em que se iniciava a propaganda eleitoral na TV com a candidata à reeleição ocupando a maior fatia de tempo para mostrar suas realizações.

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