“Amor é um cão do inferno”, diz a tatuagem entre os seios de Alexia, a protagonista do filme francês “Titane” (2021). Esse aviso para qualquer um que queira se aproximar dela é também uma alerta para os espectadores que verão um filme estranho, de horror corporal extremo, impiedoso e, em alguns momentos, com algum humor negro. “Titane” é a realização das profecias pós-humanas para esse século, de escritores do século XX como J.G. Ballard ou cineastas como David Cronenberg: a angústia humana pela imortalidade por trás do fetiche da fusão da durabilidade do metal com a vulnerabilidade da carne. Uma jovem que é eroticamente atraída por carros é o ponto de partida para um filme cujo tema do hibridismo se conecta diretamente com o atual zeitgeist que motiva as novas tecnologias: a agenda pós-humana.