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quarta-feira, outubro 15, 2014
Aranhas, morte e identidade no filme "O Homem Duplicado"
quarta-feira, outubro 15, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ver a si mesmo em uma réplica ou imagem sempre foi
considerado um evento misterioso e mágico. Em muitas culturas, ver o próprio
duplo pode ser um prenúncio da morte. Inspirado em livro do escritor português
José Saramago, o filme “O Homem Duplicado” (Enemy, 2013) do diretor canadense
Denis Villeneuve vai atualizar essa mitologia, trazendo-a para uma tradição de
filmes que tematizam o problema da identidade: o que você faria se visse em um
filme um ator que fosse uma réplica exata sua? Villeneuve vai explorar o
tema psicanalítico da busca da identidade através do espelho. Uma jornada
perigosa, pois nesse caminho podemos nos confrontar com os nossos desejos mais
íntimos, criando uma nova ordem: caos é a ordem que ainda não foi decifrada.
Em um
cultura atual de selfies e timelines das redes sociais repletas com
nossas fotografias fica difícil imaginarmos um tempo onde as pessoas podiam
ficar com medo das suas própria imagens.
Do espelho à
fotografia, a contemplação de uma réplica de si mesmo sempre foi considerado um
evento misterioso, como, por exemplo, todo o misticismo que cerca os espelhos
ou os primórdios da fotografia – as pessoas ficaram assustadas com a fidelidade
do resultado, só se tornando popular depois que descobriram que era possível
retocá-las. Ou seja, depois de que elas passaram para o campo da simulação.
sábado, abril 26, 2014
Um pesadelo semiótico zumbi no filme "Pontypool"
sábado, abril 26, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que acontece quando um filme sobre zumbis mistura referências a escritores como Norman Mailer e William Burroughs? Resulta em um dos mais surpreendentes e originais filmes do gênero dos últimos anos. A produção canadense “Pontypool”(2008) cruza dois insights da literatura ensaística: as coincidências sincromísticas que antecederiam eventos importantes na história e a linguagem humana como um vírus letal que parasita a humanidade. Em “Pontypool” o vírus não é disseminado pelo sangue, ar ou corpo, mas pelas palavras. O que resulta num interessante “terror semiótico”: certas palavras estariam infectadas, aquelas mais carregadas de afeto e emoção. E nos Dias dos Namorados isso pode ser fatal... Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
terça-feira, julho 09, 2013
O documentário "Pax Americana" e o caso Edward Snowden
terça-feira, julho 09, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nesse momento
em que vemos em pleno horário nobre das emissoras o vazamento de documentos da
NSA (Agência de Segurança nacional dos EUA) por Edward Snowden dando conta de que
a privacidade das comunicações de indivíduos e nações pode ser a qualquer
momento devassada por dispositivos eletrônicos, é oportuno assistir ao
documentário “Pax Americana e a Militarização do Espaço” (2009) do francês Denis Delestrac.
Principalmente porque a descrição que o documentário faz do modus operandi da inteligência militar norte-americana e a
noção de “espaço” pensada por ela é bem diferente da tradicional noção
orwelliana de “espaço” que os analistas vem pensando o caso Snowden. Se os
conteúdos revelados pelos documentos há décadas são conhecidos e divulgados por
estudiosos de comunicação e teóricos da conspiração, por que só agora foram “vazados”
de forma generalizada por todas as mídias?
Em 12 de junho de 1982 houve uma grande
manifestação em Nova York. Quase um milhão protestaram contra as armas
nucleares e a corrida armamentista. Era então o auge da Guerra Fria. Na TV falava
o tenente-general Daniel Graham que era o chefe da Defesa Estratégica de Ronald
Reagan. Perguntaram-lhe se estava preocupado com uma manifestação de um milhão
de pessoas nas ruas protestando contra armas nucleares. Disse: “Parece-me
fantástico! Estão protestando contra mísseis balísticos intercontinentais,
enquanto nós vamos para o espaço. Eles não fazem ideia do que fazemos. Então,
que continuem assim”.
Esse episódio descrito por “Pax Americana e a
Militarização do Espaço” talvez seja o mais perturbador neste documentário
dirigido pelo francês Denis Delestrac. Sugere que todo movimento de protestos,
críticas ou denúncias estaria sempre aquém dos poderes que pretendem
desmascarar. Como um jogo de “resta um”, parece que sempre falta o conhecimento
de uma outra cena, de um outro passo que estaria sempre à frente do alvo das
manifestações.
segunda-feira, junho 24, 2013
O tempo conspira contra os algoritmos no filme "Cosmópolis"
segunda-feira, junho 24, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Baseado em livro homônimo de 2003, o filme “Cosmópolis” (2012) do diretor David
Cronenberg ganha atualidade com os movimentos antiglobalização como Occupy Wall
Street e o colapso do Euro: a bordo de uma limusine, que na verdade é uma
alegoria do ciberespaço, um jovem multimilionário do mercado financeiro cruza uma
Nova York caótica enquanto acompanha através das telas de computadores a
falência dos seus algoritmos que não conseguem prever a sua derrocada financeira.
Mais do que uma alegoria sobre uma geração que construiu uma arquitetura da
informação abstrata e desconectada da humanidade, Cronenberg discute a morte
dos novos deuses criados pelas tecnologias baseados na fé de que a matemática
estaria por trás tanto de espirais galácticas quanto das operações financeiras.
Deuses que esqueceram a principal falha cósmica: o tempo.
Eric Parker (Robert Pattinson), um multibilionário
príncipe do mundo financeiro com seus vinte e poucos anos, atrás de seus óculos
escuros, um rosto blasé e a bordo de uma limusine high tech, decide cruzar a cidade de Nova York para cortar o cabelo
em uma antiga barbearia que remonta a sua infância.
Porém, a cidade vive o caos com a visita do
presidente dos EUA. Um grupo de seguranças ao redor de Parker o alerta do
perigo eminente de sofrer um atentado. Na verdade, ele e o presidente dos EUA
parecem ser os alvos preferenciais em meio às ruas tomadas por protestos antiglobalização.
Todas as suas operações financeiras são monitoradas
a partir da limusine através de diversas telas. Parker acompanha com ansiedade
uma arriscada operação, uma aposta na queda da moeda chinesa, o Yuan. Ao longo
do difícil e congestionado trajeto até o barbeiro, Parker acompanhará a
valorização da moeda daquele país e a sua derrocada financeira pessoal até a
falência.
sábado, abril 27, 2013
E o Verbo se fez carne de celebridade no filme "Antiviral"
sábado, abril 27, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em um futuro próximo, a
relação com as celebridades será tão obsessiva que todos desejarão entrar em
"comunhão biológica" comprando vírus e enfermidades exclusivas dos
famosos e comendo carne processada com células de seus ídolos. Assistindo
ao filme canadense “Antiviral” (2012) percebemos que o diretor Branon Cronenberg sugere o
elemento religioso por trás da nossa civilização das imagens e das celebridades.
Mais precisamente, o mistério do “dogma revelado” (a misteriosa união entre o
Verbo e a carne representada por Jesus Cristo) estaria motivando todo o culto
fetichista pelas imagens na atual indústria do entretenimento, mas dessa vez
não mais por meio de uma comunhão simbólica através da hóstia e vinho, mas
agora por meios tecnológicos e mortais.
Na Bíblia o Evangelho Segundo
João nos oferece dois versículos que são fundamentais para entendermos os
mecanismos arquetípicos presentes na atual cultura das celebridades repercutida
pela civilização das imagens: “E o Verbo se fez carne”, diz o versículo 14 do
capítulo primeiro; “Eu sou o pão vivo que desceu do
céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida
do mundo é a minha carne. Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como
pode este dar-nos a comer a sua própria carne? Respondeu-lhes Jesus: Em
verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não
beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos”, versículos 51-71 do
capítulo 6.
Se o
pesquisador em Midiologia, o francês Regis Debray, estiver certo de que há uma
linha de continuidade entre a civilização das imagens atual e os Concílio de
Nicéia no ano 787 que estabeleceu o mistério da Encarnação de Cristo (o Eterno
que se tornou carne, o Infinito que se tornou finito) e a representação do
Invisível por meio de imagens, então Hollywood deveria erguer uma estátua em
homenagem a São João.
quarta-feira, fevereiro 06, 2013
O fator humano diante do fim do mundo no filme "Last Night"
quarta-feira, fevereiro 06, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
(À esquerda - "The Old Man's Boat and the Old Man's Dog", Eric Fischl, 1982). |
domingo, janeiro 20, 2013
A mitologia da Queda é renovada em "Upside Down"
domingo, janeiro 20, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ao mesclar ficção científica com romance, “Upside Down” (uma co-produção
Canadá/França dirigida pelo argentino Juan Diego Solanas) dá nova roupagem aos
mitos da Queda, tão antigos quanto a humanidade: relatos míticos que tentam relacionar
a dor e sofrimento à queda da humanidade de um estado de pureza e inocência. Em
um engenhoso roteiro, Solanas constrói uma versão literal da Queda ao criar um
universo onde a Lei da Gravidade ao mesmo tempo une e separa dois planetas que não possuem céu ou
horizontes, mas apenas a versão invertida da sua própria sociedade: o opulento
mundo “de cima” que sempre faz lembrar a pobreza do mundo “de baixo”. Mas um
amor proibido desafiará a gigantesca corporação que mantém essa ordem através
da exploração da energia e dos meios de comunicação.
Os
mitos da Queda são tão antigos quanto a história humana. Das tradições das religiões abraâmicas (que se
referem a um estado de transição humana da inocência e obediência a Deus para
um estado de culpa e pecado) às heresias gnósticas (a Queda como uma catástrofe
de dimensão cósmica da qual o homem tenta se libertar), são relatos que tentam
explicar a origem de tanta dor e sofrimento humanos que teria iniciado em algum
momento posterior a Criação.
A
esse mito associa-se o de uma “Era Dourada” derivada da mitologia grega e de
diversas lendas que via o início da humanidade como um estado ideal quando o
gênero humano era puro e imortal. Isso criou o arquétipo do “mito das origens”
presente em obras como a do filósofo francês Rosseau que vai, por exemplo,
influenciar teorias psicopedagógicas: a infância como um momento de feliz espontaneidade e pureza que será perdida na
entrada da fase adulta.
Pois
o filme “Upside Down”, uma coprodução Canadá/França dirigido pelo argentino
Juan Diego Solanas, vai não só se inspirar nessas fontes míticas como também
vai dar uma nova roupagem, dessa vez literal a essa “Queda” – associá-la às
leis gravitacionais através de um engenhoso roteiro que parte das seguintes
premissas:
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