sábado, novembro 13, 2021

As mentiras do Capitalismo que lava mais verde em 'Bright Green Lies'



Antes de ler qualquer coisa a respeito da conferência ambiental COP 26 e a urgência midiática a respeito das mudanças climáticas, assista ao documentário “Bright Green Lies” (2021) e o leitor terá um perfeito contraponto. O documentário da cineasta Julia Barnes, baseado em livro homônimo, desvenda a principal mentira na qual se baseia todo o hype verde: a de que as chamadas “tecnologias limpas” parecem nascer em árvores – energia elétrica, solar e eólica são produtos de uma indústria tão ou até mais devastadora dos recursos naturais do que a velha “indústria marrom”. “Bright Green Lies” revela como o ambientalismo tornou-se uma estratégia de propaganda para “lavar mais verde” o sistema predatório do capitalismo e sociedade de consumo. E transformar seus ativistas em lobistas de uma indústria sedenta por verbas públicas e incentivos fiscais. 

“Não consigo pensar em nenhum momento da história em que qualquer movimento de massa tenha sido completamente capturado e transformado em lobistas de uma indústria”. Esse é o cerne do argumento do explosivo documentário Bright Green Lies, da premiada cineasta Julia Barnes, baseado no livro homônimo de Max Wilbert, Derrick Jansen e Lierre Keith.

Bright Green Lies desmonta a ilusão de Tecnologia Verde em detalhes abrangentes e de tirar o fôlego. Dos benefícios propostos de painéis solares e turbinas eólicas ao consumismo verde e carros elétricos, o filme desafia ousadamente todo o hype atual em torno da celebrada “tecnologia verde”. 

Ao revelar a extensão das mentiras que estão sendo contadas por ambientalistas proeminentes e seus apoiadores, o documentário desvenda a fantasia da “lavagem verde”, isto é, de que bastaria apenas a sociedade de consumo e o capitalismo se tingirem de verde (por exemplo, trocar carros movidos a combustível fóssil por elétricos) para os consumidores continuarem com seu estilo de vida, somente que agora “comprando verde”, e o capital “lucrando verde”.

A maioria das “tecnologias verdes”, anunciadas como soluções para a destruição ambiental, estão, de fato, aumentando o problema, acelerando nosso consumo e permitindo que as pessoas vivam na fantasia da “lavagem verde”. 

“Nas últimas décadas, esse ‘ambientalismo verde brilhante’ se tornou a tendência dominante”, diz Julia Barnes. “Há um número incrível de afirmações feitas sobre tecnologias verdes que são francamente falsas. Palavras como “limpo”, “grátis”, “seguro” e “sustentável” são frequentemente usadas por ambientalistas verdes brilhantes. Eles agem como se painéis solares e turbinas eólicas crescessem em árvores”, denuncia a cineasta.

Barnes: “As pessoas raramente questionam as soluções que são ensinadas a adotar, mas com todo o mundo em jogo, devemos começar a fazer as perguntas certas. Há um impulso por um mundo 100% renovável e, depois da pesquisa que fiz para este documentário, não quero participar dele.” 

Para além dessa questão de que as soluções tecnológicas “não nascem em árvores”, mas são produtos de uma indústria tão poluidora (e, algumas vezes até mais) do que a da chamada “indústria marrom”, Bright Green Lies chama a atenção para o viés de classe do problema ambiental. Que o “ambientalismo verde brilhante” procura ignorar ou ocultar. O movimento ambientalista é dominado pela classe média, assim como os seus valores economicamente aspiracionais que impregnam sua agenda.

Além do fato de que os 10% mais ricos da população global causam metade da poluição do planeta. Mesmo dentro dos países mais ricos, a desigualdade social significa que as famílias ricas emitem muito mais poluição que as mais pobres. Portanto, a poluição está absolutamente associada à desigualdade econômica e ao consumoEssa distorção significa que os estados mais ricos deveriam reduzir o consumo em talvez 90%.



Como coloca o autor do livro, Max Wilbert, “quando as pessoas falam sobre transição de energia 100% renovável para salvar o planeta, para salvar a civilização, o que elas realmente estão falando é sobre sustentar modos de vida modernos de alta energia, às custas do mundo material”.

Portanto, Bright Green Lies concentra-se em desvendar duas grandes mentiras do “ambientalismo verde brilhante”: primeiro, que as tecnologias verdes são produtos de uma indústria igualmente destruidora de recursos naturais; segundo, assim como o financismo lava dinheiro sujo no cassino global, da mesma maneira o ambientalismo corporativo que lavar em cores verdes o capitalismo e o sistema predatório do consumismo.




O Documentário

 Logo nas primeiras cenas, vemos Max Wilbert furtivamente entrando em uma extensa instalação de painéis solares em uma área desértica no Oregon. “O que está acontecendo aqui?... por que não querem você invadindo esses lugares?”, diz diante de uma ameaçadora placa avisando: “Alta Tensão. Mantenha-se afastado. Pessoal autorizado”.

Wilbert observa que as placas solares estão muito empoeiradas. Por isso precisam ser regularmente lavadas: “o que você não percebe é que as instalações de energia solar são grandes consumidoras de água, mesmo numa região desértica onde o uso de água é um problema”.

Wilbert destaca que as placas são feitas de silício, que é extraído e refinado a temperaturas extremamente altas, em processos destrutivos. Sem falar nos painéis montados em grandes tubos de aço. Ou seja, Wilbert está diante de uma instalação “verde” resultante de produção de energia industrial que utiliza carvão ou combustíveis fósseis... nada a ver com salvação do planeta.

Acrescente a isso o fato de que a demanda crescente por silício (e areia, a sua matéria-prima) está levando à destruição de habitats, rios, erosão em praias, muitas das quais vem perdendo terreno por causa da elevação do nível do mar. Somado à demanda crescente (um aumento projetado em até 40 vezes até 2040) de outros minerais exigidos pela tecnologia verde como lítio, grafite, cobalto e níquel matérias tão estratégicos que se transformam em interesses em golpes políticos, como na Bolívia que levou à renúncia de Evo Morales em 2019.

Elon Musk que os diga: “Vamos dar golpe em quem quisermos!”, disse sobre o golpe em Evo Morales e o seu interesse pelo lítio da Bolívia – o lítio das baterias que alimentam os veículos Tesla de Musk.

O documentário deixa bem claro como são antitéticos o cálculo econômico da iniciativa capitalista e a necessidade da proteção ambiental: “quando uma empresa investe em energia eólica, é tipicamente uma decisão econômica... não significa que estão usando menos combustível fóssil. A ironia é que os lucros que vêm de energia renovável, pode ser re-investido em qualquer lugar da economia. Não significa que esses lucros serão investidos em mais energia eólica. São investidos também na expansão da extração de combustíveis fósseis”. 




O documentário deixa claro que não se trata de uma “maldade” do capitalista, mas da própria lógica da iniciativa privada. Afinal, como diria Gordon Geko no filme Wall Street, “a ambição é boa”. É a fé na “mão invisível”: a ambição é moralmente boa porque acredita-se que todos os apetites individuais alcançarão o equilíbrio pelas regras de mercado – é o princípio de fé no qual se baseia, por exemplo, o mercado de crédito de carbonos. Que, na prática, só mantém em funcionamento a “indústria marrom”.

Outra verdade por trás das “brilhantes mentiras verdes” é a demanda por cobre da energia “limpa” eólica. Julia Barnes nos mostra “um dos maiores buracos feitos pelo homem no mundo”: a mina de cobre de Salt Lake City, em funcionamento há 100 anos. O escritor Max Wilbert explica que a produção de cobre é absolutamente essencial para as turbinas eólicas – mil libras de cobre em cada cinco megawatts.

Empresários como Mark Jacobson, ligado 100% a energias renováveis, está projetando a construção de 3,8 milhões de turbinas de 5 megawatts. Multiplique isso por mil libras de cobre por turbina. “Você necessitaria da produção completa de seis anos da mina Bingham Canyon, uma das maiores do mundo”, aponta Wilbert.

 Lierre Keith, um dos autores do livro que originou o documentário, lamenta: “o movimento ambientalista costumava ser ocupado por um grupo de pessoas muito apaixonadas que se preocupavam com as pessoas e criaturas que amamos. Porém, esse movimento se tornou algo completamente diferente. Agora se trata de proteger um modo de vida destrutivo”.




Bright Green Lies mostra como centenas de milhares de pessoas marchando nas ruas de Washington, Nova York ou Paris, tão bem-intencionadas querendo salvar o planeta, foram cooptadas e transformadas em lobistas de uma indústria em busca de isenções e incentivos governamentais.

Como diria David Phillips, membro do Conselho de Administração da startup por trás da gestão da imagem de Greta Thunberg, We Don’t Have a Time: “Como é possível ser tão facilmente enganado por algo tão simples como uma estória? Bem, tudo se resumiria a um elemento principal: o investimento emocional. Quanto mais investido emocionalmente você estiver em qualquer coisa em sua vida, menos crítico e observador se tornará”.



 

Ficha Técnica 

Título: Bright Green Lies

Diretor: Julia Barnes

Roteiro: Julia Barnes

Elenco: Julia Barnes, Derrick Jensen, Max Wilbert, Lierre Keith

Produção: FilMe

Distribuição:  Vimeo, Itunes, YouTube Movies

Ano: 2021

País: França, Bélgica

 

Postagens Relacionadas


A presunção da catástrofe da COP 26: engenharia de consenso do Capitalismo Verde



Fabricando a “pirralha” Greta Thunberg: a engenharia social do consenso climático



A escassez de água é uma bomba semiótica?



Uma sátira às boas intenções dos ambientalistas no filme “Pequena Grande Vida”



Tecnologia do Blogger.

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Bluehost Review