sábado, abril 16, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Esqueça o bacalhau e ovos de Páscoa! Tem a Live Cinegnose 360 #51, nesse domingo (17/04), às 18h, no YouTube. Para quê? Para começar com os vinis do humilde blogueiro: banda Primus, álbum “Pork Soda” e a subcultura trash dos anos 90: será que foi a incubadora da alt-right do século XXI? Filmes “Jimmy Savile: A British Horror Story” (como a câmera mente mostrando o que quer ocultar) e “Nitram” (Nietzsche e Schopenhauer se encontram com os atiradores em massa). O estranho ataque no metrô no Brooklin. False Flag? Para quê? Depois, vamos revisitar o documentário de Adam Curtis “O Século do Ego” (2002): o sujeito fractal do século XXI. Do viagra à campanha do TSE “Bora Votar”: novas PsyOps do PMiG (Partido Militar Golpista). E a crítica midiática da semana. Venha se despedir da Páscoa participando da Live Cinegnose 360.
sábado, abril 16, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Schopenhauer acreditava que num mundo sem sentido, a vontade seria a fonte de todo sofrimento. Nietzsche não concordava: “não há vida fora da vontade”, acreditava o filósofo. Nem que seja para ter vontade do nada quando não há nada mais para querer. O filme australiano “Nitram” (2021), do cineasta Justin Kurzel, confirma essa tese de Nietzsche ao fazer uma perturbadora radiografia do atirador em massa do trágico episódio conhecido como “massacre de Port Arthur”, na Austrália, em 1996. Kurzel revisita todas as teses mais batidas em filmes e documentários sobre atiradores em massa (bullying, a “criança diabólica”, pais insensíveis etc.) para se concentrar na responsabilidade das instituições, legislações e nos “efeitos copycat” desencadeados pela cobertura midiática sensacionalista. As formas como a sociedade pode desencadear mecanismos que canalizem a “vontade do nada” presente na doença humana.
“O homem preferirá ainda a vontade do nada ao nada de vontade”
(Friedrich Nietzsche, “Genealogia da Moral”)
Nietzsche considerava o homem um animal doente. E a sua doença é perceber que o mundo não tem sentido. E o ascetismo é uma tentativa de cura. O ideal ascético (humildade, pobreza e castidade) é uma tentativa de o sofredor manter-se vivo, criando um sentido para a existência através do próprio sofrimento.
Com isso, Nietzsche queria dar uma resposta a Schopenhauer em seu “Mundo como Vontade e Representação:” para o filósofo, o ascetismo seria uma forma de tentar anular a vontade que, ao final, seria a fonte de todo o sofrimento numa existência sem sentido.
Porém Nietzsche discordava: a vontade pelo nada pode ser o último lugar para onde se queira apontar, a última salvação. Para Nietzsche, não há vida fora da vontade: é possível querer o nada, mas é impossível deixar de querer.
O ascetismo pode ser uma faca de dois gumes: a solidão pode dar o poder de se concentrar, “onde os espíritos fortes, os homens cultos, precisam se isolar”. Mas também a vida ascética pode ser dominada pelo ressentimento – o desejo de dominar a própria vontade pode se revoltar na repressão fisiológica, autoflagelo e autossacrifício, pode resultar na destruição da própria existência como o último objeto da vontade.
O filme australiano Nitram (2021), do cineasta Justin Kurzel (Snowtown), faz lembrar essas reflexões nietzschianas sobre a vontade e o nada. Kurzel retorna ao subgênero dos filmes sobre atiradores em massa com uma inquietante dissecação dos motivos que levaram Martin Bryant a cometer uma onde de assassinatos, conhecidos como o Massacre de Port Arthur, Austrália, 1996.
O massacre, no qual morreram 35 pessoas e mais 23 feridas, ocorreu principalmente na antiga colônia penal de Port Arthur, que foi recuperado e se tornou uma local turístico popular no sudoeste da Tasmânia – o único caso de atirador na história do país.
Em quase duas horas de duração, Kurzel revisita todos os tropos dos filmes e documentários sobre atiradores em massa como Elephant (Guz Van Sant) e Precisamos Falar Sobre Kevin (Lynne Ramsay), tornando o roteiro de Shaun Grant uma narrativa autoconsciente.
Para começar, o nome do atirador nunca é mencionado no filme, apenas o seu apelido, refletindo a abordagem atual que visa evitar a notoriedade aos agressores. Ao longo do filme vai revisitando todas as teses clássicas: Nitram queria comprar uma prancha de surf e a mãe o desencorajou de forma ambígua: “eu te amo, mas surfar não é para você”. Será que isso teria um significado especial? Assim como, se Hitler fosse admitido na escola de arte, não ocorreria a Segunda Guerra Mundial?
Há a questão dos problemas psiquiátricos: Nitram tomava antidepressivos – a doença mental poderia ser uma justificativa? Uma pária menosprezado vítima de bullying? Ou a ideia de que, desde tenra idade, era uma “criança demoníaca” – a ideia do Mal sugerida pelo filme do diretor Lynne Ramsay.
Kurzel atravessa todas essas possibilidades, de forma cerebral e autoconsciente, sem tomar partido. Porém, o diretor destaca a questão da violência em si, como o único objetivo ou sentido que restou ao protagonista. Como fica claro na sequência em que seu pai está deitado no sofá em um estupor depressivo, após um negócio malsucedido. Nitram ataca violentamente seu pai com tapas e socos. Quando a mãe lhe pergunta por que fez isso, ele responde de forma enigmática: “Isso é o que você deveria fazer... Então, é isso que você faz”.
Nitram é um estudo arrepiante desse tipo de mentalidade simplista que vê a violência como uma maneira de desencadear algum tipo de resposta. Por isso, o estudo de Kurzel lembra o diagnóstico nietzschiano: de repente a vontade do nada através da violência pode conceder sentido a uma existência sem sentido.
O Filme
Na primeira sequência vemos o menino Bryant, na ala de queimado de um hospital, sendo indagado se aprendeu a lição sobre brincar com fogos de artifício. “Sim... mas ainda continuo brincando com eles”, responde o menino. É um toque inteligente, porque, desde o início, o filme estabelece que o protagonista entende as repercussões de suas ações, colocando-se a questão da amoralidade.
O personagem principal é chamado "Nitram" (o primeiro nome do criminoso real soletrado ao inverso) é interpretado por Caleb Landry Jones. Nitram mora com seus pais (Judy Davis e Anthony LaPaglia), ambos cansados do esforço de manter um olho vigilante em seu filho crescido perigosamente errático. Incapaz de manter um emprego convencional, Nitram conhece Helen (Essie Davis) quando está rondando o bairro, oferecendo cortar grama em troca de dinheiro. Ao contrário da maioria das pessoas que ele encontra, Helen - uma excêntrica ex-atriz, embora menos ameaçadora - o convida a morar na sua casa, e os dois embarcam em um romance incomum. Por um tempo, os dois desajustados alcançam um equilíbrio frágil.
Então a tragédia se abate, deixando Nitram sozinho em um grande casarão na companhia de vários cães. Ele herda de Helen mais de meio milhão de dólares. Mas isso torna o protagonista ainda mais errático – ele decide conhecer Los Angeles e Hollywood. E na volta, após o traumático suicídio do pai depressivo, começa a alimentar a ideia de que a violência é a única maneira de conseguir uma resposta em uma existência vazia.
A partir de então, Nitram marcha inflexivelmente em direção ao final que sabemos que está chegando.
Nitram de Justin Kurzel caracteriza-se pela neutralidade e isenção emocional. Preocupações da crítica de que o filme teria pena do assassino, que ele se tornaria algum tipo de herói incompreendido que não teria escolhido um caminho tão terrível se não tivesse sofrido bullying na escola ou fosse mais amado por seus pais, rapidamente se provam infundadas.
Nitram também não trata o seu protagonista como alguém perturbado ou caricaturalmente maligno. Nunca temos a sensação de que Kurzel está tentando nos impor como deveríamos sentir em relação a Nitram. Somos apenas solicitados a observar, não a julgar. Em um filme centrado em um evento tão traumático, a manutenção de uma perspectiva não ofuscada pela intensidade da emoção é uma característica notável da narrativa.
Outra armadilha potencial evitada está no retrato dos pais de Nitram, a quem o filme trata com muito mais simpatia do que culpa. Desde o instante em que os conhecemos, a pura exaustão de cuidar constantemente de seu filho aterrorizante está estampada em seus rostos. Embora a mãe de Nitram seja severa e seu pai permissivo (pais exaustos e incompatíveis), ambos claramente amam seu filho. Eles tentam fazee o melhor para ele, enquanto lutam com a crescente percepção de que seu melhor nunca será bom o suficiente.
Efeito Copycat
Na verdade, o foco de Nitram está num sistema que permitiu que um jovem claramente desequilibrado com uma mochilacontendo meio milhão de dólares saísse de uma loja de armas com armamento suficiente para um pequeno exército. A sequência central da loja de armas se destaca por sua banalidade repugnante; a amabilidade descontraída dos vendedores é quase tão desconcertante quanto as poucas cenas de violência aberta.
Aqui e ali no filme, Kurzel sugere o fator midiático na influência comportamental do atirador em massa. De início, o desejo do protagonista querer conhecer Hollywood, após a morte de sua companheira e de ter herdado sua fortuna. Em outra passagem, percebemos que a TV da casa dos pais de Nitram está transmitindo um telejornal que dá notícias de um massacre famoso naquele momento: o massacre da escola de Dunblane, na Escócia, em que um atirador matou 16 crianças e uma professora. Muitos acreditam num “efeito copycat” (efeito de imitação), teoria de que o efeito de saturação da cobertura sensacionalista da mídia dá o incentivo a que indivíduos disfuncionais repitam o crime – clique aqui.
E no final do filme, antes do protagonista iniciar o massacre, ele coloca uma filmadora na mesa do restaurante e liga. Dando início ao atentado.
A descrição de vida de Nitram como uma espécie de monotonia claustrofóbica é a chave de compreensão do filme: seu isolamento e ascetismo (reforçado ainda pelo antagonista mundano, um surfista bem-sucedido cuja namorada o esnobou em uma importante cena que sugere o ressentimento) são cuidadosamente cultivados até se transformar na vontade nietzschiana pelo nada final.
A mensagem de Kurzel está nos créditos finais do filme mostrando as consequências: como o massacre estimulou na Austrália a “Lei de Implementação do Programa Nacional de Armas de Fogo de 1996”, restringindo a propriedade privada de espingardas semiautomáticas de alta capacidade, espingardas de caça semiautomáticas e espingardas de pressão, assim como introduziu a licença padronizada para compra de armas de fogo.
Ficha Técnica
Título: Nitram
Diretor: Justin Kurzel
Roteiro: Shaun Grant
Elenco: Caleb Landry Jones, Judy Davis, Anthony LaPaglia, Essie Davis
Produção: GoodThings Productions, Melbourne International Film Festival
quinta-feira, abril 14, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Desde o primeiro dia, toda semana, incansavelmente, o governo Bolsonaro e o PMiG (Partido Militar Golpista) inventam uma crise. Uma operação psicológica chamada “guerra criptografada de Informações” com um objetivo geral de “aloprar” o cenário político do momento, aproveitando-se da perigosa ingenuidade dos jornalistas e do fígado sempre reativo da esquerda. Apagar as digitais do PMiG e ocultar os fundamentos neoliberais do governo são algumas das metas dessa psyOp. Depois que a guerra na Ucrânia perdeu a audiência na grande mídia, o PMiG voltou com tudo: crise na Petrobrás e no ministério da Educação. E, nessa semana, a compra milionária de viagra e próteses penianas para a caserna. Em todo esse embaralhamento de informações, está passando despercebido o porquê do súbito interesse “cívico” do TSE no primeiro título de eleitor do jovem – a natureza do voto dessa faixa etária será um prato cheio para o ardil semiótico alt-right.
quarta-feira, abril 13, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A câmera é capaz de mentir mesmo mostrando aquilo que pretende esconder? Essa é a questão central do documentário Netflix “Jimmy Savile: A British Horror Story” (2022) sobre o escândalo que explodiu após a morte do icônico DJ, apresentador de TV e filantropo inglês – um rastro de mais de 500 vítimas de abusos e estupros, principalmente de menores de reformatórios, hospitais e instituições psiquiátricas. Jimmy Savile foi por 60 anos uma celebridade do showbiz, admirado por Margaret Thatcher, amigo da família real e com uma multidão de fãs. Boatos de assédios e abusos o acompanharam, mas Savile espertamente os alimentava na mídia, diante das câmeras, para depois ser tudo abafado pela sua credibilidade que os milhões que arrecadava para a caridade construíram. Será que Savile hipnotizou toda uma nação com seu jeito excêntrico e lunático? Assim como Dr. Caligari, no clássico do cinema alemão? O caso Savile revela esse ardil do vilão do filme que teria prenunciado o zeitgeist do nazifascismo.
sábado, abril 09, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quase completando um ano, a Live Cinegnose 360 chega à edição #50, nesse domingo (10/04) às 18h, no YouTube. Como todos já sabem, começamos com os vinis do humilde blogueiro. Vamos conversar sobre o rock progressivo “acidental” da banda Jethro Tull: álbum “Thick as a Brick”, uma piada que se tornou séria. Depois, um filme estranho para cinéfilos corajosos: “Ham on Rye”, a adolescência e os ritos de passagem; e a série “For All Mankind”: e se os soviéticos tivessem sido os primeiros a chegar na Lua? E o Oscar vai para... o “Massacre de Bucha”, o remake do “Os Ossários de Timisoara” de 1989. O que os “alt-right” Daniel Silveira, Arthur do Val e Gabriel Monteiro tem a ver com o pensador francês Paul Virilio? – o tempo real e a crise da democracia representativa. Crítica midiática da semana: os “telecatchs” da Petrobrás e do ministério da Educação. Venha participar dessa histórica edição #50!
sexta-feira, abril 08, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ao lado da série “O Homem do Castelo Alto”, “For All Mankind” (2019- ) é uma série que se alinha ao subgênero das realidades alternativas – se a série baseada em Philip K. Dick mostrava uma realidade alternativa na qual Alemanha e Japão ganhavam a Segunda Guerra Mundial, nessa da Apple TV + acompanhamos o efeito em cascata, seja geopolítico, seja na cultura e costumes, dos soviéticos terem sido não só os primeiros a pisar na Lua, mas de também colocar a primeira mulher cosmonauta pisando o solo lunar. A questão é que, mesmo em um mundo alternativo, a série repete as mesmas mitologias do nosso mundo real: a NASA como como uma agência “científica” e astronautas como os playboys do “american dream”.
quinta-feira, abril 07, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Ham on Rye” (2019), do diretor Tyler Taormina, é um daqueles filmes para cinéfilos aventureiros: é um filme marcado pela estranheza porque, aparentemente, nada acontece. A única âncora narrativa é uma espécie de ritual de passagem tradicional de uma cidadezinha suburbana sem graça: grupos de adolescentes do final do ensino médio rumam para a lanchonete Monty’s no qual, de alguma maneira, será decidido o futuro adulto de cada um. “Ham on Rye” é um filme sobre a impermanência da juventude e a forma como ela parece desaparecer. É um filme vago, mas, estranhamente prazeroso. Há um subtexto sobre o dilema adolescente do “duplo vínculo”: o medo paralisante da rejeição criado pelo dilema de ficar entre o sonho e o conformismo; entre as aspirações e a resignação.
quarta-feira, abril 06, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Todo o hype atual em torno das fake news parece ocultar algo mais pernicioso: os não-acontecimentos – eventos em que a informação se confunde com a fonte, tornando sem sentido a diferença entre verdade e mentira. Os “Ossários de Timisoara”, 1989, escândalo das imagens de centenas de mortos, montadas para a necrofilia televisiva e que levou ao desfecho da Revolução Romena, foi a mãe de todos os modernos não-acontecimentos, das guerras às revoluções híbridas. O “Massacre de Bucha” é mais uma não-acontecimento, com o seu timing, inconsistências, canastrice ficcional e, como sempre, um evento cuja verossimilhança não resiste a uma simples pergunta: quem ganha?
domingo, abril 03, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Onde tem um velho blogueiro analisando velhos vinis, discutindo filmes e séries novas e, também, analisando notícias e fatos não tão novos assim? É na Live Cinegnose 360, neste domingo (03/04) na edição #49, às 18h, no YouTube. Na sessão dos velhos vinis do humilde blogueiro, vamos ouvir e analisar o jazz de Charlie Parker: o jazz Bebop, o segundo cometa que bateu em Nova York (qual foi o primeiro?). Em seguida, vamos discutir o simbolismo político e social dos zumbis com o filme “Os Mortos não Morrem”, de Jim Jarmusch. Filme “Batman” e o papel das franquias Marvel e DC Comics na formação do “mind set” da guerra híbrida global. Por que as “Fake News” e “Fact-Checking” viraram o “hype” do jornalismo e do TSE? Guerra na Ucrânia: quando a realidade alcança a ficção. O sincronismo do “31 de Março”: sincromisticismo e Parapolítica. A crítica midiática da semana: como dar uma má notícia com palavras positivas?
sexta-feira, abril 01, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Pouco depois dos atentados de 2001 nos EUA, o Governo Bush reuniu-se com os chefões da indústria do entretenimento, em um hotel de Beverly Hills, definindo uma Agenda Hollywood para os próximos 20 anos com as linhas gerais para produção de conteúdos. Entre elas, a intensificação das franquias de super-heróis das franquias Marvel e DC Comics. Mais do que impor valores americanos, a estratégia era de criar o “neurocinema”: através do universo expandido das franquias, criar um “mind set” necessário para as “revoluções híbridas” planetárias da geopolítica dos EUA. “Batman” (The Batman, 2022) de Matt Reeves é a produção mais acabada dessa Agenda – como o senso particular de justiça de Batman criou um monstro: uma versão Incel do Charada numa Gotham doente e decadente, no qual ressentimento e o senso de antipolítica pavimentam a ingovernabilidade necessária para todas as “revoluções coloridas” globais.
quarta-feira, março 30, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O planeta sai do eixo devido a uma exploração geológica predatória no Polo Norte. O dia e noite começam a mudar instantaneamente. Os animais fogem ou enlouquecem. Mas na pequena cidade de Centerville todos ignoram, imersos em que estão na sua pacata rotina. Até que os mortos ressuscitam, transformados em zumbis. Mas eles não querem apenas comer os vivos: querem voltar a consumir produtos e objetos de que gostavam quando eram vivos. Essa é a comédia de humor negro de Jim Jarmusch “Os Mortos Não Morrem” (The Dead Don’t Die, 2019), um filme político e espiritualmente amargo: retoma o simbolismo político original de George Romero em “A Noite dos Mortos-Vivos” (1968) para dar uma complementação existencial gnóstica: e se nos formos como os mortos-vivos, vagando pela Terra sonolentos e arrastados?
domingo, março 27, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quer fazer o final de domingo valer à pena? Então participe da Live Cinegnose 360 #48, nesse domingo (27/03), às 18h, no YouTube. Na sessão dos vinis desse humilde blogueiro, vamos falar de música clássica: por que Nietzsche cancelou Richard Wagner? – e o que isso tem a ver com o Top 10 das músicas mais executadas nas rádios brasileiras. Depois, Gnosticismo e o escritor Philip K. Dick em duas séries: “Feria: Segredos Obscuros” e “Philip K. Dick’s Eletric Dreams”. E um balanço sobre um mês de cobertura midiática na guerra da Ucrânia: recorrências, clichês e contradições. Pesquisas eleitorais apontam que a grande mídia vai de Bolsonaro mesmo! PMiG e a guerra semiótica criptografada: o “escândalo” do Ministério da Educação e Val do Açaí. Junte-se aos cinegnósticos nesse domingo!
sexta-feira, março 25, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A cobertura midiática da guerra na Ucrânia completou um mês e já demonstra as mazelas de todas as coberturas extensivas, de Olimpíadas a conflitos como esse no Leste europeu: a obrigação de cumprir o mesmo script por um tempo tão longo expõe a recorrência de clichês e contradições retóricas e das condições em que os fatos são reportados: a retórica da “guerra de narrativas”; civis mortos vs. apologia à resistência civil; o silencioso mascaramento da utilização de vídeo news releases nos telejornais; hipernormalização da tragédia com o pianista ou violinista mais próximo; a avaliação “sobrenatural” do poderio militar russo vs. fracasso militar russo; a retórica metonímica da “guerra nuclear” etc. Porém, o maniqueísmo midiático não faz a pergunta principal: quem ganha com a guerra? O jornalismo corporativo quer ocultar que tanto Biden como Putin ganham, dentro da atual agenda do Grande Reset Global.
quarta-feira, março 23, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O final do milênio criou um zeitgeist que parecia despertar crenças milenaristas medievais: seitas esotéricas ou ocultistas, envolvendo suicídios coletivos, começaram a pipocar em várias partes do mundo. E na cultura pop, Nostradamus e profecias sobre o fim do mundo (inclusive o Y2K, o “bug do milênio”) estavam em alta. Não foi por acaso que as mitologias gnósticas chegaram ao mainstream hollywoodiano, consolidando o gnosticismo pop em filmes como “Show de Truman” e “Matrix”. É neste espírito de final do século XX que se inspira a série Netflix espanhola “Feria: Segredos Obscuros” (2022). Em 1995, uma pequena cidade é atingida por um evento inexplicável: 23 pessoas aparecem mortas junto a uma antiga mina, envolvendo algum tipo de seita ocultista. Repleta de alusões ao Gnosticismo, a série tenta combinar a mitologia gnóstica com todos os tropos dos filmes sobre seitas e cultos: sacrifícios de sangue, sexo ritual, morte, portais interdimensionais etc. E até uma metáfora política do regime franquista na Espanha.
sábado, março 19, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nessa semana a Live Cinegnose 360 estará nos embalos de sábado à noite. Excepcionalmente, a Live #47 será nesse sábado, 19/03, às 18h, no YouTube. Na sessão dos vinis desse humilde blogueiro vamos com New Order e a história da subcultura Acid House: música, esoterismo e a ascensão das “smartdrugs”. Vamos também discutir dois filmes estranhos: “The Seed” (HP Lovecraft invade mundo dos influenciadores digitais) e “Ultrasound” (o quebra-cabeça da manipulação tecnocientífica da memória). De São Paulo à Ucrânia, o Efeito Heisenberg midiático: quando a realidade vira estúdio de TV a céu aberto. Será que Biden e Putin simulam crise geopolítica para subjugar a Europa? Guerra semiótica criptografada: a escaramuça da Petrobras e diversionismo no quarto ano do assassinato de Marielle Franco. A prova do pudim: grande mídia vai de Bolsonaro mesmo!
sexta-feira, março 18, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que há em comum entre uma cratera que quase parou a Linha 11 da companhia de trens de São Paulo e mercenários brasileiros que ingenuamente facilitam a localização da ciberinteligência russa por postarem, nas redes sociais, fotos e clipes ao som de “Tropa de Elite”? Um efeito midiático que praticamente transforma acontecimentos em estúdios de TV a céu aberto: o “Efeito Heisenberg” – a mídia já não consegue transmitir os fatos, mas o impacto que a cobertura produz nos próprios fatos. Na verdade, o tempo todo ela cobre a si mesma. Enquanto a “alternativa técnica” da Prefeitura para tapar a cratera provocou cenas catastróficas de enchentes na região da Zona Leste de São Paulo, a vaidade das poses heroicas em busca de likes atrai os mísseis russos. O Efeito Heisenberg ilustra muito bem o potencial efeito letal da grande mídia em guerras híbridas.
quarta-feira, março 16, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Apesar da identidade ser estável e perene, ela é baseada em sensações frágeis e lábeis que constituem interpretações muito pessoais da nossa verdade: as memórias. É esse paradoxo do psiquismo que se torna o ponto fraco de qualquer manipulação mental. Principalmente por ferramentas tecnocientíficas. Pior ainda se tiver por trás corporações ou governos. “Ultrasound” (2021) é um quebra-cabeça ao estilo de Christopher Nolan em “Amnésia” ou “Inception” que ecoa as conspirações do Deep State da Guerra Fria (e parece que estamos de volta!) de projetos como MK-Ultra e Blue Bird de manipulação mental. O início do labirinto começa com um homem que, numa noite chuvosa, é obrigado a abandonar o carro com pneus furados e pedir ajuda numa casa. Lá encontra um casal amigável e prestativo... mas lembre que em “Psicose”, Norman Bates também era...
terça-feira, março 15, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Se em “Não Olhe Para Cima” a humanidade, fechada nas bolhas virtuais das mídias sociais, ficava indiferente a um asteroide em rota de colisão com a Terra, no terror sci-fi “The Seed” (2021) influenciadoras digitais veem num alien que cai do céu apenas um conteúdo para aumentar engajamento e monetização nas redes sociais. Três amigas vão passar o final de semana regado a bebidas e drogas em um rancho no meio do deserto do Mojave para assistir a uma rara chuva de meteoros. Mas o que até então era uma comédia de terror leve sobre adolescentes ricas e insípidas em férias de verão, de repente se transforma em uma mistura de alucinação alienígena erótica e horror corporal ao melhor estilo do horror cósmico do escritor gótico norte-americano HP Lovecraft.
domingo, março 13, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
E a invasão de domingo continua! Live Cinegnose 360 #46, 13/03, às 18h no YouTube. Diretamente dos vinis do humilde blogueiro, nos labirintos esotéricos da mais emblemática banda de rock progressivo: “Yes”. Você quer deixar de ficar depressivo no domingo, com medo da segunda-feira? Então conheça a série “Ruptura”: as tiranias tecnológicas das empresas modernas. E depois, o filme “Ele Está de Volta”: o século XXI recebe Hitler de braços abertos. Filme que nos introduzirá ao próximo assunto: como a guerra na Ucrânia se transformou no espelho do Ocidente. Uma pergunta: o que está fazendo o símbolo ocultista do “Sol Negro” nos uniformes dos soldados ucranianos? E mais: Ucrânia está se transformando num estúdio de TV a céu aberto – guerra e “eventos-encenação”. O ótimo rendimento semiótico da guerra na Ucrânia para o PMiG brasileiro: como tirar o neoliberalismo da reta no tarifaço dos combustíveis. Venha para o front da invasão!
sexta-feira, março 11, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Na cobertura jornalística da Guerra na Ucrânia, a grande mídia vem falando muito em “guerra de narrativas” e “propaganda de guerra”, além da “verdade como a primeira vítima”. Claro, que tudo isso só se aplica aos russos. Porém, na utilização dessas expressões de “desconstrução” existe um ardil: oculta uma coisa mais grave do que “narrativas” – o fato de que na guerra atual não há mais dissimulações, mas simulações: “eventos-encenação”. Não importam as narrativas de dissimulações, sejam da OTAN ou de Putin. O ponto de partida já é simulado. Dois exemplos: o vídeo-diário do “Illusion Warfare Report” e o site “Anti-Spigel” que denunciam como a Ucrânia está se tornando um estúdio de TV a céu aberto para a produção de vídeo especialmente roteirizados para serem posteriormente segmentados em pequenos clipes pelos telejornais – para serem exibidos em lopping nas inúmeras entrevistas ao vivo com especialistas.
quinta-feira, março 10, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Chega de tentar equilibrar as exigências do trabalho com a vida pessoal. Chega de estresse e burnout. Chega de levar problemas para casa. Chega de ficar depressivo no domingo com medo da segunda-feira. Na série Apple TV+ “Ruptura” (“Severance”, 2022- ) esses problemas terminaram. Ou aparentemente. Afinal, como o bom e velho Freud dizia, o reprimido sempre retorna. Em um futuro próximo uma revolucionária técnica neurocirúrgica chamada “Ruptura” cria dois selfs totalmente incomunicáveis em funcionários de uma misteriosa corporação: o eu da vida pessoal não lembra do eu que trabalha na empresa. É como vender parte de si à corporação. A série “Ruptura” é uma espécie de “The Office” hipo-utópico: revela desde as suaves tiranias dos escritórios modernos até o grande projeto de engenharia social do Capitalismo: controlar o tempo livre dos indivíduos através do esquecimento.
quarta-feira, março 09, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
"Parecem com a gente!”, exclamou o repórter da CBS News ao ver imagens de refugiados ucranianos. Ato falho sintomático: foi a deixa para aumentar a escalada retórica midiática da iminência de uma “guerra mundial” – afinal, guerra mundiais só acontecem quando brancos estão morrendo. No mundo real, a Segunda Guerra Mundial jamais terminou. Os Impérios nunca pararam de lutar em inúmeras guerras quentes e golpes a sangue frio por décadas. Historicamente, as guerras mundiais sempre liberam o Império Branco (América-Europa) da culpa da própria violência colonial e racismo, ao escolherem o Hitler da vez e dizer “esse era o cara mau” e “nós o pegamos”. Agora, é Putin, com todo o “physique du rôle” para o papel. O Império sempre precisa de um Hitler. Caso contrário, eles teriam que se olhar no espelho e ver sua própria hipocrisia. Há 77 anos, Aimé Césaire, no livro “Discurso Sobre o Colonialismo”, chamava de “efeito bumerangue” quando as guerras se voltam contra o próprio Império, com mesmo racismo e violência que dispensam às suas colônias. E novos “Hitlers” são necessários. A diferença é que não mais gerados pelo Cristianismo. Mas agora pela democracia liberal midiática.
domingo, março 06, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Live Cinegnose 360 vai invadir esse domingo. Com data, hora e lugar marcados para começar a invasão: 06/03, às 18h, no YouTube. Vamos começar com o vinil do rock progressivo do Gentle Giant: uma banda inspirada na sátira do escritor Rabelais e na anti-psiquiatria de RD Laing. E continuar com análise de duas séries nórdicas: “Equinox” (por que milhares de pessoas desaparecem no mundo?) e “Post Mortem: Ninguém Morre em Skarnes” (o vampiro, muito além dos clichês hollywoodianos). Depois vamos discutir a real da guerra na Ucrânia: a estratégia semiótica de hipernormalização midiática e os grandes vencedores: o Deep State e o Grande Reset Global do Capitalismo – como a conta de todo esse “infotenimento” midiático vai chegar para nós. Guerra criptografada do PMiG está bugando até a cabeça da extrema-direita. Venha participar dessa invasão de domingo!
Cinegnose participa do programa Poros da Comunicação na FAPCOM
Este humilde blogueiro participou da edição de número seis do programa “Poros da Comunicação” no canal do YouTube TV FAPCOM, cujo tema foi “Tecnologia e o Sagrado: um novo obscurantismo?
Esse humilde blogueiro participou da 9a. Fatecnologia na Faculdade de Tecnologia de São Caetano do Sul (SP) em 11/05 onde discutiu os seguintes temas: cinema gnóstico; Gnosticismo nas ciências e nos jogos digitais; As mito-narrativas gnósticas e as transformações da Jornada do Herói nas HQs e no Cinema; As semióticas das narrativas como ferramentas de produção de roteiros.
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Coleção Curtas da Semana
Lista semanalmente atualizada com curtas que celebram o Gnóstico, o Estranho e o Surreal
Após cinco temporadas, a premiada série televisiva de dramas, crimes e thriller “Breaking Bad” (2008-2013) ingressou na lista de filmes d...
Bem Vindo
"Cinema Secreto: Cinegnose" é um Blog dedicado à divulgação e discussões sobre pesquisas e insights em torno das relações entre Gnosticismo, Sincromisticismo, Semiótica e Psicanálise com Cinema e cultura pop.
A lista atualizada dos filmes gnósticos do Blog
No Oitavo Aniversário o Cinegnose atualiza lista com 101 filmes: CosmoGnósticos, PsicoGnósticos, TecnoGnósticos, AstroGnósticos e CronoGnósticos.
Esse humilde blogueiro participou do Hangout Gnóstico da Sociedade Gnóstica Internacional de Curitiba (PR) em 03/03 desse ano onde pude descrever a trajetória do blog "Cinema Secreto: Cinegnose" e a sua contribuição no campo da pesquisa das conexões entre Cinema e Gnosticismo.
Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, organizado pelo Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
Neste trabalho analiso a produção cinematográfica norte-americana (1995 a 2005) onde é marcante a recorrência de elementos temáticos inspirados nas narrativas míticas do Gnosticismo.>>> Leia mais>>>
"O Caos Semiótico"
Composto por seis capítulos, o livro é estruturado em duas partes distintas: a primeira parte a “Psicanálise da Comunicação” e, a segunda, “Da Semiótica ao Pós-Moderno >>>>> Leia mais>>>