quarta-feira, fevereiro 09, 2022

O fantasma do passado cancela o futuro na animação 'The House'


A animação em stop-motion (uma arte que se tornou um pequeno nicho) é perfeita para se criar atmosferas pela riqueza e intensidade de detalhes que a técnica pode oferecer. Principalmente em narrativas que envolvem claustrofobia e confinamento. A animação da Netflix “The House” (2022) faz o espectador mergulhar nessa atmosfera em seus três episódios, cujo casarão em estilo georgiano é o fio condutor. Mas a sensação claustrofóbica não vem da casa, mas dos fantasmas do passado que são capazes de aprisionar as mentes dos vivos, cancelando qualquer ideia de futuro pela repetição dos mesmos vícios e posturas. Um arquiteto misterioso constrói o casarão como um “presente” a um pai de família corroído pela frustração e ressentimento. Que descobrirá da pior maneira possível as verdadeiras intenções daquele Demiurgo. Será a gênesis e o pecado original gnósticos de uma recorrência que bloqueará o presente e cancelará o futuro. 

domingo, fevereiro 06, 2022

Nesse domingo: Dead Kennedys, guerrilha anti-mídia, a geopolítica da simulação e PMiG fez o frango com farofa



Você já sabe... domingo é dia de Live Cinegnose 360. Às 18h, no YouTube, a edição #41. Começando com os 42 anos do álbum “Fresh Fruit for Rotting Vegetables” do Dead Kennedys: do trítono do Diabo ao Zen-fascismo. Em seguida, uma conversa sobre a série dinamarquesa “Nada é o que Parece Ser” – por que somos todos Viajantes, Detetives e Estrangeiros? E a estranha premissa do filme “Mundo em Caos”: a derrota histórica do gênero feminino. Arte, política e guerrilha anti-mídia no documentário “Art of The Prank” com Joey Skaggs. OTAN, EUA e a geopolítica da simulação. O gênio da guerra híbrida do PMiG (Partido Militar Golpista): o frango com farofa do chefe do Executivo e o assassinato de Moïse. E drops da crítica midiática da semana. Venha participar e anime seu final de domingo!

sexta-feira, fevereiro 04, 2022

O frango com farofa e o assassinato de Moïse: guerra semiótica sem fronteiras


Como é possível mostrar a realidade, ao mesmo tempo em que a oculta? O vídeo “vazado” nas redes sociais mostrando os maus modos de Bolsonaro à mesa (ou à bandeja) comendo frango e espalhando farofa (e o seu “bônus track”, o making off do filho Carlos dirigindo a cena bizarra) e as imagens do assassinato cruel do congolês em um quiosque na praia da Barra, RJ, guardam uma perniciosa conexão: a guerra semiótica em um ano eleitoral. A “meta-simulação” do “bônus track” (análoga ao de Biden, denunciando que a Rússia estaria criando um vídeo de simulação de ataque da Ucrânia, antecipando os próprios vídeos falsos americanos) quer apagar os rastros do PMiG (Partido Militar Golpista) na construção do personagem manchuriano Bolsonaro. Enquanto a cobertura midiática do assassinato de Moïses oculta aquilo que pavimenta todo racismo, xenofobia e o domínio do comércio por milicianos: a reforma trabalhista.

quinta-feira, fevereiro 03, 2022

A derrota histórica do gênero feminino no filme 'Mundo em Caos'


Com uma premissa estranha e com sérios problemas nos bastidores, o filme “Mundo em Caos” (Chaos Walking, 2021, disponível na Amazon Prime) lembra até o subgênero “sci fi teen” iniciado por “Jogos Vorazes”. Colonizadores esquecidos num planeta distante têm que lidar com “O Ruído”: involuntariamente, somente os homens materializam seus pensamentos mais íntimos através de uma “nuvem” sobre as cabeças. As mulheres foram massacradas por nativos, resultando numa sociedade religiosa hipermasculinizada, armada, violenta, protofascista. E o “ruído” vira um instrumento de controle. “Mundo em Caos” é um filme peculiar, em que a premissa é melhor que o próprio filme: não só por fazer uma alusão à ideia teosófica das “formas-pensamento” como também suscita a tese central de Friedrich Engels em seu livro “Origem da Família, Propriedade Privada e Estado”: o “comunismo primitivo” cedeu lugar na História à opressão de classe e exploração do trabalho com a derrota histórica do gênero feminino. 

quarta-feira, fevereiro 02, 2022

Todo adolescente é um alien na série 'Nada é o que Parece Ser'


Quando nos deparamos com uma produção audiovisual nórdica sobre adolescentes, temos que prestar melhor atenção. Ao contrário dos congêneres hollywoodianos, centrados em dramas escolares com valentões, bullying e “losers” ansiando pela aceitação no grupo, filmes e séries nórdicas elevam os temas “teens” ao existencial e aos dramas da própria espécie humana. A série Netflix dinamarquesa “Nada É o que Parece Ser” ("Chosen", 2022- ) mantém esse tom ao se filiar ao sub-gênero indie “alt.sci-fi”: os temas da ficção científica são apenas pano de fundo para discutir as questões que cercam a adolescência: identidade, gênero, sexo, autoconhecimento etc. Um meteorito caiu numa pequena cidade há 17 anos e se transformou numa atração turística. Jovens acreditam que tudo é uma conspiração para esconder aliens que ali moram, confundindo-se com humanos. Jovens que encarnam a narrativa mítica de Detetives e Estrangeiros, tanto no cinema quanto na literatura. Afinal, todo adolescente já parece se sentir como um alienígena nesse mundo.

domingo, janeiro 30, 2022

Nesse domingo, a bela e a besta: Blondie, Gangrena Gasosa e o Oculto; canastrice, telecatch e PsyOp militar eleições 2022


BREAKING NEWS!  Live Cinegnose 360 #40, no YouTube nesse domingo, 30/01, às 18h. Nos vinis desse humilde blogueiro, a bela e a besta: Blondie e Gangrena Gasosa – rock, inconsciente coletivo e plano astral. Depois discutiremos o filme argentino “História do Oculto” (magia, ocultismo e mídia) e “Agnes” (exorcismo e a religião americana). A mitologia de Olavo de Carvalho como PsyOp militar. Alexandre Morais vs. Bolsonaro: canastrice na política e “telecatch”. O xadrez semiótico eleitoral: o fator Dilma, Relatório Transparência Internacional, Moro e o arquivamento do caso do tríplex. Crítica midiática da semana. Venha participar nesse domingo!

sexta-feira, janeiro 28, 2022

Operação psicológica militar: a construção da mitologia Olavo de Carvalho


Como uma biruta de aeroporto, Olavo de Carvalho, falecido esta semana aos 74 anos, sentiu a mudança dos ventos geopolíticos: o tour global das “primaveras” da guerra híbrida da dupla Obama-Biden. E o Brasil seria o próximo alvo. Estancado na periferia do conservadorismo brasileiro, Olavão viu a oportunidade de surfar na onda alt-right norte-americana e virar um elemento na psyOp do golpe militar híbrido: foi levado ao estrelato como o “guru de Bolsonaro” e “ideólogo da extrema-direita brasileira”. De início, incensado pela grande mídia como “brilhante pensador” e faixas “#Olavo tem razão” nas manifestações verde-amarelas. Para depois, passar para a fase “o guru da ala ideológica do Governo” para blindar uma suposta “ala técnica” das políticas neoliberais. Mesmo depois de morto, a operação psicológica continua: “Olavo de Carvalho deixou um legado”, para racionalizar (ou normalizar) as alopragens políticas de Bolsonaro e seus agregados. 

quinta-feira, janeiro 27, 2022

Exorcismo, gnosticismo e a religião americana no filme 'Agnes'


Um padre suspeito de pedofilia e alcoólatra, com um jovem diácono como assistente, é escalado pelo Vaticano para avaliar um caso de possessão em um convento de carmelitas e, ocasionalmente, praticar o exorcismo. “Agnes” (2021) começa como um típico filme sobre terror e exorcismo. Mas a metalinguagem irônica dos clichês do subgênero revela que o filme busca outras questões: tudo bem expulsar o demônio, mas e depois? Como fica a fé depois de uma experiência como essa? O que ocorrerá depois com a vida dos envolvidos? Por que Deus permite que demônios assediem a humanidade? Seria um teste arbitrário de Deus apenas para testar a fé Nele? Como produção norte-americana, “Agnes” desafia a Igreja e revela o núcleo da chamada “religião americana”: a busca da experiência direta com o Sagrado através da autodivinização gnóstica.

quarta-feira, janeiro 26, 2022

Meios de comunicação criam falsas realidades mágicas em 'História do Oculto'



No pôster promocional vemos um personagem emulando o célebre gesto Thelêmico do bruxo Aleister Crowley. E o título do filme argentino da Netflix, estreia em longas do diretor Cristian Ponce (conhecido pela web série “Frequência Kirlian”), é instigante: “A História do Oculto” (2020). Uma espécie de mix entre o clássico “Todos os Homens do Presidente” (1976) com bruxaria: um thriller de terror político-paranormal. Mas o filme vai além do clichê de sociedades secretas controlando candidatos manchurianos. Estende o conceito de magia à tecnologia e meios de comunicação, capazes de criar falsas realidades “mágicas”. Um grupo de jornalistas e produtores corre contra o tempo para colocar no ar, em um talk show, provas que podem derrubar o presidente da Argentina: as suas conexões com uma confraria de bruxos e fundadores de uma corporação beneficiada pelo governo. 

domingo, janeiro 23, 2022

Live Cinegnose 360: o OVNI Belchior; doc: comunistas fazem sexo melhor?; grande mídia liga o modo alarme


Mais uma Live Cinegnose 360 para os sobreviventes dessa distopia chamada Brasil... é a edição #39, nesse domingo (23/01), às 18h, no YouTube. Vamos começar falando de um OVNI que passou pela MPB: Belchior e o álbum “Alucinação” – como a mídia tentou enquadrá-lo no estereótipo do “maluco beleza”. Filme “Círculo Vicioso” (o fenômeno serial killer e efeito Heisenberg midiático), o terror invisível do filme espanhol “O Páramo” (medo, culpa e dominação política). E depois, sexo em um país dividido: documentário “Comunistas Fazem Sexo Melhor?”. Grande mídia e o Brasil Profundo: nós sabemos o que fizeram no verão passado. Jornalismo corporativo no “modo alarme” em ano eleitoral: BBB22, racismo reverso e o Caso Celso Daniel strikes again! A crítica midiática da semana. Tenha um final de domingo trepidante participando da Live Cinegnose 360! 

sábado, janeiro 22, 2022

BBB22, racismo reverso e minissérie 'Caso Celso Daniel': grande mídia liga o modo Alarme



Nessa semana a grande mídia entrou no modo “alarme”: eleições, tudo bem! Mas não mexam na política econômica! Afinal, foi necessário muito jornalismo de guerra para fazer o País entrar na periferia do Grande Reset Global: o capitalismo de plataforma, o neocolonialismo high-tech. Por isso, o jornalismo corporativo sente a urgência de sumir com a pauta econômica em ano eleitoral, apesar da “recessão técnica” – eufemismo para falar de desemprego, inflação etc. BBB22 na Globo, a polêmica identitária do racismo reverso da Folha, o indefectível caso Celso Daniel sempre requentado num ano eleitoral, agora em minissérie da Globoplay. E, fechando a semana, o segredo de polichinelo da rachadinha com “depoimento-bomba” da Veja. Bater na tecla diária de que a pandemia e as “mudanças climáticas” conspiram contra a economia não é o suficiente. É necessário tentar dominar a pauta com os temas alt-right das guerras culturais e o moralismo do combate à corrupção – estratégia semiótica para criar convenientes polarizações.

quinta-feira, janeiro 20, 2022

O medo e a culpa alimentam o terror demasiado humano no filme 'O Páramo'



Chegamos a esse mundo fisicamente dependentes dos nossos pais e cercados por terrores reais e imaginários que reforçam os nossos laços familiares, tanto pelo amor, medo e culpa. Essa é a matriz edipiana que será replicada da família até a sociedade, na qual o medo se transforma em matéria-prima da dominação. O terror espanhol Netflix “O Páramo” (El Páramo, 2021) re-encena esse drama atávico ao acompanharmos uma pequena família isolada em uma extensa planície desértica, vivendo em exílio para fugir dos horrores da guerra. Mas a distância não é o suficiente para o horror deixar de acompanhá-los. Um horror invisível de alguma besta que está à espreita. Que parece surgir de algo demasiado humano que alimenta todo o terror.

quarta-feira, janeiro 19, 2022

Serial killer, mídia e efeito Heisenberg no filme 'Círculo Vicioso'



Bem diferente do vitoriano Jack O Estripador, hoje o serial killer é um fenômeno midiático: não só se utilizam da mídia para obter a atenção como aprendem nas séries e filmes as técnicas de investigação policiais e o modus operandi de outros assassinos para se safarem. É o chamado “efeito Heisenberg” midiático. A comédia “Círculo Vicioso” (Vicious Fun, 2020), em um retrô (celebra os clichês de terror dos anos 1980) e slasher estilosos, faz uma metalinguagem desse paradoxo midiático. Um escritor e aspirante a roteirista de filmes de terror conhece, da pior maneira possível, a realidade muito além dos clichês daqueles filmes clássicos de terror dos anos 1980: ele acaba caindo numa espécie de grupo de autoajuda de assassinos seriais. E descobre como a sua cinefilia volta-se contra ele: os assassinos são tão autoabsorvidos que viraram clichês fílmicos vivos que matam de verdade.

domingo, janeiro 16, 2022

Nesse domingo: Raul Seixas e Ocultismo, OVNIs e Guerra dos Mundos e a PsyOp da simulação da "crise militar"


Venha participar da Live Cinegnose 360 #38, 16/01, às 18h no YouTube. Vamos conversar com os vinis de Raul Seixas: Ocultismo e OVNIs na ditadura militar – a construção do estereótipo do “maluco beleza”. Depois vamos conversar sobre a série “Estação Onze” (Bíblia, histórias em quadrinhos e Shakespeare) e o novo filme de Woody Allen “O Festival do Amor”. A histórica transmissão radiofônica de Guerra dos Mundos de Orson Welles - análise de trechos do áudio e a dúvida: ouvintes entraram mesmo em pânico ou foi apenas lenda urbana? Partido Militar Golpista (PMiG) e a nota da Anvisa: a PsyOp da simulação da crise militar. A crítica midiática da semana: “Operação Ômicron”: como tirar a recessão econômica da pauta em ano eleitoral.

sexta-feira, janeiro 14, 2022

Partido Militar Golpista (PMiG): nota da Anvisa é bomba semiótica da simulação de crise militar



A nota do militar e dublê de Diretor Presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, contra as insinuações de que agência reguladora teria interesses escusos por trás da aprovação da vacinação infantil Covid-19, é mais um flagrante da operação psicológica da simulação de uma suposta “crise militar”. A canastrice retórica dessa bomba semiótica é tão evidente que deveria arrancar risadas e não análises sérias daqueles que conseguem encontrar verossimilhança num conflito tão fabricado. É também uma evidência de como, desde o golpe de 2016, o PIG (Partido da Imprensa Golpista – apud Paulo Henrique Amorim) saiu do modo “alarme” para entrar no modo “reprodução” para monitorar as reformas neoliberais, enquanto as Forças Armadas se assumiram como PMiG (Partido Militar Golpista), com todas as características de um verdadeiro partido político: Memória histórica e vocação institucional, Base ideológica, Pautas corporativas, Formação contínua de lideranças, Base eleitoral e militante etc.

quinta-feira, janeiro 13, 2022

'Festival do Amor': Woody Allen implacável com o cinema e com ele mesmo


"
Festival do Amor" (Rifkin’s Festival, 2020), 49longa-metragem de Woody Allen, à primeira vista parece uma comédia leve, romântica e nostálgica. Mas, na verdade, é a produção mais cáustica, melancólica e implacável de Woody Allen dos tempos recentes, não só com o cinema, mas, principalmente, com ele próprio. O dublê da vez do diretor é o ator Wallace Shawn, que faz um escritor com bloqueio criativo e ex-professor de cinema, velho chato vestindo um típico jeans de vovô e que fica tagarelando sobre os mestres do cinema, enquanto sua vida real está desmoronando. Um filme metalinguístico com inúmeras citações dos clássicos, de Orson Welles, Godard a Fellini e Lelouch. Para provar, com o autodistanciamento irônico de sempre, que o cinema abandonou suas questões simbólicas e filosóficas para mergulhar no realismo raso do ativismo midiático.

quarta-feira, janeiro 12, 2022

Série 'Estação Onze': Shakespeare versus história em quadrinhos no fim do mundo



A série HBO Max “Estação Onze” (Eleven Station, 2021- ) é muito mais do que outra série adaptada de romance profético sobre a atual crise pandêmica global. A série redefine as narrativas sobre o fim do mundo. Uma pandemia de gripe extermina mais de 90% da humanidade – na verdade uma bomba viral, sem período de incubação. O que restou foi um mundo pós-apocalipse, relativamente otimista, que vive sobre os escombros de celulares, computadores e Internet (agora inúteis) e onde uma trupe de atores e músicos shakespearianos apresenta montagens itinerantes levando o que restou da arte da velha civilização. Mas também herdou uma HQ chamada “Estação Onze” que virou um objeto de culto profético e religioso com sua mensagem enigmática. Enquanto Shakespeare inspira arte e entretenimento, a HQ influencia perigosas seitas fundamentalistas. Será que o gibi teve o mesmo destino que aquele reservado à Bíblia Sagrada no nosso mundo?

domingo, janeiro 09, 2022

Live de domingo: banda 'O Terço', história da pipoca e beijo no cinema e primeira semana da PsyOp militar e midiática


Você não pode perder a Live Cinegnose 360 #37, ainda mais “360 graus” nesse domingo, 09/01, no YouTube, às 18h: vamos de música, beijo e pipoca no cinema até a primeira semana de sinais de um ano eleitoral que promete ser de uma pesada guerra semiótica. Na sessão dos vinis desse humilde blogueiro vamos falar da banda brasileira O Terço e o álbum “Criaturas da Noite”: o porquê da ascensão da “Cultura Psi” na ditadura militar. Também vamos analisar a série sueca “Gente Ansiosa” (o detetive pós-moderno e a cultura quântica) e o filme “A Casa Sombria” (a gnose na experiência quase-morte). Depois, a história do beijo e da pipoca no cinema: quais as conexões? E um balanço da primeira semana da guerra semiótica militar e da grande mídia: os primeiros sinais da deliberada criação de uma atmosfera pesada no País.  

sábado, janeiro 08, 2022

Primeira semana do ano: mídia abre kit semiótico de manipulação e PsyOp militar entra em ação


Bastou a primeira semana do ano para aparecerem os primeiros movimentos de uma guerra semiótica que promete ser pesada nesse ano eleitoral. E a grande mídia já apresenta as primeiras armas do seu kit semiótico de manipulação: diante da ação policial de busca e apreensão contra o ex-governador Márcio França, entra em ação o empirismo grosseiro da estratégia do “não-há-nada-para-se-ver-aqui!”. Também foi ativado o jornalismo metonímico para criar uma bomba semiótica, milimetricamente tardia, em torno do artigo de Guido Mantega na “Folha” e o anúncio da “revogação da reforma trabalhista” pelo PT. E a psyOp militar de dissonância cognitiva em torno da “operação padrão” do ministro da Saúde Marcelo Queiroga, os ataques de Bolsonaro à vacinação de crianças e a suposta tensão entre o chefe do Executivo e o Comando do Exército que orientou os militares a tomar medidas contra a pandemia e não espalhar fake news.

sexta-feira, janeiro 07, 2022

Luto e a gnose na experiência quase-morte em 'A Casa Sombria'


Dentro do campo da Cinetanatologia (o estudo das representações da morte no cinema), narrativas sobre as experiências de quase-morte (EQM) são recorrentes no século XXI, principalmente a gnose pós-morte – a conquista da lucidez na situação imersiva em ilusões criadas pela tela mental, demiúrgico ardil para nos manter ainda presos nesse mundo. Mesmo na morte. "A Casa Sombria" ("The Night House", 2020) é um exemplo de uma narrativa que consegue elevar a clássica estória de casa mal-assombrada à discussão da gnose pós-morte. O choque do inexplicável suicídio do marido repercute um antigo episódio de EQM na adolescência da protagonista. Luto e raiva pelo marido ter a abandonado daquela maneira proporciona ao espectador tanto uma narrativa psicológica simbólica (a batalha de não deixar o luto tomar conta de nossa mente), quanto gnóstica: confrontar aquilo que está por trás dos relatos “new age” das EQM - o Nada.

quarta-feira, janeiro 05, 2022

A incerteza do detetive gnóstico e pós-moderno na série 'Gente Ansiosa'


Conan Doyle e Agatha Christie criaram os detetives arquetípicos da Modernidade: Sherlock Holmes e Hercule Poirot: embora conhecedores da natureza humana, tratam a investigação como uma ciência exata - lógica e raciocínio. Porém, a descoberta do princípio quântico da incerteza do observador, mais do que uma descoberta da Física, impactou a cultura do século XX. E, principalmente, a figura literária do Detetive: a tentativa de solucionar um enigma sempre se volta para ele mesmo. O Detetive sempre será também uma peça do mistério que tenta solucionar. A série Netflix sueca de humor negro “Gente Ansiosa” (Folk Med Ångest, 2021) é mais um exemplo desse Detetive pós-moderno e gnóstico, cuja solução de um enigma (um assalto frustrado que terminou com reféns improváveis) passa pela compreensão de uma ferida psíquica da juventude de um obsessivo investigador da polícia.

domingo, janeiro 02, 2022

Primeira Live Cinegnose 360 do ano: Milton Nascimento, o Ano Novo Oculto, Matrix, cometas e crítica midiática



Comece o Ano Novo do jeito certo, participando da Live Cinegnose 360 #36, 02/01, às 18h no YouTube. Na sessão dos vinis desse humilde blogueiro, vamos falar sobre o álbum “Milagre dos Peixes ao Vivo” (1974): Milton Nascimento, o misticismo do Cristianismo Primitivo e a Ditadura Militar brasileira. Também vamos discutir dois filmes: “Não Olhe para Cima”: Media Life e o irônico destino do filme nas redes sociais; “Matrix Resurrections”: irmãs Wachowski, a crítica de Jean Baudrillard e a apropriação política da extrema-direita. Grande mídia esconde significado oculto do Ano Novo. Jornalismo corporativo e as editorias “As Instituições Estão Funcionando” e “Urgência Climática”. Retrospectiva: os pontos altos do “Jornalismo Snapchat” e “morde-assopra” de 2021. Crítica midiática da semana.

quinta-feira, dezembro 30, 2021

'Matrix Resurrections' faz narrativa cyberpunk em abismo respondendo a crítica e extrema-direita


Três coisas incomodaram as irmãs Wachowski após a “Trilogia Matrix” (1999-2003): a crítica frontal do pensador francês Jean Baudrillard (uma das fontes de inspiração da Trilogia) de que “Matrix é o filme que a Matriz teria sido capaz de produzir”; a apropriação da extrema-direita dos simbolismos de “Matrix”; e as intromissões da Warner Bros na produção do filme. Por isso, Lana Wachowski retomou para si a narrativa de Matrix na continuação “Matrix Resurrections” (2021), não só recriando o clássico universo cyberpunk, mas tornando-o ainda mais complexo na chamada "narrativa em abismo": muita metalinguagem e autorreferências: um filme dentro de um game de computador criado pela empresa que na verdade é o estúdio que produziu o filme que assistimos. Além de atualizar a mitologia gnóstica original (do CosmoGnóstico ao PsicoGnóstico), Lana fugiu da crueza esquemática de 1999 (Matrix versus deserto do real) para mergulhar na complexidade do mix hiper-real da ficção com a realidade. Incorporou as críticas de Baudrillard, além de tentar blindar o filme de quaisquer apropriações reacionárias através de uma narrativa ambígua. 

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