domingo, novembro 08, 2015

Curta da Semana: "Os Filmes Que Não Fiz" - o fascínio pelos perdedores


O Curta da Semana dessa vez vai para uma produção brasileira: “Os Filmes Que Não Fiz” (2008). A irônica filmografia de um diretor sem filmes. Se a História é contada somente pelos vitoriosos para pisar na cara daqueles que perderam, esse curta propõe o avesso: onde estão aqueles que apesar da persistência, esperança e empenho acabaram perdendo e caindo no anonimato? Cegos que somos pelos “cases” de sucesso, jamais conheceremos as histórias humanas dos “losers”. Um curta ao mesmo tempo cômico e ácido sobre a realidade do cinema nacional que não consegue transformar-se em indústria.

sábado, novembro 07, 2015

A psicanálise de um fantasma no filme "I Am a Ghost"


Talvez o mais difícil não seja morrer, mas despertar do outro lado e ter de se dar conta de que já está morto. Ultrapassar a fronteira entre a vida e a morte pode ser algo tão imperceptível que continuamos do lado de lá a conviver com os antigos traumas e fantasmas que nos atormentaram quando quando éramos vivos. O horror independente “I Am a Ghost (2012)” mostra alguém que ainda não se deu conta de que está preso em algum lugar entre a vida e a morte, e continua repetindo seus antigos hábitos como nada tivesse acontecido. Uma voz tenta despertá-la, fazendo do filme um surpreendente encontro entre Espiritismo e Psicanálise.

“Ninguém precisa de um quarto para ser assombrado. Não precisa ser uma casa. O cérebro tem corredores suficientes que ultrapassam a matéria”. Essa epígrafe de um poema de Emily Dickinson abre I Am a Ghost e dá o tom de um filme que pode ser inicialmente descrito como o cruzamento entre o argumento de Os Outros com Nicole Kidman com o tema e a atmosfera visual de O Iluminado de Kubrick.

          Com um baixíssimo orçamento de 10 mil dólares, esse filme independente de H.P. Mendoza segue a tradição de filmes como A Passagem (Stay, 2005) e O Terceiro Olho (The Eye Inside, 2004) onde põe em questão aquela expressão que dizemos quando recebemos a notícia da morte de alguém: “partiu dessa para a melhor!”.

sexta-feira, novembro 06, 2015

"Onde Vivem Os Monstros" faz cartografia da mente selvagem infantil


Pokemons, Trashpacks, Gogo’s e Monstros da Pixar. Uma série de monstrinhos e seres fantásticos que representam o imaginário de um mundo infantil que resiste em se tornar adulto. “Onde Vivem os Monstros” (Where The Wild Things Are, 2009) de Spike Jonze, baseado num best-seller infantil de 1963 de Maurice Sendak, faz uma obra-prima alegórica sobre um menino, seu quarto, a solidão e o poder da imaginação capaz de criar uma assombrosa cartografia mental da infância. O filme consegue ser superior à cartografia da mente feita pela animação “Divertida Mente”, principalmente porque consegue representar as “coisas selvagens” que habitam a mente de cada criança.

As experiências na infância da perda, abandono, solidão e a necessidade de sentir-se amado talvez sejam o conjunto de experiências mais representadas arquetipicamente por meio de jogos, brincadeiras, contos de fada e, finalmente, no cinema de animação.

terça-feira, novembro 03, 2015

"Perdido em Marte": o estranho filme destoante de Ridley Scott


Um filme que destoa do conjunto da obra de Ridley Scott – “Alien”, “Blade Runner”, “Prometheus” entre outros universos distópicos. “Perdido em Marte” é um sci fi estranhamente otimista sobre um astronauta deixado só numa missão no planeta vermelho após um acidente, à espera da morte. Mas ele é cientista e botânico com a determinação de um MacGyver ou de um John McClane de “Duro de Matar”, com suas principais armas: lonas e fitas de silver tape. Contando com o velho clichê do “nenhum americano será deixado para trás”, o filme parece uma grande peça de propaganda NASA/complexo militar americano. Será que foi alguma obrigação contratual da Fox ao diretor Ridley Scott na sua quarta produção seguida pelo estúdio? Estaria Scott seguindo os supostos passos de Kubrick nas relações perigosas com a NASA?

“No espaço ninguém poderá ouvir seus gritos”. É surpreendente que o autor dessa linha de diálogo do filme Alien, o diretor Ridley Scott (artífice de universos distópicos e gnósticos como em Blade Runner e Prometheus), tenha dirigido Perdido em Marte com linhas de diálogo como “o mundo inteiro está torcendo por um só homem”. E ainda com um protagonista que tenha falas como “o primeiro homem a pisar fora dessa sonda”... “o primeiro a subir essa colina”, “o maior botânico do planeta”... “o pirata espacial”... “o colonizador de Marte”... “foda-se Marte...”.

domingo, novembro 01, 2015

Em Observação: "Flowers" e "I Am a Ghost" - Espiritismo e Psicanálise no filme gnóstico



"Flowers" (2015) e "I Am a Ghost" (2012) são duas pequenas gemas da atual safra de filmes independentes que comprovam uma recorrência nos filmes desse início de século: narrativas sobre protagonistas presos em algum lugar entre a vida e a morte - a morte pode não ser um libertação, principalmente se você deixou essa existência sem fazer um acerto de contas com seus traumas e fantasmas. Filmes que fazem um surpreendente encontro entre Espiritismo e Psicanálise, merecendo estar "Em Observação" pelo Cinegnose. Além de serem filmes que comprovam a atual mudança de foco dos filmes gnósticos.

quarta-feira, outubro 28, 2015

Curta da Semana: "Rabbit" - Alquimia e a essência sombria dos contos de fadas

Um curta que é um prato cheio de alusões a mitos alquímicos e à essência sombria dos contos de fadas originais, perdida desde as adaptações comerciais da Disney: é o Curta da Semana do “Cinegnose” – “Rabbit” (2005) do animador inglês Run Wrake. Um conto de fadas invertido onde as crianças tornam-se vilãs em uma narrativa surreal onde os pequenos protagonistas descobrem uma fantástica maneira de transformar moscas em joias – um homúnculo viciado em geleia de ameixa vermelha.

terça-feira, outubro 27, 2015

Mais louco é quem me diz - A exposição de Darcílio Lima, por Claudio Siqueira

Em junho deste ano houve a exposição "Darcílio Lima - Um Universo Fantástico" na Caixa Cultural, no Rio de Janeiro. Cearense de Cascavel, tornou-se um dos principais artistas brasileiros do Movimento Surrealista, mas seu trabalho, assim como de muitos outros nomes do surrealismo mundial, contém influências gnósticas que passam, como sempre, despercebidas do grande público.


Conspiracionistas atestam que os conteúdos gnósticos presentes em obras midiáticas possuem o intuito de inculcar mensagens subliminares nas mentes do grande público; outros que tudo não passa de mera paranoia da parte de quem assim pensa. Outros ainda, que os autores de tais obras não teriam conhecimento real acerca das referências gnósticas presentes em suas obras. Se isso é verdade, ao menos teríamos, talvez, a prova cabal do Inconsciente Coletivo postulado por Carl Jung, posto que os mitos e arquétipos se repetem em obras midiáticas mambembes sem o conhecimento de causa de seus autores.

segunda-feira, outubro 26, 2015

"MasterChef Júnior", a adultificação das crianças e o fim da vergonha


O episódio do assédio sexual através das redes sociais sofrido pela menina Valentina na primeira edição do reality televisivo “MasterChef Júnior” é a ponta do iceberg de um movimento mais profundo e perigoso: o fim da vergonha como a barreira que continha a sedução pela barbárie e a adultificação das crianças pelas mídias. Sexismo, ódio, assédio sexual e intolerância que invadem as redes sociais lembram as sombrias profecias de escritores libertinos do século XVIII de que um dia as perversões privadas se tornariam virtudes públicas. E as crianças, transformadas em mini-adultos em um programa de final de noite onde correm contra o tempo segurando o choro, são o reforço motivacional para os telespectadores acordarem no dia seguinte e repetirem as mesmas situações na fábrica ou no escritório.

Os leitores devem já conhecer a opinião desse Cinegnose em relação ao reality show MasterChef da Band: é um bullying gastronômico – um programa de final de noite com o objetivo de reforçar subliminarmente a ideologia pela qual seremos regidos quando acordarmos no dia seguinte para trabalhar: o princípio do desempenho.

Correr contra o tempo em busca da eficácia, eficiência, produtividade, mérito e cumprimento de metas sob as chibatadas de algum superior do tipo gerente, diretor, gestor etc. MasterChef transforma isso em diversão ao nos deliciarmos em ver pessoas angustiadas e esbaforidas correndo contra o relógio sob gritos e olhares inquiridores de chefes de cozinha. Igual o que acontecerá com o telespectador no dia seguinte na vida real na fábrica, escritório ou em outra empresa qualquer.

sábado, outubro 24, 2015

Desperte da sua vida esquizofrênica com o filme "Eles Vivem"

Mais um daqueles filmes estranhamente proféticos. “Eles Vivem” (“They Live”, 1988) do mestre do terror John Carpenter parece antever de gadgets tecnológicos de vigilância como os drones até a atual agenda política global onde a Publicidade e as marcas transnacionais substituem as nações. Um sem-teto desempregado encontra uma caixa de óculos de sol que revela um estranho mundo submetido a uma espécie de hipnose coletiva que impede que enxerguemos os comandos subliminares na Publicidade e a ação de seres alienígenas infiltrados nas ruas e na TV. Uma ataque explícito à sociedade de consumo que vai muito além dos clichês da crítica ao consumismo: “Eles Vivem” revela o secreto mecanismo psíquico esquizofrênico que nos mantém prisioneiros do circuito fechado individualismo-consumo.

Assistir ao filme Eles Vivem (They Live, 1988) é uma experiência conflitante. O filme do mestre do terror John Carpenter (A Coisa, Halloween, Christine) ora parece uma sátira com atores protagonistas propositalmente canastrões e efeitos especiais que lembram os sci-fi B dos anos 1950, ora uma séria crítica social e política. Muitas vezes parece que Carpenter não que que levemos o filme a sério. Por outro lado, Eles Vivem torna-se um daqueles filmes subversivos que, depois do final, nos faz olhar para o redor para então passarmos a questionar tudo até o limite da paranoia.

O filme foi baseado no conto Eight O’Clock in the Morning de Ray Nelson sobre um homem que desperta de uma espécie de hipnose em massa para descobrir que a Terra é controlada por uma elite de empresários alienígenas com a ajuda da elite política humana. 

domingo, outubro 18, 2015

Editor do "Cinegnose" participa do "Outubro Rosa" com debate sobre mídia e identidade sexual

Esse editor do “Cinegnose” fará palestra sobre o tema “Sistema Financeiro e a Mídia na Construção da Identidade Feminina” dentro do evento “Outubro Rosa” em uma série de ações promovidas pelo Centro Acadêmico Manoel de Abreu (CAMA) da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa. O evento será nessa segunda-feira (19/10) às 18h no auditório da Santa Casa em São Paulo. Esse humilde blogueiro levará as contribuições das ferramentas da Psicanálise e Semiótica para entender como as mídias constroem as identidades sexuais e o seu impacto na vida de cada um. Os leitores do Cinegnose estão convidados.

Nesta segunda-feira (19/10) este humilde blogueiro fará palestra seguida de dabate sobre o tema “Sistema Financeiro e a Mídia na Construção da Identidade Feminina”. O local será no Auditório Paulo Ayrosa, no prédio do Hospital da Santa Casa, São Paulo, às 18h. Comporá a mesa de discussão Itali Pedroni Collini pela FEA-USP com sua pesquisa sobre o machismo no ambiente de trabalho.

Curta da Semana: "From The Big Bang To Tuesday Morning" - a História é evolução ou eterno-retorno?

A História humana é evolução? Decadência? Ou eterno-retorno? Será que o paletó e gravata já estavam à espera do homem, só aguardando que ele surgisse na face do planeta para, no final, enforcá-lo? O Big Bang eletrônico da TV só repetiu como farsa o Big Bang primordial? Essa é a sutil ironia e perplexidade do curta “From The Big Bang To Tuesday Morning” (2000) do animador canadense Claude Cloutier. O Curta dessa semana do “Cinegnose”.

sábado, outubro 17, 2015

A gnose selvagem no filme "Dente Canino"

Nas últimas décadas adaptações da Alegoria da Caverna de Platão  têm sido recorrentes em diversos filmes, nos mais diversos gêneros e narrativas. O filme grego “Dente Canino” (Kynodontas, 2009) é mais uma adaptação dessa alegoria, dessa vez numa surpreendente mistura do filme “A Vila” de Shyamalan com “Dogville” de Lars von Trier: para tentar manter a inocência dos filhos em um mundo corrompido, um pai os mantém isolados do exterior dentro de uma propriedade rural cercada por altos muros – a TV só mostra vídeos caseiros e a linguagem e sexualidade são manipulados e controlados a um nível patológico levando o conceito de educação doméstica para um extremo bizarro. “Dente Canino” mostra como a Alegoria da Caverna pode ser real, assim como as possibilidades de escaparmos por meio de uma gnose selvagem. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

"SOCRATES: Olhai! Seres humanos vivem em uma caverna subterrânea e têm a boca aberta em direção à luz. Esses homens estão aí desde a infância, e têm suas pernas e pescoços acorrentados para que eles não possam se mover e só consigam ver a frente deles, sendo impedido pelas cadeias de virar suas cabeças. Acima e atrás deles há uma fogueira acesa, e entre o fogo e os prisioneiros há um caminho elevado; e você verá diante deles um muro baixo construído ao longo do caminho como fosse uma tela onde sombras projetadas pelo fogo mostram homens passado ao longo da parede transportando todos os tipos de vasos, e estátuas e figuras de animais feitas de madeira e pedra e vários materiais. Alguns deles estão falando, outros em silêncio.

Glauco: Você me mostrou uma imagem estranha, com estranhos prisioneiros.

SÓCRATES: Assim como nós mesmos ... (Platão, A República, Livro VII)

quinta-feira, outubro 15, 2015

Cinco evidências de que vivemos em uma simulação


Desde que o filósofo e matemático Nick Bostron sugeriu em 2003 que o universo poderia ser uma simulação produzida algum supercomputador quântico alienígena, físicos, matemáticos e astrofísicos vem procurando evidências  dessa hipótese. O “Cinegnose” vai resumir as atuais cinco principais evidências: O Princípio Antrópico e o Paradoxo de Fermi, Mecânica Quântica e Modelagem da Simulação, Universo Pixelado, Falhas na Matrix, Raios Cósmicos e a Grade da Simulação. Uma discussão à primeira vista delirante, mas que envolve lógica e números. E, claro, a inspiração do imaginário cinematográfico dos filmes gnósticos. Uma discussão que pode resultar em profundas consequências espirituais e religiosas nas nossas vidas.

domingo, outubro 11, 2015

Curta da Semana: "La Boca Del León" - o primeiro exorcismo telefônico do cinema

É possível um ato de exorcismo através do telefone? É o que os personagens do curta espanhol “La Boca Del Léon” (2013) tentarão desesperadamente confirmar: seguir as instruções de um padre exorcista através de um smartphone, que ao mesmo tempo registra as imagens dos momentos de terror em longos planos sequências. Inteiramente produzido através de um IPhone, o curta é interessante não apenas por trazer para o universo dos curta-metragens o subgênero “found-footage” de “Bruxa de Blair” e “Atividade Paranormal” – é também um exemplo da mudança da representação do Mal no cinema atual: a maldade agora é um fenômeno de natureza viral e epidemiológica.

sábado, outubro 10, 2015

Top 10 de filmes e séries que estranhamente previram o futuro

A vida imita a arte? Ou há algo mais complexo nas relações entre a ficção midiática e os eventos reais? O Cinegnose tenta dissecar essa questão fazendo o Top 10 dos filmes e séries que supostamente teriam previsto eventos reais como atentados, assassinatos, descobertas científicas e conquistas tecnológicas. Profecias? Coincidências? Ou contaminações sincromísticas do “continuum” midiático que envolve a todos nós?

Para o Gnosticismo a realidade é uma ilusão. Para além das considerações filosóficas, ontológicas ou cosmológicas dessa afirmação, para o Cinegnose a hipótese sincromística seria mais um argumento a favor dessa suspeita gnóstica. Pelo Sincromisticismo, as relações entre a realidade e as narrativas ficcionais midiáticas sobre a realidade são mais complexas do que o velho provérbio de que “a vida imita a arte”.

Haveria uma complexa relação entre os conteúdos midiáticos sedimentados em memes e arquétipos e os acontecimentos sociais, econômicos e políticos. A onipresença dos meios de comunicação criaria um “contínuo midiático atmosférico” que apresentaria estranhas contaminações da ficção na realidade. E o movimento contrário: a realidade contaminando a ficção, de maneira que filmes tornam-se peças de uma agenda (agenda setting) política ou econômica mais ampla.

segunda-feira, outubro 05, 2015

Jesus foi o primeiro criador de memes?

Além de ressuscitar mortos, multiplicar peixes e pães e supostamente redimir a humanidade, Jesus também realizou um milagre semiótico: através das parábolas superar o problema da memória da comunicação oral presencial – passado o calor do momento, tendemos a esquecer o conteúdo da comunicação. Graças às fortes alegorias e a narrativas curtas e circulares, suas parábolas se tornaram virais, assim como os atuais memes nas redes sociais. Os memes repetem a mesma estrutura narrativa alegórica, dessa vez em uma outra mídia efêmera – as timelines e chats dos ambientes digitais. Uma estrutura narrativa marcada por dois fatores que impulsionam o alcance de vídeos e imagens: “importância e “ambiguidade”. Se os memes são as “neoparábolas” atuais, Jesus poderia ser considerado o primeiro criador de memes da História?

Em uma churrascada alguém anuncia aliviado que ainda há latas de cerveja na geladeira: “É o milagre da multiplicação das cervejas!”, jubila; um grupo discute e o seu líder reivindica: “precisamos separar o joio do trigo!”; “aqui tem lobo em pele de cordeiro!”, diz desconfiado o político na reunião de um partido. O que há em comum em todas essas falas? São alusões a milagres e parábolas de Jesus encontrados em diversos versículos do livro bíblico de Mateus.

Talvez o grande milagre de Jesus, além de fazer mortos ressuscitarem e multiplicar pães e peixes, tenha sido também o semiótico – conseguir transformar suas alegorias e parábolas em imagens persistentes e virais que atravessaram 2.000 anos e continuam com força de disseminação.


domingo, outubro 04, 2015

Curta da Semana: "Find The Truth 360 Degree" - A verdade é o ponto cego.

O Curta a Semana vai para uma experiência de imersão em 360 graus  numa perseguição a um mascarado nas estreitas ruelas de um distrito de Tóquio. O curta “Find The Truth 360 Degree” (2015) é um “teaser” de uma série da televisão japonesa chamada “Yokokuhan – The Pain”, que nos desafia a encontrar pistas em becos e encruzilhadas povoados por uma galeria de personagens bizarros. Mas nem tudo é o que parece e acabaremos descobrindo que “a verdade ama o ponto cego”.  

terça-feira, setembro 29, 2015

"Que Horas Ela Volta?" exibe luta de classes padrão exportação da Globo Filmes

No Brasil, a crítica especializada sobre o filme “Que Horas Ela Volta?” fala em “crítica social contundente” e “olhar crítico à sociedade”. No Exterior as análises  são mais matizadas: “contradição entre novela e crítica social” e “mix de drama como elementos para agradar um grande público”. Um filme como “Que Horas Ela Volta?” é impossível de ser pensado dentro de uma tradicional análise de conteúdo. Ao contrário, deve ser analisado pelos seus aspectos de produção: de como um conteúdo potencialmente transgressor ou crítico pode ser diluído por meio do chamado “padrão globo de qualidade”- a maneira como joga com elementos cênicos, interpretativos e recursos técnicos como enquadramentos de câmera, timing, cor etc. E principalmente a contradição entre a sutileza que a diretora Anna Muylaert quis dar à narrativa e o “novelismo” imposto pela Globo Filmes para criar uma espécie de filme sobre luta de classes padrão exportação.

“Não tenho empregada porque não quero levar a luta de classes para dentro da minha casa”, disse certa vez a filósofa da USP Marilena Chauí. A permanência das relações escravista entre a Casa Grande e a Senzala na sociedade urbana com seus quartinhos de empregada e elevadores de serviço sempre foi um tema das esquerdas – a sociedade brasileira que, sob a fachada da cordialidade e miscigenações raciais, esconderia a realidade da luta de classes.

 Poderíamos considerar a co-produção da Globo Filmes em Que Horas Ela Volta? (com a global Regina Casé encarnando uma empregada doméstica dominada por relações invisíveis de segregação) uma surpreendente adesão da Globo a uma pauta politicamente de esquerda ou, no mínimo, progressista?

domingo, setembro 27, 2015

Curta da Semana: "Toys" - a ameaça da mercantilização dos brinquedos

Um libelo contra a guerra e a violência. É o curta “Toys” (1966) do canadense Grant Munro: crianças veem através de uma vitrine soldados e armas de brinquedo ganharem vida e transformar a loja em um campo de batalha. Mais do que um protesto contra a guerra dos adultos, o curta cria um debate sobre as armas de brinquedo: elas podem estimular a violência pela naturalização da guerra? Assistindo ao curta vemos que talvez o problema não esteja na brincadeira de guerra em si, mas na utilização dos “brinquedos-réplica”: a imitação é o principal impulso do jogo infantil, que pode se deteriorar em mera réplica com a mercantilização dos brinquedos. Dessa forma, a brincadeira pode virar mero condicionamento para o mundo adulto que lhe aguarda.

sábado, setembro 26, 2015

Muito além da exploração da fé no documentário "O Capital da Fé"

Pastores retirando sacos de dinheiro dos templos ou maquininhas de cartão de crédito passando pelos fiéis nos cultos tornaram-se imagens habituais nas críticas às novas igrejas neopentecostais. Mas o documentário “O Capital da Fé” (Gabriel Santos e Renan Silbar, 2013) vai muito além disso, ao mostrar que, paradoxalmente, essas críticas alimentam um mito que apenas dá força a um gigantesco negócio que está sendo montado:  capital e fé unidos não apenas pela exploração da fé de pessoas simples, mas pela financeirização e liquidez que lava tão branco quanto paraísos fiscais e que constrói lentamente uma forte sustentação política parlamentar que quer chegar ao Poder. As novas igrejas há muito tempo abandonaram o clichê do Tio Patinhas. Hoje estão confortáveis no mundo pós-moderno da liquidez.

Ao som da ópera Carmina Burana, e com cortes ao ritmo da música, assistimos a um verdadeiro vídeo clipe de socos, chutes, sangue e fraturas dos combates do MMA de Jesus – um evento chamado Reborn Strike Fight 5 promovido pela Igreja Renascer. Lutadores clamam em nome de Cristo pela vitória.

Essas são as cenas iniciais de O Capital da Fé, documentário de curta metragem que aborda a nova Igreja Evangélica brasileira, suas contradições, a espetacularização da fé com inusitadas cristianizações de coisas como micaretas e esportes de luta, assim como as ambições políticas de seus dirigentes - assista ao documentário abaixo.

terça-feira, setembro 22, 2015

A ingenuidade semiótica das suásticas brasileiras

Era o que faltava! Em meio a atual atmosfera politicamente pesada de polarização e intolerância, eis que suásticas começam a se espalhar não só em cartazes de grupelhos neofascistas, mas agora também em instituições que deveriam trazer a esperança civilizatória em meio à barbárie: escolas públicas e universidades. Cheios de boas intenções (conscientizar, debater e denunciar), estudantes desfilam com suásticas e um estande de uma feira universitária transforma-se num bizarro parque temático nazista com prisioneiros judeus com camisas listradas com a estrela de Davi e alunas felizes e elegantes em seus uniformes da SS e braçadeiras com a indefectível suástica, posando para selfies. Nas suas ingenuidades semióticas, falam que as suásticas são apenas “expositivas”, com as melhores intenções pedagógicas,  como se as imagens pudessem ser neutras e apenas ilustrativas. Sem saberem, estão manipulando cepas de ícones-índices de alto poder viral com efeitos imprevisíveis em redes sociais e opinião pública.

Como se já não bastasse a pesada atmosfera atual de polarização que domina a opinião pública no País, de forma surpreendente o setor educacional (que deveria ser uma referência civilizatória em meio à barbárie) dá também sua contribuição à turbulência política, de forma ingênua e desajeitada.

segunda-feira, setembro 21, 2015

Em Observação: "Perdido em Marte" (2015) - filme gnóstico ou propaganda da NASA?

Para os críticos “Perdido em Marte”(The Martian, 2015) é um sci-fi de Ridley Scott bem diferente daqueles sombrios e influentes do passado: é um conto otimista de luta pela sobrevivência, um cruzamento de “Gravidade” com “O Náufrago”. Mas, como sempre, Scott lida com o protagonista estrangeiro em lugares hostis quem tem que lutar contra tudo para resgatar algo de bom em si mesmo. Tanto o livro no qual o filme se baseou quanto a produção de Scott tiveram forte apoio e consultoria da NASA que atualmente luta pela aprovação de orçamento no Congresso para missão à Marte. O que o “Cinegnose” procurará responder: o filme é mais uma obra de Scott que explora elementos gnósticos ou uma peça de propaganda NASA-Governo-Hollywood?

domingo, setembro 20, 2015

Curta da Semana: "He Took His Skin Off For Me" - Amar pode ser estranho

O amor pode ser grudento. Um curta sobre uma simples e doméstica história de amor conjugal onde um homem arranca sua pele como prova de amor. E também porque essa não poderia ter sido a melhor ideia. “He Took His Skin Off For Me” foi um dos melhores curtas de 2014. Uma espécie de poema de horror, ao mesmo tempo lírico e grotesco com um tom melancólico e sensacional uso de efeitos especiais em FX, onde foram reconstruídos as centenas de partes da musculatura humana. Sobre o que nos fala o curta? Amor? Compromisso e sacrifício? Assista ao curta e tire suas conclusões.

Ao mesmo tempo poético e bizarro. Baseado em um conto da escritora e roteirista Mary Hummer, o diretor Ben Aston levou dois anos para produzir esse curta considerado em muitos festivais (London Short Film Festival, Festival Toronto After Dark entre outros) como um dos melhores de 2014.

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