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quarta-feira, junho 28, 2017
Tricô, lã e Alquimia no filme "Wool 100%"
quarta-feira, junho 28, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um filme para
os cinéfilos amantes do surreal e do estranho. “Wool 100%” (“100% Lã, 2006) do
escritor/diretor japonês Mai Tominaga é uma curiosa comédia que combina a fábula
gótica e fantástica com o humor negro repleto de simbolismos: duas irmãs idosas
passam os seus dias acumulando objetos e sucatas em seu casarão, recolhidos e
catalogados diariamente em uma pequena cidade japonesa. Até que encontram um
cesto cheio de novelos de lã vermelha. Do emaranhando de fios surge uma jovem
que tricota sem parar o próprio suéter que veste, para depois desfiar e recomeçar tudo de novo. A jovem intrusa dará início a
uma complexa simbologia de transformação alquímica envolvendo a cor vermelha,
tricô, infância, sexo e amor – simbolismo de libertação das protagonistas
presas nas memórias do casarão, como fosse a cartografia das suas próprias
mentes.
sábado, abril 15, 2017
Niilismo e o desejo da morte na Modernidade em a "A Marca do Assassino", por Bárbara Ribeiro
sábado, abril 15, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um filme tão excêntrico
que mereceu a expulsão do diretor da produtora japonesa Nikkatsu. Um filme
estranho até para uma produtora especializada em filmes “B”. É o filme “A Marca
do Assassino” (1967) do diretor Seijun Suzuki (falecido nesse ano), um diretor tão radical que inspirou
na atualidade diretores como Jim Jarmuch (pela forma como utiliza a trilha
musical) e Tarantino no filme “Kill Bill 1”. Além das muitas referencias ao
filme Noir, a narrativa de “A Marca do Assassino” é dominada por personagens
que vivem para morrer, na qual sexo e morte são abordados de forma niilista e
non sense em um Japão dos anos 1960 já ocidentalizado. É o que nos conta a nova
colaboradora do “Cinegnose” Bárbara Ribeiro*.
sexta-feira, janeiro 20, 2017
Um fim do mundo gnóstico e budista em "O Livro do Apocalipse"
sexta-feira, janeiro 20, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Os filmes-catástrofes hollywoodianos sempre
tiveram um papel bem freudiano: criar o objeto fóbico de medo para oferecer um
bode expiatório capaz de espiar o mal estar da sociedade. Para quê? Para manter
as pessoas na linha esquecendo dos seus problemas de obediência e disciplina
com as obrigações que a sociedade cobra. Como fazer uma releitura dos clichês
hollywoodianos desse subgênero? O filme sul-coreano “O Livro do Apocalipse” (“In-yu-myeol-mang-bo-go-seo,
2012) nos oferece uma surpreendente abordagem alternativa de zumbis, ameaça de
robôs e meteoros que caem na Terra, temas tradicionais dos filmes apocalípticos
ocidentais. Humor negro, “non sense”, Budismo e Gnosticismo se combinam em três
contos onde o objeto fóbico é invertido: zumbis, robôs e alienígenas
transformam-se em oportunidades para as pessoas repensarem a si mesmas e a
sociedade.
sábado, novembro 26, 2016
Filme chinês "Kaili Blues" desafia espectador ocidental com sensibilidade budista
sábado, novembro 26, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Numa dos mais ousados planos-sequência do
cinema recente, 40 minutos acompanhando a viagem do protagonista no interior de
pequenos povoados da China, o diretor Gan Bi busca uma sensibilidade budista
mística sobre os pequenos eventos do cotidiano. O filme “Kaili Blues” (2015) é
um desafio para um espectador ocidental: enquanto estamos acostumados com um
cinema que tematiza as crises existenciais e da perda de identidade, o cinema
chinês de Gan Bi busca, ao contrário, o fluxo e a superfície das águas de um rio
– a crise surge quando tentamos buscar a permanência nas memórias e na própria
identidade. Ilusões que escondem o fluxo contínuo (“samsara”) da vida. Fluxo
tão desafiador como o plano-sequência no qual acompanhamos a viagem de um
médico que retorna a sua terra natal passando por uma estranha cidade.
quinta-feira, novembro 24, 2016
Por que Wall Street investe na deficitária indústria de Hollywood?
quinta-feira, novembro 24, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Franquias hollywoodianas como “Jurassic World”,
“Star Wars” e “Velozes e Furiosos” são celebradas pela grande mídia como responsáveis por supostos recordes históricos na indústria do cinema dos EUA. Porém, essa é a superfície
de uma auto-imagem que Hollywood faz questão de criar, girando em torno do
glamour do Red Carpet e mansões de atores-celebridades nas colinas de Beverly
Hills. Porém, a realidade é outra: apenas 5% dos filmes a cada ano são
rentáveis. O restantes fica entre pesadas perdas e a falência. Mas desde os
anos 1980 cresce o investimento dos fundos de Wall Street nos grandes estúdios
e independentes, apesar do negócio ser incerto e com lucros decrescentes diante
de filmes com orçamentos e retorno imprevisíveis. Por que os ricos fundos de
investimento de Wall Street continuam a financiar produções do cinema, quando poderiam investir em negócios mais seguros? É a pergunta que faz
o artigo “The Hollywood Economics” de Sophie Leech, do site “The Market Mogul”.
Afinal, qual é o tipo de lucro procurado por Wall Street? Financeiro ou
ideológico e político?
sábado, outubro 29, 2016
Não há fronteiras entre vivos e mortos em "Cemetery of Splendour"
sábado, outubro 29, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Soldados
em uma pequena cidade na Tailândia sofrem de uma estranha doença do sono. Todos
estão em uma enfermaria ligados a máquinas que ajudam a ter “bons sonhos” –
máquinas supostamente usadas pelo exército dos EUA no Afeganistão. Voluntários
e uma sensitiva tentam se comunicar com os soldados para compreender essa
estranha narcolepsia. Enquanto uma empresa de cabeamento escava buracos no
entorno do hospital, a sensitiva descobre que séculos atrás o local foi cenário
de sangrentas batalhas que ainda não terminaram no mundo espiritual: se
perpetuam e sugam a energia dos vivos. Esse é o filme “Cemetery of Splendour”
(2015) do diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul cuja filmografia é
permeada pelos temas sobre vidas passadas, reencarnação e memórias. Passado e
futuro se misturam até questionarmos as fronteiras entre os vivos e os mortos,
seja no dia-a-dia, seja até na política.
domingo, maio 08, 2016
Curta da Semana: "The Controller" - o recorrente simbolismo de Sophia no cinema
domingo, maio 08, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A anime japonesa “Akira” se encontra
com o sci-fi norte-americano “Tron”. É o curta “The Controller” (2013) onde uma
gigantesca corporação mantém prisioneira uma jovem com grandes poderes
psíquicos. Se ela escapar, o mundo poderá virar de cabeça para baixo. Ficções
científicas com protagonistas femininas dotadas de poderes psíquicos e que
ameaçam poderosos é um tema recorrente no cinema atual. Todos esses filmes
parecem se inspirar no arquétipo gnóstico de Sophia – aquela que simboliza
simultaneamente o aspecto feminino de Deus e a alma humana.
domingo, março 20, 2016
Em "Boneca Inflável" somos tão vazios quanto uma boneca de sex shop
domingo, março 20, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma fábula moderna inspirada em um mangá, onde é feita uma releitura de
Pinóquio com um toque erótico: uma boneca inflável de sex shop
inexplicavelmente ganha vida, ganha as ruas e procura entender o que nos define
como humanos. Mas tudo que descobre é que nós somos tão vazios espiritualmente
como uma boneca é vazia fisicamente. O filme “Boneca Inflável” (“Kûki Ningyô”,
2009) de Hirokazu Koreeda baseia-se em um específico problema sócio-cultural japonês (o
“kodokushi”, morte solitária), mas sua reflexão sobre a solidão urbana,
inércia, sonhos derrotados e a perda da inocência de uma boneca erótica aspira
a um tema bem universal: o fetichismo dos produtos e serviços.
Ao longo do século XX a sociedade japonesa conseguiu combinar muitos
hábitos e instituições feudais com o moderno dinamismo cultural e econômico do
Capitalismo Tardio. Mas com um preço alto: fragilização dos laços familiares e
uma conduta de boa parte da sociedade japonesa de evitar qualquer tipo de
situação que possa incomodar outra pessoa. Chamam essa atitude de “meiwaku”.
sábado, janeiro 02, 2016
Em Observação a lista dos 10 filmes mais estranhos de 2015
sábado, janeiro 02, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um samurai travesti em uma floresta na Alemanha persegue um policial; o ar pode acabar num submarino porque as massas das panquecas servidas à bordo criam bolhas de ar; uma sociedade secreta japonesa agencia mulheres ninjas dominatrix para atacarem em público homens de negócios que querem ter prazeres sadomasoquistas. Esqueça os blockbusters e os filmes “oscarizáveis”. Estamos no universo dos filmes mais “estranhos” de 2015. Uma lista de dez filmes que mostram até onde o cinema pode chegar ao explorar o excêntrico, o estranho e o incomum.
Mais um ano de
cinema se foi. Mas se o leitor cavar mais fundo para além da superfície cheia
de remakes de grandes sucessos como Mad
Max e Star Wars ou dramas
conservadores que aparecem a cada final de ano para tentar abocanhar um Oscar,
vai encontrar algumas criaturas estranhas se mexendo no porão da indústria do
cinema.
sábado, dezembro 12, 2015
Filme "Lucia": você foi criado pela ilusão ou a ilusão foi criada por você?
sábado, dezembro 12, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Você foi criado pela ilusão ou a ilusão foi criada por você? Você é
parte de um corpo ou o corpo é parte de você? Há espaço dentro da casa ou a
casa está dentro do espaço? Para o filme hindu “Lucia” (2013) essas perguntas
não são meros jogos de palavras: escondem a estranha natureza da realidade
despertada por uma droga chamada “Lucia”. O filme “Lucia” não é um produto de
Bollywood, mas do cinema canará da Índia que procura conciliar a estética bollywoodiana
(muita música, carrões e mulheres) com séria crítica social e filosófica. Um
lanterninha de cinema com sérios problemas de insônia experimenta uma droga
chamada “Lucia” que produz sonhos lúcidos – a tal ponto que ele não mais saberá quando está acordado ou dormindo. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
A indústria de
cinema hindu é a maior do mundo em termos de vendas de ingressos, entre os mais
baratos do planeta. A cada três meses um número correspondente da toda
população da Índia visita as salas de cinema, de multiplex a pequenos teatros
de subúrbios das grandes cidades – os “talkies”.
Paradoxalmente, o
cinema hindu (com muitos romances, melodramas e musicais que
vendem sonhos de realizações e felicidade) se estabeleceu em uma sociedade com
uma antiquíssima divisão religiosa em castas – grau social transmitido por
herança que determina toda a existência de um indivíduo. Embora considerado
ilegal pela Constituição, a divisão em castas mantém sua força na Índia e já
registra mais de três mil classes e subclasses.
domingo, outubro 04, 2015
Curta da Semana: "Find The Truth 360 Degree" - A verdade é o ponto cego.
domingo, outubro 04, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O Curta a Semana vai para uma experiência de imersão em 360 graus numa
perseguição a um mascarado nas estreitas ruelas de um distrito de Tóquio. O
curta “Find The Truth 360 Degree” (2015) é um “teaser” de uma série da
televisão japonesa chamada “Yokokuhan – The Pain”, que nos desafia a encontrar pistas em becos e encruzilhadas povoados por uma galeria de personagens
bizarros. Mas nem tudo é o que parece e acabaremos descobrindo que “a verdade
ama o ponto cego”.
segunda-feira, abril 07, 2014
A dialética gnóstica do senhor e escravo no filme "Expresso do Amanhã"
segunda-feira, abril 07, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Mais um filme hollywoodiano
de ficção científica distópico e pós-apocalíptico? Com elenco estelar dirigido pelo
coreano Jooh-ho Bong em sua estreia em filmes de língua inglesa, “Expresso do
Amanhã” (Snowpiercer, 2013) narra como
uma espécie de arca ferroviária com sobreviventes da espécie humana após uma
catástrofe climática que fez o planeta entrar em nova Era do Gelo, se
transforma em um microcosmo da Terra. Em um gigantesco trem com centenas de
vagões que circula indefinidamente pelo planeta cria-se um sistema totalitário
com luta de classes, exploração, dominação e manipulação psicológica. Mas as
dificuldades de distribuição e lançamento do filme apontam para uma produção
com narrativa não convencional que foge da dualidade Bem/Mal lembrando a famosa dialética do senhor e escravo tal como descrita pelo filósofo alemão Hegel. Porém,
com desfecho não convencional nem para Hollywood e nem para Hegel. Filme sugerido pelo nosso leitor Joari Carvalho.
Um filme com
diversos problemas de produção e, principalmente, distribuição. A ideia de
associar o ótimo diretor coreano Jooh-ho Bong com atores conhecidos nos EUA
como Chris Evans (Capitão América), John Hurt, Ed Harris e Tilda Swinton era promissora
dentro da atual política de Hollywood em globalizar os aspectos de direção e
produção cinematográficas. Porém, algo não deu certo: mesmo já tendo sido
exibido na Ásia, o filme ainda não estreou no Ocidente (nos EUA até o dia 31/03
não havia estreado e no Brasil e era esperado para esse mês nos cinemas
brasileiros) e sua estreia tem sido adiada diversas vezes: diversas versões do
filme parecem terem sido criadas, com diversos cortes que chegam a totalizar 20
minutos, tentando agradar os estúdios e desagradar o diretor Bong.
quarta-feira, outubro 23, 2013
A bomba semiótica do resgate dos cães de laboratório
quarta-feira, outubro 23, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em tempos de atmosfera politicamente mais leve, certamente o resgate
por ativistas de 178 cães de um instituto de pesquisas farmacêuticas em São
Roque (SP) seria relegado pelas redações da grande mídia aos blocos noticiosos
de notícias diversas. Mas o suposto descontrole das lideranças que viram
ativistas quebrando portões, depredando e levando os cães para, depois,
receberem a “ajuda” de black blocks elevou o evento à pauta nacional, para ser
submetido ao script da engenharia das bombas semióticas: “era uma vez uma
manifestação pacífica e...” Mas aqui temos uma novidade: a exploração da
relação mágica e mítica que nós temos com os animais, relação didaticamente mostrada no
filme “As Aventuras de Pi”.
Primeiramente quero me desculpar
com os leitores desse humilde blogueiro pela insistência sobre o tema bombas
semióticas. Para quem se dedica à pesquisa em meios e processos audiovisuais é
impossível ficar indiferente à atmosfera cada vez mais saturada e pesada
semioticamente – e por consequência politicamente. No futuro, pesquisadores
certamente irão transformar os acontecimentos pelos quais passamos em objetos
de dissertações e teses. Essa parece ser a miséria das ciências da comunicação:
só conseguimos entender os acontecimentos a
posteriori, isto é, interpretamos depois os acontecimentos como fenômenos filosóficos,
psicológicos ou sociológicos. Nada conseguimos compreende-los no momento, no “aqui
e agora” dos eventos, quando eles são acontecimentos
comunicacionais.
Nesse momento, representado pela
metáfora do “gigante que despertou”, uma histeria das manifestações toma conta
da agenda midiática: incêndio no Itamaraty, agressão a jornalistas, pedidos de
intervenção militar, protestos dos médicos contra a “escravidão de médicos
cubanos”, planos detalhe de carros virados e incendiados, Batmans Black Block
do bem e uma infindável série de eventos iconicamente anabolizados pela mídia.
domingo, janeiro 13, 2013
"Aventuras de Pi" mostra visão alternativa do Sagrado
domingo, janeiro 13, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Indicado ao Oscar de Melhor Filme, “As Aventuras de Pi” (Life of Pi, 2012) surpreende ao nos oferecer uma visão alternativa sobre a experiência do Sagrado, bem diferente de filmes como “Cloud Atlas” e todos os clichês new age sobre sinfonias e harmonias cósmicas: uma experiência baseada no simultâneo fascínio e terror ao descobrir que o universo nada mais é do que o resultado de sucessivas camadas interpretativas, relatos de diversas religiões que o protagonista busca por toda vida. Lá fora estão apenas os espelhos e o vazio – no filme representados pelo mar, o céu e um tigre, companheiros de jornada de Pi - que refletem de volta os signos que criamos na esperança de dar um sentido ou propósito a um cosmos hostil e violento.
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