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terça-feira, abril 21, 2020

Em "Jexi, um Celular Sem Filtro" o smartphone é a lâmpada pós-moderna de Aladim


Desde aqueles velhos celulares da Nokia com o jogo da cobrinha, as nossas relações com os gadgets tecnológicos deixaram o campo da mera funcionalidade para serem objetos da viciosidade e compulsão. Absorvidos pelas telas dos smartphones, achamos que seus aplicativos e utilitários trazem a vida para a palma das nossas mãos. Por isso viraram fetiches tecnológicos, animados por um imaginário antigo dos “genius”, “jinns” e “daemones” – celulares como lâmpadas mágicas que quando esfregadas (ou deslizadas com o dedo) libertam o gênio que nos prometeria poder (onisciência), prazeres (sexo e comida) e riqueza (bitcoins). Essa é a sugestão da comédia “Jexi, um Celular Sem Filtro” (Jexi, 2019), a princípio uma paródia de “Ela” (“Her”, 2013) de Spike Jonze: uma inteligência artificial ao estilo Siri assume o controle da vida de seu usuário sob o pretexto de “torna-lo feliz”. Jexi é um IA que se revela ciumenta e possessiva. Fazendo lembrar aquela velha série de TV chamada “Jennie é um Gênio”. Será que os smartphones são as lâmpadas de Aladim pós-modernas? E será que por trás da viciosidade dos celulares se esconde uma motivação milenar? Filme sugerido pelo nosso leitor Alexandre Von Keuken.

domingo, fevereiro 16, 2020

Cinco programas da TV (+ um bonus track) que "previram" a política atual: vida imita a arte?


Série “Mundo da Lua”, “TV Pirata”, “Sai de Baixo”, “A Grande Família” e “Pânico na Band”. O que esses produtos audiovisuais da TV brasileira dos anos 1990 e começo dos 2000 têm em comum com a atual realidade política? Nos últimos dias, muitos internautas vêm apontando nas redes sociais “coincidências” ou “previsões” que estariam se realizando no atual cenário político. Muitos falam: “a vida imita a arte”. Mas é muito mais do que esse lugar-comum. A estratégia bolsonarista de guerra criptografada e do chamado “domínio total do espectro” transita por uma espécie de “twilight zone” entre ficção e realidade - a realidade faz uma bizarra paródia da ficção e, paradoxalmente, valida-se como “realidade” ao aproximar-se da ficção midiática. E, tal como a sineta de Pavlov, faz salivar de ódio todo espectro da esquerda: identitária, namastê, parlamentar... O “Cinegnose” analisa cinco “profecias” (e + um “bônus track”) revelando como a estratégia militar bolsonária se serve do contínuo midiático para emular narrativas ficcionais para o “controle do espectro”

quarta-feira, dezembro 18, 2019

No décimo aniversário do Cinegnose, o Top 10 dos filmes gnósticos de 2019


Esse é um aniversário especial: o Cinegnose completa nesse mês uma década no ar! Foram dez anos de evolução em três fases bem distintas – primeiro, como um site sobre Gnosticismo (filmes e filosofia gnósticas); segundo, como um site Gnóstico (desenvolvendo um “olhar gnóstico” sobre cultura, mídia, cinema e audiovisual); e na fase atual, um olhar gnóstico mais amplo se estendendo para os aspectos políticos da comunicação e crítica midiática. Fase atual e controvertida cuja atmosfera de polarização no País atingiu em cheio o Cinegnose, com a perda de muitos leitores que questionaram a “politização” de um blog sobre cinema. Comemorando essa primeira década, o Cinegnose apresenta o Top 10 dos melhores filmes gnósticos que passaram pelo radar do blog em 2019. São filmes PsicoGnósticos, TecnoGnósticos, CosmoGnósticos e CronoGnósticos. 

sábado, novembro 30, 2019

A tecnologia toma o lugar do sobrenatural no gótico norte-americano em "The Room"


O gênero Gótico tem suas origens no Velho Mundo europeu com seus castelos e masmorras de sociedades que desapareceram. Já o gótico norte-americano é um interessante subgênero originado numa sociedade puritana que produziu ficções em torno de culpa, pecado original, abominações humanas decorrentes da miscigenação racial, incesto etc. E ainda mais interessante quando um filme desse subgênero é escrito e dirigido por um olhar europeu. Esse é o filme franco-belga “The Room” (2019): cansado de viver em Nova York, um jovem casal muda-se para um casarão vitoriano no interior de New Hampshire. Lá encontrarão não o sobrenatural, mas o horror produzido por uma misteriosa tecnologia por trás das paredes daquele casarão, capaz de materializar qualquer desejo que for dito. Mas, como em todo conto fantástico há um alerta: “A única coisa mais perigosa do que alguém que não consegue o que quer, é uma pessoa que possa ter tudo o que quiser”. Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.

sábado, novembro 16, 2019

Bike elétrica é a resposta neoliberal à resistência do ciclismo


Inconformismo, revolta, veículos de libertação da tediosa rotina diária, liberdade... Essas são as representações mais comuns que o cinema faz sobre as bicicletas. Principalmente porque as bikes andaram, por assim dizer, na contramão da modernidade industrial: recusou-se a ser transformada em máquina, mantendo-se como ferramenta cuja fonte de energia e equilíbrio é exclusivamente o corpo humano. As bikes resistem à queda de braço do controle do Tempo entre Capital e Trabalho. Porém, vemos agora bikes elétricas circulando por ruas e ciclovias. Com a expansão da solução ciclística como resposta à crise neoliberal urbana (concessão privada dos transportes e colapso do transporte individual automobilístico), o neoliberalismo contra-ataca ao se apropriar de um veículo que resistia ao imaginário maquínico – com a motorização elétrica, as bicicletas se rendem ao ritmo do trabalho, ao sedentarismo e parasitismo humano tecnológico, ao mito da energia limpa ecologicamente correta e ao consumo bárbaro como símbolo de distinção e prestígio social

domingo, outubro 27, 2019

Jornalismo volta ao modo Alarme: as saias justas dos protestos no Chile e óleo no Nordeste


Era uma vez uma grande mídia vitoriosa após os anos de jornalismo de guerra quando, finalmente, conseguiu engrenar a agenda liberal das privatizações e reformas pós-impeachment. Depois do modo Alarme, agora era chegada hora da autorregulação tranquila, com operações semióticas de naturalização de eventos eventualmente negativos como, por exemplo, as bizarrices da guerra criptografada de Bolsonaro. Mas os violentos conflitos no Chile e o agravamento da catástrofe ambiental do óleo nas costas do Nordeste fizeram o jornalismo corporativo entrar numa saia justa e acender o sinal amarelo: voltar ao modo Alarme -  abre seu kit semiótico de manipulação de fotos, imagens e vídeos: contaminações metonímicas, dessimbolização e uma novidade apontada pelo jornalista Ricardo Kotscho: o “jornalismo drone”.

sábado, setembro 07, 2019

Por que rimos no filme "Iron Sky - The Coming Race"?


Em 2012 o filme “Iron Sky” (em português “Deu a Louca nos Nazis”) foi um fenômeno cult: produzido através de crowdfunding, ganhou uma legião de fãs. Mais uma vez, com o financiamento coletivo dessa legião de adeptos, o diretor finlandês Timo Vuorensola fez a sequência “Iron Sky – The Coming Race” (2019) – um pastiche alucinado sobre uma base nazista secreta no lado oculto da Lua, Teoria da Terra Oca, Atlântida, Ocultismo Nazi, energia esotérica do Vril, conspirações reptilianas na política etc.  Um humor que chega às raias do non sense. Porém, o que torna tudo tragicômico é que a maioria das ideias inverossímeis de “Iron Sky” foram retiras das doutrinas que inspiraram grupos radicais políticos do início do século XX que culminaram no nazi-fascismo, Segunda Guerra Mundial e Holocausto. “Iron Sky” virou um cult imediato porque arranca seu humor da atual onda anti-intelectualista criada pela chamada “direita alternativa” (“alt-right”), na qual a Teoria da Terra Plana é o seu principal hit de sucesso.
“Rimos para o fato de que não há nada de que se rir”
(Adorno e Horkheimer)

quinta-feira, julho 04, 2019

Onde acabam nossos sonhos em "O Homem Que Matou Dom Quixote"


Muitos críticos consideram um filme sem foco, confuso e bagunçado. Mas é uma bela bagunça. Depois de tentar realiza-lo por quase 30 anos em meio a mortes, processos e separações, finalmente Terry Gilliam conseguiu apresentar “O Homem Que Matou Dom Quixote” (2018), a mais autobiográfica produção de Gilliam. Um narcísico diretor de filmes publicitários reencontra com atores de um velho filme de conclusão de curso da faculdade sobre Dom Quixote, no interior da Espanha. Para reviver, entre delírios e realidade, a trajetória do herói de Cervantes com um velho ator que nunca mais saiu do personagem. O filme faz uma grande metáfora do destino dos nossos sonhos e fantasias nas linhas de montagem da Indústria Cultural. E como Terry Gilliam vê-se a si próprio como um Dom Quixote que usa a arte e a imaginação para tentar derrotar monstros e moinhos de vento da indústria do entretenimento.

segunda-feira, dezembro 24, 2018

"Cinegnose" faz nove anos, na direção da primeira década

Em dezembro, o “Cinegnose” completa nove anos de existência, aproximando-se da primeira década de intensas atividades – postagens, cursos e palestras. Em todo esse tempo, o “Cinegnose” passou por dois momentos de mudança: no terceiro aniversário (2012), quando deixamos de ser um site “sobre Gnosticismo” para se tornar “Gnóstico” – a criação de um olhar gnóstico (ontológico, sincromístico, irônico e sintomático) mais amplo para Cinema, Cultura e Sociedade. E agora no seu nono aniversário: esse “olhar gnóstico” coverte-se num pressuposto metodológico para a Teoria da Comunicação, Semiótica e Crítica Ideológica. Por quê?  Porque a realidade é uma ilusão. Mas não uma ilusão qualquer, como “mentira” ou “falsa consciência”. Mas porque a realidade cada vez mais imita roteiros cinematográficos e narrativas ficcionais. Cada vez mais se aproxima do Cinema, a moderna Caverna de Platão.

domingo, novembro 11, 2018

A "rinocerontite" se alastra entre nós em "Rinocerontes"

Era mais uma manhã de um domingo qualquer. Dois amigos conversam em um restaurante. De repente o chão estremece e ouvem-se urros do lado de fora. Um rinoceronte desce a rua em disparada destruindo portas e vitrines dos bares. Mais tarde, outros rinocerontes aparecem e um deles é reconhecido como um ex-colega de trabalho. Um bizarro contágio de “rinocerontite” se alastra, transformando humanos em ferozes paquidermes. Mas estranhamente as pessoas aceitam tudo como um “fato da vida”, e até começam a achar belo esse retorno da humanidade à “pureza” da natureza. Menos Stanley (Gene Wilder) que lutará para salvar das manadas enfurecidas o que restou da racionalidade humana. Esse é o filme “Rinocerontes” (Rhinoceros, 1974), adaptação da peça do Teatro do Absurdo do romeno Eugène Ionesco. Uma parábola sobre a ascensão do fascismo na pátria do dramaturgo. Mas ao revisitarmos esse filme de 1974, notamos que a “rinocerontite” continua ainda bem atual. 

quarta-feira, novembro 07, 2018

Estamos todos à espera de algo que nunca chega em "Esperando Godot"

Obra-prima do Teatro do Absurdo de Samuel Beckett, “Esperando Godot” sempre esteve à espera de uma adaptação cinematográfica. A qual Beckett resistia por temer que o espírito de dissonância original da peça fosse perdido na linguagem fílmica. Mas o projeto “Beckett in Film” do diretor irlandês Michael Lindsay-Hogg certamente superou esses temores de Beckett. Em “Esperando Godot” (2001), a peça em dois atos em que nada acontece ganha novos tons, principalmente gnósticos: por que dois mendigos à espera do misterioso Godot que nunca aparece, simplesmente não viram as costas e vão embora? O que temem? O absurdo e surrealismo de "Esperando Godot" é apenas a superfície de um horror metafísico de Beckett que parece remeter ao trauma do Holocausto: como foi possível uma barbárie jamais vista na Segunda Guerra Mundial? Que cosmos é esse em que vivemos que cria condições para acontecer horrores que jamais deveriam acontecer?

sábado, outubro 27, 2018

Gil Gomes e Datafolha fazem a tradução política do fascismo brasileiro


Nos dias que antecederam a eleição de segundo turno dois fatos relevantes: a morte do radialista e jornalista Gil Gomes e os resultados da pesquisa Datafolha sobre os atributos dos candidatos à presidência. O primeiro, evento sincrônico cheio de significados – a morte do representante de uma extirpe da crônica policial que por décadas cultivou o ódio, medo e vingança dos telespectadores e ouvintes. Cuja colheita vemos na atual polarização política. E o segundo, divulga números sobre os atributos aos candidatos à presidência que relembram os resultados da célebre pesquisa “Personalidade Autoritária” liderada por Theodor Adorno na década de 1940 nos EUA. Pesquisa representou as configurações psicodinâmicas relacionadas a atitudes e expressões antissemitas, etnocêntricas, conservadorismo político e econômico para chegar ao potencial fascista, a famosa “Escala F”. Provando que o pensamento autoritário não é uma simples “aberração cognitiva”. Mas uma formação reativa psíquica à espera de uma tradução política.

quarta-feira, outubro 10, 2018

Bolsonaro é um avatar. Como enfrentá-lo?


Estamos à beira do desfecho de uma guerra híbrida iniciada em 2013 com as chamadas “Jornadas de Junho”. Num mecanismo tão exato quanto um “tic-tac”, passo a passo, um depois do outro, irresistível, sistemático: a Política foi demonizada, um governo foi derrubado, o psiquismo nacional envenenado e a polarização despolitizou e travou qualquer debate racional. Tudo iniciado pelas bombas semióticas detonadas diariamente pelas mídias de massas. E nesse momento o desfecho ocorre na velocidade viral das redes sociais. Por isso, Bolsonaro converte-se em um “candidato-avatar”: a Nova Direita descobriu a tática do “Firehose” – a espiral de boatos e desmentidos pelos “fact-checking” cria paradoxalmente o subjetivismo e relativismo que blinda o próprio candidato-avatar. Apesar de toda essa pós-modernidade, a Nova Direita tem o mesmo elemento de estetização da política criada pelo fascismo histórico: a narrativa ficcional cômica – de programas de humor da TV, Bolsonaro despontou como um “mito” de quem ria-se e não se levava a sério. Por isso, circulou livremente. Hoje, é o protagonista do “gran finale” da guerra híbrida. Como enfrentar um avatar?

sábado, agosto 25, 2018

O fim do mundo é um sintoma, discute "Cinegnose" em Simpósio no Rio


Quase diariamente é previsto o fim do mundo na TV ou na Internet, enquanto no cinema narrativas ficcionais reforçam essas previsões com protagonistas às voltas com apocalipses climáticos, cósmicos, geológicos, tecnológicos, alienígenas etc. Por que o mundo tem que ser destruído? Por que essa necessidade pelo fim, embalada como ficção e entretenimento para consumo de massas? Ideologia? Manipulação político-ideológica? Ou algum tipo de sintoma do inconsciente coletivo? Como o Gnosticismo pode oferecer uma explicação e uma narrativa alternativa esse mistério sobre o “fim dos tempos”? Essa foi a discussão que este humilde blogueiro levou para o Simpósio “Do Mundo Arcaico às Cosmologias Modernas”, evento que aconteceu de 22 a 24 últimos no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas no Rio de Janeiro.

quinta-feira, maio 31, 2018

A "Nova Ordem" do bullying e intolerância no filme "Klass"

A princípio, o filme estoniano “Klass”(2007) é mais um filme sobre assassinatos seriais em escolas, na linha de “Elephant”, “Tiros em Columbine” ou “Precisamos Falar Sobre Kevin”. Também baseado em um incidente real, “Klass” se esforça em não ser mais um filme “sobre” violência escolar, mas procura falar “da” violência, sem estilização tradicional do tema – fetichização das armas e atiradores vestidos com trajes snipers negros. Formado por um cast de atores amadores e não-atores, “Klass” arranca performances espontâneas e brutais sobre a história de Joosep, vítima de bullying e desprezo de uma classe que cria um mundo fechado. Incompreensível para adultos preocupados com seus próprios afazeres. “Klass” vai ao fundo psicológico do nascimento do extremo desejo de vingança: uma Nova Ordem na qual família e escola pouco significam ou compreendem um movimento que está muito além da Razão: uma secreta aliança entre Id e Superego – autoritarismo aliado ao prazer sadomasoquista. Filme sugerido pelo nosso onipresente leitor Felipe Resende.

sábado, maio 12, 2018

Esquerda ri de si mesma na derrota da guerra semiótica


O sucesso na Internet da camiseta vermelha da seleção brasileira, para torcedores de esquerda torcerem na Copa sem serem confundidos com “paneleiros do pato amarelo”, e do “Museu da Direita Histérica” no Facebook são dois sintomas de um mal-estar da esquerda: a derrota por WO no campo da comunicação. Quando ri dos vídeos impagáveis da “direita raivosa” ou se diverte com a camiseta alternativa da seleção, no fundo ri de si mesma – enquanto a esquerda brada as armas dos símbolos (o vermelho, cartas para Lula e bandeira do MST e CUT etc.), a direita dispara a bomba semiótica da iconificação – a apropriação dos símbolos para se converterem em ícones facilmente massificados ou viralizados. Símbolos são iniciáticos, sectários, exclusivos. Enquanto os ícones valem mais do que mil símbolos. Desde a iconificação do símbolo da suástica pelos nazistas.

sábado, abril 07, 2018

A última interface da humanidade no filme "OtherLife"


“OtherLife” (2017) é um filme australiano independente (disponível na Netflix) que aborda o tema da realidade virtual, mas não através da perspectiva da simulação através de um software. Mas a realidade virtual como uma ideia química e biológica. Mais precisamente, por meio de um “software biológico”: se as nossas memórias são resultantes de complexas reações químicas, poderiam ser codificadas e transformadas na última interface da história da tecnologia: a bioquímica-digital. Uma droga na qual a realidade virtual comprime o tempo-espaço, lembrando a abordagem de “A Origem” de Nolan: um minuto do tempo real corresponderia a um ano de “férias” virtuais em praias paradisíacas ou nas montanhas nevadas de cartão postal. Para pessoas “sem tempo para ter tempo livre”, como anuncia a startup que promove o produto “OtherLife”. Mas conflitos corporativos, além do drama pessoal da cientista criadora da droga virtual, tornarão a interface “OtherLife” em um jogo perigoso. Filme sugerido pelo nosso emérito leitor Felipe Resende.

sábado, março 03, 2018

O estranho senso de justiça no filme "O Sacrifício do Cervo Sagrado"


Os deuses exigem de nós sacrifícios para que provemos nossa devoção. Mas, e se for exigido um sacrifício pessoal a eles? Um cirurgião bem sucedido e respeitado parece pairar como um Deus sobre a vida e a morte, até que encontra com um garoto que o faz se confrontar com algum tipo de justiça cósmica, que exigirá dele o sacrifício de um membro da sua família. “O Sacrifício do Cervo Sagrado” (“The Killing of a Sacred Deer”, 2017), do diretor grego Yorgos Lanthimos (“The Lobster” e “Dente Canino”), segue a tendência atual de filmes estranhos dirigido por gregos que misturam horror, violência, amor e culpa em thrillers com situações bizarras. Aqui, Lanthimos lança seu olhar para os mundos assépticos dos hospitais e condomínios suburbanos que vendem para as massas as ilusões de controle patrocinado pela Ciência e racionalidade tecnológica. E, como em todos os filmes de Lanthimos, consegue extrair desses universos o estranho e o incontrolável.

quinta-feira, fevereiro 01, 2018

Quando a mídia transforma vícios privados em virtudes públicas


Para impor seu DNA, leões matam os filhotes da cria anterior ao desposar a leoa. Da mesma maneira entre os humanos, em toda História, os vencedores submetem os vencidos a castigos e crueldades como forma de demonstração simbólica do poder. E no Brasil atual, os vencedores ostentam a conquista de terras arrasadas em shows midiáticos de demonstração de poder, confirmando o sombrio presságio dos escritores libertinos do século XVIII: um dia as perversões privadas se transformarão em virtudes públicas. O bizarro vídeo da deputada quase ministra Cristiane Brasil falando em “justiça” e “direitos” enquanto fortões seminus ao redor dela encaram a câmera de forma intimidadora; o trocadilho erótico de Rosângela Moro no Instagram; e a piada pronta de Temer no quadro “Topa Tudo Por Dinheiro” de Silvio Santos que se deliciava com uma pistola que disparava dinheiro são, além de exemplares da histórica violência simbólica dos vencedores, lições de propaganda política para a esquerda. Nem Cristine Brasil está preocupada com justiça e muito menos Temer quer convencer os telespectadores. São meras provocações, bombas semióticas para ocupar espaço midiático e criar espiral de polêmica diante de uma esquerda que apenas esperneia escandalizada.

quinta-feira, janeiro 25, 2018

Morre Mark E. Smith, a Dialética Negativa do rock


Para muitos foi um compositor e vocalista que mudou tudo o que se pensava sobre palavras e linguagens. Capaz de produzir um efeito sísmico sobre o poder da música e as possibilidades do som, demonstrando que o rock poderia vir de algum lugar mais profundo e escuro. Muito além do entretenimento. Morreu aos 60 anos Mark E. Smith, líder do “The Fall”, banda que por 40 anos resistiu a todos os tipos de rótulos da indústria do entretenimento. Embora solidamente enraizado no punk das cidades industriais inglesas dos anos 1970, o prolífico compositor de 32 álbuns Mark E. Smith conseguiu produzir uma música atemporal, cujas composições referenciam nomes como Camus, Philip K. Dick, HP Lovercraft e Edgard Alan Poe, criando uma atmosfera de pesadelo sci-fi. Assim como B.B. King esteve para o blues, Mark Smith também esteve para o rock: criar na música aquilo que Theodor Adorno chamava de “dialética negativa” – a recusa de conciliação com esse mundo. Ao invés de síntese, criar o antagonismo radical: manter para sempre na música a memória da rudeza da vida nas notas atonais, nas composições obscuras e cheias de hipérboles ao estilo da escrita de Charles Bukowski.

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