terça-feira, maio 30, 2017
Curta da Semana: "High Chaparral" - refugiados sírios perdidos na hiper-realidade
terça-feira, maio 30, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que tem a ver
os filmes de faroeste de Hollywood com um parque temático no interior gelado da
Suécia chamado “High Chaparral” e refugiados sírios? Muitos vezes a ironia faz
a realidade superar a própria ficção. Dois documentários curta-metragem, “High
Chaparral” (2016) e “Return to High Chaparral” (2017) mostram como um parque
temático sobre o Velho Oeste dos filmes hollywoodianos se transformou em abrigo
para 500 refugiados sírios no inverno sueco. Vítimas do mundo real encontrando
abrigo na hiper-realidade criada pelo “soft power” norte-americano. Um parque
temático, que encena histórias de heróis com grandes armas derrotando vilões,
dá abrigo a vítimas dessas mesmas armas, só que no mundo real. Refugiados de um
país distante pouco familiarizados com filmes de faroeste, mas que, mesmo assim,
ficam fascinados ao verem atores suecos repetindo narrativas hollywoodianas
semelhantes àquelas deixadas em seus países destruídos.
domingo, maio 28, 2017
A Cracolândia e o documentário "Arquitetura da Destruição"
domingo, maio 28, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No filme “Ele
Está de Volta” (2015) Hitler aparece no século XXI e vê os neonazistas na
Alemanha. Irritado, chama-os de “fracotes!”. Para ele, não passavam de
imitadores. Mas aqueles que realmente entenderam o seu legado não estão nas
ruas: são os gestores em governos e corporações. Chamada pela mídia corporativa
de “megaoperação de combate às drogas”, a ação na Cracolândia no Centro de São
Paulo, comandada pelos “gestores” prefeito João Dória Jr. e o governador
Alckmin é uma irônica confirmação daquele filme. Escavadeiras, demolições e a
internação obrigatória de dependentes químicos são evidências de como dois
princípios do legado nazifascista inspiram esse século: o “embelezamento do
mundo” e o “princípio das ruínas”. Um dos melhores estudos do fenômeno nazi, o
documentário “Arquitetura da Destruição” (1989) descreve que projetos
nazistas como a “Nova Berlim” acreditavam que o embelezamento somente seria
possível através da destruição e higienização social. Projetos atuais como “Nova Luz” e o Programa “Cidade
Linda” em São Paulo parecem confirmar a maior fé de Hitler: as ruínas da
arquitetura monumental nazi de uma Alemanha derrotada inspirariam as gerações
futuras.
sábado, maio 27, 2017
Alguém manipula nossas identidades no filme "Los Parecidos"
sábado, maio 27, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Imagine um
diretor fascinado pelos filmes e séries sci-fi e de terror B dos anos 1950 como
“Além da Imaginação” que produz um filme com mix da atmosfera dos filmes noir e
do hotel Overloock de “O Iluminado”. O resultado é um filme estranho, fora da
curva dos atuais thrillers de horror. É o filme “Los Parecidos” do diretor
mexicano Isaac Ezban que vem conquistando prêmios no circuito internacional de
festivais do fantástico e do horror. Em uma noite de forte tempestade, em 1968
no México, um grupo fica preso em uma pequena e remota estação rodoviária, à
espera de um ônibus que nunca chega. Estranhas notícias pelo rádio dão conta
que aquele temporal não é comum: o que cai do céu junto com a chuva provoca
estranhas mudanças comportamentais, e suspeita-se de um fenômeno global. O
filme utiliza elementos do fantástico para discutir um tema muito sério: se a
nossa identidade é o resultado do jogo da percepção (o olhar de um para o
outro), como isso pode ser moldado por influências externas? Mídia? Uma
inteligência alienígena? Ou apenas o resultado da paranoia mútua?
quinta-feira, maio 25, 2017
Ataque em Manchester cria dissidências e armadilha do "meta-terrorismo"
quinta-feira, maio 25, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Paris,
Bruxelas, Nice, Berlim, Estocolmo, Londres, e agora Manchester. Sempre a recorrências dos
mesmos elementos de um roteiro: o terrorista sempre morre no final, um
homem-bomba que leva cartão de banco, o inexplicável relaxamento da segurança
em uma arena com 21 mil pessoas etc. e etc. Mas dessa vez, as “coincidências”
ficaram tão evidentes que opiniões dissidentes começam a surgir dentro da
própria mídia corporativa (como a CNN) e no mainstream político britânico:
agora temos opiniões “sérias” de que tudo poderia ser mais uma “false flag” –
ou “não-acontecimento”, no jargão acadêmico. Como todo não-acontecimento, o
ataque deixa uma proposital “assinatura” que os “teóricos da conspiração”
chamam nesse ataque de Manchester de “22-22-22”: terrorista de 22 anos mata 22
pessoas no dia 22. Isca meta-terrorista para analistas independentes morderem e
verem em tudo uma “cabala maçônica”, para então caírem nos estereótipos
conspiratórios que a própria mídia noticiosa e o cinema criaram. Como, por
exemplo, os livros/filmes de Dan Brown.
segunda-feira, maio 22, 2017
Luciano Huck e o jornalismo que perdeu o faro na classe média midiatizada
segunda-feira, maio 22, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A corrida de celebridades como Luciano Huck
para apagar fotos nas redes sociais com o, agora, radioativo senador Aécio
Neves, é a face mais visível de um novo fenômeno: o surgimento uma classe média
midiatizada: jornalistas, artistas, celebridades esportivas entre outros da
fauna midiática que, por respirarem e viverem em uma bolha que os isola das ameaças
do deserto do real, começam a criar relações promíscuas e comprometedoras com personagens
empresarias e políticos que habitam no entorno do poder. Como sintoma “tautista”
(tautologia + autismo) desses ambientes midiatizados, confundem câmeras,
teleprompter e claque de aplausos em auditório com a própria realidade, chegando
alguns a acreditar que de fato ocupam “espaço de poder”. Casadas
com políticos e empresários além de manter amizades com centros de poder corporativos e
governamentais fazem muitos jornalistas acreditar que também pertencem à classe dominante, criando
um tipo de jornalismo e entretenimento marcado por relações promíscuas e
conflitos de interesses.
domingo, maio 21, 2017
O terror racial do filme "Corra!"
domingo, maio 21, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A jovem branca vai apresentar o seu namorado
negro para os seus pais, num evidente prenúncio de tensões raciais. Diversos
filmes já exploraram esse tema. Mas nenhum como “Corra!” (Get Out, 2017) –
afinal, estamos no século XXI e a crítica ao racismo e intolerância está no
centro dos debates culturais. Agora, o jovem negro conhecerá pais liberais,
esclarecidos e que votaram em Obama. Mas ainda assim há algo de errado e
perturbador naquela família de típicos liberais democratas. “Corra!” é a grande
novidade dentro do subgênero do terror racial: a combinação de elementos
gnósticos (o controle da mente e o esquecimento induzidos pelas tecnologias do
espírito) com a crítica social – aqueles que supostamente defendem a
democracia racial, são os mesmos que cinicamente reproduzem a desigualdade.
sexta-feira, maio 19, 2017
Jogo Baleia Azul e suicídio: a morte é mais um produto à venda?, por Marcelo Gusmão
sexta-feira, maio 19, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Torne a
mentira grande, simplifique-a, continue afirmando-a, e eventualmente todos
acreditarão nela”. Essa frase de Adolf Hitler descreve bem esse ‘e-fenômeno’
que se tornou o Jogo da Baleia Azul nos últimos meses. O que aconteceu foi algo semelhante à frase
do ditador, ou seja, o jogo é a mentira que se tornou grande, e por isso foi
curtida, comentada e compartilhada tantas vezes mundo afora que, eventualmente,
muitos acreditaram nela. Sabe-se agora, após investigações de sites
especializados, que o Jogo da Baleia Azul é um “fake news” (notícia falsa),
fruto do velho e conhecido telefone sem fio. Mas também a vida imita a arte:
o suposto jogo Baleia Azul foi
explicitamente inspirado no filme “Nerve: Jogo sem Regras” (2016). E
vice-e-versa, a arte imita a vida: a série "Os 13 Porquês” surge no momento em
que a ONU divulga números de que ocorre um suicídio a cada 40 segundos:
coincidências? sincronismos? Ou também a morte transforma-se em mais um produto
à venda?
quinta-feira, maio 18, 2017
Delações da JBS deixam nu o jornalismo da Globo
quinta-feira, maio 18, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ao vivo repórteres e apresentadores nervosos,
consternados, engolindo seco em uma profusão exponencial de gafes e atos falhos
poucas vezes vista. Os jornalistas da Globo parece que foram pegos de surpresa:
depois de diariamente martelar a narrativa da governabilidade e do “ruim com
ele, pior sem ele”, de repente (como se fosse virada alguma chavinha seletora)
o discurso mudou radicalmente. Tudo após a explosão nuclear das delações
premiadas dos donos da JBS (terceiro maior anunciante da Globo) reveladas em suposto
“furo” do jornal “O Globo”. E ainda com direito a cobertura com imagens estilo
“black bloc” mostrando rolos de fumaça subindo diante do Palácio do Planalto em
noite de protestos. Por que a surpresa consternada dos jornalistas globais,
tidos como os mais bem informados e conhecedores dos bastidores do País, como diz marketing da emissora? Mais do que
provocar um terremoto político, as delações da JBS deixaram nu o jornalismo
global: revelou profissionais alheios à realidade e que apenas repetem
discursos ao sabor da mudança dos interesses corporativos da Globo. Mas isso
traz um custo psíquico aos incautos jornalistas da emissora.
quarta-feira, maio 17, 2017
A obsessão pela felicidade: em defesa da melancolia
quarta-feira, maio 17, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
terça-feira, maio 16, 2017
Curta da Semana: "Day 40" - os animais se amotinam contra Deus na Arca de Noé
terça-feira, maio 16, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como Noé conseguiu colocar a cadeia alimentar
completa de animais dentro da Arca e por 40 dias todos viveram em paz e
harmonia enquanto o planeta era punido pelo Dilúvio? O produtor, diretor e
animador Sol Friedman, notório pelas suas produções que profanam contos
sagrados e tradições religiosas de todo o mundo, no curta de animação “Day 40”
(2014) apresenta com muito humor negro uma arca bíblica que mais parece um
navio de piratas amotinados. Um lugar tão pecaminoso quanto o mundo deixado
para trás e afogado pelo Dilúvio. Em muitos aspectos o curta lembra a leitura
gnóstica que Darren Aronofsky fez em “Noah” (2014). “Day 40” não é uma produção
aconselhada para pessoas religiosamente mais sensíveis.
segunda-feira, maio 15, 2017
Tentar lembrar pode ser uma armadilha em "Remainder"
segunda-feira, maio 15, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A memória é o que nos torna quem somos. Mas, se as memórias são resultantes das nossas percepções mais
subjetivas (cor, cheiro, sons etc.) podem ser interpretações e não gravações da
realidade. Por isso, podem se tornar armadilhas, quanto mais imergimos nelas.
Desde o filme “Amnésia” (2000) de Christopher Nolan esse perigo é tematizado
mais seriamente pelo cinema, até chegarmos a “Remainder” (2015): após um
acidente traumático, um jovem perde a memória e tenta montar o quebra-cabeças
das lembranças que restaram com um método extremo: com o dinheiro da milionária
indenização o protagonista monta gigantescos estúdios com atores contratados
para obsessivamente encenar seus cacos de memória. Mas o que deveria ser uma
progressiva conexão com a realidade, começa a se tornar um vício compulsivo.
Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
domingo, maio 14, 2017
Cinegnose discute filme gnóstico, semiótica narrativa e jogos digitais na "Fatecnologia"
domingo, maio 14, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O cinema gnóstico. Gnosticismo nas ciências e nos jogos digitais e o Universo como um game de computador. As mito-narrativas gnósticas e as transformações da Jornada do Herói nas HQs e no Cinema. As semióticas das narrativas como ferramentas de produção textual, de roteiros e apresentações. Esses foram alguns dos temas discutidos por esse humilde blogueiro na 9a. Fatecnologia na Faculdade de Tecnologia de São Caetano do Sul (SP) na noite dessa última quinta-feira para uma plateia de interessados e participativos estudantes. E com uma conclusão final após diversas indagações: o Herói, assim como nós mesmos, não enfrenta “vilões”. Mas a nossa própria Sombra interior projetada na ilusão do mundo. Veja o vídeo e os slides do evento.
sábado, maio 13, 2017
Startup britânica promete construir a verdadeira Matrix
sábado, maio 13, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma startup britânica chamada Improbable
pretende criar a verdadeira Matrix: uma simulação em larga escala do mundo
real. E o ponto de partida já existe – a plataforma SpatialOS e o jogo de
computador Worlds Adrift, ainda restrito a acadêmicos e cientistas. O aporte de
milhões de dólares na startup por empresas de capital de risco, além do
interesse militar e indústria de entretenimento pelo projeto revelam evidentes
aplicações nas áreas estratégica, bélica e engenharia social: construir mundo
virtuais para simular o surgimento de extremismos violentos nas populações e
comportamentos econômicos. Mas a iniciativa dos co-fundadores Herman Nerula e
Rob Whitehead é também uma evidência da motivação místico-religiosa que possui
atualmente o Vale do Silício: Tecnognosticismo, imortalidade e a crença de que
já vivemos em uma gigantesca simulação. O game Worlds Adrift seria mais um
exemplo de como a ciência experimental se encontra com a prática religiosa: a
Teurgia.
sexta-feira, maio 12, 2017
Para quê serve a astrologia de massas?
sexta-feira, maio 12, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Na década de 1950 o alemão Theodor Adorno (pelo olhar sócio-psicanalítico) e o francês Roland Barthes (pelo ponto de vista da semiologia) empreenderam pesquisas sobre as colunas de astrologia, respectivamente do Los Angeles Time e do semanário Elle. Ambos chegaram à mesma reposta: a astrologia de massas serve para exorcizar o real. A astrologia deixa de ser uma abertura para o Oculto, o Onírico e o Imaginário para se transformar num espelho realista e disciplinador da própria rotina diária dos leitores. Será que essa resposta pode ser aplicada à astrologia de massas atual, mais de cinquenta anos depois dessas análises?
terça-feira, maio 09, 2017
Cinegnose participa da "Fatecnologia" discutindo semiótica dos jogos e gnosticismo
terça-feira, maio 09, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Semiótica, Jogos e Gnosticismo é a discussão que esse humilde blogueiro levará para a 9a. Fatecnlogia, evento da Faculdade de Tecnologia de São Caetano do Sul. A palestra acontece dia 11/05 e tem como principal objetivo apresentar as contribuições dos estudos das mito-narrativas (do Herói e a Gnóstica) para o mundo dos jogos digitais – principalmente a possibilidade de criação de um nível meta da própria realidade através do entretenimento. Seria o mundo lúdico dos jogos um nível meta no interior do próprio Universo simulado em que vivemos?.
segunda-feira, maio 08, 2017
A construção do super-herói amoral nas capas de "Veja" e "IstoÉ"
segunda-feira, maio 08, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Pela primeira vez em anos as capas as
revistas “Veja” e “IstoÉ” escancaram sinceridade e franqueza: recursos semióticos
como retórica, iconificação e analogia usados não mais para esconder, mas para
explicitar aquilo que sempre essas publicações não ousavam admitir: o juiz de
primeira instância Sergio Moro há muito deixou o campo do Direito para atuar
como um líder político messiânico que não mais julga em posição equidistante
entre promotoria e réu – assumiu uma batalha cujo ápice é o interrogatório de
Lula no Fórum de Curitiba no dia 10/05. Que as revistas simbolizam como algo
entre a luta livre mexicana ou uma contenda de box do século. Mas há algo mais
nessas capas: o juiz Moro não é um herói que segue o modelo clássico (épico ou
trágico), mas é o Super-Herói amoral das HQs e adaptações cinematográficas da
Marvel e DC Comics: aquele que luta pela Justiça e a Verdade, acima do Bem e do
Mal. Cimento ideológico necessário para a opinião pública se resignar ao ver a
própria carne sendo cortada com as supostas “reformas”, como “efeito colateral”
aceitável em nome da Verdade – se for necessário, o Super-Herói pode até
destruir o mundo, mesmo que seja para derrotar vilões que também querem
destruir o mundo.
sábado, maio 06, 2017
"Complicações do Amor": pode algo tão bom não funcionar mais?
sábado, maio 06, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Não se perca no infeliz título em português,
que faz parecer uma comédia romântica de sessão da tarde. “Complicações do
Amor” (The One I Love, 2014) é uma crítica ambígua e até sombria (ao melhor
estilo das atmosferas da série “Além da Imaginação”) contra todo aparato
fármaco, psicoterapêutico e neurocientífico atual mobilizados para supostamente
nos fazer felizes. Porém o efeito colateral prático é viciosidade, dependência
e compulsão. Afinal, é a alma do negócio para manter todos sob controle – as
chamadas “tecnologias do espírito”. Um casal em crise terminal procura um
terapeuta para tentar resgatar os momentos felizes que foram perdidos no
passado e que fizeram Ethan e Sophie ficarem juntos. O terapeuta sugere um
final de semana a sós em uma remota casa de campo onde tentem resgatar o que foi perdido na relação. O problema é que lá
encontrarão uma espécie de sala de espelhos cada vez mais perturbadora com
resultado imprevisível e ambíguo - e até elementos CosmoGnósticos. Matrix nas relações conjugais?
quinta-feira, maio 04, 2017
A morte de Belchior e a construção do estereótipo do "maluco beleza"
quinta-feira, maio 04, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Belchior foi um verdadeiro objeto voador não
identificado na MPB. Por décadas a mídia corporativa tentou enquadrá-lo em
alguma categoria: “rapaz romântico”, “brega”, “figura de voz fanhosa e bigodão”
etc. E nos últimos anos, procurou encaixá-lo na narrativa “desaparecido/aparecido” e, por
fim, na sua morte, transformá-lo no estereótipo do “maluco beleza”. Para quê?
Para enquadrá-lo na derradeira narrativa do modelo negativo moralizante: o
“maluco beleza” irresponsável que não conseguiu dar a “volta por cima” numa suposta
carreira que descia ladeira abaixo. Belchior sabia que a mídia fazia tábula
rasa da sua obra e, por isso, de forma autoconsciente virou um OVNI da MPB. A
forma como a grande mídia “reciclou” a morte de um ser inclassificável confirma
uma tese do pensador Theodor Adorno sobre a função do entretenimento na
Indústria Cultural: apertar ainda mais os arreios que nos prendem à disciplina
do mundo do trabalho.
quarta-feira, maio 03, 2017
Xamanismo, viagem no tempo e fenômenos quânticos em "Tiempo Muerto"
quarta-feira, maio 03, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme argentino “Tiempo Muerto” (2016) é
mais uma incursão do cinema atual no tema da viagem do tempo, mas por um viés
bem particular – loops temporais e paradoxos como obstáculos para a “segunda
chance” que possa alterar a linha do tempo. Inconformado com a morte da sua
esposa, o protagonista contrata um “tempo morto” – um estranho ritual que
envolve xamanismo, ocultismo e fenômenos quânticos. Tempo, psiquismo e memórias
são contínuos que esbarram em um traço da natureza humana: a compulsão a
repetição. Sem conseguirmos seguir em frente, ficamos neuroticamente fixados em
experiências de prazer ou dor no passado, repetindo a cena do trauma. Quem sabe
pensando que um dia o Titanic não afunde.
terça-feira, maio 02, 2017
Em "Almas à Venda" a chave do sucesso é a perda da alma
terça-feira, maio 02, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Com ironia e com humor negro, "Almas à Venda" (Cold Souls, 2009), tematiza criticamente como o mundo dos negócios (management + tecnologias do espírito) invade nossa última morada que ainda tenta resistir: a alma. No mundo atual dominado pelo paradigma da financeirização na qual qualquer coisa (ações, títulos, carros, pessoas, sentimentos e até a alma) tem que ser submetida aos princípios da liquidez e mercantilização totais, um homem descobre a chave do sucesso: o "Armazém de Almas" - clínica especializada em estocar a sua alma para substituir por outra de um doador anônimo, mais bem sucedido. Mas o protagonista descobre algo mais: quando estamos vazios e sem alma conseguimos ser mais bem sucedidos profissionalmente.
domingo, abril 30, 2017
Curta da Semana: "Edifício Tatuapé Mahal" - a vida secreta dos bonecos de maquete
domingo, abril 30, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Estamos no universo dos bonecos daquelas
maquetes que vemos em show room de lançamentos imobiliários. Um boneco
argentino chamado Javier vem para São Paulo aproveitando o boom imobiliário no
bairro do Tatuapé. Através dele conhecemos como esses pobres trabalhadores são
explorados por agentes imobiliários e sujeitos a arbitrariedade de filhos de
clientes que tratam as maquetes como fossem brinquedos. Mas também conhecemos
os dramas existenciais da vida secreta dos bonecos de maquetes. Esse é o curta
de animação brasileiro “Edifício Tatuapé Mahal” (2014) da dupla de diretoras
Fernanda Salloum e Carolina Markowicz. Um interessante mix de humor negro com
paródia ao típico melodrama latino-americano.
sábado, abril 29, 2017
Globo tenta abafar o barulho do seu silêncio na greve geral
sábado, abril 29, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A Globo, acompanhada do restante da mídia
corporativa, ressente-se de um cada vez mais grave processo de negação da
realidade. Os sintomas são cada vez mais agudos, como demonstrou o silêncio dos
últimos dias sobre a articulação da greve geral pelas centrais sindicais e movimentos
sociais. Um silêncio bem barulhento, pois revelou a sua autoconsciência do
poder de duas armas semióticas que sempre dispara em contextos de
desestabilização política: a “profecia autorrealizável” e o “efeito copycat”. O
constrangimento e “saia justa” dos apresentadores nas primeiras horas da manhã
de sexta-feira também revelou uma aposta: "as nossas armas semióticas são tão poderosas que, se ficarmos em silêncio, nada vai acontecer! Mas a negação tautista da mídia corporativa descobriu da pior forma
possível que existe vida lá fora, no deserto do real.
quinta-feira, abril 27, 2017
A monstruosidade ideologicamente amoral no filme "Vida"
quinta-feira, abril 27, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A um mês do lançamento de “Alien: Covenant”
no qual Ridley Scott dá continuidade ao anterior "Prometheus", o filme "Vida" (Life, 2017) de Daniel Espinosa é lançado. Com o mesmo plot de Scott para
“Alien” (1979): astronautas aprisionados em uma nave encurralados por um
espécime predador extraterrestre praticamente indestrutível. Em 1979, Scott
rompeu com uma tradição da figuração dos monstros no cinema: dos seres
disformes e mórficos para os informes, xenomórficos e híbridos – os “monstros
moles”. Seres amorais que matam não por maldade, mas por sobrevivência.
Em "Vida" Espinosa retoma essa monstruosidade contemporânea, porém sem o cinismo crítico e gnóstico
de Scott: lá, o alien xenomórfico fazia parte de conspirações de demiurgos;
aqui em “Vida”, o parasita-predador é uma amostra de que o evolucionismo de
Darwin rege o próprio Universo e o monstro é o ápice da perfeição das leis da adaptação e seleção natural. As mesmas leis que também regem os mercados aqui
na Terra.
quarta-feira, abril 26, 2017
Um trem desaparece em anomalia topográfica no metrô de Buenos Aires em "Moebius"
quarta-feira, abril 26, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ao contrário dos filmes sci-fi que exploram os paradoxos temporais, o filme argentino "Moebius" (1996) explora os paradoxos espaciais, transformando-se numa espécie de thriller matemático. Inspirado na enigmática figura topológica da "fita de Möbius", a narrativa interpreta-a como um portal dimensional, lembrando das origens sagradas da Geometria na antiguidade. Um trem desaparece no metrô de Buenos Aires. A rede do metropolitano ficou tão complexa que assumiu a forma da "fita de Möbius" - figura geométrica paradoxal que não possui o lado de "dentro" e de "fora". Sem saber os engenheiros projetaram um portal por onde o trem passou. E ele continua viajando, invisível e prisioneiro de uma anomalia espacial.
terça-feira, abril 25, 2017
A ética e moral da viagem no tempo e o Efeito Mandela na série "12 Monkeys"
terça-feira, abril 25, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Produzida pelo canal Syfy, a série “12
Monkeys” (2015-) procura expandir a narrativa do filme clássico de Terry
Gilliam “Os 12 Macacos” (1995): a humanidade foi devastada por um apocalipse
viral, a Terra ficou fria e em ruínas sob o domínio de gangues saqueadoras. Enquanto
isso, em instalações secretas, cientistas tentam encontrar uma forma de conter
as mutações do vírus. Um grupo constrói uma máquina do tempo para enviar crono-astronautas
para o passado e impedir o vírus, antes das mutações. Isso significaria reescrever
toda a linha do tempo até o futuro. A série propõe uma geografia do Tempo bem
diferente das produções contemporâneas sobre o tema: ao invés de mundos
quânticos alternativos paralelos, uma única linha do tempo que poderia ser
reescrita diversas vezes. Além da série parecer se inspirar no famoso “hoax”
Efeito Mandela, propõe um novo viés sobre a viagem no tempo – as possíveis
implicações éticas e morais: a superação do paradoxo, alterando o passado,
poderia nos empurrar para uma perigosa amoralidade.
sábado, abril 22, 2017
Deus joga dados em não-acontecimento da Champ Élysées
sábado, abril 22, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nas imagens da CNN estranhamente a câmera parece dar a deixa para as ações na Champs Élysées: quando veem a câmera bombeiros e paramédicos começam a correr não se sabe para onde, enquanto cruza a cena policiais antimotim com escudos, capacetes fortemente armados em fila – para onde estão indo se a área foi isolada e o atirador já está morto? Inúmeras anomalias marcaram mais um não-acontecimento às vésperas das eleições presidenciais na França. E como sempre (Londres, Berlim, Nice, Bataclan, Charlie Hebdo etc.) mais recorrências e sincronismos. Enquanto a Ciência tenta compreender a realidade a partir de fenômenos recorrentes e eventos sincrônicos, o Jornalismo ainda crê em acidentes, no acaso e nas fatalidades. Para a grande mídia, fora desse mundo no qual Deus parece jogar dados com os acontecimentos, estão à espera os paranoicos teóricos da conspiração. Mas dessa vez a “coincidência” entre os tiros no boulevard mais famoso do mundo e o debate eleitoral num estúdio de TV foi além da conta...
quarta-feira, abril 19, 2017
"Uberização" da educação: saem pedagogos e Construtivismo, entram gestores e neurociências
quarta-feira, abril 19, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O País está
hipnotizado pelo show diário de meganhagem midiática de colarinhos brancos
sendo levados presos por cinematográficos policiais federais com suas
reluzentes botas e armas negras. Porém, a passos lentos mas seguros, no
subterrâneo desse espetáculo de moralização nacional está ocorrendo uma
revolução silenciosa que vai determinar o futuro das próximas gerações:
reformas educacionais que estão impondo uma agenda secreta, a gestão de um novo
projeto de nação. Sai o Neodesenvolvimentismo lulopetista para entrar o
Capitalismo Cognitivo. No campo educacional, sai o Construtivismo de Piaget
para entrar as neurociências aplicadas à educação, turbinada por ONGs e
institutos privadas do indefectível mundo financeiro. Saem pedagogos, entram
engenheiros e gestores. No lugar de valores como autonomia e conhecimento
entram “disparos neuronais” e “sinapses” para formar futuros profissionais que
não mais lidarão com conhecimentos, mas com “efeitos do conhecimento” das
plataformas tecnológicas - a "uberização" da educação.
segunda-feira, abril 17, 2017
Propaganda e a demonização do inimigo, por Marcelo Gusmão
segunda-feira, abril 17, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme “1984” foi exibido esse ano em 165
cidades nos EUA como forma de protesto contra o presidente Donald Trump. Ele
demoniza imigrantes e a oposição também o demoniza, definindo-o como o “novo
Big Brother”. Enquanto isso o Brasil está um caos, dividido, semelhante a final
de um campeonato: de um lado do campo os “Coxinhas”, no outro lado os “Mortadelas”.
Há quem prefira dizer “esquerda” contra “direita”, ou ainda “amarelos”
(canarinhos) contra os “vermelhos”. Essa divisão não é novidade - desde que o
mundo é mundo há violência e luta pelo poder. “Nós contra Eles” sempre foi um
princípio de identidade entre os “Iguais” das diversas irmandades, seja times
de futebol, equipes em gincanas escolares, entre bairros, cidades, países,
partidos políticos e, é claro, ideologias. Demonização e a divisão do inimigo
são grandes princípios de propaganda e persuasão. Como lidar com essa
dualidade? Qual a sua origem? Há como
anular sua força?
domingo, abril 16, 2017
Curta da Semana: "El Empleo" - o emprego que te espera no futuro
domingo, abril 16, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Com mais de 100 prêmios na sua trajetória em
festivais, o curta de animação argentino “El Empleo” (2008) é uma produção bem
oportuna para os tempos atuais em que vivemos onde o melhor remédio prescrito
para a crise econômica e o desemprego são eufemismos como “terceirização”,
“empreendedorismo” etc. O curta é o paroxismo da situação atual: para gerar
emprego uma sociedade parece consumir a si mesma - pessoas começam a assumir a função de objetos
cotidianos em “inovadoras” formas de “prestação de serviço”: a mulher-cabide, o
homem-abajur e assim por diante. Um curta surreal e tragicômico, mas que dá
muito no que pensar. Curta sugerido pelo nosso leitor A.Lex.
sábado, abril 15, 2017
Niilismo e o desejo da morte na Modernidade em a "A Marca do Assassino", por Bárbara Ribeiro
sábado, abril 15, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um filme tão excêntrico
que mereceu a expulsão do diretor da produtora japonesa Nikkatsu. Um filme
estranho até para uma produtora especializada em filmes “B”. É o filme “A Marca
do Assassino” (1967) do diretor Seijun Suzuki (falecido nesse ano), um diretor tão radical que inspirou
na atualidade diretores como Jim Jarmuch (pela forma como utiliza a trilha
musical) e Tarantino no filme “Kill Bill 1”. Além das muitas referencias ao
filme Noir, a narrativa de “A Marca do Assassino” é dominada por personagens
que vivem para morrer, na qual sexo e morte são abordados de forma niilista e
non sense em um Japão dos anos 1960 já ocidentalizado. É o que nos conta a nova
colaboradora do “Cinegnose” Bárbara Ribeiro*.
sexta-feira, abril 14, 2017
"Nocturama": explodam estátuas e palácios, mas deixem os shopping centers!
sexta-feira, abril 14, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O cenário é a crise
econômica e desemprego na França pós crise do Euro de 2008. Um grupo de jovens
de diversas origens étnicas caminha pelas ruas de Paris. Silenciosos trocam
olhares, pegam pacotes em cestos de lixo e descartam telefones celulares após utilizarem.
Aparentemente cansados da sociedade, planejam um ousado atentado: explosões
simultâneas na cidade, mandando pelos ares símbolos do poder financeiro e
político. “Nocturama” (2016), do francês Bertrand Bonello, mostra como a
própria energia utópica e contestadora naturais da juventude, hipnotizada pela
rebeldia da cultura de consumo, é cooptada por uma irônica “rebeldia
conformista”. Desafie a sociedade explodindo palácios, estátuas e torres do
poder financeiro. Mas mantenha intacto os shopping centers. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
terça-feira, abril 11, 2017
Lapso de Trump previu ou antecipou agenda do atentado na Suécia?
terça-feira, abril 11, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em fevereiro, Donald Trump citou um atentado inexistente na Suécia, para justificar suas medidas anti-imigratórias. A grande mídia tratou o episódio como “gafe” de um presidente “desequilibrado”. Dois meses depois ele jogou dezenas de mísseis na Síria e em seguida um atentado ocorreu em Estocolmo, Suécia. Coincidência? Ato falho de um presidente que sem querer antecipou a agenda? Ou mais sincronismos como ocorreu antes e durante “não-acontecimentos” como os de Nice, Berlim e Londres? Mais sincronismos ocorreram horas antes dos ataques à Síria, à bordo do avião presidencial, dessa vez envolvendo Trump e o filme “Star Wars Rogue One”. O fato é que agora tudo mudou: a grande mídia trata o presidente dos EUA como estadista e até humanitário. Como sempre, esses atos falhos e sincrônicos levantam a suspeita da existência de um script pré-estabelecido. São verdadeiros “espasmos da realidade” pelos quais passamos despercebidos.
domingo, abril 09, 2017
Curta da Semana: "At The End of The Cul-de-Sac" - o prazer voyeurista com um drone
domingo, abril 09, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Depois de filmar
curtas com Iphone e snorriCam, o diretor Paul Trillo aceitou o desafio de fazer
um curta com um único plano sequência (sem cortes) com imagens captadas por um
drone. É o curta “At The End of Cul-De-Sac” (2016). A câmera fixa em um drone
paira, desliza e gira em torno dos atores que nos mostram um protagonista
invadindo um condomínio fechado para bater na porta de uma residência. Ele está
transtornado e à beira de um colapso nervoso. Os moradores observam à
distância, tentam entender o que acontece. Mas assim como nós espectadores
vendo tudo através da onisciência do drone, os moradores parecem ter um prazer
voyeurista em observar a cena e registrar tudo através de smartphones. Apesar
do experimentalismo tecnológico, o curta aborda uma tradicional representação
do cinema: os condomínios fechados suburbanos mostrados como enclaves de
intolerância e preconceito.
sábado, abril 08, 2017
A incomunicabilidade produz a Religião e a Política em "A Vida de Brian"
sábado, abril 08, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“A Vida de Brian”
(1979) do grupo inglês de humor Monty Python é um filme que não só se tornou
atemporal como, depois de 38 anos, ganhou novas leituras. Paradoxalmente, com a
expansão das novas tecnologias de comunicação como Internet e redes sociais.
Por que? Porque o filme explora a incomunicabilidade humana: Religião e a
Política como subprodutos da mentira, ilusão e ideologias que sempre tentam
justificar algum mal entendido resultante da radical incomunicabilidade da
espécie: o fato de que cada um vê o que quer ver e ouve o que quer ouvir. Brian
é confundido com o Messias e passa a ser perseguido não só pelos romanos como
também por uma multidão de seguidores que veem nele apenas aquilo querem ver. Pedem
de Brian um “sinal” da sua suposta divindade. Não importa o quanto Brian se
esforce para tentar desfazer o mal entendido. Involuntariamente criou uma nova
religião. E o que é pior: a multidão está ávida por um mártir que morra por ela
na cruz...
quinta-feira, abril 06, 2017
Com o caso José Mayer tautismo da Globo fica na corda bamba
quinta-feira, abril 06, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O caso do assédio do
ator José Mayer à figurinista Susllem Tonani é marcado por uma ironia fundamental:
um ator, conhecido por interpretar nas telenovelas sempre o mesmo perfil de personagens
machistas e misóginos, é denunciado por recorrentes assédios
nos bastidores da Globo. Mera coincidência ou sincronismo entre ficção e
realidade? Desde que o chamado “O Método” (criado pela Actors Studio em 1947)
se perverteu em fórmula criadora de um tipo de ator que se limita a interpretar
a si mesmo em repetitivos perfis de personagens estimulados pela linha de
montagem de TV e estúdios de cinema, casos como esses se tornaram recorrentes. No caso da
Globo, marcado por um tautismo (tautologia + autismo) crônico, essa “doença
ocupacional” fica ainda mais evidente. Principalmente quando a reação tanto do
ator quanto da cúpula da emissora foi idêntica: alheios às mudanças que ocorrem
no “deserto do real” (empoderamento feminino, lutas por respeito, diversidade
etc.) são pegos de surpresa e tentam dar respostas oportunistas. E a da Globo é
a mais equizofrênica: diz respeitar as mulheres enquanto diariamente as submete
a papéis subalternos em reality shows, telenovelas e propagandas de cerveja.
terça-feira, abril 04, 2017
"Guerra Total" na crise política com os filmes "Polícia Federal" e "Real"
terça-feira, abril 04, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Espera-se para esse
ano o lançamento de dois filmes nacionais que aproveitam a atmosfera da atual
crise política. O thriller judiciário “Polícia Federal: A Lei é Para Todos” e
um “thriller econômico” - “Real: O Plano por Trás da História”, sobre o Plano Real
e a derrota da hiperinflação. “Esculhambação da Polícia Federal e do
Judiciário” (pelo fato da PF ter cedido equipamentos, gravações de vídeos e
informações sigilosas para uma produção privada sobre uma investigação ainda em
andamento) e “propaganda tucana” foram algumas reações das esquerdas. Qual é a
surpresa? Como em toda a História, os conquistadores chegam ao poder
determinados a exterminar os vencidos. Desde o nazi-fascismo esse extermínio
tornou-se simbólico por meio da “Guerra Total”: a conquista de corações e
mentes através do cinema e audiovisual. Assim como o Governo dos EUA fornece
armas, aviões e soldados reais para as produções patrióticas hollywoodianas, a
PF transforma sua sede de Curitiba em “laboratório de interpretação” para os
atores. Dentro do espectro político, quanto mais nos dirigimos à direita vemos
uma aplicação mais eficiente das armas da comunicação. Como demonstrou Donald
Trump na semana passada em suas incursões pela Internet e redes sociais nas
madrugadas.
domingo, abril 02, 2017
"The Discovery": devemos saber o que existe depois da morte?
domingo, abril 02, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em um futuro próximo, finalmente a Ciência conseguiu a prova definitiva da existência após a morte. Porém, o resultado foi catastrófico: uma onda de suicídios varre o planeta com pessoas angustiadas em busca da terra prometida no outro lado. A produção Netflix "The Discovery” (2017) é um filme que aborda o recorrente tema cinematográfico da “segunda chance”: motivados por culpa e arrependimento por decisões erradas na vida, buscamos sempre a segunda chance, seja através da viagem no tempo, em um novo planeta Terra ou por meio de alguma experiência espiritual. Porém, “The Discovery” inova a abordagem do tema ao mostrar protagonistas que buscam a segunda chance dessa vez na possibilidade da vida pós-morte. A chance de um recomeço ou, pelo menos, a oportunidade de corrigir decisões erradas. Mas a mesma máquina que deu a prova científica da imortalidade da alma, pode revelar algo maior e inesperado.
sábado, abril 01, 2017
O projeto "Lance Limpo" da Globo e os "idiotas da objetividade" no futebol
sábado, abril 01, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A doença crônica do
tautismo (tautologia + autismo), em processo de metástase na TV Globo, assume formas cada vez mais
imprevisíveis na emissora. Agora contamina seus jornalistas que começam
a levar a sério a própria visão de mundo de uma TV fechada em si mesma. O
apresentador do Globo Esporte, Ivan Moré, “teve uma ideia” que prontamente
recebeu as bênçãos do indefectível Galvão Bueno em seu programa “Bem, Amigos!”:
o projeto “Lance Limpo” no qual serão apresentados “exemplos de nobreza e
honestidade” – jogadores que confessam que cavaram pênaltis, por exemplo,
fazendo árbitros corrigirem seus próprios erros. Para Moré e Bueno, na situação
atual de “corrupção, desonestidade e ladroagem que dominam o País”, o esporte
deve dar bons exemplos para ajudar a resolver o “problema sério de formação do
cidadão”. Uma espécie de “Pan-Lava Jato” histérico que agora vê em qualquer coisa a necessidade de receber o
raio moralizador. Mas pode matar o maior produto global: o futebol – assim como Nelson Rodrigues alertava que os
“idiotas da objetividade” queriam destruir o futebol pelo complexo de
vira-latas, da mesma forma a moralização (que não consegue moralizar a si mesma) quer limpar a
natureza imaginária de todo jogo: o drama e o lúdico. Mas há também uma agenda secreta por trás do tautista projeto: o anarcocapitalismo no esporte.
sexta-feira, março 31, 2017
Por que ninguém pode ficar sem TV digital? A "Família Dinossauros" sabia porque
sexta-feira, março 31, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Na época que a série
“Família Dinossauros” (1991-1994) ia ao ar no início dos anos 1990 não existia
a TV digital. Mas um episódio da série em 1993 explicava o porquê do atual
esforço concentrado e inédito envolvendo Governo, emissoras, Federação de
indústrias e ONGs para evitar que massas de telespectadores ficassem sem
televisão com o desligamento do sinal analógico na Grande São Paulo. Praça
responsável por 70% do faturamento das emissoras, apenas as possíveis
consequências financeiras da perda de telespectadores não explicam esse esforço
que até envolveu a entrega de Kits de TV digital gratuitos através do “assistencialista” e “populista” Bolsa Família. O humor ácido da “Família
Dinossauros” dizia que jamais em uma crise econômica o Governo permitiria que cobradores
tirassem a TV de pessoas endividadas: o sistema que as endivida precisa que a
TV mantenha os endividados distraídos e confiantes. Conhecemos bem a função da TV
em momentos de conflagração política (censura e manipulação das notícias) mas
prestamos pouca atenção à sua função cotidiana e silenciosa: fazer as pessoas
acreditarem que a força de vontade, o mérito e o trabalho são moralmente bons e
que vale à pena acordar toda manhã confiantes e cheios de esperanças.
quarta-feira, março 29, 2017
O Coringa retorna com mais "efeitos copycat"
quarta-feira, março 29, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O palhaço do crime está de volta. Só nesse mês de março, dois episódios
em países diferentes tiveram o Coringa como elemento motivador em situações
violentas: um adolescente abriu fogo em uma escola na França após posar armado
e mascarado como o Coringa em fotos no Facebook; e um homem carregando uma
espada e maquiado e fantasiado como o vilão do Batman foi preso pela polícia caminhando
ameaçadoramente pelas ruas em uma cidade na Virginia, EUA. São mais casos de
uma extensa lista daquilo que os psicólogos chamam de “Efeito Copycat” (efeito
de imitação) iniciado com o filme "Batman: O Cavaleiro das Trevas" (2008) e a
controversa morte de Heath Ledger que interpretava o Coringa. Uma extensa lista
cujo caso mais famoso foi o Massacre de Aurora (2012) no qual o atirador dizia
ser “o verdadeiro Coringa”. Pesquisadores em Sincromisticismo acreditam que o Coringa é
um arquétipo vivo, uma forma-pensamento. Se no passado, esses arquétipos eram
dissipados em rituais sagrados, hoje tornam-se narrativas midiáticas
repetitivas cuja energia psíquica procura receptores vulneráveis para serem
“descarregadas” em ações catastróficas e imprevisíveis.
terça-feira, março 28, 2017
Ocultismo midiático e a psicanálise em Justin Bieber, por Marcelo Gusmão
terça-feira, março 28, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O grande dia para muitos jovens e adolescentes fãs da cultura pop está chegando. Dia 29 de março acontece no Rio de Janeiro o show tão esperado do cantor canadense de 23 anos e fenômeno midiático, Justin Bieber. Para muitos este momento é esperado com ansiedade desde fevereiro de 2016. Criticados por muitos e admirados por outros estes fãs se revezaram em um acampamento no local do show para garantir os melhores lugares. Mas afinal o que explica tamanha dedicação? Expressão incômoda de amor, ou pura alienação moldada por uma indústria midiática mestre no controle mental manipulando anseios e desejos de toda uma geração? Apenas as técnicas de publicidade e relações públicas não explicam o sucesso de Justin Bieber, assim como de tantos ídolos pop. Haveria um lado obscuro composto pelo psiquismo coletivo e o "ocultismo midiático" - a introdução de antigos e milenares símbolos de tradições esotéricas oriundas das escolas de mistérios.
domingo, março 26, 2017
Curta da Semana: "The Internet Warriors" - o lado oculto dos "haters"
domingo, março 26, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Haters”, “trolls”, “comandantes do caps lock”. Eles são os “guerreiros
da Internet”. Depois de uma pesquisa de quatro anos entrevistando-os por todo o
mundo, o cineasta e fotografo norueguês Kyrre Lien produziu uma série de
documentários curta-metragem chamada “The Internet Warriors”(2017). Lien ouviu
usuários que dedicam a maior parte do seu tempo para ficar diante da tela do
computador, “opinando” sobre qualquer coisa através de um discurso polarizado,
agressivo, intolerante, racista e preconceituoso. O documentário quer entender
como pessoas comuns, pessoalmente agradáveis e educadas com seus filhos e
esposas, são capazes de ocupar redes sociais e fóruns de discussão com um
discurso tão carregado de ódio.
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