domingo, maio 28, 2017
A Cracolândia e o documentário "Arquitetura da Destruição"
domingo, maio 28, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No filme “Ele
Está de Volta” (2015) Hitler aparece no século XXI e vê os neonazistas na
Alemanha. Irritado, chama-os de “fracotes!”. Para ele, não passavam de
imitadores. Mas aqueles que realmente entenderam o seu legado não estão nas
ruas: são os gestores em governos e corporações. Chamada pela mídia corporativa
de “megaoperação de combate às drogas”, a ação na Cracolândia no Centro de São
Paulo, comandada pelos “gestores” prefeito João Dória Jr. e o governador
Alckmin é uma irônica confirmação daquele filme. Escavadeiras, demolições e a
internação obrigatória de dependentes químicos são evidências de como dois
princípios do legado nazifascista inspiram esse século: o “embelezamento do
mundo” e o “princípio das ruínas”. Um dos melhores estudos do fenômeno nazi, o
documentário “Arquitetura da Destruição” (1989) descreve que projetos
nazistas como a “Nova Berlim” acreditavam que o embelezamento somente seria
possível através da destruição e higienização social. Projetos atuais como “Nova Luz” e o Programa “Cidade
Linda” em São Paulo parecem confirmar a maior fé de Hitler: as ruínas da
arquitetura monumental nazi de uma Alemanha derrotada inspirariam as gerações
futuras.
sábado, maio 27, 2017
Alguém manipula nossas identidades no filme "Los Parecidos"
sábado, maio 27, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Imagine um
diretor fascinado pelos filmes e séries sci-fi e de terror B dos anos 1950 como
“Além da Imaginação” que produz um filme com mix da atmosfera dos filmes noir e
do hotel Overloock de “O Iluminado”. O resultado é um filme estranho, fora da
curva dos atuais thrillers de horror. É o filme “Los Parecidos” do diretor
mexicano Isaac Ezban que vem conquistando prêmios no circuito internacional de
festivais do fantástico e do horror. Em uma noite de forte tempestade, em 1968
no México, um grupo fica preso em uma pequena e remota estação rodoviária, à
espera de um ônibus que nunca chega. Estranhas notícias pelo rádio dão conta
que aquele temporal não é comum: o que cai do céu junto com a chuva provoca
estranhas mudanças comportamentais, e suspeita-se de um fenômeno global. O
filme utiliza elementos do fantástico para discutir um tema muito sério: se a
nossa identidade é o resultado do jogo da percepção (o olhar de um para o
outro), como isso pode ser moldado por influências externas? Mídia? Uma
inteligência alienígena? Ou apenas o resultado da paranoia mútua?
quinta-feira, maio 25, 2017
Ataque em Manchester cria dissidências e armadilha do "meta-terrorismo"
quinta-feira, maio 25, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Paris,
Bruxelas, Nice, Berlim, Estocolmo, Londres, e agora Manchester. Sempre a recorrências dos
mesmos elementos de um roteiro: o terrorista sempre morre no final, um
homem-bomba que leva cartão de banco, o inexplicável relaxamento da segurança
em uma arena com 21 mil pessoas etc. e etc. Mas dessa vez, as “coincidências”
ficaram tão evidentes que opiniões dissidentes começam a surgir dentro da
própria mídia corporativa (como a CNN) e no mainstream político britânico:
agora temos opiniões “sérias” de que tudo poderia ser mais uma “false flag” –
ou “não-acontecimento”, no jargão acadêmico. Como todo não-acontecimento, o
ataque deixa uma proposital “assinatura” que os “teóricos da conspiração”
chamam nesse ataque de Manchester de “22-22-22”: terrorista de 22 anos mata 22
pessoas no dia 22. Isca meta-terrorista para analistas independentes morderem e
verem em tudo uma “cabala maçônica”, para então caírem nos estereótipos
conspiratórios que a própria mídia noticiosa e o cinema criaram. Como, por
exemplo, os livros/filmes de Dan Brown.
segunda-feira, maio 22, 2017
Luciano Huck e o jornalismo que perdeu o faro na classe média midiatizada
segunda-feira, maio 22, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A corrida de celebridades como Luciano Huck
para apagar fotos nas redes sociais com o, agora, radioativo senador Aécio
Neves, é a face mais visível de um novo fenômeno: o surgimento uma classe média
midiatizada: jornalistas, artistas, celebridades esportivas entre outros da
fauna midiática que, por respirarem e viverem em uma bolha que os isola das ameaças
do deserto do real, começam a criar relações promíscuas e comprometedoras com personagens
empresarias e políticos que habitam no entorno do poder. Como sintoma “tautista”
(tautologia + autismo) desses ambientes midiatizados, confundem câmeras,
teleprompter e claque de aplausos em auditório com a própria realidade, chegando
alguns a acreditar que de fato ocupam “espaço de poder”. Casadas
com políticos e empresários além de manter amizades com centros de poder corporativos e
governamentais fazem muitos jornalistas acreditar que também pertencem à classe dominante, criando
um tipo de jornalismo e entretenimento marcado por relações promíscuas e
conflitos de interesses.
domingo, maio 21, 2017
O terror racial do filme "Corra!"
domingo, maio 21, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A jovem branca vai apresentar o seu namorado
negro para os seus pais, num evidente prenúncio de tensões raciais. Diversos
filmes já exploraram esse tema. Mas nenhum como “Corra!” (Get Out, 2017) –
afinal, estamos no século XXI e a crítica ao racismo e intolerância está no
centro dos debates culturais. Agora, o jovem negro conhecerá pais liberais,
esclarecidos e que votaram em Obama. Mas ainda assim há algo de errado e
perturbador naquela família de típicos liberais democratas. “Corra!” é a grande
novidade dentro do subgênero do terror racial: a combinação de elementos
gnósticos (o controle da mente e o esquecimento induzidos pelas tecnologias do
espírito) com a crítica social – aqueles que supostamente defendem a
democracia racial, são os mesmos que cinicamente reproduzem a desigualdade.
sexta-feira, maio 19, 2017
Jogo Baleia Azul e suicídio: a morte é mais um produto à venda?, por Marcelo Gusmão
sexta-feira, maio 19, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Torne a
mentira grande, simplifique-a, continue afirmando-a, e eventualmente todos
acreditarão nela”. Essa frase de Adolf Hitler descreve bem esse ‘e-fenômeno’
que se tornou o Jogo da Baleia Azul nos últimos meses. O que aconteceu foi algo semelhante à frase
do ditador, ou seja, o jogo é a mentira que se tornou grande, e por isso foi
curtida, comentada e compartilhada tantas vezes mundo afora que, eventualmente,
muitos acreditaram nela. Sabe-se agora, após investigações de sites
especializados, que o Jogo da Baleia Azul é um “fake news” (notícia falsa),
fruto do velho e conhecido telefone sem fio. Mas também a vida imita a arte:
o suposto jogo Baleia Azul foi
explicitamente inspirado no filme “Nerve: Jogo sem Regras” (2016). E
vice-e-versa, a arte imita a vida: a série "Os 13 Porquês” surge no momento em
que a ONU divulga números de que ocorre um suicídio a cada 40 segundos:
coincidências? sincronismos? Ou também a morte transforma-se em mais um produto
à venda?
quinta-feira, maio 18, 2017
Delações da JBS deixam nu o jornalismo da Globo
quinta-feira, maio 18, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ao vivo repórteres e apresentadores nervosos,
consternados, engolindo seco em uma profusão exponencial de gafes e atos falhos
poucas vezes vista. Os jornalistas da Globo parece que foram pegos de surpresa:
depois de diariamente martelar a narrativa da governabilidade e do “ruim com
ele, pior sem ele”, de repente (como se fosse virada alguma chavinha seletora)
o discurso mudou radicalmente. Tudo após a explosão nuclear das delações
premiadas dos donos da JBS (terceiro maior anunciante da Globo) reveladas em suposto
“furo” do jornal “O Globo”. E ainda com direito a cobertura com imagens estilo
“black bloc” mostrando rolos de fumaça subindo diante do Palácio do Planalto em
noite de protestos. Por que a surpresa consternada dos jornalistas globais,
tidos como os mais bem informados e conhecedores dos bastidores do País, como diz marketing da emissora? Mais do que
provocar um terremoto político, as delações da JBS deixaram nu o jornalismo
global: revelou profissionais alheios à realidade e que apenas repetem
discursos ao sabor da mudança dos interesses corporativos da Globo. Mas isso
traz um custo psíquico aos incautos jornalistas da emissora.
quarta-feira, maio 17, 2017
A obsessão pela felicidade: em defesa da melancolia
quarta-feira, maio 17, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
terça-feira, maio 16, 2017
Curta da Semana: "Day 40" - os animais se amotinam contra Deus na Arca de Noé
terça-feira, maio 16, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como Noé conseguiu colocar a cadeia alimentar
completa de animais dentro da Arca e por 40 dias todos viveram em paz e
harmonia enquanto o planeta era punido pelo Dilúvio? O produtor, diretor e
animador Sol Friedman, notório pelas suas produções que profanam contos
sagrados e tradições religiosas de todo o mundo, no curta de animação “Day 40”
(2014) apresenta com muito humor negro uma arca bíblica que mais parece um
navio de piratas amotinados. Um lugar tão pecaminoso quanto o mundo deixado
para trás e afogado pelo Dilúvio. Em muitos aspectos o curta lembra a leitura
gnóstica que Darren Aronofsky fez em “Noah” (2014). “Day 40” não é uma produção
aconselhada para pessoas religiosamente mais sensíveis.
segunda-feira, maio 15, 2017
Tentar lembrar pode ser uma armadilha em "Remainder"
segunda-feira, maio 15, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A memória é o que nos torna quem somos. Mas, se as memórias são resultantes das nossas percepções mais
subjetivas (cor, cheiro, sons etc.) podem ser interpretações e não gravações da
realidade. Por isso, podem se tornar armadilhas, quanto mais imergimos nelas.
Desde o filme “Amnésia” (2000) de Christopher Nolan esse perigo é tematizado
mais seriamente pelo cinema, até chegarmos a “Remainder” (2015): após um
acidente traumático, um jovem perde a memória e tenta montar o quebra-cabeças
das lembranças que restaram com um método extremo: com o dinheiro da milionária
indenização o protagonista monta gigantescos estúdios com atores contratados
para obsessivamente encenar seus cacos de memória. Mas o que deveria ser uma
progressiva conexão com a realidade, começa a se tornar um vício compulsivo.
Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
domingo, maio 14, 2017
Cinegnose discute filme gnóstico, semiótica narrativa e jogos digitais na "Fatecnologia"
domingo, maio 14, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O cinema gnóstico. Gnosticismo nas ciências e nos jogos digitais e o Universo como um game de computador. As mito-narrativas gnósticas e as transformações da Jornada do Herói nas HQs e no Cinema. As semióticas das narrativas como ferramentas de produção textual, de roteiros e apresentações. Esses foram alguns dos temas discutidos por esse humilde blogueiro na 9a. Fatecnologia na Faculdade de Tecnologia de São Caetano do Sul (SP) na noite dessa última quinta-feira para uma plateia de interessados e participativos estudantes. E com uma conclusão final após diversas indagações: o Herói, assim como nós mesmos, não enfrenta “vilões”. Mas a nossa própria Sombra interior projetada na ilusão do mundo. Veja o vídeo e os slides do evento.
sábado, maio 13, 2017
Startup britânica promete construir a verdadeira Matrix
sábado, maio 13, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma startup britânica chamada Improbable
pretende criar a verdadeira Matrix: uma simulação em larga escala do mundo
real. E o ponto de partida já existe – a plataforma SpatialOS e o jogo de
computador Worlds Adrift, ainda restrito a acadêmicos e cientistas. O aporte de
milhões de dólares na startup por empresas de capital de risco, além do
interesse militar e indústria de entretenimento pelo projeto revelam evidentes
aplicações nas áreas estratégica, bélica e engenharia social: construir mundo
virtuais para simular o surgimento de extremismos violentos nas populações e
comportamentos econômicos. Mas a iniciativa dos co-fundadores Herman Nerula e
Rob Whitehead é também uma evidência da motivação místico-religiosa que possui
atualmente o Vale do Silício: Tecnognosticismo, imortalidade e a crença de que
já vivemos em uma gigantesca simulação. O game Worlds Adrift seria mais um
exemplo de como a ciência experimental se encontra com a prática religiosa: a
Teurgia.
sexta-feira, maio 12, 2017
Para quê serve a astrologia de massas?
sexta-feira, maio 12, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Na década de 1950 o alemão Theodor Adorno (pelo olhar sócio-psicanalítico) e o francês Roland Barthes (pelo ponto de vista da semiologia) empreenderam pesquisas sobre as colunas de astrologia, respectivamente do Los Angeles Time e do semanário Elle. Ambos chegaram à mesma reposta: a astrologia de massas serve para exorcizar o real. A astrologia deixa de ser uma abertura para o Oculto, o Onírico e o Imaginário para se transformar num espelho realista e disciplinador da própria rotina diária dos leitores. Será que essa resposta pode ser aplicada à astrologia de massas atual, mais de cinquenta anos depois dessas análises?
terça-feira, maio 09, 2017
Cinegnose participa da "Fatecnologia" discutindo semiótica dos jogos e gnosticismo
terça-feira, maio 09, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Semiótica, Jogos e Gnosticismo é a discussão que esse humilde blogueiro levará para a 9a. Fatecnlogia, evento da Faculdade de Tecnologia de São Caetano do Sul. A palestra acontece dia 11/05 e tem como principal objetivo apresentar as contribuições dos estudos das mito-narrativas (do Herói e a Gnóstica) para o mundo dos jogos digitais – principalmente a possibilidade de criação de um nível meta da própria realidade através do entretenimento. Seria o mundo lúdico dos jogos um nível meta no interior do próprio Universo simulado em que vivemos?.
segunda-feira, maio 08, 2017
A construção do super-herói amoral nas capas de "Veja" e "IstoÉ"
segunda-feira, maio 08, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Pela primeira vez em anos as capas as
revistas “Veja” e “IstoÉ” escancaram sinceridade e franqueza: recursos semióticos
como retórica, iconificação e analogia usados não mais para esconder, mas para
explicitar aquilo que sempre essas publicações não ousavam admitir: o juiz de
primeira instância Sergio Moro há muito deixou o campo do Direito para atuar
como um líder político messiânico que não mais julga em posição equidistante
entre promotoria e réu – assumiu uma batalha cujo ápice é o interrogatório de
Lula no Fórum de Curitiba no dia 10/05. Que as revistas simbolizam como algo
entre a luta livre mexicana ou uma contenda de box do século. Mas há algo mais
nessas capas: o juiz Moro não é um herói que segue o modelo clássico (épico ou
trágico), mas é o Super-Herói amoral das HQs e adaptações cinematográficas da
Marvel e DC Comics: aquele que luta pela Justiça e a Verdade, acima do Bem e do
Mal. Cimento ideológico necessário para a opinião pública se resignar ao ver a
própria carne sendo cortada com as supostas “reformas”, como “efeito colateral”
aceitável em nome da Verdade – se for necessário, o Super-Herói pode até
destruir o mundo, mesmo que seja para derrotar vilões que também querem
destruir o mundo.
sábado, maio 06, 2017
"Complicações do Amor": pode algo tão bom não funcionar mais?
sábado, maio 06, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Não se perca no infeliz título em português,
que faz parecer uma comédia romântica de sessão da tarde. “Complicações do
Amor” (The One I Love, 2014) é uma crítica ambígua e até sombria (ao melhor
estilo das atmosferas da série “Além da Imaginação”) contra todo aparato
fármaco, psicoterapêutico e neurocientífico atual mobilizados para supostamente
nos fazer felizes. Porém o efeito colateral prático é viciosidade, dependência
e compulsão. Afinal, é a alma do negócio para manter todos sob controle – as
chamadas “tecnologias do espírito”. Um casal em crise terminal procura um
terapeuta para tentar resgatar os momentos felizes que foram perdidos no
passado e que fizeram Ethan e Sophie ficarem juntos. O terapeuta sugere um
final de semana a sós em uma remota casa de campo onde tentem resgatar o que foi perdido na relação. O problema é que lá
encontrarão uma espécie de sala de espelhos cada vez mais perturbadora com
resultado imprevisível e ambíguo - e até elementos CosmoGnósticos. Matrix nas relações conjugais?
quinta-feira, maio 04, 2017
A morte de Belchior e a construção do estereótipo do "maluco beleza"
quinta-feira, maio 04, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Belchior foi um verdadeiro objeto voador não
identificado na MPB. Por décadas a mídia corporativa tentou enquadrá-lo em
alguma categoria: “rapaz romântico”, “brega”, “figura de voz fanhosa e bigodão”
etc. E nos últimos anos, procurou encaixá-lo na narrativa “desaparecido/aparecido” e, por
fim, na sua morte, transformá-lo no estereótipo do “maluco beleza”. Para quê?
Para enquadrá-lo na derradeira narrativa do modelo negativo moralizante: o
“maluco beleza” irresponsável que não conseguiu dar a “volta por cima” numa suposta
carreira que descia ladeira abaixo. Belchior sabia que a mídia fazia tábula
rasa da sua obra e, por isso, de forma autoconsciente virou um OVNI da MPB. A
forma como a grande mídia “reciclou” a morte de um ser inclassificável confirma
uma tese do pensador Theodor Adorno sobre a função do entretenimento na
Indústria Cultural: apertar ainda mais os arreios que nos prendem à disciplina
do mundo do trabalho.
quarta-feira, maio 03, 2017
Xamanismo, viagem no tempo e fenômenos quânticos em "Tiempo Muerto"
quarta-feira, maio 03, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme argentino “Tiempo Muerto” (2016) é
mais uma incursão do cinema atual no tema da viagem do tempo, mas por um viés
bem particular – loops temporais e paradoxos como obstáculos para a “segunda
chance” que possa alterar a linha do tempo. Inconformado com a morte da sua
esposa, o protagonista contrata um “tempo morto” – um estranho ritual que
envolve xamanismo, ocultismo e fenômenos quânticos. Tempo, psiquismo e memórias
são contínuos que esbarram em um traço da natureza humana: a compulsão a
repetição. Sem conseguirmos seguir em frente, ficamos neuroticamente fixados em
experiências de prazer ou dor no passado, repetindo a cena do trauma. Quem sabe
pensando que um dia o Titanic não afunde.
terça-feira, maio 02, 2017
Em "Almas à Venda" a chave do sucesso é a perda da alma
terça-feira, maio 02, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Com ironia e com humor negro, "Almas à Venda" (Cold Souls, 2009), tematiza criticamente como o mundo dos negócios (management + tecnologias do espírito) invade nossa última morada que ainda tenta resistir: a alma. No mundo atual dominado pelo paradigma da financeirização na qual qualquer coisa (ações, títulos, carros, pessoas, sentimentos e até a alma) tem que ser submetida aos princípios da liquidez e mercantilização totais, um homem descobre a chave do sucesso: o "Armazém de Almas" - clínica especializada em estocar a sua alma para substituir por outra de um doador anônimo, mais bem sucedido. Mas o protagonista descobre algo mais: quando estamos vazios e sem alma conseguimos ser mais bem sucedidos profissionalmente.
domingo, abril 30, 2017
Curta da Semana: "Edifício Tatuapé Mahal" - a vida secreta dos bonecos de maquete
domingo, abril 30, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Estamos no universo dos bonecos daquelas
maquetes que vemos em show room de lançamentos imobiliários. Um boneco
argentino chamado Javier vem para São Paulo aproveitando o boom imobiliário no
bairro do Tatuapé. Através dele conhecemos como esses pobres trabalhadores são
explorados por agentes imobiliários e sujeitos a arbitrariedade de filhos de
clientes que tratam as maquetes como fossem brinquedos. Mas também conhecemos
os dramas existenciais da vida secreta dos bonecos de maquetes. Esse é o curta
de animação brasileiro “Edifício Tatuapé Mahal” (2014) da dupla de diretoras
Fernanda Salloum e Carolina Markowicz. Um interessante mix de humor negro com
paródia ao típico melodrama latino-americano.
sábado, abril 29, 2017
Globo tenta abafar o barulho do seu silêncio na greve geral
sábado, abril 29, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A Globo, acompanhada do restante da mídia
corporativa, ressente-se de um cada vez mais grave processo de negação da
realidade. Os sintomas são cada vez mais agudos, como demonstrou o silêncio dos
últimos dias sobre a articulação da greve geral pelas centrais sindicais e movimentos
sociais. Um silêncio bem barulhento, pois revelou a sua autoconsciência do
poder de duas armas semióticas que sempre dispara em contextos de
desestabilização política: a “profecia autorrealizável” e o “efeito copycat”. O
constrangimento e “saia justa” dos apresentadores nas primeiras horas da manhã
de sexta-feira também revelou uma aposta: "as nossas armas semióticas são tão poderosas que, se ficarmos em silêncio, nada vai acontecer! Mas a negação tautista da mídia corporativa descobriu da pior forma
possível que existe vida lá fora, no deserto do real.
quinta-feira, abril 27, 2017
A monstruosidade ideologicamente amoral no filme "Vida"
quinta-feira, abril 27, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A um mês do lançamento de “Alien: Covenant”
no qual Ridley Scott dá continuidade ao anterior "Prometheus", o filme "Vida" (Life, 2017) de Daniel Espinosa é lançado. Com o mesmo plot de Scott para
“Alien” (1979): astronautas aprisionados em uma nave encurralados por um
espécime predador extraterrestre praticamente indestrutível. Em 1979, Scott
rompeu com uma tradição da figuração dos monstros no cinema: dos seres
disformes e mórficos para os informes, xenomórficos e híbridos – os “monstros
moles”. Seres amorais que matam não por maldade, mas por sobrevivência.
Em "Vida" Espinosa retoma essa monstruosidade contemporânea, porém sem o cinismo crítico e gnóstico
de Scott: lá, o alien xenomórfico fazia parte de conspirações de demiurgos;
aqui em “Vida”, o parasita-predador é uma amostra de que o evolucionismo de
Darwin rege o próprio Universo e o monstro é o ápice da perfeição das leis da adaptação e seleção natural. As mesmas leis que também regem os mercados aqui
na Terra.
quarta-feira, abril 26, 2017
Um trem desaparece em anomalia topográfica no metrô de Buenos Aires em "Moebius"
quarta-feira, abril 26, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ao contrário dos filmes sci-fi que exploram os paradoxos temporais, o filme argentino "Moebius" (1996) explora os paradoxos espaciais, transformando-se numa espécie de thriller matemático. Inspirado na enigmática figura topológica da "fita de Möbius", a narrativa interpreta-a como um portal dimensional, lembrando das origens sagradas da Geometria na antiguidade. Um trem desaparece no metrô de Buenos Aires. A rede do metropolitano ficou tão complexa que assumiu a forma da "fita de Möbius" - figura geométrica paradoxal que não possui o lado de "dentro" e de "fora". Sem saber os engenheiros projetaram um portal por onde o trem passou. E ele continua viajando, invisível e prisioneiro de uma anomalia espacial.
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