quinta-feira, setembro 11, 2014
Freud explica: encha o estômago antes de comprar
quinta-feira, setembro 11, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por que as pessoas quando olham para vitrines das lojas em shopping centers
passam a língua ou mordem os lábios, ficam de boca aberta e roem unhas? Por
que os comerciais de produtos de limpeza domésticos como sabão em pó ou
desinfetantes utilizam tantas hipérboles como mostrar a sujeira como
monstrinhos que se escondem na trama dos tecidos ou nos vasos sanitários? Por
que ao lado de cada Ferrari ou Masserati em feiras de automóveis estão sempre
lindas e atraentes modelos? Por que precisamos encher o estômago antes de comprar para evitar o consumo impulsivo? Durante o quarto encontro do
curso “A Linguagem das Mercadorias” na Universidade Anhembi Morumbi (UAM),
ministrado por esse humilde blogueiro, as discussões mergulharam no universo
das técnicas psicanalíticas aplicadas pelo Marketing e Publicidade.
Dentro do Módulo 2 da pós em
Comunicação e Semiótica da UAM, nessa última segunda-feira demos continuidade
ao curso “A Linguagem das Mercadorias” que objetiva apresentar e discutir as
diversas mutações que a forma-mercadoria assume na sociedade de consumo. Pressionada
pelas constantes mudanças das necessidades mercadológicas, vimos que a
mercadoria deve se transformar em signo (abandonar a materialidade do “aqui
está o produto, agora compre-o!) para assumir sucessivas mutações como o
signo-fetiche, o signo-afeto, o signo-desejo, o signo-dádiva etc.
Isso significa que a
mercadoria deve cada vez mais ocultar a sua operação econômico-comercial
(compra, troca e consumo) para se transformar em signos de experiências,
narrativas pessoais, fantasias e desejos. Nesse quarto encontro do curso
acompanhamos os mecanismos de transformação da mercadoria em signo-desejo e
signo-dádiva mergulhando no universo da psicanálise do consumo.
sábado, setembro 06, 2014
Morpheus retorna, mas sem as pílulas vermelha e azul no filme "The Signal"
sábado, setembro 06, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Premiado nesse ano no festival Sundance de
filmes independentes, “The Signal” (2014) escrito e dirigido por William Eubank
faz um instigante mix entre a atual onda de insegurança com a fauna digital que
habita nossos pesadelos cibernéticos (hackers, worms, bugs, vírus etc.), agência
governamentais de espionagem eletrônica e a mitologia gnóstica e platônica de
que toda a tecnologia computacional na verdade seria uma gigantesca caverna
digital em que viveríamos ignorando a verdadeira natureza da realidade.
Laurence Fishburne parece reviver o mítico personagem Morpheus da trilogia
“Matrix”, porém sem as pílulas vermelha e azul com as quais oferecia uma
oportunidade de escolha. Em “The Signal”, a Verdade será empurrada goela abaixo
dos espectadores.Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
Computadores,
Internet e todo o mundo dos bytes sempre exerceu sobre seus usuários um misto
de fascínio e mistério. Nós, usuários de redes sociais e aplicativos, lidamos
muito mais com efeitos de conhecimento do que propriamente com o conhecimento
em si: lidamos apenas com interfaces gráficas, sem compreender o intrincado
mundo dos códigos fontes, algoritmos e das complexas linhas de programação que
faz tudo funcionar. Então, quem os cria (uma fechada casta de nerds, geeks, hackers etc.), passam a
ser cercados por uma aura de lendas e mitos. E suas empresas e start ups
carregados de uma visão mágica de sucessos instantâneos supostamente iniciados
por simples ideias.
E por sermos meros usuários de um conhecimento
que nos chega encapsulado, sem termos acesso à compreensão de como funcionam
hardwares e softwares, somos tomados periodicamente pela paranoia: malwares, vírus, bugs, phishing, cavalos
de troia, worms e toda fauna digital
que habita em nossos pesadelos.
Por
isso, também periodicamente o cinema expressa essa sensibilidade social em
relação a essas novas tecnologias. O filme independente de ficção científica The Signal (2014), premiado nesse ano no
Sundance Film Festival de cinema independente nos EUA, é mais um produto
fílmico que expressa essa sensibilidade ambígua em relação ao mundo digital – a
história de uma sinistra realidade por trás de um misterioso hacker.
quinta-feira, setembro 04, 2014
Curso discute o afeto no consumo e no marketing político
quinta-feira, setembro 04, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Através da linguagem das mercadorias a grande mídia e a sociedade de
consumo conseguem produzir efeitos ideológicos através de meios não
ideológicos: a captura dos nossos afetos, uma dimensão pré-cognitiva e corporal
que é cooptada por uma cadeia semiótica para produzir emoções e decisões de
consumo e políticas. Esse foi o tema de mais um encontro do curso “A Linguagem
das Mercadorias”, ministrado por esse humilde blogueiro, na pós em Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi
Morumbi. Afastando a confusão que normalmente fazemos entre as noções de afeto,
sentimento e emoção, as discussões revelaram a ainda pouca estudada dimensão
dos fenômenos da percepção: como o mundo e principalmente as mídias nos afetam não só mentalmente mas, principalmente, fisicamente e como essas
sensações podem ser instrumentalizadas.
Dando
continuidade ao curso “A Linguagem das Mercadorias” na pós em Comunicação em
Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi, nesse segunda-feira aprofundamos a
noção de “signo-afeto” – na aula anterior discutimos o conceito de
“signo-fetiche” presente tanto em Marx como em Freud e as suas aplicações na
sociedade de consumo contemporânea – sobre esse tema clique
aqui.
O
principal objeto das discussões foi apresentar como as estratégias semióticas
da linguagem das mercadorias consegue capturar nossos afetos para direciona-los
através de construções simbólicas que suscitem emoções e pensamentos
previamente indexados nas imagens publicitárias.
Afastando a
confusão que normalmente fazemos entre as noções de afeto e emoção, tomamos o
conceito de afeto como afecção, isto é, a materialidade da
sensação, a concreticidade da experiência – nosso percepção e o corpo são
constantemente afetados por sensações e intensidades como cores, sons, cheiros,
texturas, tonalidades, timbres etc., que nos sinalizam para a existência de
alguma coisa, evento ou realidade e que, posteriormente, os simbolizamos em
emoções ou pensamentos – a chamada “cadeia semiótica” ou cognição.
domingo, agosto 31, 2014
Marina e as novas bombas semióticas do "Sim!" e do "Storytelling"
domingo, agosto 31, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O trágico mergulho fatal do Cessna Citation em Santos não só mudou o
cenário eleitoral como modernizou o arsenal de bombas semióticas midiáticas. No
momento em que a grande mídia esgotava sua estratégia semiótica ainda
condicionada pela Guerra Fria (criar a percepção de caos e pré-insurreição ao
anabolizar as manifestações de rua), eis que surge Marina Silva com o mix de
ambientalismo, fundamentalismo religioso e neoliberalismo potencializado por
duas poderosas bombas semióticas saídas diretamente do atual kit linguístico de
manipulação do mundo corporativo globalizado: a bomba do “Sim!” e a bomba
neuromarketing do “Storytelling”. O problema para os marqueteiros é que Marina
Silva não é um candidato à venda, mas uma narrativa sincromística oferecida
para pessoas sedentas por histórias que seduzem mais do que os dados frios e
duros da realidade.
Quem
não se lembra do personagem Church Lady feito pelo comediante Dana Carvey no
quadro chamado Church Chat no programa Saturday Night Live de 1986-1990? Sempre
preocupada com as conspirações de Satã nesse mundo, Church Lady sempre soltava
um bordão irônico ao perceber satânicas coincidências: “How con-VEEN-ient!”
("Tão conveniente!").
É
difícil não perceber a extrema feliz coincidência e conveniência no trágico
acidente aéreo de Santos que vitimou o candidato à presidência Eduardo Campos:
foi um divisor de águas no cenário eleitoral, substitui um combalido Aécio
Neves pelo fator novidade de Marina Silva e, principalmente, renovou de uma
hora para outra o arsenal de bombas semióticas justamente a poucos meses das
eleições. Exatamente num momento em que se iniciava a propaganda eleitoral na
TV com a candidata à reeleição ocupando a maior fatia de tempo para mostrar
suas realizações.
sábado, agosto 30, 2014
Em Observação: "9 - A Salvação" (2009) - A vida gnóstica dos bonecos
sábado, agosto 30, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ao lado animações sombriamente lindas como “Coraline” (2009) e “A Noiva
Cadáver” (2005), “9 – A salvação” de Shane Acker, baseado em um curta indicado
ao Oscar de animação em 2005, é outro exemplar que nos oferece uma alternativa
ao estilo do estúdio Pixar da Walt Disney. O seu estilo obsessivamente
detalhista que os fãs chamam de “stitchpunk” dá um sentido visual à clássica
mitologia gnóstica onde máquinas auto-replicantes tornam-se Demiurgos que
dominam um planeta arrasado, auxiliados por bestas metálicas que perseguem
pequenos bonecos de pano que ganham vida e se descobrem prisioneiros naqueles
cosmos hostil. A animação também é mais um exemplo de como o cinema explora os
antigos simbolismo que envolvem fantoches, bonecos e autômatos.
quinta-feira, agosto 28, 2014
Curso "A Linguagem das Mercadorias" revela a secreta conexão entre magia e consumo
quinta-feira, agosto 28, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que há em comum entre a crença mágica das tribos melanésias da Oceania de que conseguiriam atrair aviões para o chão ao fazer réplicas primitivas dos aparelhos
aéreos na terra e a atual relação dos consumidores com produtos e marcas? A
relação fetichista, o renascimento do antigo pensamento mítico e mágico na
moderna sociedade de consumo. Essa foi a descoberta das discussões do segundo
encontro do curso “A Linguagem das Mercadorias” dentro da pós-graduação em
Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi/SP, ministrado por esse
humilde blogueiro. Iniciado no nazismo
como estratégia de propaganda política que manipulava a força de símbolos de
origem mítica, a moderna publicidade logo aprendeu que essa tática semiótica
poderia ser aplicada também para a promoção do consumo de produtos e serviços.
O
curso “A Linguagem das Mercadorias”, dentro do segundo módulo da pós-graduação
em Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi , chega à segunda
semana com interessantes descobertas. Ministrado por esse humilde blogueiro, no
primeiro encontro os alunos tiveram contato com as ideias dos três principais
nomes nas ciências sociais que chamaram a nossa atenção para o lado
“fantasmagórico” ou simbólico das mercadorias: Karl Marx, Thorstein Veblen e
Max Weber.
sábado, agosto 23, 2014
A linguagem da sedução do nazismo em "Hitler's Hit Parade"
sábado, agosto 23, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quando assistimos ao documentário “Hitler’s Hit Parade”
(2005) somos assombrados por uma estranha sensação de atualidade: uma sucessão
de imagens de alta qualidade das décadas de 1930-40 de clipes de filmes de
propaganda, desenhos animados, filmes musicais e vídeos caseiros que demonstram
como a estratégia de comunicação Nazi criou as bases da moderna Publicidade e
da indústria do entretenimento. Sem fazer comentários e apresentando apenas as
imagens da época, o documentário mostra como o mal foi banalizado através de
uma estética kitsch repleta de estereótipos de felicidade (mais tarde imitados
pela sociedade de consumo dos EUA e irradiado para todo o mundo), a estetização
e erotização da política por meio de celebridades, modelos sensuais e a
fetichização dos uniformes. O documentário sugere que o nazismo não morreu - se transfigurou na moderna linguagem midiática.
Quando
pensamos em documentários sobre o nazismo, vem a nossas mentes imagens
impactantes do holocausto, trilhas musicais marciais, soldados em marcha e a
figura de Hitler como um orador enlouquecido nos congressos do Partido Nacional
Socialista.
Bem diferente,
durante pouco mais de uma hora, Oliver Axer e Suzanne Benzer nos apresenta no
documentário Hitler’s Hit Parade uma
surpreendente visão do fenômeno nazi, uma catástrofe política que parece se
originar de uma cultura pop, de um universo paralelo estranhamente
reconhecível, cujo aspecto assustador é a sua alegre normalidade – artistas
cantando em shows exuberantes, enérgicos números de dança, coristas sensuais
sapateando e namorados em jogos amorosos surpreendentemente avançados para os
costumes da época.
quinta-feira, agosto 21, 2014
Bonner e Poeta expõem o desespero tautista da TV Globo
quinta-feira, agosto 21, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A verborragia estudada e simulada de William Bonner e Patrícia Poeta
(perguntas quilométricas e fisionomias treinadas em longos anos de experiência
olhando para “teleprompters” nos estúdios de TV) na suposta entrevista com a
candidata Dilma Roussef não quis dizer apenas que a TV Globo “não gosta dela”.
A dupla de apresentadores do Jornal Nacional involuntariamente expôs a dramática situação atual da emissora: o desespero “tautista” (tautologia +
autismo) – ter que ao mesmo tempo assumir o papel de oposição política servindo
de câmara de eco da pauta da grande mídia e institutos de pesquisa e ter que
demonstrar histericamente que ela é imparcial para tentar recuperar uma
audiência em queda pela perda de credibilidade e relevância. A resposta da emissora para seu dilema
existencial não poderia ser mais autista quando utiliza a técnica de dissociação
psíquica na entrevista, velha tática do Manual Kubark de Interrogatório e
Contra-inteligência” da CIA.
Em
1985, no último bloco de debate dos candidatos à Prefeitura de São Paulo, o
jornalista Boris Casoy disparou uma pergunta a Fernando Henrique Cardoso:
“Senador, o sr. acredita em Deus? A reposta dessa pergunta simples e direta fez
ele perder uma eleição que parecia ganha.
Um
ano depois, durante a Copa do Mundo no México, o dublê de ator e jornalista
Marcelo Tas, na pele do personagem cínico Ernesto Varela, conseguiu invadir a
concentração da seleção brasileira para dar de cara com o cartola Nabi Chedid,
então chefe da delegação. Varela foi direto: “depois da Copa, qual será a sua
próxima jogada?”. Transtornado com a pergunta maliciosa, Nabi expulsou ele e o
câmera Toniko Melo da concentração.
sexta-feira, agosto 15, 2014
Acidente aéreo em Santos prepara bomba semiótica sincromística
sexta-feira, agosto 15, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O trágico acidente aéreo em Santos que vitimou o
candidato à presidência da República Eduardo Campos reacende por caminhos
mórbidos a esperança da grande mídia, com a pressão uníssona de que Marina
Silva assuma a candidatura. O timing da tragédia foi perfeito, num momento em
que já estava esgotado o arsenal de bombas semióticas midiáticas – a última foi
a irrelevância da não-notícia da “fraude da Wikipédia”. Mais do que que
levantar teorias conspiratórias, as sincronias e coincidências que cercaram o
acidente, somado a uma espécie de discurso do “destino manifesto”, do
“imponderável” e do “destino”, estão ajudando a preparar a talvez derradeira
bomba semiótica, dessa vez sincromística porque utiliza como matéria-prima a
simbologia arquetípica do “Mágico”, baseado em estratégia do mundo do Marketing e da Publicidade que manipula arquétipos
do inconsciente coletivo para a criação da imagem de marcas, produtos e
serviços.
Teorias
da conspiração não surgem por acaso. É por ser a realidade estranhamente
sincrônica que acaba sugerindo a suspeita de eventos milimetricamente
maquinados, como no caso da trágica morte do candidato à presidência da
República Eduardo Campos em um acidente aéreo na cidade de Santos-SP no último
dia 13.
Logo
após o incidente, redes sociais e grande mídia se apressaram a fazer um mórbido
inventário de “coincidências”: Eduardo Campos morreu no mesmo dia que o seu avô
Miguel Arraes; o DDD de Santos é o mesmo do dia da tragédia (13) que, por sua
vez, é o mesmo número que identifica o PT nas eleições; a soma das letras do
candidato morto soma 13; o acidente aéreo ocorre pouco tempo depois da denúncia
envolvendo o candidato Aécio Neves sobre um aeroporto construído com dinheiro
público ao lado de fazenda da sua família; em 2006, também no período de
eleições presidenciais, ocorreu o acidente aéreo do choque do Boeing da Gol com
um jato Legacy matando 154 pessoas; o acidente aéreo de Santos se soma a uma
sequência de acidentes como o desaparecimento do Boeing da Malaysian Airlines
no Oceano Pacífico (ou teria sido no Índico?), a queda de outro Malaysian na
Ucrânia e uma mais recente de um Boeing na África...
terça-feira, agosto 12, 2014
O pós-humano de "Lucy" e o mito dos 10% do cérebro
terça-feira, agosto 12, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Lucy” (2014), do diretor francês Luc Besson (“O Quinto Elemento”, “Leon: The Professional”), é mais um filme da safra atual com o tema do pós-humano (“Transcendence”, “The Machine”, “Limitless” etc.). Todos se baseiam em um mito que é o pressuposto da filosofia pós-humanista que anima a agenda tecnocientífica atual: o homem seria um ser limitado porque utilizaria tão somente 10% da capacidade cerebral. Sua limitação viria do corpo físico que nos aprisionaria no medo e na dor. Mito desconstruído por neurologistas sérios como Barry Gordon, da John Hopkins School of Medicine. Por meio de drogas ou tecnologias cibernéticas o homem daria em “upgrade” em si mesmo, acessando 100% o “banco de dados” cerebral. “Lucy” revela uma nova religião onde Deus é substituído pela tecnologia e a alma pela informação.
segunda-feira, agosto 11, 2014
Editor do Cinegnose dá curso sobre linguagem das mercadorias na pós em Comunicação e Semiótica
segunda-feira, agosto 11, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O humilde editor desse blog inicia no dia 18 de agosto o curso “A Linguagem
das Mercadorias” na pós-graduação em Comunicação e Semiótica da Universidade
Anhembi Morumbi em São Paulo. Um curso com proposta, por assim dizer, “maquiavélica”: ao
mesmo tempo em que oferecerá ferramentas práticas derivadas da semiótica e
psicanálise para profissionais de gestão e criação em publicidade, marketing e
comunicação, também desenvolverá ferramentas críticas para o consumidor se
proteger das manipulações e abusos da indústria do consumo e entretenimento.
Esse
humilde blogueiro inicia no dia 18 de agosto o curso na pós graduação em
Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi intitulado “A Linguagem
das Mercadorias”. O curso pertence ao módulo 2 da pós lato sensu da
Universidade cujo objetivo é a aplicabilidade das ferramentas da Semiótica na
criação e gestão de processos criativos em comunicação, marketing e
publicidade.
O
curso é composto de seis encontros, todas as segundas das 19h às 22h40 no
campus Vila Olímpia da Universidade Anhembi Morumbi.
sábado, agosto 09, 2014
O "escândalo da Wikipédia" e a autofagia da TV Globo
sábado, agosto 09, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O “escândalo da
fraude da Wikipédia” é a confirmação de que nada mais resta para a grande mídia
do que a bomba semiótica da não-noticia. Em nova “denúncia” jornalistas Miriam
Leitão e Carlos Sardenberg tiveram seus perfis na enciclopédia virtual
Wikipédia “fraudados” com a inserção de difamações e críticas. E tudo teria
partido do endereço virtual “da presidência”... ou teria sido “do Palácio do
Planalto”... ou, então, “de um rede pública de wi fi?”. A ambiguidade dá pernas
à não-notícia que revela um insólito desdobramento de um jornalismo cuja fonte
primária (a Wikipédia) nega a si própria como fonte confiável de investigação. Abre
uma surreal possibilidade de um tipo de jornalismo que se basearia
exclusivamente em fontes onde o próprio repórter pode criá-las para turbinar a
sua pauta. E de quebra revela o momento autofágico da TV Globo que oferece suas
próprias estrelas jornalísticas em sacrifício no seu desespero de ter que lutar
em duas frentes simultâneas: a política e a audiência.
Com o “escândalo Wikipédia” e a perspectiva de uma hilária “CPI do wi fi”
está se confirmando que na atual batalha semiótica pela opinião pública a única
arma que restou para a grande mídia é a da não-notícia – sobre esse conceito clique
aqui.
O jornal O Globo deu a manchete (“Planalto altera perfil de jornalistas
com críticas e mentiras”) e a TV Globo repercutiu nos seus telejornais durante
todo o dia a “notícia” de que os perfis dos jornalistas Carlos Alberto
Sardenberg e Miriam Leitão na enciclopédia virtual foram alterados com o
objetivo de criticá-los. E o IP (endereço virtual) de onde partiram as
alterações era da rede do Palácio do Planalto.
As supostas “críticas” inseridas no perfil dos jornalistas qualificam as
análises e previsões econômicas de Miriam Leitão como “desastrosas” e de ter
defendido “apaixonadamente” os ex-banqueiro Daniel Dantas quando foi preso pela
Polícia Federal em escândalo de crimes contra o patrimônio público. E o
jornalista Sardenberg de ser crítico à política econômico do governo por ter um
irmão economista da Febraban que tem interesse em manter os juros altos no
Brasil.
quarta-feira, agosto 06, 2014
Explode a bomba semiótica da não-notícia
quarta-feira, agosto 06, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Apesar das
previsões catastróficas a Copa do Mundo foi um evento bem sucedido. As grandes
manifestações de rua declinaram. E as eleições se aproximam, mostrando uma
oposição política cada vez mais inepta. Pressionada, a grande mídia lança a “piece
de resistance” do seu arsenal de bombas semióticas, testada durante a Copa: a não-notícia, blefe turbinado pelos “efeitos de realidade” - estratégia
semiótica de produzir uma sensação de verossimilhança através de imagens e sons
propositalmente “sujos” que, numa televisão de alta definição, ganha uma
conotação “investigativa” ou de “denúncia”. E as supostas denúncias da revista “Veja”,
repercutidas de imediato pela grande mídia, sobre a “farsa da CPI da Petrobrás”
são os primeiros estilhaços das não-notícias na opinião pública, apontando a
necessidade urgente de combate a um novo analfabetismo: o midiático-visual.
Em plena televisão digital de alta definição se repetem em telejornais e
congêneres imagens granuladas em preto e branco, câmeras com imagens desfocadas
e trêmulas e infográficos toscos reproduzindo supostos diálogos telefônicos e
microfones escondidos com áudios sujos e trechos inaudíveis acompanhados de
legendas.
Na medida em que as eleições aproximam-se, a Copa do Mundo foi
organizacionalmente bem sucedida (apesar das previsões catastróficas), as
grandes manifestações de rua acabaram e a oposição política ao Governo se
demonstra cada vez mais inepta, a grande mídia lança a piece de resistance do arsenal das bombas semióticas: o blefe das
não-notícias, turbinadas por uma estratégia que, em tempos de paz, a televisão
sempre utilizou de forma discreta e esparsa: aquilo que o semiólogo francês
Roland Barthes chamava de “efeitos de realidade” – detalhes semioticamente
estratégicos para produzir uma sensação de verossimilhança principalmente em
telejornais – leia BARTHES, Roland, S/Z - Um
Ensaio, Edições 70, 1999.
domingo, agosto 03, 2014
O Templo de Salomão da Igreja Universal e a arquitetura da destruição
domingo, agosto 03, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que há em comum entre Las Vegas e Disneylândia com a recém-inaugurada réplica do Templo de Salomão construída pela Igreja Universal? Las
Vegas é a cidade que irradia hiper-realismo kitsch para todo o planeta com suas
réplicas da Torre Eiffel, Esfinge de Gizé e palácios romanos da Antiguidade. Ao
lado da Disneylândia, foi o primeiro parque temático da História, complexas
cenografias de neons, gesso, concreto e metal que, assim como o Templo da
Igreja Universal, exploram a fé nas entidades “espirituais” – Deus, jogo, sorte
e animações digitais. E assim como shoppings e prédios corporativos espelhados,
o Templo é mais um “bunker” em uma cidade que não se integra. Mais um exemplo
de arquitetura da destruição, dessa vez a serviço da teologia da prosperidade
cuja igreja esconde a mesma natureza dos cassinos: a banca sempre ganha.
Nessa semana foi inaugurado em São Paulo o suntuoso
novo prédio da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), uma réplica do que
teria sido o Templo de Salomão como descrito na Bíblia. Os detalhes que
envolveram a construção do complexo de 74 mil m2 de área construída
são faraônicos: todo
o piso do templo e o altar são revestidos com pedras trazidas de Israel. O
altar traz a Arca da Aliança, descrita na Bíblia como o local em que Salomão construiu
para guardar os Dez Mandamentos no primeiro Templo, em torno do século 11 a.C,
em Jerusalém. Foram ainda trazidos do Uruguai doze oliveiras para reproduzir o
Monte das Oliveiras, local sagrado onde Jesus teria transmitido alguns dos seus
ensinamentos.
O templo supera em quatro vezes o tamanho do espaço
construído do Santuário Nacional de Aparecida (SP), além da grandiosidade dos
altos custos de R$ 685 milhões.
Como era de se esperar, a mídia partiu para cima
lembrando a célebre frase de Balzac: atrás de uma grande fortuna há um crime.
Desde 2010 sob investigação pelo Ministério Público, fala-se em alvarás
irregulares, desrespeito à lei de zoneamento, falta de contrapartidas de
trânsito exigidas pela CET, irregularidades na importação de matérias usados na
construção etc.
sexta-feira, agosto 01, 2014
"La Jetée"´foi o marco da viagem no tempo no cinema
sexta-feira, agosto 01, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme de média metragem francês La Jetée (1962) do diretor Chris Marker foi uma das obras que mais influenciaram a cultura atual: da literatura, rock ao cinema de ficção científica como “Os 12 Macacos” de Terry Gilliam, “Red Espectacles” de Momoru Oshi ou “Em Algum Lugar do Passado” de Richard Matheson. Pela primeira vez na ficção científica a viagem no tempo é explorada de forma proustiana como memórias induzidas por estados alterados de consciência. Em um mundo pós III Guerra Mundial, um homem com uma recorrente imagem da infância de uma misteriosa e bela mulher é submetido à experiência de viagem no tempo por meio de drogas como esperança de encontrar no passado um meio de salvar a espécie humana. Mas lá ele encontrará mais do que isso. Filme sugerido pelo nosso leitor Daniel Cruz de Souza.
terça-feira, julho 29, 2014
Em "O Teorema Zero" Terry Gilliam revela seu niilismo gnóstico
terça-feira, julho 29, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em “O Teorema Zero” (The Zero Theorem, 2013)
Terry Gilliam retorna aos temas das produções anteriores “Brazil, O Filme”
(1985) e Os 12 Macacos (1995), porém em um tom mais intimista e filosófico:
enquanto espera uma misteriosa ligação telefônica que revelaria o verdadeiro
sentido da vida, um analista de dados e programador é obrigado a comprovar
matematicamente o contrário: que um dia todo Universo acabará sugado por um
buraco negro e a vida não tem qualquer sentido ou propósito. Esse é o projeto
secreto de uma gigantesca corporação, comprovar matematicamente o “Teorema Zero” –
zero é igual a 100%. Gilliam vai abraçar alegremente esse niilismo gnóstico como
a última esperança de libertação – zero é igual a 100% se aproxima da filosofia
do filme “O Clube da Luta” de David Fincher: depois que perdermos tudo é que estaremos livres. Então encontraremos as
respostas dentro de nós mesmos.
Quem não se lembra daquela situação nas aulas de álgebra
e equações de segundo grau na escola onde você olhava para o enunciado da
equação e intuitivamente já sabia o valor de X? Você escrevia X = 15, mas o
professor não aceitava a reposta, embora correta, pois exigia que demonstrasse
o método resolutivo que fez chegar ao resultado.
Pois é exatamente sobre isso que trata o novo filme
de Terry Gilliam O Teorema Zero onde
Christoph Waltz faz um “triturador de entidades” (Qoen Leth, um analista e
programador de dados) que é incumbido de montar computacionalmente uma
gigantesca equação cujos enunciados comprovem que 0 = 100%, ou seja, que todo o
Universo um dia vai ser encolhido em uma pequena singularidade e engolir a si
mesmo em um buraco negro. Colocado em termos filosóficos, ele deve comprovar
matematicamente que a vida não possui qualquer sentido ou propósito, embora
intuitivamente suspeite (e procure negar) isso.
sábado, julho 26, 2014
Por que "E.T. O Extraterrestre" tornou-se um clássico AstroGnóstico?
sábado, julho 26, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quase três gerações depois o filme “E.T. O Extraterrestre” (1982) continua emocionando, tornando-se um clássico como “O Mágico de Oz”. Como uma produção cinematográfica alcança esse estágio atemporal? O filme oferece mais do que uma história de amizade e amor entre um menino e um ser extraterrestre: de um lado refletiu a incipiente cultura adolescente dos subúrbios norte-americanos da época, mas também o arquétipo contemporâneo do Estrangeiro, a condição humana de alienação e estranhamento através de uma fantasia AstroGnóstica: o paralelo da condição humana com a de um ser extraterrestre querendo retornar para casa.
terça-feira, julho 22, 2014
"Killer Cuisine" faz paródia surreal dos chefes de cozinha midiáticos
terça-feira, julho 22, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A série de curtas “Killer Cuisine” (2010) do norte-americano Ross Goodman é uma surreal e hilária paródia dos clichês da gastronomia midiática: um cozinheiro, cujo avô foi um açougueiro na Alemanha à época do nazismo, fuma compulsivamente na cozinha enquanto manipula alimentos e facas de forma agressiva, sob uma trilha sonora que varia de um melancólico blues às músicas de terror B nos anos 1950. Enquanto isso uma mulher é amarrada e embebedada com vinho branco à espera de ser o próximo ingrediente culinário. Os curtas são uma verdadeira aula sobre aquilo que em linguagem cinematográfica se chama “efeito Kuleshov” e também suscitam um debate sobre os alimentos regidos pela lógica do “look” e do “light” dos chefes de cozinha midiáticos. Veja os curtas.
domingo, julho 20, 2014
"Transcendence" mostra fábula nietzschiana sobre tecnologia e poder
domingo, julho 20, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Crítica e público estão massacrando o filme “Transcendence
– A Revolução” (2014). Todos esperavam um sci fi clássico com super-heróis e
narrativas de ação e terror. Mas o filme nos oferece uma extrapolação do atual
discurso autopromocional das neurociências e ciências da computação através do
olhar de uma autêntica fábula nietzschiana sobre o Poder: a grande questão da
onisciência e onipresença de uma suposta superinteligência digital por trás de corporações
como Google e do projeto da Internet das Coisas não é a do Poder vulgar em
conquistar mais dinheiro e controle político: é o Poder pelo Poder, como jogo,
vontade de potência em transcender os limites da ética e moral humana
representado pela superação do próprio corpo.
Nelson Rodrigues dizia que toda unanimidade é burra.
Certamente essa máxima pode ser aplicada à forma como a crítica e o público
está recebendo o filme Transcendence – A
Revolução. Bilheterias decepcionantes nos EUA e Brasil e péssimas críticas
tanto aqui como lá.
“Muito conceito e pouca história para contar”,
“explicações incessantes”, “elenco estrelado (Johnny Deep, Morgan Freeman e
Cillian Murphy e Paul Bettany) que parecem não saber o que fazer trocando
frases soltas entre si”, “pretensioso e chato” etc. O que parece criar
estranhamento para os críticos são os desempenhos “contidos” ou até “robóticos”
do protagonista Deep e um filme que parece investir muito mais nas rimas
visuais e em conceitos abstratos do que em uma história dramática.
Crítica e público esperavam um “filme de ficção
científica” com super-heróis ou narrativas de ação e terror com um “sabor” de sci-fi, que é o que normalmente
Hollywood oferece. Mas o que o diretor Wally Pfister (desde o filme Amnésia diretor de fotografia dos filmes
de Christopher Nolan) foi uma verdadeira ficção científica: a partir da agenda
tecnologia atual, extrapolar para onde estamos indo e o que isso pode
significar para a raça humana, intelectual e espiritualmente.
sexta-feira, julho 18, 2014
Lição para trainees da TV Globo: análise de um vídeo "fractal"
sexta-feira, julho 18, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Sintoma? Ato falho? Autoparódia? Provocação?
Talvez seja tudo isso, um verdadeiro vídeo “fractal” (figura geométrica similar
a um padrão que se repete em escala maior) feito para promover o Programa de
Trainees 2014 da TV Globo. Certamente, a primeira lição para os trainees da
emissora poderia ser a de analisar esse vídeo performado por Marcius Melhem e
Marcelo Adnet: um general estilizado recruta jovens de 18 anos para o
alistamento na “maior emissora de comunicação do... Brazziilll” (o nome do País
em sotaque inglês). Sabendo-se das polêmicas origens da TV Globo no período da
ditadura militar, podemos encontrar no “teaser” promocional o reflexo da corda
bamba em que se encontra atualmente a TV Globo entre ter que ser politicamente
de oposição e, ao mesmo tempo, aparentar transparência e modernidade.
O “Banco de Talentos”, site de recrutamento onde a
TV Globo forma sua verdadeira reserva de mão de obra cadastrando candidatos a
diversos programas corporativos da emissora, publicou uma página do Programa de Trainee Globo 2014. Visualmente a página é interessante e até saudosa: lembra os
projetos visuais da extinta MTV Brasil com as fontes de texto irregulares, o
grafismo com ares retro e no destaque Marcelo Adnet em cena do vídeo
promocional do programa.
Se o gigante se conhece pelo dedo, esse vídeo
promocional é uma ótima oportunidade para os jovens candidatos conhecerem o DNA
da emissora na qual pretendem trabalhar. O site possui até uma página intitulada
“Conhecendo a Rede Globo” onde encontramos um daqueles textos com estilo
corporativo eufemístico falando de “missão”, “sonhos” e “líderes”.
quarta-feira, julho 16, 2014
Em Observação: "Teorema Zero" (2013) - o sentido da vida pela via negativa
quarta-feira, julho 16, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quase 20 anos depois, o diretor inglês Terry
Gilliam está de volta ao gênero ficção-científica, mas as suas preocupações
filosóficas continuam as mesmas. Misturando distopia e religião, Gilliam em “O
Teorema Zero” (2013) pretende discutir qual o sentido da vida, já que a ciência
nos informa que todo o Universo um dia acabará em uma singularidade no interior
de um buraco negro. No interior de uma igreja abandonada o protagonista espera uma
ligação telefônica que lhe traga a resposta, mas o diretor parece pouco
preocupado com isso: ele abraça alegremente a ausência de sentido (a chamada "via negativa" da Filosofia), lembrando a
máxima do personagem Tyler Durden em “O Clube da Luta”: “Depois que perdermos
tudo, então estaremos livres”. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
terça-feira, julho 15, 2014
Mídia esportiva sofre de transtorno semiótico bipolar
terça-feira, julho 15, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Entre as palavras e as coisas existe uma
estrutura fixa, pronta, que tenta capturar a dinâmica das coisas para
congela-las em mitos. Com a mídia esportiva não seria diferente: a cada Copa do
Mundo entra em funcionamento um discurso bipolar pronto para explicar os
fracassos do futebol brasileiro – ora nos falta racionalidade, organização e
planejamento; ora precisamos retornar “às nossas raízes” sufocadas pela mesma “modernidade”
defendida na Copa anterior. Essa mitologização do futebol teria duas funções:
neutralizar o acaso e a incerteza, eliminando a natureza lúdica do esporte, e
evaporar a História – deixar de fora desse discurso bipolar os fatores
midiáticos e político-econômicos que parasitam o futebol.
Na postagem anterior discutíamos que a goleada
acachapante sofrida pela Seleção no jogo contra a Alemanha tinha sido mais do
que um evento, mas o sintoma de fatores de influência midiática (“efeito
Heisenberg” e esquizofrenia midiática – clique
aqui). Mas nessa discussão acabamos achando outra coisa: descobrimos que a
imprensa esportiva parece ter um discurso pronto a cada fracasso do futebol
brasileiro em copas.
Embora seja um discurso estruturado e fixo, também é
dinâmico como fosse um pêndulo semiótico: ora os jornalistas especializados
culpam as derrotas pelo atraso, desatualização e falta de “modernidade” do
futebol brasileiro (que chamaremos de “fase 1”), ora falam de um excesso de
pragmatismo que faria a Seleção abandonar suas “raízes” (“fase 2”).
quinta-feira, julho 10, 2014
"Efeito Heisenberg" e esquizofrenia midiática derrubam a Seleção
quinta-feira, julho 10, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A mídia parece ter um discurso pronto para
cada traumática desclassificação nas Copas, em um movimento semioticamente pendular:
ora diz que falta “modernidade”, ora defende “tradição” ao futebol brasileiro. Mas
dessa vez, nada explica a anomalia de um 7 X 1. Pelo menos os comentários da
imprensa especializada foram unânimes: não foi placar de um jogo de futebol
profissional. Quem lida com semiótica e sincromisticismo sabe que quando
eventos tornam-se bizarros e anômalos deixam de ser meros acontecimentos para
se converterem em sintomas. No caso dessa partida, sintoma de dois fatores
extra-esportivos: o chamado “efeito Heisenberg” (a patologia de toda cobertura midiática
extensiva) e a esquizofrenia de uma mídia sob o desgaste de politicamente ter
que sabotar o evento e ao mesmo tempo faturar comercialmente.
Holanda 2 X Brasil 0, o jogo na Copa de 1974 que desclassificou o Brasil
para as finais; Itália 3 X Brasil 2, jogo que tirou a Seleção da Copa de 1982;
Holanda 2 X Brasil 1, jogo que eliminou a Seleção nas quartas na Copa da África
do Sul em 2010.
É interessante perceber nesses momentos de aguda comoção nas crises da
chamada “pátria de chuteiras” a construção de um script midiático para
racionalizar as catástrofes. Um script pendular que vai do discurso da necessidade
de “modernização” ao do “retorno às raízes”: de um lado a ideia de que o
futebol brasileiro está ultrapassado diante da modernidade europeia (a
revolução tática do “carrossel holandês” em 1974 ou a crítica ao futebol bonito
da seleção em 1982, mas sem a eficiência e aplicação europeias) e do outro um
futebol que ficara tão pragmático que teria esquecido “a arte” – como no caso
da comemoração do “fim da Era Dunga” acusada de abandonar o “futebol bem
jogado” em 2010. Ora a modernidade, ora a tradição.
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