Entre a narrativa tragicômica do cientista ingênuo e idealista do filme ingles "O Homem do Terno Branco" ("The Man in the White Suit, 1951) e a tragédia real do inventor da Frequência Modulada, Edwin Armstrong, encontramos dois paralelos: a orientação alquímica de um inventor perdido em meio ao capitalismo cartelizado e a "commoditização" da Ciência.
O inventor do motor a explosão, Rudolph Diesel, desapareceu a bordo de um navio no mar do Norte em uma noite calma. O inventor da frequência modulada (FM), Edwin Armstrong, se jogou da janela do décimo terceiro andar de um edifício em Manhattan em 1954. O inventor do náilon, Wallace Hume Carothers, também se suicidou. Uma série de cadáveres cobre a estrada das invenções.
Quando esse assunto é debatido as pessoas logo pensam em invenções proibidas. Imagina-se que os grandes trustes possuem em seus cofres fortes a lâmina de barbear interminável, o fósforo perpétuo, a lâmpada elétrica eterna, o comprimido que dissolvido na água substitui a gasolina, os tecidos indestrutíveis.
Mas uma evidência histórica é certa: determinadas invenções são combatidas, suas patentes tornam-se objeto de batalhas judiciais e objeto de difamações na mídia com o objetivo de serem controladas e suas aplicações adiadas quando coloca em risco o equilíbrio de mercado em determinado momento ou, mais ainda, quando ameaça a própria natureza mercantil das invenções e da própria tecnociência.
A comédia inglesa “O Homem do Terno Branco” é um ótimo filme que nos faz lembrar da clássica questão marxista da contradição entre o desenvolvimento das forças produtivas e as relações sociais de produção, isto é, de como um modo de produção determinado pode ser uma camisa de força para o livre progresso tecno-científico. O plot central do filme é sobre uma invenção que, de tão revolucionária, pode colocar em risco o mercado e as relações capital-trabalho. Olhando a história das invenções, a tragicômica estória do idealista cientista dessa comédia tem muitas analogias com a tragédia real do inventor da frequência modulada, Edwin Armstrong.
O filme narra as desventuras de Sidney Stratton (Alec Guinness) um cientista ingênuo e idealista, recém-formado por Cambridge, que obsessivamente persegue um objetivo: o desenvolvimento de uma fibra sintética que produza um tecido que nunca desgaste e suje, produzindo roupas praticamente indestrutíveis e capazes de durar uma vida inteira.
Secretamente se infiltra nos laboratórios de pesquisa das maiores indústrias têxteis para conseguir os melhores equipamentos para alcançar seu intento. Descoberto na indústria Birnley’s, Sidney acaba convencendo o seu proprietário Alan Birnley (Cecil Parker) de que a descoberta lhe trará grande vantagem contra a concorrência.
No início, as pesquisas são catastróficas, com explosões que levam parte das instalações da Birnley’s pelos ares. Hidrogênio e tório radioativo tornam as experiências cada vez mais perigosas e explosivas. O que começa a criar boatos e chamar a atenção da imprensa. Tudo é sistematicamente desmentido por Alan Birnley até Sidney conseguir a grande descoberta: a fibra sintética indestrutível.