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sábado, setembro 27, 2014

O carro e a experiência fora do corpo

Um carro pode proporcionar uma experiência mística fora do corpo? Com a análise semiótica em 360 graus do caso do filme publicitário do Novo Honda Civic 2015, que apresenta o consumo como um ato muito mais de transformação espiritual do que de aquisição, o curso "A Linguagem das Mercadorias" da pós em Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi fez seu último encontro dissecando a mais nova ferramenta semiótica: a “Adgnose”. Diferente das formas anteriores de busca de identificação do consumidor por meio de fantasias-modais (através de pesquisas por perfis sócio-econômicos e de estilos de vida), hoje o Marketing e a Publicidade obtêm o descolamento máximo do consumo em relação à materialidade do produto com a exploração dos arquétipos: símbolos e imagens do inconsciente coletivo. Surge uma irônica operação semiótica publicitária: ao invés de “comprar-consumir-ter”, agora temos “comprar-consumir-espiritualizar-se”.

Nessa última segunda feira (22 de setembro) esse humilde blogueiro ministrou o último encontro do curso “A Linguagem das Mercadorias” da pós-graduação em Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi (informações sobre o curso clique aqui). Nos seis encontros do curso, acompanhamos como a linguagem que promove as mercadorias no capitalismo através da Publicidade foi progressivamente tornando-se cada vez mais abstrata: estudamos uma série de ferramentas semióticas que operaram um verdadeiro descolamento dos signos em relação à materialidade dos produtos.

Vimos que essa operação de “descolamento” é necessária por duas exigências econômicas bem concretas:


(a) Acompanhando o raciocínio dos teóricos da chamada Crítica da Estética da Mercadoria (Peter Haug, Michael Schneider), percebemos que todas as estratégias do Capital em maximizar lucros se chocam no limite físico do valor de uso das mercadorias: sua materialidade e finitude pode limitar o consumo no tempo e espaço (satisfação, saciedade, durabilidade etc.), diminuindo a velocidade da substituição dos produtos no mercado. Por isso, historicamente o grande papel da Publicidade foi convencer o consumidor a comprar o produto não pela sua utilidade, mas pela inutilidade. Isto é, associar o produto simbolicamente a um tipo de signo que torna-se cada vez mais abstrato.

sexta-feira, agosto 15, 2014

Acidente aéreo em Santos prepara bomba semiótica sincromística

O trágico acidente aéreo em Santos que vitimou o candidato à presidência da República Eduardo Campos reacende por caminhos mórbidos a esperança da grande mídia, com a pressão uníssona de que Marina Silva assuma a candidatura. O timing da tragédia foi perfeito, num momento em que já estava esgotado o arsenal de bombas semióticas midiáticas – a última foi a irrelevância da não-notícia da “fraude da Wikipédia”. Mais do que que levantar teorias conspiratórias, as sincronias e coincidências que cercaram o acidente, somado a uma espécie de discurso do “destino manifesto”, do “imponderável” e do “destino”, estão ajudando a preparar a talvez derradeira bomba semiótica, dessa vez sincromística porque utiliza como matéria-prima a simbologia arquetípica do “Mágico”, baseado em estratégia do mundo do Marketing e da Publicidade que manipula arquétipos do inconsciente coletivo para a criação da imagem de marcas, produtos e serviços.

Teorias da conspiração não surgem por acaso. É por ser a realidade estranhamente sincrônica que acaba sugerindo a suspeita de eventos milimetricamente maquinados, como no caso da trágica morte do candidato à presidência da República Eduardo Campos em um acidente aéreo na cidade de Santos-SP no último dia 13.

Logo após o incidente, redes sociais e grande mídia se apressaram a fazer um mórbido inventário de “coincidências”: Eduardo Campos morreu no mesmo dia que o seu avô Miguel Arraes; o DDD de Santos é o mesmo do dia da tragédia (13) que, por sua vez, é o mesmo número que identifica o PT nas eleições; a soma das letras do candidato morto soma 13; o acidente aéreo ocorre pouco tempo depois da denúncia envolvendo o candidato Aécio Neves sobre um aeroporto construído com dinheiro público ao lado de fazenda da sua família; em 2006, também no período de eleições presidenciais, ocorreu o acidente aéreo do choque do Boeing da Gol com um jato Legacy matando 154 pessoas; o acidente aéreo de Santos se soma a uma sequência de acidentes como o desaparecimento do Boeing da Malaysian Airlines no Oceano Pacífico (ou teria sido no Índico?), a queda de outro Malaysian na Ucrânia e uma mais recente de um Boeing na África...

segunda-feira, agosto 11, 2014

Editor do Cinegnose dá curso sobre linguagem das mercadorias na pós em Comunicação e Semiótica

O humilde editor desse blog inicia no dia 18 de agosto o curso “A Linguagem das Mercadorias” na pós-graduação em Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi em São Paulo. Um curso com proposta, por assim dizer, “maquiavélica”: ao mesmo tempo em que oferecerá ferramentas práticas derivadas da semiótica e psicanálise para profissionais de gestão e criação em publicidade, marketing e comunicação, também desenvolverá ferramentas críticas para o consumidor se proteger das manipulações e abusos da indústria do consumo e entretenimento.

Esse humilde blogueiro inicia no dia 18 de agosto o curso na pós graduação em Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi intitulado “A Linguagem das Mercadorias”. O curso pertence ao módulo 2 da pós lato sensu da Universidade cujo objetivo é a aplicabilidade das ferramentas da Semiótica na criação e gestão de processos criativos em comunicação, marketing e publicidade.

O curso é composto de seis encontros, todas as segundas das 19h às 22h40 no campus Vila Olímpia da Universidade Anhembi Morumbi.

domingo, outubro 06, 2013

Sincromisticismo na onda de tragédias em Washington DC


Um atirador mata 12 pessoas em uma Base Naval em Washington DC. Poucos tempo depois na mesma cidade um carro força a barreira de segurança da Casa Branca e o Serviço Secreto mata sua motorista. No dia seguinte, um homem ateia fogo a seu próprio corpo em uma esplanada próxima ao Capitólio. E para completar, um incidente que quase passou despercebido pelas agências de notícias: com duas horas de diferença, em Houston, Texas, um homem tentou fazer a mesma coisa, mas foi contido por populares que lhe arrancaram o isqueiro depois dele se encharcar com gasolina. Segundo Loren Coleman, pesquisador sincromístico e psicólogo social especialista nos fenômenos de suicídios e assassinatos seriais, há estranhas coincidências significativas que conectariam esses eventos a um inconsciente coletivo repercutido pela própria cobertura midiática.

Após o incidente com o atirador na Base Naval que matou 12 pessoas, Aaron Alexis, a mídia teve a atenção capturada para outro incidente bizarro em Washington DC em frente à Casa Branca: uma mulher tentou ultrapassar com o seu carro uma barreira de segurança e por causa disso começou uma perseguição por parte do Serviço Secreto (órgão encarregado pela segurança do presidente) em que ocorreram vários disparos. O veículo preto se chocou contra a área de controle de acesso ao Capitólio e foi rodeado por vários policiais armados que retiraram uma criança de um ano e a motorista morta.

Loren Coleman, um pesquisador em fenômenos sincromísticos, consultor do Maine Youth Suicide Program e um especialista nos estudos sobre as conexões entre a mídia e suicídios-atentados, observou uma série de aparentes coincidências entre os casos:

sexta-feira, outubro 04, 2013

A luz que nos cega no filme "El Topo" de Jodorowsky


Um filme cercado de lendas, algumas verdadeiras. John Lennon exigiu que a Apple comprasse seus direitos para exibi-lo em Nova York. Em pouco tempo o filme tornou-se um Cult nas sessões de meia-noite no circuito underground. “El Topo” (aka “The Mole”, 1970), uma produção mexicana do diretor franco-chileno Alejandro Jodorowsky narra em estilo “western spaghetti” de Sérgio Leone a jornada espiritual de um pistoleiro em desoladas paisagens repletas de alusões e alegorias a Jung, Freud, misticismo, esoterismo, filosofias e mitologias bíblicas. Cada plano, cena ou detalhe é um desafio para o espectador tentar resolver os enigmas que se acumulam em cada imagem baseada em fragmentos de textos antigos, fábulas e contos zen. O diretor parece querer que tanto o protagonista quanto o espectador tenham o mesmo destino da toupeira: à procura do Sol ela cava até a superfície. Quando vê o Sol, ela fica cega.

Um homem trajando negro da cabeça aos pés em pleno deserto incandescente cavalga um cavalo negro carregando um guarda-chuva sobre sua cabeça e trazendo atrás na sela um menino nu, exceto por um chapéu de cowboy. O homem para, amarra o cavalo em um poste solitário na areia e vemos nas mãos do menino um urso de pelúcia e uma fotografia em um porta-retrato. O homem diz: “hoje você faz sete anos. Você agora é um homem. Enterre seu primeiro brinquedo e o retrato da sua mãe”. Ele pega uma flauta e toca enquanto o menino segue suas instruções.  Para o espectador, essa cena de abertura será a mais normal e compreensível de todo o filme.

“El Topo” do franco-chileno diretor Alejandro Jodorowsky é cercado de histórias e lendas: suas técnicas de filmagem não eram o que poderia se dizer ortodoxas - normalmente utilizava nativos da região da filmagem como atores e obrigava-os a se submeter a experiências de esgotamento físico diante das câmeras. Rumores dizem que fazia os atores experimentarem o sangue um do outro e de expô-los a violência real. Segundo consta, o próprio Jodorowsky matou os 300 coelhos com as próprias mãos para uma cena do filme.

domingo, agosto 11, 2013

Em "Revólver" o homem encontra seu pior inimigo: o Ego

Um dos filmes recentes mais subestimados, desprezado pela crítica e pouco visto pelo público. “Revólver” (2005) de Guy Ritchie é uma espécie de cavalo de troia: sob uma embalagem que comercialmente lembra seus sucessos passados como “Snatch” (2000), na verdade o diretor nos oferece uma complexa e instigante jornada interior de um protagonista imerso em um jogo de trapaças e violência. Ele terá que descobrir que o maior inimigo se esconderá no último lugar que você procuraria: no interior do próprio Ego. Por isso a narrativa será sempre pontuada com a famosa exortação gnóstica - "Acorde!".

Depois de filmes como “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes” (1998) e “Snatch – Porcos e Diamantes” (2000), o diretor Guy Ritchie teve uma ascensão meteórica: de cineasta independente a um dos queridinhos de Hollywood. Passou a ser rotulado como o “Tarantino britânico”. Mas depois do fracasso com “Destino Insólito” (2002), a mesma indústria que o celebrou passou a esquecê-lo, principalmente depois que ganhou o “prêmio” Framboesa de Ouro de Pior Diretor. Durante seu autoexílio em se país natal planejou por três anos uma resposta. E não poderia ter sido mais brilhante com o filme “Revolver”.

domingo, agosto 04, 2013

Filme "Laranja Mecânica" é explicado pela "Trilogia Star Child"


Quarenta e dois anos depois, “Laranja Mecânica” (1971) do diretor Stanley Kubrick continua urgente e moderno. Como todos os filmes do diretor, “Laranja Mecânica” que transmitir muito mais do que conta a narrativa: uma história sobre uma sociedade distópica  aterrorizada por gangues juvenis sob um Estado que planeja resolver seus problemas políticos através de uma técnica de lavagem cerebral. O verdadeiro núcleo simbólico do filme somente poderia ser compreendido através da chamada “Trilogia Star Child” sugerida pelo cineasta e escritor canadense J. F. Martel, composta por “Dr Fantástico”, “2001: Uma Odisséia no Espaço” e “Laranja Mecânica”. Esse núcleo espiritual e místico da trilogia é que manteria esses filmes atemporais como verdadeiros arquétipos contemporâneos.

Certa vez Kubrick disse para o ator Jack Nicholson: “Nós não estamos interessados em fotografar a realidade. Nós estamos interessados em fotografar a fotografia da realidade”. Talvez isso explique porque, quarenta e dois anos depois, o filme “Laranja Mecânica” continue atual e com um mesmo caráter de urgência: o filme possui uma estranha atmosfera atemporal como se a sua narrativa ocorresse em um mundo alternativo, análogo ao nosso. A cenografia sugere um futuro ao mesmo tempo familiar e estranho, onde os detalhes banais do cotidiano são distorcidos.

Foi lançado em 1971, com linhas de diálogos que seguem à risca a linguagem do livro original de Burguess de 1962 (mistura de gírias, inglês shakespeariano e expressões comuns), mas com um visual que parece de 2013. A pontuação musical é variada, indo da Nona Sinfonia de Beethoven à canção “Singin’ in the Rain”. Em outras palavras, a atemporalidade de “Laranja Mecânica” vem da sua deliberada hiper-realidade. Seu centro parece ser místico, como se Kubrick quisesse capturar algo de arquetípico, gnóstico, que transcende o tempo e o espaço: a própria configuração psíquica.

domingo, abril 07, 2013

A necessidade do ritual de sacrifício humano no filme "O Segredo da Cabana"


O que acontece quando o filme clássico “A Morte do Demônio” (Evil Dead) de 1981 se encontra com “Matrix” e "Show de Truman"? Temos o surpreendente filme “O Segredo da Cabana” (The Cabin in the Woods, 2011), um instigante jogo metalinguístico em múltiplos níveis que vai da sátira ao gênero “slasher movies” às origens míticas da necessidade de antigos arquétipos e mitos serem revividos e renovados em diversos formatos, da antiguidade à indústria de entretenimento contemporânea. Por que ritos antiquíssimos de sacrifícios humanos precisam ser repetidos a cada filme? Por que jovens que fazem sexo sempre morrem com requintes sadísticos em cada roteiro hollywoodiano? É o que pretende responder o diretor Drew Goddard em “O Segredo da Cabana”.

Quando Sam Reimi escreveu e dirigiu “A Morte do Demônio” (Evil Dead, 1981) certamente não imaginava que a situação de cinco jovens em uma remota cabana tomada por demônios em uma floresta se tornaria um plot prototípico de todos os chamados “slash” ou “exploited” movies - onde sempre um assassino surge do nada para atacar um grupo com requintes de tortura, sadismo e perversão sexual.

Mais do que isso, talvez não imaginasse que nesse meio tempo o mainstream hollywoodiano embarcaria em uma fase “metafísica” de auto-desconstrução como em “Show de Truman” ou de desconstrução gnóstica da própria realidade como em “Matrix” e “Vanilla Sky”. O resultado foi o surgimento de toda uma geração de roteiristas e diretores (Charlie Kaufman, Christopher Nolan, irmãos Wachowsky, Tarantino etc) com uma visão metalinguística, desconstrucionista ou de distanciamento irônico em relação aos gêneros, fórmulas ou clichês do cinema comercial.

Somente é possível compreender integralmente o filme “O Segredo da Cabana” (The Cabin in the Woods, 2011) colocando-o dentro desse contexto de produções cinematográficas cada vez mais auto-referenciais e que, por isso, permitem muitas vezes a possibilidade de expressar agudas visões críticas no meio do mainstream hollywoodiano, como no caso desse filme.

sexta-feira, outubro 12, 2012

Os Cátaros, Paulo Coelho e o turismo esotérico

Escalar uma "montanha mágica" nos Pirineus para encontrar a fortaleza dos heréticos Cátaros do século XII. O problema é que, para eles, toda a suposta beleza dos céus e da Terra era “obra de um demônio”. Mas para um turista esotérico isso não importa: a jornada descrita pelo famoso escritor de best sellers esotéricos Paulo Coelho confirma os principais mitos dessa agenda “new age” cujo imaginário criou um subgênero na indústria do turismo. Os mitos dessa jornada: Os “Sinais”, O “Todo”, Os “Lugares Especiais” e O “Antigo”.

Em uma das minhas visitas à cidade de Santos (meus pais moram lá) me detive diante de uma banca de jornal e parei na primeira página do jornal “A Tribuna de Santos”. Era domingo, dia em que o jornal vem com o suplemento “ATrevista”, uma revista de variedades culturais, culinárias e dicas de compras. Temas bem amenos para um típico domingo santista ensolarado e quente. Folheando a revista, perdido entre receitas culinárias e páginas publicitárias, encontro uma coluna do famoso escritor de best sellers esotéricos Paulo Coelho intitulado “Montanha Mágica” (clique aqui para ler).

O texto começa com uma típica descrição turística sobre “uma das as mais belas regiões do mundo”, Languedoc nos Pirineus e Sudoeste da França. “Mas foi nesse lugar magnífico que nasceu a primeira grande “heresia” europeia: o catarismo. Muitos livros foram escritos sobre o tema, entretanto, é possível resumir a filosofia cátara numa simples frase: o universo foi criado pelo demônio. Toda esta beleza aparente é uma obra diabólica.” Uauuu! Que tema para um domingo de sol e praia!

Para quem não sabe, os Cátaros foram os responsáveis pelo reaparecimento do Gnosticismo na Europa no século XII, esparramados pelo Sul da França, Languedoc, Catalunha e norte da Itália. Foi um movimento cristão considerado herético pela Igreja, com forte paralelo com os gnósticos do princípio da era cristã, mais precisamente com o dualismo de Mani (viveu no Irã no século III) que sustentava que o cosmos seria dividido por dois poderes opostos: o Bem e o Mal, o verdadeiro Deus e o Demiurgo, uma divindade decaída e enlouquecida com o próprio poder que nos aprisiona em um universo físico corrompido.

terça-feira, julho 24, 2012

O Coringa e o massacre do Colorado

“Os pensamentos são coisas”
(antigo aforismo oriental)

Desde que o ator Jack Nicholson falou “Eu o avisei!” após a morte do ator Heath Ledger pouco depois de interpretar o Coringa no filme “Batman: o Cavaleiro das Trevas”, estranhas “coincidências” passaram a cercar esse personagem. Nicholson havia interpretado o Coringa em versão anterior do Batman do diretor Tim Burton. Parecia que ele já havia experimentado a estranha força desse personagem, espécie de alter ego invertido do protagonista Batman. O massacre provocado por um atirador na estreia do novo filme do Batman em um cinema em Aurora, Colorado (EUA), reabre essa discussão: será que esse episódio é um eco de uma realidade mais profunda que se tenta esconder?

James Holmes foi preso pouco depois dos disparos e afirmou ser o Coringa para os policiais. O fato de que muitos fãs foram fantasiados à estreia de “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, permitiu ao agressor passar despercebido com máscara de gás e uma escopeta AR-15.

O próprio pai de Heath Ledger, Kim Ledger, apressou-se a dizer que “não devemos culpar Heath Ledger ou o personagem”. A pressa com que Kim Ledger fez essa declaração e o próprio interesse imediato dos jornalistas em saber o que ele pensava sobre tudo isso revelam um ato falho: há algo de mais profundo nesse episódio, para além do controle de armas e munições. Ainda estamos em uma discussão sobre as relações de causa-efeito. A “loucura” de Holmes encontrou farta disponibilidade de armas e bombas para se materializar. Mas fica em suspenso a questão: que espécie de “loucura” é essa?

Dentro do histórico de atiradores e serial killers na cultura norte-americana, dois elementos chamam a atenção: primeiro, o atirador não se matou (ou pelo menos não houve tempo para isso); segundo, faltou o elemento narcísico: o atirador não deixou nenhum vídeo destinado à divulgação pelas mídias sobre “explicações” do porquê do seu ato. Parece que o caso do massacre do Colorado não se enquadra no script de casos anteriores como Columbine. Podemos formular uma hipótese: e se esse caso do Colorado for a expressão mais dramática e mortal de um fato que é mais corriqueiro do que imaginamos? Explicando melhor, será que Holmes levou a sua performance ao extremo em uma sala de cinema onde muitos estavam fantasiados com os personagens do filme Batman? Ele levou à sério demais seu personagem?

terça-feira, julho 17, 2012

"Ad-Gnose: a Engenharia do Espírito na Publicidade" será discutida na COMUNICON 2012

Foi aceito o resumo expandido de um artigo científico desse humilde blogueiro submetido à comissão de avaliação do II Congresso Internacional Comunicação e Consumo - COMUNICON 2012, evento que será realizado nos dias 15 e 16 de outubro na Escola Superior de Propaganda e Marketing em São Paulo com o tema “Comunicação, Consumo e Ação Reflexiva: caminhos para a educação do futuro” (clique aqui para ver a programação). O resumo expandido refere-se ao artigo “Ad-gnose: a engenharia do espírito na publicidade”.

O artigo será apresentado dentro do Grupo de Trabalho"Comunicação, Consumo e Cultura Contemporânea; Imagem, Cidade e Juventude"

“Ad-gnose” foi um conceito criado a partir das pesquisas nesse blog sobre a linguagem publicitária contemporânea: as estratégias publicitárias atuais estão para além do comportamental, subliminar ou da captura das fantasias compulsivas ou impulsivas. Atualmente busca-se um nível mais profundo: o repertório da simbologia arquetípica da espécie humana. A fase “Este é o produto, agora compre-o!” foi deixada no passado para, em seu lugar, consolidar-se a prospecção dos simbolismos mais profundos da alma humana que procura apresentar o consumo como uma experiência espiritual de autoconhecimento.

A Publicidade parece que assimilou todas as críticas feitas a ela ao longo da história (consumismo, superficialidade, frivolidade, materialismo etc.) e procura demonstrar que mudou, se espiritualizou e não vê mais o consumo como mero ato de aquisição, mas de enriquecimento espiritual.

É claro que esse conceito de “Ad-Gnose” (advertising + "gnosis", iluminação espiritual) é crítico e irônico: buscar a experiência espiritual (a transcendência) numa troca econômica (imanência) que pressupõe todo um sistema econômico e político que se impõe como um princípio de realidade é, na verdade, confinar as aspirações contidas nos arquétipos, transformando-as em dócil e resignada motivação para o consumo.


Leia abaixo o resumo expandido do conteúdo a ser discutido na COMUNICON 2012:

quarta-feira, setembro 28, 2011

Reflexões sobre o Gótico, o Estranho e o Fantástico

O Gótico, o Estranho e o Fantástico são elementos presentes em diversos gêneros cinematográficos representando a erupção de medos arcaicos e inconscientes que paradoxalmente são instrumentalizados pela indústria do entretenimento. São a base da linha de continuidade entre a narrativa fílmica e a experiência religiosa do "Sagrado".


Conceitos recorrentes nas análises empreendidas por esse blog, vamos agora tentar precisar melhor essas ideias e estabelecer alguns contrastes.


Apesar das importantes diferenças entre os gêneros fílmicos ficção científica, filme noir, horror e fantasia, todos eles partilham dos mesmos elementos góticos: o obscurecimento das fronteiras entre mundos familiarmente realistas e estranhas terras de estranhos sonhos; a mistura ambígua entre percepção e projeção; o conflito entre razão e inconsciência.

Esses elementos góticos estão intimamente relacionados com o movimento do Romantismo no séculos XVIII-XIX. Samuel Taylor Coleridge, autor do conto The Rime of Ancient Mariner, parece sugerir isso ao afirmar que:
“Pessoas e personagens sobrenaturais, ou no mínimo românticas, ainda que se transfiram para dentro da nossa natureza íntima dando um interesse humano e um aspecto de verdade suficientes para suspender a descrença do momento, constituem a fé poética.”[1]
O que Coleridge chama de “sobrenatural” ou “romântico”, poderíamos definir como gótico: uma narrativa como The Rime na qual presenças invisíveis, locais exóticos e eventos extraordinários são dominantes. Esse tipo de trabalho paira entre a realidade e a fantasia de maneira que passamos a considerar seriamente eventos que, de outra forma, normalmente não aceitaríamos. Este nível de dissolução das fronteiras entre credulidade e incredulidade é a chamada “ironia romântica”. Leva o leitor a acreditar no inacreditável. Encoraja-o a questionar a realidade empírica.

sábado, agosto 06, 2011

O Herói Alquímico no filme "Sinédoque, Nova York"

O filme "Sinédoque, Nova York" aprofunda ainda mais a simbologia gnóstica e alquímica dos trabalhos anteriores de Charlie Kaufman como roteirista. Narra a jornada do herói que busca a individuação numa cultura marcada pelo medo do anonimato e da insignificância do gesto individual. Através de uma verdadeira jornada alquímica de transformação busca a verdade numa sociedade inautêntica.

“Sinédoque, Nova York” é o primeiro filme como diretor de Charlie Kaufmann, roteirista de filmes anteriores como “Quero ser John Malkovich”(Being John Malkovich, 1999), “Adaptação” (Adaptation, 2002) e “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”(Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004). Tal como nesses filmes extravagantemente conceituais, aqui, como diretor, Kaufmann tem a plena liberdade em desenvolver todos os simbolismos lançados nos trabalhos passados.

Os trabalhos de Kaufman como roteirista já transitavam por simbolismos de inspiração na mitologia gnóstica como a discussão da reencarnação como uma prisão para o espírito no cosmos físico em “Quero Ser John Malkovich” (veja links abaixo) e o indivíduo prisioneiro em um mundo mental cujas memórias são manipuladas por um Demiurgo tecnognóstico em “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”.

Dessa vez, e com plena liberdade, Kaufman aprofunda ainda mais todos esses simbolismos ao empreender uma jornada alquímica no sentido dado pelo psicanalista Jung. Em entrevistas, Charlie Kaufman tem salientado que não pretende fazer filmes que tentam transpor para a tela as imagens dos sonhos, mas, ao contrário, explorar a vida interior dos protagonistas por meio de narrativas oníricas.  Em outras palavras, ele pretende transpor a narrativa onírica composta por metáforas e metonímias (condensações e deslocamentos, como dizia Freud) para a narrativa fílmica. Daí o nome do filme “Sinédoque” que é uma forma de linguagem metonímica como veremos adiante.

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