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sábado, setembro 27, 2014
O carro e a experiência fora do corpo
sábado, setembro 27, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um carro pode proporcionar uma experiência mística fora do corpo? Com a
análise semiótica em 360 graus do caso do filme publicitário do Novo Honda
Civic 2015, que apresenta o consumo como um ato muito mais de transformação
espiritual do que de aquisição, o curso "A Linguagem das Mercadorias" da pós em
Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi fez seu último encontro dissecando a
mais nova ferramenta semiótica: a “Adgnose”. Diferente das formas anteriores de
busca de identificação do consumidor por meio de fantasias-modais (através de pesquisas
por perfis sócio-econômicos e de estilos de vida), hoje o Marketing e a
Publicidade obtêm o descolamento máximo do consumo em relação à materialidade
do produto com a exploração dos arquétipos: símbolos e imagens do inconsciente
coletivo. Surge uma irônica operação semiótica publicitária: ao invés de
“comprar-consumir-ter”, agora temos “comprar-consumir-espiritualizar-se”.
Nessa
última segunda feira (22 de setembro) esse humilde blogueiro ministrou o último
encontro do curso “A Linguagem das Mercadorias” da pós-graduação em Comunicação
e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi (informações sobre o curso clique aqui). Nos seis encontros do curso,
acompanhamos como a linguagem que promove as mercadorias no capitalismo através
da Publicidade foi progressivamente tornando-se cada vez mais abstrata:
estudamos uma série de ferramentas semióticas que operaram um verdadeiro
descolamento dos signos em relação à materialidade dos produtos.
Vimos
que essa operação de “descolamento” é necessária por duas exigências econômicas
bem concretas:
(a)
Acompanhando o raciocínio dos teóricos da chamada Crítica da Estética da Mercadoria (Peter Haug, Michael Schneider),
percebemos que todas as estratégias do Capital em maximizar lucros se chocam no
limite físico do valor de uso das mercadorias: sua materialidade e finitude
pode limitar o consumo no tempo e espaço (satisfação, saciedade, durabilidade
etc.), diminuindo a velocidade da substituição dos produtos no mercado. Por
isso, historicamente o grande papel da Publicidade foi convencer o consumidor a
comprar o produto não pela sua utilidade,
mas pela inutilidade. Isto é,
associar o produto simbolicamente a um tipo de signo que torna-se cada vez mais
abstrato.
sexta-feira, agosto 15, 2014
Acidente aéreo em Santos prepara bomba semiótica sincromística
sexta-feira, agosto 15, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O trágico acidente aéreo em Santos que vitimou o
candidato à presidência da República Eduardo Campos reacende por caminhos
mórbidos a esperança da grande mídia, com a pressão uníssona de que Marina
Silva assuma a candidatura. O timing da tragédia foi perfeito, num momento em
que já estava esgotado o arsenal de bombas semióticas midiáticas – a última foi
a irrelevância da não-notícia da “fraude da Wikipédia”. Mais do que que
levantar teorias conspiratórias, as sincronias e coincidências que cercaram o
acidente, somado a uma espécie de discurso do “destino manifesto”, do
“imponderável” e do “destino”, estão ajudando a preparar a talvez derradeira
bomba semiótica, dessa vez sincromística porque utiliza como matéria-prima a
simbologia arquetípica do “Mágico”, baseado em estratégia do mundo do Marketing e da Publicidade que manipula arquétipos
do inconsciente coletivo para a criação da imagem de marcas, produtos e
serviços.
Teorias
da conspiração não surgem por acaso. É por ser a realidade estranhamente
sincrônica que acaba sugerindo a suspeita de eventos milimetricamente
maquinados, como no caso da trágica morte do candidato à presidência da
República Eduardo Campos em um acidente aéreo na cidade de Santos-SP no último
dia 13.
Logo
após o incidente, redes sociais e grande mídia se apressaram a fazer um mórbido
inventário de “coincidências”: Eduardo Campos morreu no mesmo dia que o seu avô
Miguel Arraes; o DDD de Santos é o mesmo do dia da tragédia (13) que, por sua
vez, é o mesmo número que identifica o PT nas eleições; a soma das letras do
candidato morto soma 13; o acidente aéreo ocorre pouco tempo depois da denúncia
envolvendo o candidato Aécio Neves sobre um aeroporto construído com dinheiro
público ao lado de fazenda da sua família; em 2006, também no período de
eleições presidenciais, ocorreu o acidente aéreo do choque do Boeing da Gol com
um jato Legacy matando 154 pessoas; o acidente aéreo de Santos se soma a uma
sequência de acidentes como o desaparecimento do Boeing da Malaysian Airlines
no Oceano Pacífico (ou teria sido no Índico?), a queda de outro Malaysian na
Ucrânia e uma mais recente de um Boeing na África...
segunda-feira, agosto 11, 2014
Editor do Cinegnose dá curso sobre linguagem das mercadorias na pós em Comunicação e Semiótica
segunda-feira, agosto 11, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O humilde editor desse blog inicia no dia 18 de agosto o curso “A Linguagem
das Mercadorias” na pós-graduação em Comunicação e Semiótica da Universidade
Anhembi Morumbi em São Paulo. Um curso com proposta, por assim dizer, “maquiavélica”: ao
mesmo tempo em que oferecerá ferramentas práticas derivadas da semiótica e
psicanálise para profissionais de gestão e criação em publicidade, marketing e
comunicação, também desenvolverá ferramentas críticas para o consumidor se
proteger das manipulações e abusos da indústria do consumo e entretenimento.
Esse
humilde blogueiro inicia no dia 18 de agosto o curso na pós graduação em
Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi intitulado “A Linguagem
das Mercadorias”. O curso pertence ao módulo 2 da pós lato sensu da
Universidade cujo objetivo é a aplicabilidade das ferramentas da Semiótica na
criação e gestão de processos criativos em comunicação, marketing e
publicidade.
O
curso é composto de seis encontros, todas as segundas das 19h às 22h40 no
campus Vila Olímpia da Universidade Anhembi Morumbi.
domingo, outubro 06, 2013
Sincromisticismo na onda de tragédias em Washington DC
domingo, outubro 06, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um atirador mata 12 pessoas em uma Base Naval em Washington DC.
Poucos tempo depois na mesma cidade um carro força a barreira de segurança da
Casa Branca e o Serviço Secreto mata sua motorista. No dia seguinte, um homem
ateia fogo a seu próprio corpo em uma esplanada próxima ao Capitólio. E para
completar, um incidente que quase passou despercebido pelas agências de
notícias: com duas horas de diferença, em Houston, Texas, um homem tentou fazer
a mesma coisa, mas foi contido por populares que lhe arrancaram o isqueiro
depois dele se encharcar com gasolina. Segundo Loren Coleman, pesquisador sincromístico
e psicólogo social especialista nos fenômenos de suicídios e assassinatos
seriais, há estranhas coincidências significativas que conectariam esses
eventos a um inconsciente coletivo repercutido pela própria cobertura
midiática.
Após o incidente com o atirador
na Base Naval que matou 12 pessoas, Aaron Alexis, a mídia teve a atenção
capturada para outro incidente bizarro em Washington DC em frente à Casa
Branca: uma mulher tentou ultrapassar com o seu carro uma barreira de segurança
e por causa disso começou uma perseguição por parte do Serviço Secreto (órgão
encarregado pela segurança do presidente) em que ocorreram vários disparos. O
veículo preto se chocou contra a área de controle de acesso ao Capitólio e foi
rodeado por vários policiais armados que retiraram uma criança de um ano e a
motorista morta.
Loren Coleman, um pesquisador em
fenômenos sincromísticos, consultor do Maine Youth Suicide Program e um
especialista nos estudos sobre as conexões entre a mídia e suicídios-atentados,
observou uma série de aparentes coincidências entre os casos:
sexta-feira, outubro 04, 2013
A luz que nos cega no filme "El Topo" de Jodorowsky
sexta-feira, outubro 04, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um filme cercado de lendas, algumas verdadeiras. John Lennon exigiu que
a Apple comprasse seus direitos para exibi-lo em Nova York. Em pouco tempo o
filme tornou-se um Cult nas sessões de meia-noite no circuito underground. “El
Topo” (aka “The Mole”, 1970), uma produção mexicana do diretor franco-chileno
Alejandro Jodorowsky narra em estilo “western spaghetti” de Sérgio Leone a
jornada espiritual de um pistoleiro em desoladas paisagens repletas de alusões
e alegorias a Jung, Freud, misticismo, esoterismo, filosofias e mitologias
bíblicas. Cada plano, cena ou detalhe é um desafio para o espectador tentar
resolver os enigmas que se acumulam em cada imagem baseada em fragmentos de textos antigos, fábulas e contos
zen. O diretor parece querer que tanto o protagonista quanto o espectador tenham o mesmo destino da toupeira: à procura do Sol ela cava até a superfície. Quando vê o Sol, ela fica cega.
Um homem trajando negro da
cabeça aos pés em pleno deserto incandescente cavalga um cavalo negro
carregando um guarda-chuva sobre sua cabeça e trazendo atrás na sela um menino
nu, exceto por um chapéu de cowboy. O homem para, amarra o cavalo em um poste solitário
na areia e vemos nas mãos do menino um urso de pelúcia e uma fotografia em um
porta-retrato. O homem diz: “hoje você faz sete anos. Você agora é um homem.
Enterre seu primeiro brinquedo e o retrato da sua mãe”. Ele pega uma flauta e
toca enquanto o menino segue suas instruções. Para o espectador, essa cena de abertura será a
mais normal e compreensível de todo o filme.
“El Topo” do franco-chileno
diretor Alejandro Jodorowsky é cercado de histórias e lendas: suas técnicas de
filmagem não eram o que poderia se dizer ortodoxas - normalmente utilizava
nativos da região da filmagem como atores e obrigava-os a se submeter a
experiências de esgotamento físico diante das câmeras. Rumores dizem que fazia
os atores experimentarem o sangue um do outro e de expô-los a violência real.
Segundo consta, o próprio Jodorowsky matou os 300 coelhos com as próprias mãos para
uma cena do filme.
domingo, agosto 11, 2013
Em "Revólver" o homem encontra seu pior inimigo: o Ego
domingo, agosto 11, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um dos filmes recentes
mais subestimados, desprezado pela crítica e pouco visto pelo público. “Revólver”
(2005) de Guy Ritchie é uma espécie de cavalo de troia: sob uma embalagem que
comercialmente lembra seus sucessos passados como “Snatch” (2000), na verdade o
diretor nos oferece uma complexa e instigante jornada interior de um protagonista
imerso em um jogo de trapaças e violência. Ele terá que descobrir que o maior
inimigo se esconderá no último lugar que você procuraria: no interior do próprio
Ego. Por isso a narrativa será sempre pontuada com a famosa exortação gnóstica - "Acorde!".
Depois de filmes como “Jogos,
Trapaças e Dois Canos Fumegantes” (1998) e “Snatch – Porcos e Diamantes”
(2000), o diretor Guy Ritchie teve uma ascensão meteórica: de cineasta
independente a um dos queridinhos de Hollywood. Passou a ser rotulado como o
“Tarantino britânico”. Mas depois do fracasso com “Destino Insólito” (2002), a
mesma indústria que o celebrou passou a esquecê-lo, principalmente depois que
ganhou o “prêmio” Framboesa de Ouro de Pior Diretor. Durante seu autoexílio em
se país natal planejou por três anos uma resposta. E não poderia ter sido mais
brilhante com o filme “Revolver”.
domingo, agosto 04, 2013
Filme "Laranja Mecânica" é explicado pela "Trilogia Star Child"
domingo, agosto 04, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quarenta e dois anos
depois, “Laranja Mecânica” (1971) do diretor Stanley Kubrick continua urgente e
moderno. Como todos os filmes do diretor, “Laranja Mecânica” que transmitir
muito mais do que conta a narrativa: uma história sobre uma sociedade
distópica aterrorizada por gangues
juvenis sob um Estado que planeja resolver seus problemas políticos através de
uma técnica de lavagem cerebral. O verdadeiro núcleo simbólico do filme somente
poderia ser compreendido através da chamada “Trilogia Star Child” sugerida pelo
cineasta e escritor canadense J. F. Martel, composta por “Dr Fantástico”, “2001:
Uma Odisséia no Espaço” e “Laranja Mecânica”. Esse núcleo espiritual e místico
da trilogia é que manteria esses filmes atemporais como verdadeiros arquétipos
contemporâneos.
Certa vez Kubrick disse para o
ator Jack Nicholson: “Nós não estamos interessados em fotografar a realidade.
Nós estamos interessados em fotografar a fotografia da realidade”. Talvez isso
explique porque, quarenta e dois anos depois, o filme “Laranja Mecânica” continue
atual e com um mesmo caráter de urgência: o filme possui uma estranha atmosfera
atemporal como se a sua narrativa ocorresse em um mundo alternativo, análogo ao
nosso. A cenografia sugere um futuro ao mesmo tempo familiar e estranho, onde
os detalhes banais do cotidiano são distorcidos.
Foi lançado em 1971, com linhas
de diálogos que seguem à risca a linguagem do livro original de Burguess de
1962 (mistura de gírias, inglês shakespeariano e expressões comuns), mas com um
visual que parece de 2013. A pontuação musical é variada, indo da Nona Sinfonia
de Beethoven à canção “Singin’ in the Rain”. Em outras palavras, a
atemporalidade de “Laranja Mecânica” vem da sua deliberada hiper-realidade. Seu
centro parece ser místico, como se Kubrick quisesse capturar algo de
arquetípico, gnóstico, que transcende o tempo e o espaço: a própria
configuração psíquica.
domingo, abril 07, 2013
A necessidade do ritual de sacrifício humano no filme "O Segredo da Cabana"
domingo, abril 07, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que acontece quando
o filme clássico “A Morte do Demônio” (Evil Dead) de 1981 se encontra com “Matrix” e "Show de Truman"?
Temos o surpreendente filme “O Segredo da Cabana” (The Cabin in the Woods, 2011),
um instigante jogo metalinguístico em múltiplos níveis que vai da sátira ao
gênero “slasher movies” às origens míticas da necessidade de antigos arquétipos
e mitos serem revividos e renovados em diversos formatos, da antiguidade à
indústria de entretenimento contemporânea. Por que ritos antiquíssimos de
sacrifícios humanos precisam ser repetidos a cada filme? Por que jovens que
fazem sexo sempre morrem com requintes sadísticos em cada roteiro hollywoodiano?
É o que pretende responder o diretor Drew Goddard em “O Segredo da Cabana”.
Quando Sam Reimi escreveu e
dirigiu “A Morte do Demônio” (Evil Dead, 1981) certamente não imaginava que a
situação de cinco jovens em uma remota cabana tomada por demônios em uma
floresta se tornaria um plot prototípico de todos os chamados “slash” ou “exploited”
movies - onde sempre um assassino surge do nada para atacar um grupo com
requintes de tortura, sadismo e perversão sexual.
Mais do que isso, talvez não
imaginasse que nesse meio tempo o mainstream
hollywoodiano embarcaria em uma fase “metafísica” de auto-desconstrução como em
“Show de Truman” ou de desconstrução gnóstica da própria realidade como em
“Matrix” e “Vanilla Sky”. O resultado foi o surgimento de toda uma geração de
roteiristas e diretores (Charlie Kaufman, Christopher Nolan, irmãos Wachowsky,
Tarantino etc) com uma visão metalinguística, desconstrucionista ou de
distanciamento irônico em relação aos gêneros, fórmulas ou clichês do cinema
comercial.
Somente é possível compreender
integralmente o filme “O Segredo da Cabana” (The Cabin in the Woods, 2011)
colocando-o dentro desse contexto de produções cinematográficas cada
vez mais auto-referenciais e que, por isso, permitem muitas vezes a possibilidade de expressar agudas visões
críticas no meio do mainstream
hollywoodiano, como no caso desse filme.
sexta-feira, outubro 12, 2012
Os Cátaros, Paulo Coelho e o turismo esotérico
sexta-feira, outubro 12, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Escalar uma "montanha
mágica" nos Pirineus para encontrar a fortaleza dos heréticos Cátaros do século
XII. O problema é que, para eles, toda a suposta beleza dos céus e da Terra era
“obra de um demônio”. Mas para um turista esotérico isso não importa: a jornada
descrita pelo famoso escritor de best sellers esotéricos Paulo Coelho confirma
os principais mitos dessa agenda “new age” cujo imaginário criou um subgênero
na indústria do turismo. Os mitos dessa jornada: Os “Sinais”, O “Todo”, Os “Lugares
Especiais” e O “Antigo”.
Em uma das minhas visitas à cidade de Santos (meus pais
moram lá) me detive diante de uma banca de jornal e parei na primeira
página do jornal “A Tribuna de Santos”. Era domingo, dia em que o jornal vem
com o suplemento “ATrevista”, uma revista de variedades culturais, culinárias e
dicas de compras. Temas bem amenos para um típico domingo santista ensolarado e
quente. Folheando a revista, perdido entre receitas culinárias e páginas
publicitárias, encontro uma coluna do famoso escritor de best sellers esotéricos Paulo Coelho intitulado “Montanha Mágica”
(clique aqui para ler).
O texto começa com uma típica descrição turística sobre “uma
das as mais belas regiões do mundo”, Languedoc nos Pirineus e Sudoeste da
França. “Mas foi nesse lugar magnífico que nasceu a
primeira grande “heresia” europeia: o catarismo. Muitos livros foram escritos
sobre o tema, entretanto, é possível resumir a filosofia cátara numa simples
frase: o universo foi criado pelo demônio. Toda esta beleza aparente é uma obra
diabólica.” Uauuu! Que tema para um domingo de sol e praia!
Para quem não
sabe, os Cátaros foram os responsáveis pelo reaparecimento do Gnosticismo na
Europa no século XII, esparramados pelo Sul da França, Languedoc, Catalunha e
norte da Itália. Foi um movimento cristão considerado herético pela Igreja, com
forte paralelo com os gnósticos do princípio da era cristã, mais precisamente
com o dualismo de Mani (viveu no Irã no século III) que sustentava que o cosmos
seria dividido por dois poderes opostos: o Bem e o Mal, o verdadeiro Deus e o
Demiurgo, uma divindade decaída e enlouquecida com o próprio poder que nos
aprisiona em um universo físico corrompido.
terça-feira, julho 24, 2012
O Coringa e o massacre do Colorado
terça-feira, julho 24, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Os pensamentos são coisas”
(antigo aforismo oriental)
Desde que o ator Jack Nicholson falou “Eu o avisei!” após a morte do
ator Heath Ledger pouco depois de interpretar o Coringa no filme “Batman: o
Cavaleiro das Trevas”, estranhas “coincidências” passaram a cercar esse
personagem. Nicholson havia interpretado o Coringa em versão anterior do Batman
do diretor Tim Burton. Parecia que ele já havia experimentado a estranha força
desse personagem, espécie de alter ego invertido do protagonista Batman. O
massacre provocado por um atirador na estreia do novo filme do Batman em um
cinema em Aurora, Colorado (EUA), reabre essa discussão: será que esse episódio
é um eco de uma realidade mais profunda que se tenta esconder?
James Holmes foi preso pouco
depois dos disparos e afirmou ser o Coringa para os policiais. O fato de que
muitos fãs foram fantasiados à estreia de “Batman: O Cavaleiro das Trevas
Ressurge”, permitiu ao agressor passar despercebido com máscara de gás e uma
escopeta AR-15.
O próprio pai de Heath Ledger, Kim
Ledger, apressou-se a dizer que “não devemos culpar Heath Ledger ou o
personagem”. A pressa com que Kim Ledger fez essa declaração e o próprio
interesse imediato dos jornalistas em saber o que ele pensava sobre tudo isso revelam
um ato falho: há algo de mais profundo nesse episódio, para além do controle de
armas e munições. Ainda estamos em uma discussão sobre as relações de
causa-efeito. A “loucura” de Holmes encontrou farta disponibilidade de armas e
bombas para se materializar. Mas fica em suspenso a questão: que espécie de “loucura”
é essa?
Dentro do histórico de
atiradores e serial killers na cultura norte-americana, dois elementos chamam a
atenção: primeiro, o atirador não se matou (ou pelo menos não houve tempo para
isso); segundo, faltou o elemento narcísico: o atirador não deixou nenhum vídeo
destinado à divulgação pelas mídias sobre “explicações” do porquê do seu ato.
Parece que o caso do massacre do Colorado não se enquadra no script de casos
anteriores como Columbine. Podemos formular uma hipótese: e se esse caso do
Colorado for a expressão mais dramática e mortal de um fato que é mais
corriqueiro do que imaginamos? Explicando melhor, será que Holmes levou a sua
performance ao extremo em uma sala de cinema onde muitos estavam fantasiados
com os personagens do filme Batman? Ele levou à sério demais seu personagem?
terça-feira, julho 17, 2012
"Ad-Gnose: a Engenharia do Espírito na Publicidade" será discutida na COMUNICON 2012
terça-feira, julho 17, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Foi aceito o resumo expandido de um artigo científico desse
humilde blogueiro submetido à comissão de avaliação do II Congresso Internacional
Comunicação e Consumo - COMUNICON 2012, evento que será realizado nos dias 15 e
16 de outubro na Escola Superior de Propaganda e Marketing em São Paulo com o
tema “Comunicação, Consumo e Ação Reflexiva: caminhos para a educação do
futuro” (clique aqui para ver a programação). O resumo expandido refere-se ao artigo “Ad-gnose: a engenharia do
espírito na publicidade”.
O artigo será apresentado dentro do Grupo de Trabalho"Comunicação, Consumo e Cultura Contemporânea; Imagem, Cidade e Juventude"
“Ad-gnose” foi um conceito criado a partir das pesquisas
nesse blog sobre a linguagem publicitária contemporânea: as estratégias publicitárias atuais
estão para além do comportamental, subliminar ou da captura das fantasias
compulsivas ou impulsivas. Atualmente busca-se um nível mais profundo: o
repertório da simbologia arquetípica da espécie humana. A fase “Este é o
produto, agora compre-o!” foi deixada no passado para, em seu lugar,
consolidar-se a prospecção dos simbolismos mais profundos da alma humana que
procura apresentar o consumo como uma experiência espiritual de
autoconhecimento.
A
Publicidade parece que assimilou todas as críticas feitas a ela ao longo da
história (consumismo, superficialidade, frivolidade, materialismo etc.) e
procura demonstrar que mudou, se espiritualizou e não vê mais o consumo como
mero ato de aquisição, mas de enriquecimento espiritual.
É claro
que esse conceito de “Ad-Gnose” (advertising + "gnosis", iluminação espiritual) é crítico e irônico: buscar a experiência
espiritual (a transcendência) numa troca econômica (imanência) que pressupõe
todo um sistema econômico e político que se impõe como um princípio de
realidade é, na verdade, confinar as aspirações contidas nos arquétipos,
transformando-as em dócil e resignada motivação para o consumo.
Leia
abaixo o resumo expandido do conteúdo a ser discutido na COMUNICON 2012:
quarta-feira, setembro 28, 2011
Reflexões sobre o Gótico, o Estranho e o Fantástico
quarta-feira, setembro 28, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O Gótico, o Estranho e o Fantástico são elementos presentes em diversos gêneros cinematográficos representando a erupção de medos arcaicos e inconscientes que paradoxalmente são instrumentalizados pela indústria do entretenimento. São a base da linha de continuidade entre a narrativa fílmica e a experiência religiosa do "Sagrado".
Conceitos recorrentes nas análises empreendidas por esse blog, vamos agora tentar precisar melhor essas ideias e estabelecer alguns contrastes.
Apesar das importantes diferenças entre os gêneros fílmicos ficção científica, filme noir, horror e fantasia, todos eles partilham dos mesmos elementos góticos: o obscurecimento das fronteiras entre mundos familiarmente realistas e estranhas terras de estranhos sonhos; a mistura ambígua entre percepção e projeção; o conflito entre razão e inconsciência.
Conceitos recorrentes nas análises empreendidas por esse blog, vamos agora tentar precisar melhor essas ideias e estabelecer alguns contrastes.
Apesar das importantes diferenças entre os gêneros fílmicos ficção científica, filme noir, horror e fantasia, todos eles partilham dos mesmos elementos góticos: o obscurecimento das fronteiras entre mundos familiarmente realistas e estranhas terras de estranhos sonhos; a mistura ambígua entre percepção e projeção; o conflito entre razão e inconsciência.
Esses elementos
góticos estão intimamente relacionados com o movimento do Romantismo no séculos
XVIII-XIX. Samuel Taylor Coleridge, autor do conto The Rime of Ancient Mariner, parece sugerir isso ao afirmar que:
“Pessoas e personagens sobrenaturais, ou no mínimo românticas, ainda que se transfiram para dentro da nossa natureza íntima dando um interesse humano e um aspecto de verdade suficientes para suspender a descrença do momento, constituem a fé poética.”[1]
O que Coleridge
chama de “sobrenatural” ou “romântico”, poderíamos definir como gótico: uma
narrativa como The Rime na qual
presenças invisíveis, locais exóticos e eventos extraordinários são dominantes.
Esse tipo de trabalho paira entre a realidade e a fantasia de maneira que
passamos a considerar seriamente eventos que, de outra forma, normalmente não
aceitaríamos. Este nível de dissolução das fronteiras entre credulidade e
incredulidade é a chamada “ironia romântica”. Leva o leitor a acreditar no
inacreditável. Encoraja-o a questionar a realidade empírica.
sábado, agosto 06, 2011
O Herói Alquímico no filme "Sinédoque, Nova York"
sábado, agosto 06, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme "Sinédoque, Nova York" aprofunda ainda mais a simbologia gnóstica e alquímica dos trabalhos anteriores de Charlie Kaufman como roteirista. Narra a jornada do herói que busca a individuação numa cultura marcada pelo medo do anonimato e da insignificância do gesto individual. Através de uma verdadeira jornada alquímica de transformação busca a verdade numa sociedade inautêntica.
“Sinédoque, Nova York” é o primeiro filme como diretor de Charlie Kaufmann, roteirista de filmes anteriores como “Quero ser John Malkovich”(Being John Malkovich, 1999), “Adaptação” (Adaptation, 2002) e “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”(Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004). Tal como nesses filmes extravagantemente conceituais, aqui, como diretor, Kaufmann tem a plena liberdade em desenvolver todos os simbolismos lançados nos trabalhos passados.
Os trabalhos de Kaufman como roteirista já transitavam por simbolismos de inspiração na mitologia gnóstica como a discussão da reencarnação como uma prisão para o espírito no cosmos físico em “Quero Ser John Malkovich” (veja links abaixo) e o indivíduo prisioneiro em um mundo mental cujas memórias são manipuladas por um Demiurgo tecnognóstico em “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”.
Dessa vez, e com plena liberdade, Kaufman aprofunda ainda mais todos esses simbolismos ao empreender uma jornada alquímica no sentido dado pelo psicanalista Jung. Em entrevistas, Charlie Kaufman tem salientado que não pretende fazer filmes que tentam transpor para a tela as imagens dos sonhos, mas, ao contrário, explorar a vida interior dos protagonistas por meio de narrativas oníricas. Em outras palavras, ele pretende transpor a narrativa onírica composta por metáforas e metonímias (condensações e deslocamentos, como dizia Freud) para a narrativa fílmica. Daí o nome do filme “Sinédoque” que é uma forma de linguagem metonímica como veremos adiante.
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