domingo, dezembro 27, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por que TVs europeias, principalmente alemãs, a cada 31 de dezembro
exibem um velho curta em preto e branco chamado “Dinner For One”, desde 1963?
Alemanha, Leste Europeu e países nórdicos exibem todo final de ano o curta
original ou versões com um humor mais politicamente correto. “Dinner For One” é
a síntese da fleugma e humor negro inglês: uma senhora da alta sociedade
comemora seus 90 anos e um mordomo finge servir a convidados em uma grande mesa
de jantar com cadeiras vazias – são os lugares de amigos de outras comemorações,
já falecidos. Um bizarro mix de embriaguez involuntária, morte e aniversário. Por
que a cada final de ano os europeus continuam assistir fascinados a esse
estranho curta?
A cada final de
ano ocorre um fenômeno politicamente incorreto na TV europeia. Nesse final de
ano, certamente esse curta será reproduzido em diversos países do continente,
principalmente na Alemanha. Nesse país em 1963 foi produzida a versão original
do curta que acabou ganhando diversas versões, principalmente nos países
nórdicos além de países do Leste Europeu como Lituânia, Estônia e Ucrânia.
Estamos falando do
curta Dinner For One (aka The 90th Birthday) performado pelos
comediantes ingleses Freddie Frinton e May Warden. O curta é baseado em um
pequeno sketch de comédia escrito por Lauri Wylie para o teatro em 1920. A
versão mais popular é essa que apresentamos aos leitores do “Cinegnose”, produzido
pela TV alemã em 1963 com texto original em inglês com uma pequena introdução
em alemão - assista ao curta abaixo.
O curta foi vetado
ou adaptado em muitos países para versões menos “etílicas”: a versão original
(e mais popular) é considerada excessivamente incorreta por mostrar um
excessivo consumo de bebidas alcoólicas.
Embora seja
reproduzida a cada 31 de dezembro, o curta não se trata de uma comemoração de
Ano Novo: tudo ocorre em um jantar de aniversário dos 90 anos de Miss Sophie,
uma sofisticada inglesa da alta sociedade. O curta mostra Miss Sophie (May
Warden) com o seu mordomo chamado James (Freddie Frinton) que serve
sofisticadas iguarias em uma grande mesa de jantar. Eles fingem servir e
conversar com amigos já falecidos como se estivessem sentados à mesa
comemorando mais um aniversário da protagonista.
O curta é
atravessado pelo irresistível bordão: “The same procedure as last year?”(“O
mesmo procedimento do ano passado?”), pergunta sempre James. “The same
procedure as every year, James!” (“O mesmo procedimento como todo ano,
James!”), responde Miss Sophia.
A cada rodada de
pratos, James serve uma bebida correspondente nos copos dos convidados
imaginários. O mordomo é forçado a beber todos copos como se cada “convidado” (
chamados Mr. Pomeroy, Mr. Winterbottom, Sir Toby e o Almirante von Schneider)
estivesse oferecendo um brinde à aniversariante. A cada rodada James tem que
personificar cada um dos convivas. De forma cada vez mais engraçada, o álcool
começa a exercer sua influência sobre o pobre mordomo – a cada minuto fica mais
difícil equilibrar as travessas, servir cada um dos convidados e driblar o
tapete de pele de um tigre cuja cabeça insiste em fazê-lo tropeçar.
Terminado o
jantar, Miss Sophie anuncia ao muito bêbado James que deseja se retirar para
sua cama, ao que o mordomo pergunta: “By the way, the same procedure as last
year, Miss Sophie?” (“A propósito, o mesmo procedimento como no ano passado,
Miss Sophie?).
E docemente, Miss
Sophie responde: “The same procedure as every year” (“O mesmo procedimento como
todo ano”). E a tirada final maliciosa do mordomo: “Well, I’ll do my very
best!” (“Bem, então farei o meu melhor!”).
A crítica
especializada se pergunta do porquê desse fenômeno que se perpetua a cada ano,
o chamam de “bizarro fascínio” por esse velho curta metragem germano-britânico.
Além do diálogo
entre os protagonistas ser bem simples (permitindo a compreensão mesmo daqueles
com pouca familiaridade com o inglês) o curta é bem politicamente incorreto
para a sensibilidade contemporânea: a proximidade dos temas da embriagues
involuntária e a morte – uma aniversariante tão idosa que todos os seus amigos
já morreram.
Pátria do
“politicamente correto”, o curta jamais foi transmitido nos EUA.
A graça do curta é
que ele sintetiza a fleugma e o humor negro inglês: os ingleses parecem ter uma
espécie de frieza diante das adversidades, que combatem com estoicismo – o
mordomo enfrentando a embriaguez involuntária tentando não perder a elegância e
a Miss Sophie que insiste em manter a rotina anual, mesmo diante da morte de
amigos e entes queridos.
É esse estoicismo
do curta Dinner For One que parece
fascinar a cada virada de ano: apesar do tempo andar sempre e rápido para a
frente, o bordão “o mesmo procedimento” parece corresponder a esse desejo
nostálgico de um passado mais seguro.
Apesar do tempo
nos consumir e, a certa altura da vida, começar a tirar de nós tudo o que temos
e amamos, estoicamente tentamos nos comportar como os protagonistas – manter os
mesmos procedimentos que resistem à flecha do tempo.
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Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, organizado pelo Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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