segunda-feira, setembro 21, 2015

Em Observação: "Perdido em Marte" (2015) - filme gnóstico ou propaganda da NASA?

Para os críticos “Perdido em Marte”(The Martian, 2015) é um sci-fi de Ridley Scott bem diferente daqueles sombrios e influentes do passado: é um conto otimista de luta pela sobrevivência, um cruzamento de “Gravidade” com “O Náufrago”. Mas, como sempre, Scott lida com o protagonista estrangeiro em lugares hostis quem tem que lutar contra tudo para resgatar algo de bom em si mesmo. Tanto o livro no qual o filme se baseou quanto a produção de Scott tiveram forte apoio e consultoria da NASA que atualmente luta pela aprovação de orçamento no Congresso para missão à Marte. O que o “Cinegnose” procurará responder: o filme é mais uma obra de Scott que explora elementos gnósticos ou uma peça de propaganda NASA-Governo-Hollywood?

Título: Perdido em Marte (The Martian)

Diretor: Ridley Scott

Plot: Matt Damon interpreta um biólogo astronauta chamado Mark Watney, membro de uma equipe que estuda o solo em Marte, formada por Johanssen (Kate Mara), Beck (Sebastian Stan), Martinez (Michael Peña), Vogel (Aksel Hennie) e a comandante Lewis (Jessica Chastain). Durante uma tempestade de areia, o grupo é obrigado a evacuar às pressas, mas Mark é atingido por uma antena e fica desacordado. Sem tempo nem visibilidade para procurá-lo e recebendo sinais de que o traje do parceiro fora perfurado, Lewis autoriza a retirada, deixando-o para trás. Por uma enorme coincidência, porém, Mark consegue sobreviver e, ao acordar, descobre que está sozinho, com suprimento suficiente para poucos meses e um tempo estimado até o resgate de quatro anos. Isso, se ele conseguir se comunicar com a Nasa.

Por que está “Em Observação”?Como afirmamos em postagem anterior sobre o filme Êxodo: Deuses e Reis, o diretor Ridley Scott é um daqueles artistas que contam a mesma história em toda a sua vida: narrativas sobre um protagonista que se sente um estrangeiro e que, por isso, desafia a tudo e a todos ao seu redor para, no final, resgatar algo que é precioso para si mesmo. Foi assim desde a Sigourney Weaver em Alien de 1979 até a sua interpretação do personagem bíblico Moisés.


Mais uma vez Scott revisita o tema, dessa vez sobre um astronauta deixado para morrer em Marte depois que uma missão é abortada após as consequências de uma tempestade que força a tripulação a deixar às pressas o planeta.

Sua predileção por personagens abandonados, esquecidos em um planeta qualquer ou mesmo na Terra (como em Blade Runner de 1982) somado ao seu ateísmo confesso, faz esse blogue se interessar por seus filmes pela sua aproximação da mitologia gnóstica – deuses como criadores enlouquecidos ou insensíveis que vingam-se no homem como em Êxodo, Prometheus ou mesmo em Blade Runner.

Perdido em Marte sugere essa abordagem AstroGnóstica – o astronauta solitário lutando pela sobrevivência como metáfora do homem em um cosmos sem Deus, ou, no mínimo, com um deus que o odeia.

Porém a crítica vem apontando para um filme bem diferente: um sci-fi alegre, com emoções positivas, baseado no livro best-seller do engenheiro de software norte-americano Andy Weir com um tom de autoajuda sobrevivencialista.

O livro The Martian de Weir foi elogiado pela sua precisão científica, assim como o filme de Scott. Principalmente porque a NASA ajudou tanto  o autor do livro como a produção e consultoria científica ao filme. Jim Green, diretor de Ciências Planetárias da NASA, convidou tanto Weir como Scott para ver protótipos de habitats, rovers e equipamentos que a agência vem construindo para a missão real à Marte.


Sabendo-se que o presidente Barack Obama anunciou recentemente o cronograma para uma viagem tripulada para Marte para a década de 2030 e que ele está em pleno embate com o Congresso para a aprovação do orçamento para a NASA, fica uma questão: Perdido em Marte poderia fazer parte de uma deliberada estratégia de propaganda opinião para tornar o projeto mais aceitável para a opinião pública?

 Soldados americanos deixados para trás e que se tornam heróis é uma tática manjada de propaganda desde os filmes durante a Segunda Guerra Mundial, passando pelo Resgate do Soldado Ryan (1998) com Tom Hanks até os filmes recentes sobre as guerras no Iraque. Tão manjada que o filme Mera Coincidência (Wag The Dog, 1997) tirou o sarro dessa jogada com um vídeo de propaganda sobre um suposto “soldado Schumman” deixado para trás na Albânia, nas mãos de maldosos terroristas. Vídeo inventado para distrair a atenção dos eleitores de um escândalo sexual na Casa Branca.

Por isso, fica a questão para o Cinegnose responder após esse humilde blogueiro assistir ao filme: Perdido em Marte é mais um filme onde Ridley Scott explora elementos gnósticos e exercita seu ateísmo ou “Sir Scott” está fazendo parte de uma estratégia de propaganda NASA-Governo-Hollywood?


O que esperar? – Para muitos críticos, esse filme é bem diferente dos sci-fi sombrios e influentes do passado da carreira de Ridley Scott: um conto otimista sobre a luta pela sobrevivência. Uma mistura com o realismo e precisão científica de Gravidade com a filosofia de autoajuda e humor de O Náufrago. Também os críticos vem apontando um ponto fraco no filme: por dar tanta atenção aos detalhes científicos e o realismo das cenas, acabou não explorando suficientemente o lado humano do protagonista.

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