Para os críticos “Perdido em Marte”(The Martian, 2015) é um sci-fi de Ridley Scott bem
diferente daqueles sombrios e influentes do passado: é um conto otimista de
luta pela sobrevivência, um cruzamento de “Gravidade” com “O Náufrago”. Mas,
como sempre, Scott lida com o protagonista estrangeiro em lugares hostis
quem tem que lutar contra tudo para resgatar algo de bom em si mesmo. Tanto o
livro no qual o filme se baseou quanto a produção de Scott tiveram forte apoio
e consultoria da NASA que atualmente luta pela aprovação de orçamento no
Congresso para missão à Marte. O que o “Cinegnose” procurará responder: o filme
é mais uma obra de Scott que explora elementos gnósticos ou uma peça de
propaganda NASA-Governo-Hollywood?
Diretor: Ridley Scott
Plot: Matt Damon interpreta um
biólogo astronauta chamado Mark Watney, membro de uma equipe que estuda o solo
em Marte, formada por Johanssen (Kate Mara), Beck (Sebastian Stan), Martinez
(Michael Peña), Vogel (Aksel Hennie) e a comandante Lewis (Jessica Chastain).
Durante uma tempestade de areia, o grupo é obrigado a evacuar às pressas, mas
Mark é atingido por uma antena e fica desacordado. Sem tempo nem visibilidade
para procurá-lo e recebendo sinais de que o traje do parceiro fora perfurado,
Lewis autoriza a retirada, deixando-o para trás. Por uma enorme coincidência, porém, Mark consegue sobreviver e, ao
acordar, descobre que está sozinho, com suprimento suficiente para poucos meses
e um tempo estimado até o resgate de quatro anos. Isso, se ele conseguir se
comunicar com a Nasa.
Por que está “Em Observação”? – Como afirmamos em postagem anterior sobre o filme Êxodo: Deuses e Reis, o diretor
Ridley Scott é um daqueles artistas que contam a mesma história em toda a sua
vida: narrativas sobre um protagonista que se sente um estrangeiro e que, por
isso, desafia a tudo e a todos ao seu redor para, no final, resgatar algo que é
precioso para si mesmo. Foi assim desde a Sigourney Weaver em Alien de 1979 até a sua interpretação do
personagem bíblico Moisés.
Mais uma vez Scott
revisita o tema, dessa vez sobre um astronauta deixado para morrer em Marte
depois que uma missão é abortada após as consequências de uma tempestade que
força a tripulação a deixar às pressas o planeta.
Sua predileção por
personagens abandonados, esquecidos em um planeta qualquer ou mesmo na Terra
(como em Blade Runner de 1982) somado
ao seu ateísmo confesso, faz esse blogue se interessar por seus filmes pela sua
aproximação da mitologia gnóstica – deuses como criadores enlouquecidos ou
insensíveis que vingam-se no homem como em Êxodo,
Prometheus ou mesmo em Blade Runner.
Perdido em Marte sugere essa abordagem AstroGnóstica –
o astronauta solitário lutando pela sobrevivência como metáfora do homem em um
cosmos sem Deus, ou, no mínimo, com um deus que o odeia.
Porém a crítica
vem apontando para um filme bem diferente: um sci-fi alegre, com emoções
positivas, baseado no livro best-seller do engenheiro de software
norte-americano Andy Weir com um tom de autoajuda sobrevivencialista.
O livro The Martian de Weir foi elogiado pela
sua precisão científica, assim como o filme de Scott. Principalmente porque a
NASA ajudou tanto o autor do livro como
a produção e consultoria científica ao filme. Jim Green, diretor de Ciências
Planetárias da NASA, convidou tanto Weir como Scott para ver protótipos de
habitats, rovers e equipamentos que a agência vem construindo para a missão
real à Marte.
Sabendo-se que o
presidente Barack Obama anunciou recentemente o cronograma para uma viagem
tripulada para Marte para a década de 2030 e que ele está em pleno embate com o
Congresso para a aprovação do orçamento para a NASA, fica uma questão: Perdido em Marte poderia fazer parte de
uma deliberada estratégia de propaganda opinião para tornar o projeto mais
aceitável para a opinião pública?
Soldados americanos deixados para trás e que
se tornam heróis é uma tática manjada de propaganda desde os filmes durante a
Segunda Guerra Mundial, passando pelo Resgate
do Soldado Ryan (1998) com Tom Hanks até os filmes recentes sobre as
guerras no Iraque. Tão manjada que o filme Mera
Coincidência (Wag The Dog, 1997)
tirou o sarro dessa jogada com um vídeo de propaganda sobre um suposto “soldado
Schumman” deixado para trás na Albânia, nas mãos de maldosos terroristas. Vídeo
inventado para distrair a atenção dos eleitores de um escândalo sexual na Casa
Branca.
Por isso, fica a
questão para o Cinegnose responder
após esse humilde blogueiro assistir ao filme: Perdido em Marte é mais um filme onde Ridley Scott explora
elementos gnósticos e exercita seu ateísmo ou “Sir Scott” está fazendo parte de
uma estratégia de propaganda NASA-Governo-Hollywood?
O que esperar? – Para muitos críticos, esse filme é
bem diferente dos sci-fi sombrios e influentes do passado da carreira de Ridley
Scott: um conto otimista sobre a luta pela sobrevivência. Uma mistura com o
realismo e precisão científica de Gravidade com a filosofia de autoajuda e
humor de O Náufrago. Também os críticos vem apontando um ponto fraco no filme:
por dar tanta atenção aos detalhes científicos e o realismo das cenas, acabou
não explorando suficientemente o lado humano do protagonista.