sexta-feira, dezembro 26, 2025

Liquidação do Banco Master vira na mídia um filme noir tropical de Natal


Enquanto as luzes de Natal e os votos de esperança tentam ditar o ritmo do fim de ano, as redações do jornalismo corporativo brasileiro decidiram rodar um roteiro diferente: um autêntico filme noir tropical. Entre sombras de fontes em off, "femme fatales" do colunismo e tramas de corrupção urbana, a grande mídia abandona a celebração da democracia para encenar uma narrativa de ambiguidade e cinismo. Neste enredo, o herói de ontem — o STF — é subitamente escalado para o papel de anti-herói, revelando que, no hibridismo da linguagem midiática, a busca por "transparência" costuma ser apenas um pretexto para proteger ativos geopolíticos e os interesses da Faria Lima. Por trás da retórica da transparência do jornalismo corporativo no caso Banco Master, esconde-se a proteção ao espólio da Lava Jato e a inquietação da Faria Lima diante do avanço das investigações sobre o crime organizado.

O filme noir, cujo ápice nos EUA foi nos anos 1940-50, era um estilo cinematográfico sombrio, com narrativas ambíguas protagonizadas por anti-heróis cínicos nas quais era impossível determinar quem era mocinho e bandido.  As tramas eram sempre complexas e pessimistas, as mulheres sedutoras (femme fatale) e com temas de fatalismo, corrupção e decadência urbana, ambientados à noite e usando flashbacks e narração em off para criar ainda mais desorientação.

Este humilde blogueiro pergunta ao leitor: esta narrativa combinaria com o clima de confraternização e esperança das festas de final de ano?  Certamente não, pelo menos dentro do cânone do cinema e audiovisual.

Mas dentro do hibridismo da linguagem jornalística corporativa da grande mídia brasileira, sim! É possível.

Uma combinação alucinante entre as tradicionais notícias diversas de final de ano, como, por exemplo, campanhas de festas de Natal sem fome, imagens de idosos alemães com gorros de papai-noel mergulhando em lagos gelados no Natal, Papa Leão XIV na Missa do Galo conclamando os fiéis a não se tornarem “meras mercadorias” no Capitalismo... Tudo isso ao lado de uma verdadeira trama noir envolvendo femme fatales do jornalismo declaratório de fontes off do colunismo de produção de notinhas diárias – Malu Gaspar (O Globo), Eliane Catanhede (Estadão) et caterva...

A trama noir tropical “começa” no jornal O Globo, onde a “colonista” Malu Gaspar garante (escudada em “seis fontes” em sua coluna no jornalão) que o Ministro Alexandre de Moraes procurou o presidente do BC, Gabriel Galípolo, para tratar do Banco Master.  Os efeitos da aplicação da Lei Magnitsky contra os ministros do STF teria sido apenas um simples pretexto.

Na verdade a súbita animosidade seletiva da grande mídia contra o STF (depois de os ministros da casa serem promovidos como verdadeiros paladinos da defesa da Democracia contra a “trama golpista”) começou com a autorização do ministro Dias Toffoli do mandado de busca e apreensão da PF na 13ª Vara Federal de Curitiba para a busca de documentos sensíveis contra o então juiz Sérgio Moro, no âmbito da Operação Lava Jato – a apreensão da famosa “caixa amarela”, que, segundo o ex-deputado estadual Tony Garcia, guardaria cerca de 400 horas de escutas clandestinas feitas a mando de Moro para, através da chantagem contra juízes e magistrados, azeitar as operações da Lava Jato.

Sabemos que a Lava Jato é o grande ativo (geopolítico e de credibilidade) do jornalismo corporativo – o máximo de crítica aceita é o fato de Sérgio Moro ter “passado para o outro lado do balcão” quando aceitou ser ministro do Governo Bolsonaro.

Mas JAMAIS poderá ser colocado em xeque o mérito da 13ª Vara Federal de Curitiba e suas relações promíscuas com o colunismo declaratório off de homme e femme fatales.


Xandão: o anti-herói noir

Pois bem, se o ministro responsável por autorizar as operações da PF envolvendo as ações dos golpistas e na condição de grandes inquéritos como a das Fake News, além de ser promovido pela mídia a herói guardião da Democracia brasileira, como uma boa narrativa noir o herói protagonista Alexandre Moraes será sempre um anti-herói.

Não existem mocinhos num bom enredo noir. De um lado,  Moraes e sua meteórica ascensão de promotor de Justiça a secretário de Segurança Pública de SP quando surgiu rumores de que seu escritório de advocacia prestou serviços para a Transcooper, uma cooperativa de transporte de vans que foi investigada por lavagem de dinheiro do PCC, chegando a ministro da Justiça do governo golpista de Michel Temer que o indica ao STF – no lugar de Teori Zavascki, morto convenientemente (por ameaçar colocar em xeque a Lava Jato) num acidente aéreo no “Triângulo das Bermudas” da política brasileira, clique aqui.

E do outro, as femme fatales “colonistas” como Malu Gaspar e Eliane Catanhede, correias de transmissão do jornalismo declaratório de notinhas em off que ajudou a aposentar de vez a reportagem investigativa nas redações – jornalistas que trabalham sentados diante de telas de dispositivos móveis, que dizem “apurar” as informações, mas mantêm apenas laços promíscuos com as fontes, reproduzindo factoides, balões de ensaio e toda uma variedade de não-acontecimentos para obter mais-valia semiótica.

Para os próprios jornalistas (que se auto investem com o status de “bem-informados”) e para os rendimentos políticos das fontes.

Da mesma forma que a o escritório de advocacia da esposa de Moraes tinha um contrato extravagantemente milionário com o Banco Master. Naturalmente, despertando a suspeita do que Moraes foi tratar com o Galípolo.



E do lado das “fontes” (especula-se quem seria a “fonte” de Malu Gaspar: André Esteves (BTG) e a ciumeira contra os exorbitantes ganhos prometidos pelo Banco Master aos clientes da Faria Lima? Ou teria sido o próprio Galípolo? Clique aqui e aqui) a susceptibilidade da Faria Lima diante da intensificação das operações da PF e Receita Federal (Carbono Oculto, liquidação extrajudicial do Banco Master etc.) que está expondo a rede de proteção política do Congresso (o “Primeiro Comando do Congresso”) e a aproximação da banca financeira com o crime organizado.

O conveniente sumiço de manchetes

De repente, sumiram das manchetes as buscas e apreensões. Não se fala mais das atualizações da Operação Carbono Oculto e muito menos das conexões nada republicanas entre parlamentares e governadores da extrema direita e Centrão com lavagens de dinheiro e o encontro de blocos de dinheiro em espécie em carros e apartamentos.

Também não mais que de repente a palavra “transparência” tornou-se o mantra de “colonistas” e âncoras de telejornais – depois de anos de intensa atividade dos ministros do STF recebendo remuneração e patrocínio por palestras e participação de eventos corporativos financiados por empresas com processos na suprema corte.

O problema é que o blefe e aposta foram muito altas. Desde que a “colonista” Eliane Catanhede, do Estadão, entrou com o apoio hiperbólico escrevendo que “Moraes chegou a ligar seis vezes para Galípolo num dia para tratar da venda do Banco Master ao BRB” (as seis fontes de Malu Gaspar, seis ligações... por que essa fixação pelo número seis?) esperava-se que o pool Globo-Folha-Estadão formasse uma força-tarefa de seus “colonistas” de ponta para socorrer Malu. E manter de pé a denúncia.



Mas na última participação da “colonista” no Estúdio I da Globo News, ela já mudou de assunto. Não sem antes conclamar Gabriel Galípolo, em seu novo artigo de “O Globo”, a “ser mais claro”, numa tentativa retórica de passar a reponsabilidade para o denunciado – para que ele passe o recibo e aumente o rendimento semiótico das acusações baseadas nas “seis fontes” de Malu Gaspar.

Nesse sentido semiótico o ônus da prova cabe ao acusado. Para dar verossimilhança ao acusador...

Seja quem for a fonte off (multiplicada por seis pelo enredo noir de Malu Gaspar), André Esteves ou o próprio Galípolo, sugere um lance semiótico contraditório da Faria Lima:

(a) Demonstra uma evidência de que para a Faria Lima a polarização política já passou do prazo de validade. Principalmente quando a judicialização da política e do 8/1 deixaram de cumprir o papel de abduzir a práxis política da esquerda – virou o fio da navalha, fornecendo uma agenda política virtuosa para Lula da defesa da Democracia.  Com uma ajudazinha do tarifaço de Trump, entregando de bandeja o discurso da defesa da Soberania.

(b) Portanto, hora de fazer os ministros da suprema corte andarem na prancha fazendo a grande mídia voltar a funcionar no modo indignação seletiva, como nos tempos da Lava Jato;

(c) A contradição é que a indignação seletiva da histeria da cobrança por transparência dos negócios privados dos magistrados acaba reforçando a narrativa da extrema direita de que o País vive sob a ditadura do STF e a liberdade política desapareceu num cenário de perseguição política contra os “patriotas”.

Ao ponto de um “colonista” de extrema direita dissimulado como Demétrio Magnoli aparecer candidamente na Globo News afirmando “não sou eu que está dizendo, mas dizem por aí que o TCU está fazendo o trabalho de pistoleiro de Daniel Vorcaro para a Justiça abafar o caso Master” – sobre o TCU, fora das suas atribuições, ter dado prazo de 72h para o BC explicar o porquê da liquidação extrajudicial do Banco Master.

(d) Mas o jornalismo corporativo faz um jogo de ganha-ganha: não é problema mais uma vez empoderar a extrema direita. Para a grande mídia, o que importa é que haja oposição forte o suficiente para embaralhar qualquer governo progressista.

Mesmo que não consiga emplacar a Semiótica Nem-Nem para criar a “terceira via técnica e limpinha”, tão desejada pela Faria Lima.


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