O filme noir, cujo ápice nos EUA foi nos anos 1940-50, era
um estilo cinematográfico sombrio, com narrativas ambíguas protagonizadas por anti-heróis
cínicos nas quais era impossível determinar quem era mocinho e bandido. As tramas eram sempre complexas e
pessimistas, as mulheres sedutoras (femme fatale) e com temas de
fatalismo, corrupção e decadência urbana, ambientados à noite e usando flashbacks
e narração em off para criar ainda mais desorientação.
Este humilde blogueiro pergunta ao leitor: esta narrativa combinaria
com o clima de confraternização e esperança das festas de final de ano? Certamente não, pelo menos dentro do cânone do
cinema e audiovisual.
Mas dentro do hibridismo da linguagem jornalística corporativa da
grande mídia brasileira, sim! É possível.
Uma combinação alucinante entre as tradicionais notícias diversas
de final de ano, como, por exemplo, campanhas de festas de Natal sem fome, imagens
de idosos alemães com gorros de papai-noel mergulhando em lagos gelados no
Natal, Papa Leão XIV na Missa do Galo conclamando os fiéis a não se tornarem “meras
mercadorias” no Capitalismo... Tudo isso ao lado de uma verdadeira trama noir
envolvendo femme fatales do jornalismo declaratório de fontes off do
colunismo de produção de notinhas diárias – Malu Gaspar (O Globo), Eliane
Catanhede (Estadão) et caterva...
A trama noir tropical “começa” no jornal O Globo,
onde a “colonista” Malu Gaspar garante (escudada em “seis fontes” em sua coluna
no jornalão) que o Ministro Alexandre de Moraes procurou o presidente do BC,
Gabriel Galípolo, para tratar do Banco Master.
Os efeitos da aplicação da Lei Magnitsky contra os ministros do STF
teria sido apenas um simples pretexto.
Na verdade a súbita animosidade seletiva da grande mídia contra o
STF (depois de os ministros da casa serem promovidos como verdadeiros paladinos
da defesa da Democracia contra a “trama golpista”) começou com a autorização do
ministro Dias Toffoli do mandado de busca e apreensão da PF na 13ª Vara Federal
de Curitiba para a busca de documentos sensíveis contra o então juiz Sérgio
Moro, no âmbito da Operação Lava Jato – a apreensão da famosa “caixa amarela”, que,
segundo o ex-deputado estadual Tony Garcia, guardaria cerca de 400 horas de
escutas clandestinas feitas a mando de Moro para, através da chantagem contra
juízes e magistrados, azeitar as operações da Lava Jato.
Sabemos que a Lava Jato é o grande ativo (geopolítico e de
credibilidade) do jornalismo corporativo – o máximo de crítica aceita é o fato
de Sérgio Moro ter “passado para o outro lado do balcão” quando aceitou ser
ministro do Governo Bolsonaro.
Mas JAMAIS poderá ser colocado em xeque o mérito da 13ª Vara Federal de Curitiba e suas relações promíscuas com o colunismo declaratório off de homme e femme fatales.
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Xandão: o anti-herói noir
Pois bem, se o ministro responsável por autorizar as operações da
PF envolvendo as ações dos golpistas e na condição de grandes inquéritos como a
das Fake News, além de ser promovido pela mídia a herói guardião da Democracia
brasileira, como uma boa narrativa noir o herói protagonista Alexandre
Moraes será sempre um anti-herói.
Não existem mocinhos num bom enredo noir. De um lado, Moraes e sua meteórica ascensão de promotor de
Justiça a secretário de Segurança Pública de SP quando surgiu rumores de que seu
escritório de advocacia prestou serviços para a Transcooper, uma cooperativa de
transporte de vans que foi investigada por lavagem de dinheiro do PCC, chegando
a ministro da Justiça do governo golpista de Michel Temer que o indica ao STF –
no lugar de Teori Zavascki, morto convenientemente (por ameaçar colocar em
xeque a Lava Jato) num acidente aéreo no “Triângulo das Bermudas” da política
brasileira, clique aqui.
E do outro, as femme fatales “colonistas” como Malu Gaspar
e Eliane Catanhede, correias de transmissão do jornalismo declaratório de
notinhas em off que ajudou a aposentar de vez a reportagem investigativa nas
redações – jornalistas que trabalham sentados diante de telas de dispositivos
móveis, que dizem “apurar” as informações, mas mantêm apenas laços promíscuos
com as fontes, reproduzindo factoides, balões de ensaio e toda uma variedade de
não-acontecimentos para obter mais-valia semiótica.
Para os próprios jornalistas (que se auto investem com o status de
“bem-informados”) e para os rendimentos políticos das fontes.
Da mesma forma que a o escritório de advocacia da esposa de Moraes
tinha um contrato extravagantemente milionário com o Banco Master.
Naturalmente, despertando a suspeita do que Moraes foi tratar com o Galípolo.
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E do lado das “fontes” (especula-se quem seria a “fonte” de Malu
Gaspar: André Esteves (BTG) e a ciumeira contra os exorbitantes ganhos
prometidos pelo Banco Master aos clientes da Faria Lima? Ou teria sido o
próprio Galípolo? Clique aqui e aqui) a susceptibilidade da Faria
Lima diante da intensificação das operações da PF e Receita Federal (Carbono
Oculto, liquidação extrajudicial do Banco Master etc.) que está expondo a rede
de proteção política do Congresso (o “Primeiro Comando do Congresso”) e a
aproximação da banca financeira com o crime organizado.
O conveniente sumiço de manchetes
De repente, sumiram das manchetes as buscas e apreensões. Não se
fala mais das atualizações da Operação Carbono Oculto e muito menos das
conexões nada republicanas entre parlamentares e governadores da extrema
direita e Centrão com lavagens de dinheiro e o encontro de blocos de dinheiro
em espécie em carros e apartamentos.
Também não mais que de repente a palavra “transparência” tornou-se
o mantra de “colonistas” e âncoras de telejornais – depois de anos de intensa
atividade dos ministros do STF recebendo remuneração e patrocínio por palestras
e participação de eventos corporativos financiados por empresas com processos
na suprema corte.
O problema é que o blefe e aposta foram muito altas. Desde que a “colonista”
Eliane Catanhede, do Estadão, entrou com o apoio hiperbólico escrevendo que “Moraes
chegou a ligar seis vezes para Galípolo num dia para tratar da venda do Banco
Master ao BRB” (as seis fontes de Malu Gaspar, seis ligações... por que essa
fixação pelo número seis?) esperava-se que o pool Globo-Folha-Estadão formasse
uma força-tarefa de seus “colonistas” de ponta para socorrer Malu. E manter de
pé a denúncia.
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Mas na última participação da “colonista” no Estúdio I da Globo
News, ela já mudou de assunto. Não sem antes conclamar Gabriel Galípolo, em seu
novo artigo de “O Globo”, a “ser mais claro”, numa tentativa retórica de passar
a reponsabilidade para o denunciado – para que ele passe o recibo e aumente o
rendimento semiótico das acusações baseadas nas “seis fontes” de Malu Gaspar.
Nesse sentido semiótico o ônus da prova cabe ao acusado. Para dar
verossimilhança ao acusador...
Seja quem for a fonte off (multiplicada por seis pelo enredo noir
de Malu Gaspar), André Esteves ou o próprio Galípolo, sugere um lance semiótico
contraditório da Faria Lima:
(a) Demonstra uma evidência de que para a Faria Lima a polarização
política já passou do prazo de validade. Principalmente quando a judicialização
da política e do 8/1 deixaram de cumprir o papel de abduzir a práxis política da
esquerda – virou o fio da navalha, fornecendo uma agenda política virtuosa para
Lula da defesa da Democracia. Com uma
ajudazinha do tarifaço de Trump, entregando de bandeja o discurso da defesa da
Soberania.
(b) Portanto, hora de fazer os ministros da suprema corte andarem
na prancha fazendo a grande mídia voltar a funcionar no modo indignação
seletiva, como nos tempos da Lava Jato;
(c) A contradição é que a indignação seletiva da histeria da
cobrança por transparência dos negócios privados dos magistrados acaba
reforçando a narrativa da extrema direita de que o País vive sob a ditadura do
STF e a liberdade política desapareceu num cenário de perseguição política
contra os “patriotas”.
Ao ponto de um “colonista” de extrema direita dissimulado como
Demétrio Magnoli aparecer candidamente na Globo News afirmando “não sou eu que
está dizendo, mas dizem por aí que o TCU está fazendo o trabalho de pistoleiro de
Daniel Vorcaro para a Justiça abafar o caso Master” – sobre o TCU, fora das
suas atribuições, ter dado prazo de 72h para o BC explicar o porquê da
liquidação extrajudicial do Banco Master.
(d) Mas o jornalismo corporativo faz um jogo de ganha-ganha: não é
problema mais uma vez empoderar a extrema direita. Para a grande mídia, o que
importa é que haja oposição forte o suficiente para embaralhar qualquer governo
progressista.
Mesmo que não consiga emplacar a Semiótica Nem-Nem para criar a “terceira
via técnica e limpinha”, tão desejada pela Faria Lima.
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Banco
Master e a tornozeleira danificada: a guerra oculta pelo controle da pauta
midiática |
sexta-feira, dezembro 26, 2025
Wilson Roberto Vieira Ferreira




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