sábado, setembro 05, 2015

Curta da Semana: "Gnosis" - Monstros, bebês e Gnosticismo

O curta dessa semana é “Gnosis” (2013), uma gótica mistura  de monstros, bebês e diversas referências ao Gnosticismo, esoterismo e iluminação spiritual. Tudo isso ao som hipnótico do piano de Erik Satie, precursor das conexões da música de vanguarda moderna com esoterismo e gnosticismo. Dê uma conferida nesse curta.




               Um estranho curta com atmosfera gótica ao estilo das animações de Tim Burton. Gnosis já foi premiado em diversos festivais de animação pelo seu detalhismo, iluminação e técnica – como, por exemplo, o incrível esmero da animadora Thamara Hahn nos dedos que pressionam o teclado de um piano.

Gnosis (2013) é um curta em stop motion sobre monstros que roubam bebês, estranhas criaturas que parecem falhar continuamente em suas travessas tentativas: entram no quarto onde dorme um bebê mas falham, para se transformarem em mais uma criaturazinha em um móbile infantil.

O curta é repleto de referencias ao Gnosticismo, para começar o próprio título do curta: a “gnose” – palavra de origem grega para “conhecimento”, mas utilizada no cristianismo primitivo, islamismo, nas religiões de mistérios e Gnosticismo como “conhecimento espiritual” no sentido de uma iluminação mística ou “insight”. Descoberta de nossa “luz interior” que nos conectaria de volta com a Plenitude.


Todo o curta é acompanhado pela música ao piano do compositor e pianista francês Erik Satie e a sua composição do final do século XIX Gnossiene no 4 – nome derivado de “gnosis”. Satie foi um dos precursores da música de vanguarda minimalista, música repetitiva ou “mântrica” com ligações com o chamado “Teatro do Absurdo”. Satie participou de círculos intelectuais do movimentos gnósticos, esotéricos e teosóficos europeus.

E vemos ainda no curta um dos personagens lendo um conhecido livro nos meios esotéricos: The Gnosis and The Law do grego Tellis Papastravo. O livro é uma espécie de manual sobre a gnose, ascensão espiritual e as Leis Cósmicas que regeriam de planetas e galáxias aos centros endócrinos e os chakras humanos.

O interessante nesse curta é o simbolismo da gnose, a luz e os monstros. A personagem que sobe as escadas e, com a luz da sua vela, ilumina e finalmente aprisiona o monstro que rouba bebês é o próprio propósito do conhecimento associado ao poder da iluminação.


Só que aqui, não tem a ver com as luzes do Iluminismo ou o “século das luzes” – afinal, luzes produzem sombras e o conhecimento pode também criar monstros.

Ao contrário, o curta Gnosis quer fazer alusão à luz espiritual da gnose que ilumina o quarto do bebê reduzindo os monstros a sombras capturadas em um móbile.

Detalhe para a abertura do curta que parece lembrar as antigas capas dos discos da banda de rock progressivo Yes dos anos 1970: diversos mundos flutuando em um estilo do imaginário de J. R. R. Tolkien da série de livros O Senhor dos Anéis. A história que vamos assistir no curta ocorrerá em mais um dessa pluralidade de mundos que flutuam no Cosmos. Uma referência à cosmologia gnóstica dos diversos “céus” que comporiam o Universo.




Ficha Técnica


Título: Gnosis
Diretor: Tamara Hahn
Roteiro: Tamara Hahn
Elenco: criaturas feitas por Megan Cross
Produção: Tamarama Studios
Distribuição: on line Vimeo
Ano: 2013
País: EUA

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