quarta-feira, agosto 31, 2022

'Não! Não Olhe!': resta algo na galáxia que não possa ser explorado como entretenimento?

Em “Não! Não Olhe!” (Nope, 2022) Jordan Peele abandona o terror racial de “Corra” e “Nós” para ingressar no terreno híbrido sci-fi, terror e muita metalinguagem e alusões ao cinema e cultura pop. Aproximando-se da crítica social de “Não Olhe Para Cima”. Algo ameaçador está vindo do céu sobre um rancho que fornece cavalos para produções de cinema e TV. A primeira reação dos protagonistas não é a de lidar com o horror cósmico, mas encontrar uma maneira de monetizar o estranho fenômeno. Numa cultura na qual Tik Tok, YouTube e canais de notícias 24 horas subliminarmente oferecem diante dos nossos olhos a promessa de fama da noite para o dia, como seria possível a expressão do horror cósmico com toda a sua intensidade numa cultura com...

segunda-feira, agosto 29, 2022

Terceira Via, "botão eject" e mais-valia semiótica no debate da Band

Para a grande mídia a senadora Simone Tebet foi a vencedora. Lula teve um “apagão”. E Bolsonaro fez um “ataque misógino”, ironicamente contra um notório desafeto de Lula, a jornalista Vera Magalhães. Somada à mais-valia semiótica de um estúdio que parecia alguma coisa entre o filme Tron e o Metaverso de Mark Zuckerberg, a fórmula de debate engessada, fragmentada e um intervalo publicitário ideologicamente maroto, o script era esse: Lula e Bolsonaro, os dois lados da mesma velha moeda, contra uma “Terceira Via” tão “moderna” quanto o cenário: digital e empreendedora. Lula não caiu na armadilha e ficou na retranca. Enquanto Bolsonaro conseguiu o que pretendia: criar um escândalo no campo simbólico em que fica mais confortável e engaja a base...

domingo, agosto 28, 2022

Cat Stevens, modernidade líquida, viagem no tempo, nas entrelinhas das entrevistas do JN. É a Live de domingo

Tão espantado quanto o Kevin de “Esqueceram de Mim”, esse humilde blogueiro descobre que a Live cinegnose 360 chega na edição #70, nesse domingo (28/08), às 18h, no YouTube... E resistindo a todas as distopias. Depois dos comentários aleatórios, vamos abrir com os vinis de Cat Stevens e sua conversão ao Islamismo: a felicidade de estar triste. E também os filmes “Men” (a masculinidade tóxica na modernidade líquida) e “Efeito Flashback” (a angústia da geração millennial e a necessidade de filmes sobre viagem no tempo). E depois a derradeira edição do Pequeno Dicionário dos Eufemismos e Clichês Linguísticos da Grande Mídia. E a crítica midiática da semana: flagrante de manipulação da mídia OTAN na Ucrânia; Putin espera o “General Inverno” entrar...

sábado, agosto 27, 2022

Entrevista de Lula no JN: Globo subliminarmente prepara o front 'se ganhar, não vai governar'

Lula foi impecável e vibrante. Mas para aqueles que ainda lembram do jornalismo de guerra da Globo, com seus “colonistas” e âncoras no modo “pitbull hidrófobo espumando de raiva” foi surpreendente o comportamento de Bonner e Renata Vasconcellos: uma espécie de fastio ou previsibilidade nas perguntas, como se estivessem fazendo um condensado ou “digest” de todos os clichês dos anos de guerra híbrida: corrupção, MST, Venezuela, Cuba... Na verdade, diante da ascensão irresistível de Lula, a Globo desistiu de confrontá-lo. A entrevista parece que serviu para um outro propósito subliminar: o reforço de pressupostos que servirão de munição para um hipotético segundo turno e além: “foi inocentado, mas não é inocente”; o presidencialismo de coalizão...

sexta-feira, agosto 26, 2022

Viagem no tempo e a angústia dos millennials no filme 'Efeito Flashback'

A Relatividade e a mecânica quântica alteraram radical nossa percepção tempo-espaço, ao ponto do tema da viagem no tempo se tornar um tema recorrente – o fascínio da “segunda chance” em que o passado poderia ser alterado. Mas nada como nesse século, em que o boom de produções sobre o tema reflete a angústia existencial da geração millennial: a angústia do crescimento, maturidade e a necessidade de fazer escolhas. “Efeito Flashback” (2020) é um bom exemplo: um jovem analista de informações que renunciou ao desejo de se tornar um artista visual encontra casualmente um antigo amigo do ensino médio. Um encontro que traz do passado memórias esquecidas que retornam como um flashback. Na verdade, o efeito de uma droga misteriosa da época que...

quinta-feira, agosto 25, 2022

A masculinidade tóxica e líquida no filme 'Men'

Tradicionalmente inspirada na matriz freudiana do Édipo (inocência, culpa etc.), o gênero do terror nesse século está mexendo em um novo lugar nos porões do inconsciente: a má consciência. Como mostra, por exemplo, o terror racial de Jordan Peele. “Men” (2022), de Alex Garland, dessa vez ingressa no terror de gênero: um conto de fadas sombrio no qual a masculinidade tóxica assume uma forma mutante, informe, amoral numa ordem patriarcal que se tornou “líquida”, na acepção de Zygmunt Baumann. Uma jovem viaja para uma idílica vila rural para se recuperar do trauma da morte do seu marido. Não demora muito para ela descobrir que se colocou no centro de um tipo diferente de trauma. Há algo de errado com este lugar, com essas pessoas, que por...

quarta-feira, agosto 24, 2022

Entrevista do Jornal Nacional revela o domínio total de espectro da guerra híbrida

O mais importante na entrevista de Bolsonaro no JN não foram os seus 40 minutos, mas o que veio depois: de ponta a ponta no espectro político, dos QGs de campanhas às forças políticas, todos acharam que venceram. Por que essa espiral interpretativa? Porque há algo de anômalo que vai muito além do dito popular “cada um puxa a brasa para sua sardinha”: o domínio total de espectro do consórcio Partido Militar/Grande Mídia que conseguiu impor o script de normalização “as-instituições-estão-funcionando”. Por isso, o que chamou a atenção na entrevista foi o que não foi questionado a Bolsonaro: crimes de responsabilidade, inconstitucionalidade dos militares fiscalizando eleições, procrastinação da PF e Judiciário diante das provas semanais que...

domingo, agosto 21, 2022

Live Cinegnose: Ella Fitzgerald, privatizações metonímicas, golpe e pedagogia do medo, mídia e hipernormalização

Mudanças climáticas, ameaça de golpe, inflação, o humilde blogueiro fazendo parte das estatísticas dos desempregados e desalentados... mas a Live Cinegnose 360 resiste... nesse domingo (21/08), às 18h, chegamos à edição #69. Na sessão dos vinis, continuamos na vibe do jazz: Ella Fitzgerald – na encruzilhada entre a indústria cultural e a cultura das drogas no jazz. Depois, vamos para o cinema e audiovisual: como entender a série “Sandman” com a filosofia de Alfred Whitehead; e o filme “Viveiro”: o micro e o macrocósmico em um filme gnóstico. E a Parte IV do trepidante “Pequeno Dicionário de Eufemismos e Clichês Linguísticos da Grande Mídia”. Em seguida, a crítica midiática da semana com pauta cheia: grande mídia quer transformar eleições em...

sexta-feira, agosto 19, 2022

Vai ter golpe? A História jamais será transmitida ao vivo pela TV

Nos últimos dias, nunca se ouviu ou se leu tanto o adjetivo “histórico”. Seja na mídia hegemônica ou na progressista. Adjetivando eventos que foram transmitidos ao vivo pela TV: a leitura da Carta em Defesa da Democracia na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, SP, e o discurso do ministro Alexandre de Moraes na solenidade de posse na presidência do TSE. "Históricas" defesas da Democracia. Mas será que a TV consegue mesmo mostrar ao vivo acontecimentos históricos? Ou será que a mídia só escolhe aqueles eventos que confirmem um script pré-estabelecido que já esteja rodando? Qual script? O roteiro do “golpe-pode-estar-à-nossa-espera-na-esquina”. Pedagogia do medo diariamente alimentada por notas plantadas (“agrojornalismo”) nos...

quinta-feira, agosto 18, 2022

Para entender a série "The Sandman" com a filosofia de Alfred Whitehead

A “Filosofia do Processo” de Alfred Whitehead e os mundos fantásticos da obra de Neil Gaiman têm mais coisas em comum do que podemos imaginar. Ambos pensam numa inusitada cosmologia que rompe com a dualidade cartesiana ao proporem universos (no caso de Whitehead, de elétrons a pessoas) no qual se ingressam entidades metafísicas que criam o potencial, a criação, o novo. Em “The Sandman”, de Neil Gaiman, Morpheus e o reino dos sonhos; em Whitehead, os “objetos eternos”. A série Netflix “The Sandman” (2022-), adaptada pelo próprio autor, repleto de seres míticos que governam seus reinos que tangenciam com o mundo “real”, figura o mundo dos sonhos e sua espécie de “Biblioteca Akáshica” (referência teosófica de Gaiman) que representam como a humanidade...

domingo, agosto 14, 2022

Live de domingo: Louis Armstrong, delírios do mundo conectado e o Brasil no dia da marmota

Vai ter golpe? Quem vai dar o golpe? Onde será o golpe? Certamente não aqui, na Live Cinegnose 360 #68, nesse domingo (14/08), às 18h, no YouTube. Pra melhorar o astral, na sessão dos vinis desse humilde blogueiro vamos conversar sobre Louis Armstrong: conflitos e contradições da personificação do jazz com a indústria cultural. Depois, dois filmes sobre tecnologia: “Dark Cloud” (a “patafísica” da Inteligência Artificial); e Werner Herzog e o seu documentário “Eis o Delírio do Mundo Conectado” fazem a pergunta: a Internet sonha com ela mesma? Em seguida, continuamos com o nosso épico trabalho: parte III do Pequeno Dicionário de Eufemismos e Clichês Linguísticos da Grande Mídia. E na crítica midiática da semana: o “hacker de Araraquara” tira...

sexta-feira, agosto 12, 2022

'Eis o Delírio do Mundo Conectado': será que a Internet sonha com ela mesma?

O lendário cineasta alemão Werner Herzog dessa vez volta sua atenção para a Internet, no documentário “Eis o Delírio do Mundo Conectado” (“Lo and Behold: Reveries of the Connected World”, 2016). Um documentário centrado numa questão que só poderia surgir da mente de Herzog: será que a Internet sonha com ela mesma? Sim! E a World Wide Web é o seu sonho, criada sobre a rede de computadores iniciada nos anos 1960 como projeto militar e científico: a Internet. Porém, a WWW foi por um caminho bem diferente daquele imaginado por um dos pioneiros: Ted Nelson – um projeto que imaginava uma espécie de Biblioteca de Alexandria em hipertexto. Ao contrário, a WWW cresceu regida por uma lei dos cassinos de Las Vegas: a Lei dos Grandes Números, na qual a...

quinta-feira, agosto 11, 2022

A patafísica da inteligência artificial em 'Dark Cloud'

Nada de bom pode vir de uma inteligência artificial. Pelo menos no cinema, desde que HAL 9000 decidiu matar a tripulação de uma nave no clássico “2001” de Kubrick. À primeira vista, um filme com o título “Dark Cloud” (2022), sobre uma paciente num tratamento terapêutico pioneiro em uma casa remota totalmente controlada por uma IA, já sugere ao espectador que as coisas também não vão acabar muito bem. Porém, “Dark Cloud” vai muito além do confronto máquina versus humanidade. Se no passado a IA tentava emular a inteligência humana revelando ser maligna pelo fato de não possuir alma, no pós-humanismo o Mal é de natureza “patafísica”: justamente por ser tão complexa, eficiente e precisa, ironicamente uma IA pode se voltar contra a própria finalidade...

sábado, agosto 06, 2022

Live Cinegnose 360: o enigma Miles Davis, 'journalist exploitation' na Globo e crítica midiática da semana

Como o Brasil e o mundo não deixam o humilde blogueiro em paz, continua a Live Cinegnose 360... nesse domingo, às 18h, no YouTube, a edição #67. Na sessão e vinis vamos de Miles Davis: o enigma da música afro-americana – como abriu os novos e perigosos caminhos do jazz. Depois, vamos discutir dois filmes: “She Will” (o identitarismo e antropologia da ordem patriarcal) e “Georgetown” (como a América pode ser enganada pela sua própria ilusão). Em seguida, vamos dar continuidade ao Pequeno Dicionário de Eufemismos e Clichês Linguísticos da Grande Mídia. Cinegnose encontrou a primeira bomba semiótica na guerra híbrida brasileira! Crítica midiática da semana: “journalist exploitation”, o modus operandi da TV Globo; o script “as instituições...

sexta-feira, agosto 05, 2022

Após golpe militar híbrido, grande mídia executa script 'instituições estão funcionando'

“Defesa da democracia”, “confiança no sistema eleitoral”, “Estado de Direito” são alguns de uma constelação de mantras diários repetidos pelo jornalismo corporativo. Ajuda a criar a imagem de uma grande mídia imparcial e crítica. Também retroalimenta a “pedagogia do medo”, a ansiedade de que um golpe poderá vir de qualquer lugar. Mas para que essa PsyOp funcione, é necessário mostrar que “as instituições estão funcionando”, paralisando a esquerda. Mesmo que as últimas notícias mostrem o contrário: militares no TSE revisando códigos-fonte, a anomalia da figura jurídica do ‘estado de emergência” na PEC Eleitoral e a oferta de crédito consignado para os desesperados beneficiários do Auxílio Brasil. A grande mídia normaliza e banaliza as anomalias...

quinta-feira, agosto 04, 2022

Em 'Georgetown' a América é enganada pela sua própria ilusão

Washington DC é um verdadeiro Triângulo das Bermudas, habitado por poderosos, aqueles que tentam influenciar os poderosos e aqueles que escrevem sobre ambos. Gente, com muito dinheiro, status, posição e privilégios. Mas que, mesmo assim, não estão a salvo de serem enganadas pelas mesmas armas que fizeram a hegemonia da América: a ilusão e a mentira. Baseado em um caso real, “Georgetown” (2019), estrelado e dirigido por Christoph Waltz, acompanha um vigarista que fez carreira no centro do poder à base de falsos currículos, diplomas e certificados impressos a partir de sites fakes da Internet, citações de amizades fictícias e relações imaginárias com potências estrangeiras. Uma história que terminou em assassinato. E que aponta para o ponto...

quarta-feira, agosto 03, 2022

Filme 'She Will': a antropologia da ordem patriarcal para além do identitarismo

À primeira vista, o filme produzido pelo mestre do terror Dario Argento e dirigido pela estreante Charlotte Colbert, “She Will” (2021) parece ser mais uma produção mainstream dentro da onda identitarista apropriada pela grande mídia e discurso corporativo – o chamado “neoliberalismo progressista”. Uma atriz idosa confronta-se com os fantasmas do assédio sexual quando, jovem, estreou em um filme cujo remake está para ser lançado. Buscando fugir de todo hype, viaja para as Terras Altas na Escócia. Lá encontrará as origens simbólicas de toda a ordem patriarcal: a lama primordial de uma floresta composta por cinzas humanas das vítimas das inquisições e o carbono negro da queima do carvão industrial. Por isso, “She Will” vai além:  Uma...

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