quinta-feira, fevereiro 02, 2023

"Se tomar posse não governa": mídia transforma eleição do Senado em "Terceiro Turno"


“Se tomar posse, não vai governar”, dizia o udenista Carlos Lacerda contra Getúlio Vargas. Hoje usa-se o eufemismo do “terceiro turno”. Ansiosa, a grande mídia nem esperou pelos primeiros 100 dias: depois dos chiliques contra as evidências de política desenvolvimentista no Mercosul, transformou a eleição à presidência do Senado num “terceiro turno polarizado”. A reeleição de Rodrigo Pacheco era dada como certa. De repente, o quadro mudou: a mídia passou a inventar que a disputa se tornou “acirrada” e que adversário Rogério Marinho (PL-RN) já contava com “traições” e de que teria virado o placar. A profecia autorrealizável (que contou com o tradicional lobby da Globo com estúdio dentro do Congresso) não deu certo. Mas o jornalismo corporativo está cevando seus ativos: o bunker bolsonarista do Senado, a ambígua figura de Arthur Lira e o “Exército Psíquico de Reserva” dos bolsomínios – agora espicaçados com a mitomania do senador Marcos “Swat” do Val denunciando plano de grampear o ministro Alexandre de Moraes.

Carlos Lacerda, inimigo visceral de Getúlio Vargas, dizia: “Não pode ser candidato. Se for, não pode ser eleito. Se eleito, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar”.

O raivoso político antigetulista da UDN lançou ali, na década de 1950, basicamente o roteiro de uma guerra híbrida para desestabilizar um governo – também, pudera, suas ligações com a CIA certamente lhe forneceram o know how para suas estratégias radicais junto à opinião pública como parlamentar da UDN. Chegou até a pedir intervenção militar dos EUA no Brasil em entrevista ao “Los Angeles Time” – clique aqui



Este Cinegnose vem insistindo que duas estratégias estão sendo colocadas em movimento nesse momento: a primeira, inspirada no roteiro udenista de Lacerda – se Lula ganhou a eleição e se tomou posse, não vai governar; e a segunda, cevar os ativos políticos, principalmente aquilo que este humilde blogueiro chama de “Exército psíquico de Reserva” – manter mobilizada e em constante ebulição a lama psíquica do Brasil Profundo que teve sua grande apoteose o parque temático do golpe que foi a depredação dos prédios dos três poderes da República.

O primeiro movimento já ficou bem claro desde os ataques e incêndios de Brasília em dezembro, no dia da diplomação de Lula; passando pela chantagem econômica e financeira da grande mídia contra o Governo de Transição (e um breve intervalo no dia da posse por ter oferecido à mídia o simbolismo woke na icônica subida da rampa do Palácio do Planalto); e finalmente a invasão de Brasília em 08/01 e a narrativa do jornalismo corporativo de que houve “tentativa de golpe de Estado”.



Mais claro ainda ao observar que a mídia hegemônica nem conseguiu aguardar os famosos 100 dias, a espécie de tradicional handcap que a mídia dá a um novo governo recém-empossado – basta ver os primeiros chiliques na viagem de Lula à Argentina e Uruguai e participação na Celac – clique aqui.

E o segundo movimento que culmina com a suposta denúncia do senador Marcos "Swat" do Val (aquele que anda com um boton da "Swat" na lapela do terno), supostamente evidenciando a participação de Bolsonaro numa “tentativa de golpe de Estado”, mas deixando no ar um ardil que assanha as hostes bolsomínias: sua suposta relação “profissional” com o Ministro do STF Alexandre de Moraes, desde os tempos em que era Secretário de Segurança de São Paulo – o que facilitaria a colocação de um grampo para incriminar o ministro.

Terceiro Turno

Na década de 1950 Lacerda ameaçava Getúlio de “não vai governar”. Hoje chamaríamos isso de “terceiro turno”, do qual foi vítima Dilma Rousseff após o candidato derrotado Aécio Neves ter sido derrotado, criando uma aliança no Congresso para induzir a crise política e econômica que a derrubaram.



A cada discurso de Lula, “colonistas” do chamado jornalismo profissional de qualidade o criticam de “palanqueiro”, por declarações “irresponsáveis” que fazem a Bolsa cair e o dólar disparar. Porém, a grande mídia ainda não esqueceu da derrota eleitoral e continua no palanque. Para ela, o ano de 2022 ainda não acabou.

Isso ficou escancarado na cobertura da disputa da presidência da Câmara e do Senado. Na Câmara dos Deputados já eram favas contadas, e a cobertura pouco se preocupou – principalmente, porque Arthur Lira (ex -?- fiel apoiador de Bolsonaro é escorregadio e potencial ativo para futuras crises políticas).

Mas no Senado, as coisas são bem diferentes. Lá estão Sérgio Moro, Damares Alves, Magno Malta, Hamilton Mourão, Rogério Marinho et caterva. A verdadeira casamata ou bunker anti-governista.

No início do ano, a reeleição de Rodrigo Pacheco era dada como certa pelos “colonistas”. Principalmente após o 8/01, de onde o presidente do Senado saiu como “defensor da Democracia”.

Não mais que de repente, o quadro mudou: a mídia passou a inventar que a disputa se tornou “acirrada” e que seu opositor, o bolsonarista Rogério Marinho (PL-RN), contaria com “traições” de última hora, ansiosamente contabilizados por analistas.

“De franco favorito, Pacheco agora tem um ligeiro favoritismo”, cravava o indefectível “colonista" Valdo Cruz.

A cobertura mais ansiosa foi, sem dúvidas, a da Globo News. Assim como na cobertura do Governo de Transição (na qual montou uma tenda em frente ao CCBB para fazer o corpo a corpo com os supostos candidatos a ministros da vez), o canal fechado noticioso improvisou um estúdio dentro do Congresso – é o conhecido modus operandi lobista do jornalismo da emissora.

A cada dia, a votação ficava mais “apertada”: três... dois votos de diferença. A poucas horas da votação, deram espaço a “fontes” que apontavam que Rogério Marinho já teria virado o jogo.



Enquanto as redes bolsonaristas colocavam em ação a tática de ataques e ameaças a senadores e suas famílias, o “colonista” Fernando Gabeira falava que “na sociedade há um grande movimento pró-Marinho” – confirmando o velho jogo ambíguo posto em prática nos quatro anos de governo Bolsonaro: naturalizar, hipernormalizar táticas digitais de intimidação como “atuação profissional nas redes sociais”. 

Hipernormalização e crítica seletiva

Dentro dessa lógica de hipernormalização, outro colonista, o “imortal” Merval Pereira, falava: “Rogério Marinho é MENOS ligado ao golpe do que Valdemar Costa Neto [deputado federal presidente do PL]”. Parece que Merval criou uma espécie de Escala Golpista para quantificar impulsos políticos fraudulentos...

“Colonistas” falavam em “disputa polarizada” análoga a das últimas eleições, num ato falho de que, realmente, a grande mídia quer criar a atmosfera belicosa de terceiro turno.

Globo News tentou criar uma profecia autorrealizável – não é por menos que decidiu fazer um clássico trabalho de lobby, com estúdio dentro do Congresso Nacional para os colonistas fazerem o corpo-a-corpo.

Mas Rodrigo Pacheco nunca esteve ameaçado, como comprovou a expressiva diferença de 17 votos – 49 a 32.

Após o fracasso, nesse momento o jornalismo corporativo tenta minimizar a vitória de Lula: primeiro, ao afirmar que o Planalto “usou a máquina” – crítica seletiva de “colonistas” que fizeram vistas grossas ou naturalizaram o uso massivo da máquina do Estado por Bolsonaro nas eleições de 2022.

Segundo, um wishful thinking: a lembrança de que os 32 votos conseguidos pela oposição seriam suficientes para a instalação de CPIs – bastam apenas 27 assinaturas. 

O objetivo claro da grande mídia é fortalecer o clima do “não vai governar”: retomar o controle da agenda (momentaneamente perdida com a invasão de Brasília e a forma como Lula criou uma “pauta de Estado”) e dar visibilidade a toda forma de oposição ao Governo.

 

 

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