terça-feira, abril 26, 2022

Alien's Day: das raízes bíblicas às ocultistas do universo Alien, por Claudio Siqueira


Dia 26 de abril se comemora o Alien’s Day (o Dia do Alien, numa tradução livre, já que ainda não há tradução para a língua portuguesa, pelo menos no Brasil), o famigerado xenomorfo da franquia Alien. O monstro mais famoso e amado do cinema  e dos quadrinhos – não o é por acaso; ele foi concebido pelo pintor e escultor surrealista Hans Ruedi Giger, ou simplesmente H.R. Giger como é conhecido. O Cinegnose vem dissecar a criatura, suas fontes de inspiração e o porquê de Prometheus e sua sequência não serem tão ruins como dizem as más línguas.

Vamos analisar dois filmes que deram o que falar, mas que, segundo alguns fãs, deixaram muito a desejar. Lançado em 2012 (o ano em que o mundo iria acabar), o audacioso Prometheus saíra com a proposta de expor a origem do alienígena apresentado no filme Alien (no Brasil, Alien - o Oitavo Passageiro) e, de quebra, acabou por apresentar a “origem” da humanidade. 

O problema é que isso tudo foi muito bem-feito. A despeito do que dizem os fãs da franquia Alien, que esperavam mais um filme no clima dos antigos (embora cada filme tenha tido uma atmosfera totalmente diferente um do outro), Prometheus apresenta a teoria preconizada pelo suíço Erich von Däniken no livro Eram os Deuses Astronautas (Erinnerungen an die Zukunft, no original), escrito em 1968. Tudo isso muito bem costurado com as duas vertentes distintas da história de Adão e Eva, aforismos nietzscheanos dramatizados, efemérides importantes para a astrologia e ícones pictóricos tão superexpostos que chegam a se tornar invisíveis. 



Os conteúdos ocultos passam despercebidos por aqueles que procuram no filme o suspense do primeiro, a ação do segundo, o thriller cyberpunk do terceiro ou o clima de aventura do quarto e são incutidos no espectador de forma quase subliminar no intuito não de demonstrar que a origem da humanidade é alienígena, mas de resgatar o sentimento de incógnita que permeia todos os mitos universais da Criação.


Gênese


“(...) e o Espírito de Deus pairava sobre as águas.” 
Genesis, Cap. I, Vers. II (Gn 1:2)

No começo do filme uma tomada panorâmica sobrevoa o ambiente e mostra o leito de um rio com vários afluentes. Uma das primeiras cenas mostra um poço natural que em muito lembra o poço Maia dos sacrifícios.




Logo em seguida, temos a sombra da nave (embora ainda não saibamos que se trata de uma nave) sobrevoando a paisagem, e passando próximo a um monte cujo formato cônico lembra uma pirâmide sem arestas – quase semelhante aos zigurates astecas ou iraquianos. Se os deuses eram astronautas, a nave sobrevoando o leito dos rios ilustra a passagem bíblica presente no Genesis que inicia o presente parágrafo.




Surge em cena um personagem vestindo uma túnica. Ele se agacha e põe no chão um frasco esférico cortado ao meio, para logo em seguida retirar a túnica. É importante ressaltar o movimento que a nave faz, ascendendo ligeiramente em seu pairar quando o ser eleva seu olhar para o OVNI. A impressão nítida que a cena passa é a de que o ser está sendo supervisionado pela nave. Algo como “Ai de você se não fizer o que lhe foi designado”. Há destinos piores que a morte.

Logo em seguida ele destampa a semiesfera que revela um líquido estranho, escuro e que parece se alterar quando em contato com a atmosfera, para, em seguida, após uma breve hesitação, bebê-lo. O personagem suspira e a nave alça voo, deixando o (então revelado) suicida morrer. Assim como o CristoPrometeu é aquele que comunica morrendo.




A cena seguinte mostra a pele e a carne do personagem se desfalecendo e sulcos se formando pelas veias por onde passa o líquido nefasto, fazendo quase um match cut (corte onde duas cenas são concatenadas) com a cena do rio com seus afluentes. Na intenção de mostrar que os rios são as veias da Terra e as veias, os rios do corpo, a tomada adentra o organismo do ser alienígena mostrando suas cadeias de DNA se desfalecendo. O link entre as veias e os rios visa mostrar que somos parte do planeta, já que o ser em questão é um proto-humano.


Êxodo


O filme dá um salto no tempo e conhecemos o casal Charlie Holloway e Elizabeth Shaw, descobrindo uma pintura rupestre no interior de uma caverna que parece revelar a presença de vida inteligente no espaço. A figura de forma humanoide aponta para as estrelas, para um corpo celeste específico, deixando os seres que a observam (e provavelmente a escutam atentamente) perplexos. 




Novamente, lembremos que Prometeu é o que comunica morrendo. O corpo celeste em questão é a Lua LV-223; mas um olhar mais atento poderia perceber uma sutil alusão à estrela Sirius. Também, a passagem bíblica contida no Levítico anuncia o destino fatídico dos personagens:

"Avise-lhes que se, em suas futuras gerações, algum dos seus descendentes estiver impuro quando se aproximar das ofertas sagradas que os israelitas consagrarem ao Senhor, será eliminado da minha presença. Eu sou o Senhor.”Lv, Cap. 22, Vers. 3 (Gn 1:2).


O "Senhor" e um dos "descendentes impuros" (o androide)

Os conteúdos ocultos implícitos


Na Cabala Judaica, cada um dos vinte e dois caminhos é atribuído a uma letra do alfabeto hebraico. Segundo a Cabala Hermética, não só as letras, mas também as vinte e duas cartas do tarô, bem como os doze signos do zodíaco, os sete planetas tradicionais da astrologia clássica e os três elementos, menos a Terra. Divergências à parte, qualquer um que tenha tido a curiosidade de estudar “numerologia” conhece o procedimento de se somar os valores numéricos atribuídos a cada letra para se chegar a um algarismo base que seria alma do número e da palavra em questão. À esse procedimento, dá-se o nome de Gematria.

Se somarmos os valores da notação que dá nome à lua em questão, seguindo a tabela pitagórica de numerologia, teremos L(3) + V(4) + 2 +2 +3 = 14. A décima quarta letra do alfabeto hebraico, Samekh, equivale ao caminho entre Yesod e Tiphareth na Cabala, portanto, a seta que rompe o véu, Parroketh, o que fica novamente evidente por se tratar do signo de Sagitário, o centauro arqueiro. Sendo o signo complementar de Gêmeos, dual por natureza, Sagitário representa a harmonia dos opostos; o princípio da Alquimia, representado pela carta correspondente, A Temperança, e pela substância que o alienígena ingere no início do filme, a qual passa a ideia de um composto alquímico. A viagem a LV-223 representa a jornada rumo ao Macrocosmos.




A cena sofre um corte para revelar a nave Prometheus, que dá nome à obra. Como em outros filmes da franquia, os personagens viajam em campos de estase, desta vez sob a supervisão de um androide mordomo, num estado quase de animação suspensa, já que a viagem durou dois anos. As tecno-alcovas já estão presentes no cinema desde filmes como O Planeta dos Macacos, de 1968, e em muito lembram sarcófagos criogênicos. 

Embora não estejam congelados (o que justificaria o termo “criogênico”) nem mortos, o que justificaria o termo “sarcófago” pela própria etimologia do mesmo (Sarko- Carne, Fagos- Comer/Devorar), a ideia de serem revividos (já que o sono, assim como o orgasmo, é uma pequena morte) em um novo mundo passa pela ideia egípcia de ressurreição. Ainda mais quando são recepcionados por um personagem que os encaminha a seus destinos: o androide David, cuja função neste momento é mensurar as funções vitais dos membros da equipe, fazendo o papel do deus Anúbis, que pesava os corações dos futuros candidatos à vida eterna ao lado dos deuses: a Companhia do Céu, o panteão egípcio.




Àqueles que acham uma grande forçação de barra a comparação do androide David com o deus Anúbis e os campos de estase com sarcófagos, peço que atentem para o sonho da protagonista Elizabeth Shaw, onde ela, ainda menina, conversa com seu pai a respeito da morte de sua mãe. Ela pergunta: “Por que morrem?”, ao que o pai responde: “Porque cedo ou tarde, todos morrem”; e a menina retruca: “Como a mamãe?”. Sendo que, no original, o termo “mamãe”, aparece como “Mummy”, que também significa “Múmia”. O sarcófago, na egiptologia, é o útero do nascimento na pós-vida. O útero da morte. 


Meredith - A Filha do Poderoso (Weyland)


Após serem despertos de seu sono criogênico, os personagens são apresentados ao financiador do projeto, Peter Weyland, pela chefe da equipe, Meredith Vickers, que se apresenta a eles através de um holograma, em uma mensagem póstuma. Diz ao grupo que o androide David é o mais próximo que teve de um filho. O nome David, ou Davi, vem do hebraico Dawid, ou Dawidh e significa “predileto”, o que desperta tanto a lisonja quanto a tristeza do androide e a inveja de Meredith, verdadeira filha do velho, como veremos no decorrer do filme.

“Meredith” é mais comum como sobrenome, mas também é usado como prenome e significa “Grande Senhor”, ou algo próximo a suserano. Mas porque atribuir um nome de significado masculino a uma mulher, além do fato de lhe conferir autoridade, posto que a misoginia concernente à nossa sociedade patriarcal a atribui sempre ao homem? 


Acima, Meredith. Abaixo, a carta A Sacerdotisa, do Tarô de Thoth


Novamente, na Cabala Hermética, cada esfera (chamada sephira) possui um planeta concernente a ela, bem como um ou mais títulos que a ela são atribuídos. A terceira sephiraBinah, é chamada, entre outros títulos, de “Grande Mãe”. Embora seja uma Sepirah feminina, é atribuída ao planeta Saturno, fálico por excelência. 

Portanto, embora seja mulher, a chefe possui um nome masculino e, não por acaso, é a primeira a despertar do sono criogênico que durou dois anos, o tempo que Saturno leva em cada casa zodiacal. Saturno é também o velho, Cronos, “o Tempo”. Se levarmos em consideração o aspecto venusiano, feminino, veremos que o planeta Vênus é associado à carta da Papisa (ou Sacerdotisa, dependendo do tarô, para a qual um dos títulos atribuídos é “a Filha dos Poderosos”. Vênus é o planeta regente do signo de Libra, onde, segundo as Dignidades Essenciais dos Planetas na Astrologia, Saturno é exaltado. Não é à toa que Meredith é a continuação do saturnino Peter Weyland.

O velho Weyland chama o casal que decidiu encetar a viagem para LV-223 para dar maiores explicações sobre a empreitada. Charlie Holloway e Elizabeth Shaw. Holloway mostra à plateia (leia-se os demais personagens e nós espectadores) diversas inscrições pictóricas ao redor do mundo. Uma egípcia, e as outras maia, suméria, babilônica, havaiana e mesopotâmica, respectivamente. 

Todas as inscrições e pirâmides apontam para a mesma estrela e o mesmo sistema solar. Agora, atentem para o sobrenome de Charlie: HollowayHollow é “oco”, “vazio”, enquanto way é tanto “modo”, “maneira de”, quanto “caminho”. É Charlie que leva os personagens a seu almejado – e fatídico – destino. Ele os conduz ao Vazio; ao Abismo; à Sephira Invisível, Da’ath. O décimo terceiro caminho da Cabala passa pela chamada Sephira Invisível; Daath, “o Abismo”, e é atribuído à quarta letra do alfabeto hebraico, Daleth, “a Porta”, e ao planeta Vênus, a “Estrela da Manhã”, um dos títulos atribuídos à Lúcifer.


Prometeu - O verdadeiro Lúcifer


Calma, incautos! Antes de associarmos o filme à satanismo ou quaisquer outras teorias conspiratórias, lembremos que, antes Paraíso Perdido, de John Milton, publicado em 1667, a figura de Lúcifer era a de mensageiro; o mediador entre Deus e a humanidade assim como Exu de nossos cultos afro-brasileiros, o deus egípcio escriba, Toth ou o deus grego Prometeu. Vênus é a última “estrela” a brilhar ao amanhecer e a supracitada Sirius, a estrela mais brilhante no céu noturno. Junto à Sirius B, trafega no céu em espiral, formando uma “figura” próxima à cadeia de DNA. Daí a conexão com as espirais de DNA se desenrolando no início do filme.




Ao serem confrontados pelo geólogo Fitfield, o casal protagonista diz que a humanidade “recebeu um convite”. De quem? Da raça a qual pertence a criatura alienígena do início do filme, a qual o casal chama de “Engenheiros”, pois, segundo eles, teriam “confeccionado” a humanidade. E é exatamente ao encontro dessas criaturas que o casal pretende ir. 




A jornada se assemelha ligeiramente à de O Planeta dos Macacos, onde o grupo sai em missão espacial para fugir da mediocridade humana. Os termos utilizados no livro de Pierre Boulle se assemelham a termos náuticos. E nada mais oportuno, já que o velejante do espaço é chamado astronauta ou cosmonauta. Em contrapartida, a missão da astronave Prometheus é conhecer a origem da humanidade; ir ao encontro do Ponto Zero e não afastar-se dele. Enquanto a tripulação do primeiro romance se afasta para manter-se distante, a do segundo tem a missão paradoxal de se afastar para estar mais próxima. Os tripulantes de Prometheus estão em busca do Homem Superior; o Übermensch de Nietzsche.

O poeta e filósofo Rubens Rodrigues Torres Filho traduziu o termo como “Além-do-Homem”, em vez do tradicional “Super-homem” como o é em várias outras línguas. Embora muito elogiado em terras tupiniquins, a meu ver, tanto sua tradução quanto a mundial não estão corretas. O termo über é correlato ao inglês upper, como em upper floor (sobrelojasegundo andar, etc.), por exemplo. Übermensch seria algo como “Supra-Homem”, como em “suprarrenal”. 

Talvez por ser brasileiro Rubens tenha querido se aproximar da expressão lusitana “além-mar” e aí reside o cerne da questão. Quando algo sólido cai na água, gera ondas de forma concêntrica, do centro para a periferia. A expressão “Além-Homem” tira a ideia de verticalidade que Nietzsche queria imprimir.


Deus está Morto e o Ritual da Cabeça Falante


Quando finalmente adentram o domo que parece ser um prelúdio do que viriam a ser posteriormente as pirâmides e zigurates humanos, os protagonistas encontram o que o universo canônico da franquia chama de Os Engenheiros. Decididos a mapear o DNA da criatura a fim de descobrir se somos seus descendentes, os cientistas levam apenas a cabeça de um espécime para bordo. Aliás, uma das coisas que os personagens encontram logo de início é a réplica da cabeça de um dos Engenheiros, remetendo à ideia de que seriam as precursoras das esfinges ou das cabeças da Ilha de Páscoa. O próprio semblante dos Engenheiros lembra essas últimas.


Acima, a cena de Drunna em Morbius Gravis II; abaixo, em Os Invisíveis


A cabeça remete à de São João Batista, o Anunciador, como na música de Depeche Mode, John The Revelator tipificado na HQ Os Invisíveis, do roteirista escocês Grant Morrison e na obra Druuna, do escritor e ilustrador italiano Paolo Eleuteri Serpieri. Também Eliphas Lévi em Dogma e Ritual da Alta Magia cita um “ritual da cabeça decapitada", relatado pelo teólogo, jurista e demonólogo Jean Bodin, que anunciaria uma terrível verdade na forma de vaticínios. 




A “terrível verdade” que a cabeça conta, através da análise de DNA, é que a raça humana descende dos Engenheiros; o vaticínio é que todos irão pro beleléu. A dramatização da verdade contundente é a cena da cabeça explodindo. O Androide diz, ironicamente (embora sem esboçar qualquer emoção): “Mortal, no fim das contas”. É uma alusão ao aforismo de Nietzsche “Deus está morto!”, já que “Deus” é, enfim, o Engenheiro. Ao mesmo tempo, coloca-se na posição de “criatura”, porém imortal. 


O Filho do Homem


David malandramente rouba e guarda uma pequena amostra do construto mutágeno A0-3959X.91-15que encontra no domo e o coloca em uma bebida para Charlie Holloway. Ao ingerir o mesmo composto alienígena que matou um dos engenheiros no início do filme, Charile tem o seu DNA conspurcado e acaba engravidando sua esposa Elizabeth, que é estéril(!). 

Percebendo tratar-se de uma anomalia, Elizabeth acaba submetendo-se a uma cesariana forçada e dá à luz o Trilobite um ser heptópode semelhante a um polvo gigante. A criatura acaba por inocular um dos Engenheiros, que “engravida” do Proto Alien (Deacon), o xenomorfo protótipo da criatura como a conhecemos.


Acima, o nascimento do nefasto de Prometheus; abaixo, capada HQ de Garth Ennis


Em diversas passagens da Bíblia, o livro cita Jesus Cristo como “o Filho do Homem”, o que foi parodiado por Garth Ennis, escritor de quadrinhos autor de Preacher e The Boys, quando assumiu a série de Constantine em Hellblazer: Filho do Homem. A criatura nasce do ventre do Engenheiro e aí está a blasfêmia implícita no filme: se o filho de Deus nasceu da Virgem Maria, o Anticristo, assim como na série em quadrinhos, nasceria de um ventre masculino. 

Também uma versão não contada do nascimento de Lilith é citada por Aleister Crowley: “Os antigos rabinos (...) sabiam disso (referindo-se à masturbação) e ensinaram que, antes que Eva fosse dada a Adão, o demônio Lílite foi concebido pelos respingos de seus sonhos (eróticos), de modo que as raças híbridas de sátiros (...) começaram a povoar aqueles lugares secretos da Terra que não são sensíveis aos órgãos do Homem comum.” (Kenneth Grant - O Renascer da Magia: As Bases Metafísicas da Magia Sexual). Ou seja, se o Engenheiro, desfalecendo-se no planeta Terra, deu origem à humanidade, sua raça foi também a matriz para o xenomorfo. Somos meio-irmãos(!). Somos filhos de Adão (o Engenheiro) e Eva (a Mãe Gaia, a Terra), enquanto os xenomorfos são filhos de Adão e Lilith (o ser construído a partir de Adão e gerado por ele mesmo). 


Cthulhu, de H.M. McNeill II


Também Kenneth Grant, ex-secretário particular de Crowley escreveu, no mesmo capítulo: “Na tradição rabínica, seu nome é Lílite; ela foi a primeira mulher de Adão e foi criada da substância de sua imaginação.”O Renascer da Magia foi o primeiro volume das chamadas Trilogias Tifonianas, tendo apenas ele e o segundo volume (bem mais tarde) traduzido para o Brasil. Em Outer Gates, o primeiro volume da terceira trilogia uma gravura do pintor H.A.McNeill II de Cthulhu bem próxima do xenomorfo.


O Pacto


A desnecessária continuação Alien: Covenant deixou muito mais a desejar do que seu antecessor Prometheus. Mesmo assim, algumas passagens merecem destaque e dão continuidade aos conteúdos ocultos, completando a mensagem implícita em ambos. 

O primeiro filme começa na data de 21/12/2093, sendo a efeméride onde o Sol ingressa no signo de CapricórnioO Diabo, no tarô. Covenant começa onze anos depois, em 05/12/2104, quando os tripulantes da nave acabam se dirigindo e aterrissando no planeta Origae-6, para onde se dirigiram Elizabeth Shaw e o androide David ao fim do primeiro filme. “Origae” significa “condutor”, “timoneiro”, mas também “vagão” ou “carruagem” e “noivo”. 

A Carruagem ou O Carro é o ATu VII do tarô e é relativa ao signo de Câncer (a Mãe), o oposto complementar de Capricórnio e à letra hebraica Cheth, cujo valor gemátrico (o somatório de suas letras) é 418, a chave da Grande Obra, o termo utilizado por alquimistas e praticantes das artes mágicas para definir a alquimia interna que resultará na consecução do encontro consigo mesmo. O caminho correspondente à carta vem da terceira sephirah, Binah, cujo título é “A Grande Mãe”, já que o planeta Origae-6 dará origem aos xenomorfos.

David havia instruído Elizabeth para que conseguisse reconstruir seu corpo, já que havia sido decapitado pelo Engenheiro. Aliás, a ideia da personagem Elizabeth com a cabeça masculina de David lembra bem o Arcano Menor A Rainha de Espadas, do Tarô de Thoth. De posse de um corpo reestruturado, David põe fim à existência da raça dos Engenheiros, num momento de justiça poética no melhor estilo “Cheguei, vi e venci”, que lembra muito a destruição de Pompeia.




David não só dizimou os Engenheiros como deu origem a novos tipos de xenomorfos a partir do A0-3959X.91-15 e… dos restos mortais de Elizabeth Shaw. Ela acaba por se tornar a Grande Mãe dos xenomorfos e a participação do androide e de seu “irmão” Walter, o androide deste filme (ambos representados por Michael Fassbender) dá a tônica de 3 cartas do Tarô de Thoth que, inclusive, dialogam entre si, independentemente de ambos os filmes e mais uma.

David se propõe a estudar o composto que deu origem ao trilobite e consequentemente aos xenomorfos e para isso, se mantém isolado em seu “laboratório” improvisado numa das câmaras deste novo mundo. Assim, ele se torna O Eremita, a carta atribuída ao signo de Virgem, aquele que irá isolar fatores, separar o joio do trigo para criar um experimento. 


Acima, David em seu laboratório rupestre; abaixo, no tarô da Escola Francesa


O signo de Virgem é regido por Mercúrio, cuja carta é O MagoO Prestidigitador. Aquele que realiza as operações alquímicas de transmutação e carrega o bastão de Prometeu, que intitula o primeiro filme e está representado pela flauta que David empunha, enquanto levanta o dedo mínimo. Na Quirologia, o Dedo de Mercúrio.


David e seu irmão aludindo à Carta de Gêmeos. Abaixo, a Carta de Sagitário, no Tarô de Thoth

 

Mercúrio rege também o signo de Gêmeos, representado na carta O Namorado, no Tarô de MarselhaOs Namorados, no de Rider-Waite e n’Os Amantes (ou Os Irmãos), no de Thoth. O oposto complementar de Gêmeos, Sagitário, é tipificado na carta A Arte, a versão do thelêmica para A Temperança, citada no 11ª parágrafo. A harmonia dos opostos que começa em Gêmeos encontra sua síntese em Sagitário e, no Tarô de Thoth, quem celebra o casamento dos opostos é o Eremita, que está presente na carta de Sagitário.

A cena de David conversando com eu “irmão” Walter representa a carta de Gêmeos e e David, como Eremita e Mago realizou a Temperança ao criar os xenomorfos através do corpo de Elizabeth Shaw. Sua cena onde aparece morta é uma releitura de um dos quadros de H.R. Giger, que se tornou uma personagem no clássico adventure point-and-click Darkseed. O nome, semente obscura, vem da expressão bad seed e é bastante oportuna, dado que Elizabeth será a mãe dos xenomorfos.




Durante a briga entre os “irmãos”, David pergunta a Walter se “prefere servir no Paraíso ou reinar no Inferno…”, o que o caracteriza como uma representação de Lúcifer, o Prometeu que intitula o primeiro filme. Na cena em que se apresenta, David não só representa o Mago, mas o próprio Lúcifer, já que seu nome (a palavra Lúcifer) significa “O Portador da Luz''.


David como Portador da Luz e O Mago no Tarô de Raider-Waite


Prometeus teve duas sequências em quadrinhos: Fire and Stone e Life and Death, nunca lançadas no Brasil, que inserem os Yautja (a raça do Predador) e mostra o que aconteceria se eles e os androides ingerissem o composto A0-3959X.91-15. A franquia parece ter dado de ombros para a continuação em transmídia, lançando Covenant sem se importar com os eventos relatados em Fire and Stone e sua sucessora. Talvez eu lance um artigo aqui falando da série e seus conteúdos ocultos. Feliz Dia do Alien! Sssssss!


Claudio Siqueira é Bacharel em Jornalismo, escritor, poeta, pesquisador de Etimologia, Astrologia e Religião Comparada. Considera os personagens de quadrinhos, games e cartoons como panteões atuais; ou ao menos arquétipos repaginados.


  

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