Quanto mais crescem os números dos mortos pela pandemia COVID-19, mais se intensifica a pauta dispersiva da guerra semiótica criptografada do consórcio Governo-Justiça-Grande Mídia. Depois da simulação de polarizações e conflitos num Governo que faz oposição a si mesmo (pro-ativamente cria a própria crise antes que ela seja criada pelos inimigos), nessa semana chegamos ao estado da arte: a “meta-simulação” – o inédito “defeito técnico” na escalada do Jornal Nacional, coincidentemente no exato momento em que os âncoras começavam a falar sobre o comprometedor vídeo da reunião interministerial. “Falha” com ótimo rendimento semiótico para o jogo criptográfico que oculta as “backdoors” da Biopolítica e Necropolítica. E o show da montanha da qual sai apenas um rato continua: o teste negativo do COVID-19 do presidente e a guerra semântica de versões sobre “comprometedor” conteúdo do vídeo da reunião interministerial.
Certamente o leitor deve lembrar das sequências de atentados na Europa (Paris, Reino Unido, França, Alemanha, Suécia) entre os anos de 2015-17. Mais especificamente, no atentado em Londres em 2017 com um atropelamento em série e invasão dos jardins do Parlamento Britânico por um homem.
Na postagem desse Cinegnose sobre esse atentado (também um “não-acontecimento”, ou false flag, como os anteriores) discutíamos o elemento do “meta-terrorismo” como mais uma estratégia para ampliar a repercussão desses pseudo-acontecimentos – a propósito, aonde foram parar os malignos terroristas do ISIS?... sumiram, assim como os black blocs, com a mudança do eixo geopolítico, agora focado na operação pandemia COVID-19.
Meta-terrorismo: é uma forma de ação autoconsciente na qual, de forma deliberada, deixavam-se lacunas e ambiguidades em eventos cobertos extensivamente pela mídia. Anomalias que deixavam dúvidas (e incendiavam a imaginação conspiratória) de que as tragédias poderiam ser cenas cenograficamente montadas. Isso foi mais evidente nos atentados de Londres e Manchester – clique aqui e aqui.
Desde os estudos feitos por Gordon Allport e Leo Postman em 1947 (leia A Psicología del Rumor, Psique, 1988), o fator ambiguidade é considerado o fator mais importante na transformação de uma informação em boato ou, na atualidade, em meme. A dúvida entre a realidade e a mentira dá ainda mais alcance à notícia, produzindo uma espiral especulativa. O relato midiaticamente ambíguo do atentado se torna mais uma arma letal.
A falha técnica logo na abertura, durante a escalada, do Jornal Nacional da Globo (no exato momento em que os âncoras William Bonner e Renata Vasconcellos começavam a falar dos conteúdos comprometedores ao presidente no vídeo de uma reunião interministerial), tocou fogo no imaginário conspiratório nas redes sociais.
Memes circularam com uma montagem de Carluxo ou Bolsonaro pendurados numa torre sabotando a transmissão. Também, pudera: a falha da última terça-feira foi inédita. As imagens e o som foram comprometidos, cortando trechos das falas dos jornalistas. Por isso, a transmissão da escalada foi interrompida e Renata Vasconcellos voltou afirmando que houve uma falha técnica e que, por conta dela, não seria possível exibir a escalada completa.
Depois de aproximadamente meia hora de exibição do jornal, William Bonner explicou que a escalada é gravada todos os dias "uns dez minutos antes de entrar no ar", mas que nesta terça-feira, excepcionalmente, houve algum problema na transmissão.
Uma falha técnica cheia de significados
Fosse num outro contexto, a suposta falha técnica passaria despercebida e entraria para os “causos” da história da TV. Porém, estamos em pleno contexto de guerra semiótica criptografada: o consórcio Política-Judiciário-Grande Mídia põe diariamente em ação uma pauta dispersiva, embaralha informações, para ocultar a principal causa da letalidade do COVID-19: a agenda político-econômica neoliberal biopolítica e necropolítica, patrocinada pelo consórcio que atende a três objetivos (“backdoors”): injeção de dinheiro público no sistema financeiro para violenta concentração de riqueza; domínio do espectro político e reengenharia social pela necropolítica – eugenia e controle populacional.
A inédita “falha técnica” do JN contém tantos elementos de ambiguidade que faz lembrar uma velha máxima: em política não existem coincidências, mas sincronismos:
(a) de todas as notícias da escalada, a falha ocorreu EXATAMENTE na notícia mais quente do dia: os depoimentos de ministros e delegados da PF e o conteúdo do vídeo da reunião que definitivamente comprometeriam o presidente;
(b) esteticamente a falha remeteu a imagerie de peças ficcionais como a série dos anos 1980 Max Hedroom, do quadro do Fantástico “Isso a Globo Não Mostra” ou dos vídeos conspiratórios do Anonymous – a estética do hackeamento de uma transmissão televisava. Para incendiar a imaginação conspiratória;
(c) a falha não foi uma “derrubada” total da transmissão: convenientemente deixa que entendamos o conteúdo que está sendo ocultado, algo como o som “piiiiii” que retira palavrões de um áudio. Parece que lacunas são propositalmente deixadas para que nossa imaginação as preencha – algo como a lei mental de “fechamento” da psicologia Gestalt.
Assim como o “meta-terrorismo” na escalada dos não-acontecimentos dos atentados na Europa, teríamos aqui uma “meta-simulação”. Para quê? Para a grande mídia ocultar o seu ativo papel na guerra criptografada desse consórcio que quer se eximir da responsabilidade da crise sócio-econômica da pandemia.
Ao participar da guerra criptografada de informações, a grande mídia simula ser oposição ferrenha ao “malvado favorito” Bolsonaro. A meta-simulação criaria a percepção da grande mídia, em particular a Globo, como vítima de alguma conspiração. Claro! Jamais o JN admitiria isso... é excessivamente “teoria conspiratória”. Mas, lembrem, guerra criptografada é uma questão de manipulação de percepções a partir de informações contraditórias e paradoxos.
Seria a Globo vítima de ataques da extrema-direita? No momento em que ela “ataca” o presidente?
Bolsonaro na rampa, jornalistas lá embaixo: retórica visual |
A montanha está parindo um rato
Quanto mais intensifica a escalada de mortos da pandemia (que o jornalismo no álcool em gel trata de forma genérica, sem detalhar o corte socio-econômico das vítimas), mais a pauta dispersiva se intensifica e maior é a participação da grande mídia no show.
O famoso vídeo da reunião interministerial que potencialmente abalaria a República, está cada vez mais se diluindo numa guerra de versões e conflitos semânticos: o presidente falou “segurança” ao invés de “Polícia Federal”?... mas o que quer dizer “segurança” no “contexto”?... O ministro Celso Mello vai liberar o vídeo na íntegra? Presidente “xingou” o STF? Isso se transforma num “discurso de ódio” num “contexto” de manifestações contra o STF e Congresso endossadas por Bolsonaro?...
Cresce a espiral especulativa que sequestra a pauta midiática.
O vídeo de Bolsonaro no alto da rampa do Palácio do Planalto, com os jornalistas embaixo com seus microfones, celulares e cinegrafistas filmando é emblemático: em todos os telejornais repete-se ad infinitum os planos em contra-plongée (de baixo para cima) do presidente – retórica visual que confere superioridade, importância etc. ao objeto representado.
Analistas da grande mídia acusam o negacionismo do presidente como o principal responsável pela desarticulação do combate à pandemia. Mas não conseguem tirar o foco da atenção nele: como negar algo que insistentemente é mostrado – esse é o paradoxo semiótico que revela o comprometimento ativo da grande mídia na guerra criptografada.
Outra montanha que pariu o rato é a “polêmica” da negação de Bolsonaro em mostrar os seus exames para o COVID-19. “Sob vara” Bolsonaro teve que dar publicidade ao resultado de três testes: todos negativos... Os testes foram adulterados? Por que os codinomes nos testes apresentados? Falsidade ideológica? Bolsonaro pode sofrer um impeachment com essa imputação?
E ainda tem analistas da blogosfera progressista que tentam encontrar algum sentido no “abismo superficial” (sobre esse conceito, clique aqui) das falas e decisões de Bolsonaro: por que ele agora está usando máscara? Será porque os testes deram positivo? Mas deram negativo? A máscara de Bolsonaro seria uma evidência da falsificação dos resultados mostrados?
Os “pobres” analistas bem remunerados da grande mídia são forçados a fazerem verdadeiras análises hermenêuticas das falas e decisões de Bolsonaro que são propositalmente non sense.
Bolsonaro cria sua própria crise antes que os inimigos a façam |
Modus operandi Direita Alternativa
Nem a grande mídia (por conveniência) e muito menos a mídia progressista (por inocência ou ignorância) conseguem compreender o modus operandi da direita-alternativa (a “alt-right” global capitaneada por Steve Bannon).
A extrema-direita só chegou ao poder após as “revoluções coloridas” insufladas pela guerra híbrida – moldagem da percepção da opinião pública para criar crises reais e imaginárias com o objetivo de paralisar e desestabilizar governos trabalhistas até o golpe político.
O que faz a alt-right quando chega ao poder? Ao invés de esperar uma crise ser criada pela mídia, o próprio governo passa a fazer oposição de si mesmo: Bolsonaro e seu clã criam deliberadamente crises diárias para envolver mídia e sociedade que, paralisada, assistem ao show.
Autofagicamente, ministros são demitidos ou ameaçados, enquanto o presidente abre “polêmicas” com governadores ou com a própria “ala militar” do Governo.
A estratégia alt-right não é reativa (como foram os governos derrubados pela guerra híbrida), ela é pró-ativa. E conta com o luxuoso auxílio da grande mídia que, sabemos, não morre de amores pelas tosquices e bizarrices do capitão da reserva, do seu clã e apaniguados. Mas, em última instância, eles partilham dos mesmos conceitos de Estado, Economia e Sociedade defendidos pelos solertes analistas e donos da grande mídia. Conceitos postos em ação pelas “backdoors” biopolíticas e necropolíticas.
COVID-19 tem uma escolha bem seletiva: os pobres |
Se a grande mídia fosse uma verdadeira oposição ao “negacionismo” do Governo, ela apontaria seus canhões investigativos para três questões fundamentais que a guerra criptografada quer embaralhar:
(a) O jornalismo sairia da sua assepsia no álcool em gel e descreveria a segmentação sócio-econômica dessas mortes e contaminações por COVID-19. E abandonaria o discurso do “todos juntos na batalha contra o novo coronavírus". Todo mundo junto quem, cara pálida? Depois de afligir as classes mais altas, com baixa letalidade, agora atinge os pobres de forma letal. A live do presidente da corretora da XP Investimentos, Guilherme Banchimol, é sintomática:
“O pico da doença já passou quando a gente analisa a classe média, classe média alta. O desafio é que o Brasil é um país com muita comunidade, muita favela, o que acaba dificultando o processo todo”, afirmou.
É a evidência da “backdoor” necropolítica: política eugenista de controle populacional.
(b) Pularia fora de outra falsa polarização criada por ela (“ala ideológica do Governo” X equipe econômica) e investigaria como a agenda das reformas neoliberais está diretamente ligada na raiz da letalidade do COVID-19 entre os pobres;
(c) Também a grande mídia poderia investigar como, apesar de toda indiferença e negação de Bolsonaro, sua aprovação segue em alta: quase 52% dos brasileiros acreditam que o governo Bolsonaro tomou as medidas adequadas para enfrentar a pandemia do coronavírus, revelou pesquisa da CNT-MDA divulgada nesta terça-feira. Enquanto a desaprovação ao comportamento do Governo ficou em 42,3%.
Por exemplo, poderia investigar como o bolsonarismo vem trabalhando nas redes sociais para desacreditar autoridades da Saúde.
E porque, de repente, uma hashtag como #FlavioPresidente, sobre o senador Flavio Bolsonaro, vai ser levantada na Bielorússia – evidência de robôs pelo país da Europa Oriental. Perfis falsos que reproduzem mensagens idênticas.
Mas, principalmente, ao invés de tentar decodificar o discurso do presidente num trabalho de Sísifo, seguiria um simples método do jornalismo investigativo: “follow the money” – quem paga essa fazenda de robôs que mantém Bolsonaro com alta taxa de aprovação?
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