quarta-feira, dezembro 18, 2019

No décimo aniversário do Cinegnose, o Top 10 dos filmes gnósticos de 2019


Esse é um aniversário especial: o Cinegnose completa nesse mês uma década no ar! Foram dez anos de evolução em três fases bem distintas – primeiro, como um site sobre Gnosticismo (filmes e filosofia gnósticas); segundo, como um site Gnóstico (desenvolvendo um “olhar gnóstico” sobre cultura, mídia, cinema e audiovisual); e na fase atual, um olhar gnóstico mais amplo se estendendo para os aspectos políticos da comunicação e crítica midiática. Fase atual e controvertida cuja atmosfera de polarização no País atingiu em cheio o Cinegnose, com a perda de muitos leitores que questionaram a “politização” de um blog sobre cinema. Comemorando essa primeira década, o Cinegnose apresenta o Top 10 dos melhores filmes gnósticos que passaram pelo radar do blog em 2019. São filmes PsicoGnósticos, TecnoGnósticos, CosmoGnósticos e CronoGnósticos. 
Nesse mês o Cinegnose completa dez anos de intensas atividades. Como os leitores mais antigos sabem, esse blog surgiu como um dos subprodutos (assim como os livros “Cinegnose” e “O Caos Semiótico”) da dissertação de mestrado desse humilde blogueiro sobre a presença de elementos simbólicos, iconográficos, narrativos e temáticos gnósticos no mainstream das produções hollywoodianas, de 1995 a 2005.
Para aqueles novos visitantes, entende-se por Gnosticismo o conjunto de seitas sincréticas, surgidas no início da Era Cristã (sec. II e III DC), que combinavam neoplatonismo, hermetismo e influências orientais como sufismo e budismo para interpretar de maneira mística a missão de Cristo nesse planeta.
A descoberta em 1945 dos textos gnósticos do século IV em Nag Hammadi (Egito) repercutiu na cultura pop do século XX, começando pela literatura, HQs, passando pelo cinema cult até chegar às produções comerciais hollywoodianas no final do século – mitos gnósticos como o do Demiurgo, a Alma Decaída, o Salvador, o Feminino Divino, entre outros, passam a figurar de diversas maneiras através de protagonistas e simbologias – sobre a mitologia gnóstica clique aqui.
Nesses dez anos, o Cinegnose passou por três fases bem definidas: a primeira, composta por análises fílmicas como ponto de partida para desenvolver pontos filosóficos do Gnosticismo. Uma linha editorial “sobre Gnosticismo”.
Na segunda fase o blog partiu para a linha “gnóstica”: não apenas focar “filmes gnósticos” ou “temas gnósticos”, mas construir um olhar gnóstico (uma metodologia) para estabelecer uma crítica à indústria do entretenimento e a cultura contemporânea para além do cinema: TV, audiovisual, Moda, Jornalismo, Publicidade, Semiótica e fatos do noticiário.
                   Um modelo de pensamento inspirado em nomes como Jean Baudrillard e Theodor Adorno, pensadores assumidamente influenciados pela filosofia gnóstica com quatro princípios básicos: a análise ontológica, o princípio dos eventos irônicos, o princípio sincromístico e o princípio do sintoma (clique aqui).


Baudrillard e Adorno: a presença do Gnosticismo nas Ciências Sociais

A polêmica das “bombas semióticas”

Mas a terceira fase foi a mais, digamos assim, “polêmica”: o início da série sobre as “bombas semióticas” numa série de 51 postagens entre 2013 e 2016: a análise de uma complexa ação semiótica (retórica, linguística, semiológica etc.) da grande mídia num contexto político brasileiro dominado pelo geopolítica dos EUA. E que culminou no impeachment de 2016 - clique aqui.
Essa fase foi crucial porque, certamente, fez esse Cinegnose perder muitos leitores na atmosfera de polarização política que passou a dominar o País em crise. 
E o que isso tem a ver com Gnosticismo? Para aqueles que confundem Gnosticismo com religião, deve ter causado estranheza essa filosofia editorial. E para outros que achavam que o gnosticismo no cinema e audiovisual era nada mais do que uma conspiração satânica de Hollywood (ao lado das conspirações que escondem “verdades” como a terra plana, p.ex.), simplesmente abandonaram o blog. Não sem antes nos acusar de “petralhas”, para dizer o mínimo...
   Da estrita análise e mapeamento dos filmes gnósticos, hoje o Cinegnose estende seus temas à crítica midiática, jornalística, cultura, filosofica e semiótica, permeada pela política no sentido mais amplo. Afinal, se para o Gnosticismo o mundo é uma ilusão perpetrada por um Demiurgo que criou esse cosmos para aprisionar nossos espíritos, nada melhor do que seguir a intuição do roteirista Andrew Niccol no filme Show de Truman (1998) – se pensarmos a realidade como o gigantesco set de um reality show televisivo, então o melhor caminho para entender a mídia, a indústria do entretenimento e toda a engenharia social que molda nossas percepções é o Gnosticismo.
Para comemorarmos essa primeira década do Cinegnose, vamos fazer uma lista dos dez melhores filmes gnósticos que passaram aqui pelo blog em 2019. Como sempre, classificamos os filmes dentro das cinco categorias dos filmes gnósticos que criamos para classificar a variedade das abordagens fílmicas: CosmoGnóstico, TecnoGnóstico, PsicoGnóstico, AstroGnóstico e CronoGnóstico – sobre essas categorias, clique aqui.

1 . No filme "Apóstolo" o assassinato e a mentira fundam seitas e religiões

quarta-feira, janeiro 30, 2019   Categoria: CosmoGnóstico


Há um “modus operandi” na fundação de seitas e religiões: um assassinato que se transforma no sofrimento necessário do mártir; e a mentira decorrente dessa narrativa. Em consequência, o Sagrado mistura-se com o profano, e o Divino com a violência. Como é possível emergir amor e compaixão nesse modelo psíquico doentio? Essa é a questão principal do filme Apóstolo (Apostle, 2018). Um jovem ex-religioso, descrente de tudo após um passado traumático, tem a missão de resgatar sua irmã, raptada por uma estranha seita reclusa em uma ilha. Ele se infiltra entre os seguidores de um profeta enlouquecido, mas estranhamente não consegue determinar, afinal, o quê aquela seita adora. 
Há um tema cosmológico gnóstico: Se o poeta William Blake dizia que a Natureza é uma obra diabólica, da mesma forma o Gnosticismo descreve esse cosmos como uma maquinação de um Demiurgo que nos aprisiona por um simples motivo: extrair de cada um de nós a “Luz” que coloca em movimento o próprio sistema que nos prende – o próprio cosmos. Leia aqui a análise.

2. A conspiranoia pop gnóstica em "Under The Silver Lake"

domingo, janeiro 13, 2019 - Categoria: PsicoGnóstico


A cultura pop nada mais representaria do que o abismo geracional entre jovens e adultos? Por trás de cada gesto de revolta seja grunge, punk ou gótico estaria um adulto vigilante através de mensagens criptografadas em músicas? As vertiginosas alusões de “conspiranoia” pop em Under The Silver Lake (2018) conferem uma nova abordagem do tema da paranoia no cinema. Um jovem desocupado tenta investigar o mistério do desaparecimento de sua vizinha para mergulhar no submundo das subcelebridades aspirantes a atores e atrizes em Hollywood e na subcultura de HQs e fanzines que tentam construir uma Teoria Unificada das conspirações. 
Outro tema gnóstico: a paranoia como um estado alterado de consciência que nos faz enxergar além das ilusões. Tudo está conectado. Essa ideia não parece nada original e já foi exaustivamente explorada pelo cinema paranoico e esquizo. Mas a novidade de Under the Silver Lake é no final do fio da meada descobrirmos que o plug está fora da tomada... Leia aqui a análise

3 - A nova sensibilidade gnóstica do horror no filme "Ghost Stories"

sexta-feira, janeiro 25, 2019 - Categoria: PsicoGnóstico


Desde a Era Vitoriana, quando os fenômenos paranormais (mesas girantes, fantasmas, fotografias de ectoplasmas etc.) entraram em cena na cultura Ocidental, as explicações sobre esses eventos sempre estiveram sintonizadas com o “zeitgeist” de cada época. Na virada de século, as tentativas de explicações científicas deram lugar à mistura de fé com espiritualidade. Nesse cenário, a sensibilidade gnóstica começa a se esgueirar pelos filmes de terror, um gênero que sempre foi canônico.
Uma abordagem PsicoGnóstica da paranormalidade, na qual a mente pode ser a nossa principal prisão. Leia aqui a análise.

4 - "Black Mirror: Bandersnatch": a realidade se aproxima dos códigos de um videogame

terça-feira, janeiro 01, 2019 - Categoria: Tecnognóstico


O episódio especial Bandersnatch da série Black Mirror (2011-), lançado no apagar das luzes de 2018, atrasou toda a produção da quinta temporada pelo “enorme tempo de criação”, disse o criador Charlie Brooker. Não é para menos: Bandersnatch, um híbrido de filme longa-metragem e game interativo, é uma verdadeira síntese do “zeitgeist” gnóstico por trás das descrições da série de como a tecnologia é cada vez mais envolvente e invasiva. Em 1984, um jovem aspirante a programador profissional de games começa a questionar a realidade ao seu redor na medida em que a ansiedade e paranoia envolvem a elaboração dos códigos – assim como ele escreve a narrativa do game de computador, também a sua realidade cada vez mais se assemelha a um jogo interativo. Mas controlado por quem?
Esse insight do episódio lembra (se não foi até inspirado nela) a hipótese de que o Universo poderia ser um game de computador, formulada por Nick Bostrom (filósofo da Universidade de Oxford) e Rich Terrile, pesquisador da NASA Leia aqui a análise.

5 - O apocalipse foi a própria Criação em "Oblivion"

domingo, fevereiro 10, 2019 – Categoria: CosmoGnóstico


Se Matrix (1999) foi o auge hollywoodiano do gnosticismo pop, Oblivion (2013) é outro filme que consegue sintetizar o mito central dos gnósticos: o apocalipse já aconteceu, e foi a própria Criação: um erro cósmico no qual nos tornamos prisioneiros da ilusão e do esquecimento. Tom Cruise é Jack, um técnico de manutenção de drones e robôs cumprindo sua última missão na Terra: conduzir os recursos naturais remanescentes de um planeta devastado para uma lua de Saturno, último refúgio humano. 
Mas Jack aos poucos começa a questionar os propósitos da sua missão. Principalmente quando a mulher dos seus recorrentes flashs de memória aparece na queda de uma nave.
Aliens como Demiurgos e a ilusão criada pelo esquecimento. Leia aqui a análise.

6 - Série "Boneca Russa": será o Tempo um bug algorítmico ou uma lição moral?

segunda-feira, fevereiro 25, 2019 – Categoria: CronoGnóstico


Há na vida apenas essas certezas: de que vamos morrer, que as pessoas que amamos também irão morrer e que eventualmente nossa própria morte fará outros sofrerem. Mas a sociedade nos oferece inúmeras estratégias e ferramentas tecnológicas para esquecermos dessa amarga ontologia. Principalmente para a geração dos millennials, através do individualismo e as bolhas virtuais das redes sociais digitais. Esquecendo que o mundo é muito maior do que pensamos e que nossos atos têm consequências sobre todos que encontramos. 
Esse é o tema subjacente da série Netflix Boneca Russa (2019-): tal qual o filme clássico O Feitiço do Tempo (1993), Nadia fica presa em um loop temporal – a cada morte em um ciclo, acorda diante do espelho do banheiro na sua festa de 36 anos. Como explicar o mistério? Apenas um bug nas linhas algorítmicas que compõem a programação do Tempo? Ou algum tipo de lição moral que será obrigada a entender? A saída será a lembrança e a memória. Leia aqui a análise.

7 - Deus sadicamente se deleita com a corrida humana em "The Human Race"

quarta-feira, julho 17, 2019 


The Human Race (2013) é o tipo de filme para ser assistido fora da binaridade do “gosto/não gosto”. Portanto, um filme para cinéfilos aventureiros. E com estômago para encarar o horror “gore”. O diretor e roteirista Paul Hough quer discutir a natureza humana: somos intrinsecamente maus, bastando uma oportunidade para a besta-fera em cada um de nós escapulir? Ou será que são as condições materiais nas quais estamos prisioneiros que nos induzem ao mal?
Oitenta pessoas são abduzidas e despertam num circuito no qual devem correr desesperadamente pelas suas vidas, todos contra todos. A única maneira de sobreviver é não ser ultrapassado, e ter uma morte terrível. 
O veredito sobre a questão da condição humana em The Human Race é gnóstico: o universo como uma arena mortal que nos condena à ignorância e a incerteza. Gerando propositalmente o medo, a angústia e ansiedade, os motores da violência e do egoísmo que fazem o deleite dos deuses demiurgos que apenas observam. Leia aqui a análise.

8 - Quando multiversos e mecânica quântica se tornam mortais em "Tangent Room"

domingo, agosto 25, 2019 – Categoria: CosmoGnóstico


Presos em uma sala nos subterrâneos de um complexo de observatórios no Deserto do Atacama, Chile, quatro brilhantes cientistas correm contra o tempo para impedir um colapso cósmico do universo. Eles devem trabalhar juntos e resolverem uma sequência de números e equações envolvendo Cosmologia, mecânica quântica e eletromagnetismo, antes que seja tarde demais. 
Esse é o filme sueco Tangent Room (2917), um thriller científico envolvendo as mais recentes teorias cosmológicas, como o Big Bang, Teoria das Cordas e Universo Inflacionário. Mas o que aqueles cientistas não sabem é que experimentarão na prática os efeitos dos mundos em colisão na Teoria dos Multiversos: cada um deles experimentará os mesmos efeitos quânticos de uma partícula no mundo subatômico – telestransportes, bilocação e sobreposições, revelando que a Física moderna cada vez mais se aproxima da milenar cosmologia gnóstica. Leia aqui a análise.

9 - Em "Every Time I Die" a gnose como rota espiritual de fuga

quarta-feira, agosto 14, 2019 – Categoria: PsicoGnóstico


Every Time I Die (Cada Vez que Eu Morro, 2019) confirma duas teses desse blog: primeiro, que é nos filmes independentes que estão atualmente os roteiros mais inventivos e audaciosos; e, principalmente, que os melhores filmes com temática religiosa e espiritualista são aqueles dirigidos por diretores ateus e agnósticos – o que parece garantir sinceridade e objetividade no tratamento fílmico. 
Dirigido pelo estreante Robi Michael, é um filme sobre obsessão, possessão e reencarnação. Quando Sam é assassinado, sua consciência começa a migrar para os corpos de seus amigos na tentativa de preveni-los do assassino. Sem ter qualquer controle ou consciência desse misterioso processo. 
Every Time I Die aborda um tema recorrente nos recentes filmes com temática gnóstica: a gnose pós-morte como forma de romper o ciclo sucessivo da morte, reencarnação e sofrimento - a rota espiritual de fuga. Leia aqui a análise.

10 - A tela mental PsicoGnóstica no filme "Rota da Morte"

terça-feira, agosto 06, 2019 – Categoria: PsicoGnóstica


Uma família viaja de carro na noite de véspera de Natal para se encontrar com os avós. Como em todo ano. Mas dessa vez, eles pegaram um atalho por uma estrada que cruza uma densa floresta e que parece não ter fim. Ou estão andando em algum um tipo de loop tempo-espaço, seguidos por um carro funerário antigo? Uma narrativa-clichê de muitos slasher movies. 
Mas o filme francês Rota da Morte (Dead End, 2003) não é um terror comum: se insere em produções do início de século XXI no qual os filmes gnósticos passam por uma guinada – dos CosmoGnósticos para os PsicoGnósticos. Protagonistas prisioneiros em mundos recriados pela própria tela mental de medos, culpas e sonhos, combinados com as memórias dos últimos instantes na vida. Leia aqui a análise.

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