terça-feira, abril 11, 2017

Lapso de Trump previu ou antecipou agenda do atentado na Suécia?


Em fevereiro, Donald Trump citou um atentado inexistente na Suécia, para justificar suas medidas anti-imigratórias. A grande mídia tratou o episódio como “gafe” de um presidente “desequilibrado”. Dois meses depois ele jogou dezenas de mísseis na Síria e em seguida um atentado ocorreu em Estocolmo, Suécia. Coincidência? Ato falho de um presidente que sem querer antecipou a agenda? Ou mais sincronismos como ocorreu antes e durante “não-acontecimentos” como os de Nice, Berlim e Londres? Mais sincronismos ocorreram horas antes dos ataques à Síria, à bordo do avião presidencial, dessa vez envolvendo Trump e o filme “Star Wars Rogue One”. O fato é que agora tudo mudou: a grande mídia trata o presidente dos EUA como estadista e até humanitário. Como sempre, esses atos falhos e sincrônicos levantam a suspeita da existência de um script pré-estabelecido. São verdadeiros “espasmos da realidade” pelos quais passamos despercebidos.

O escritor norte-americano Norman Mailer (1923-2007) acreditava que nos momentos que antecedem a grandes eventos ocorrem estranhas coincidências como fossem pequenos espasmos da realidade, para depois retornar ao estado normal.

Esses “espasmos da realidade” podem ser uma mistura tanto de eventos sincromísticos (uma “linguagem crepuscular” na qual eventos se conectam em “coincidências significativas”) quanto de atos falhos, lapsos, nos quais nos quais pessoas “preveem” eventos futuros como estivessem em algum modo automático revelando o script dos acontecimentos.

Como, por exemplo, quando uma apresentadora de um telejornal da Globo “previu” o mando de jogo da partida final da Copa do Brasil com 24 horas de antecedência, indicando a sequência dos jogo de ida e volta da decisão, sequência que ainda seria sorteada na sede da CBF no Rio de Janeiro (clique aqui). Para-jornalismo? Ou a apresentadora, ligada no automático, num lapso revelou um script pré-definido?

São momentos que muitas vezes passam despercebidos. Mas se assemelham àquele vivido pelo personagem Truman no filme Show de Truman: no saguão de um edifício as portas se abrem e, incrédulo, vê ao invés do elevador os bastidores da produção por trás de uma gigantesca cenografia.

Norman Mailer e os "espasmos da realidade"

Mais “espasmos da realidade”


Pois nesse momento estamos diante de mais desses “espasmos da realidade” que se manifestam nos importantes eventos desse ano: o ataque com armas químicas supostamente cometido pelo Governo contra a população síria, a retaliação dos EUA lançando dezenas de mísseis na Síria e o atentado em Estocolmo onde um caminhão em alta velocidade atropelou e matou quatro pessoas ferindo outras 15.

Em fevereiro, ao discursar para milhares de pessoas em Melbourne, Flórida, ligando o problema da imigração na Europa ao terrorismo internacional, o presidente Donald Trump citou a Suécia como se tivesse ocorrido um atentado dias antes.
Vejam o que está acontecendo na Alemanha, o que aconteceu ontem à noite na Suécia. A Suécia, quem iria acreditar? Suécia. Eles receberam muitos. Estão tendo muitos problemas que jamais imaginaram — acusou Trump em defesa do seu decreto para impedir a entrada de refugiados e cidadãos de sete países muçulmanos nos EUA, que fora suspenso pela Justiça.
A grande mídia reportou o episódio como uma “gafe”, uma “invenção” para justificar sua “agenda de intolerância” e assim por diante. Foi mais um episódio para os telejornais e comentaristas ridicularizarem um até então presidente “folclórico”, “grosso”, chegando mesmo a ter “problemas mentais” como noticiado pela mídia de que “profissionais da saúde” demonstravam “preocupação com a instabilidade” do presidente.

O fato é que quase dois meses depois o ataque terrorista citado em uma suposta “gafe” de Trump ocorreu na Suécia.

O caminhão do ataque em Estocolmo

A piada tornou-se realidade? Ou ocorreu um “erro de agenda”, um lapso de um presidente que mantém comunicação permanente com os quadros do SD (Sverigedemokraterna, partido de extrema direita sueco) na elaboração de estratégias para criar pânico e xenofobia entre os suecos? – sobre isso clique aqui.

O fato é que o “ato falho” de Trump foi encoberto pela grande mídia pelo tom geral de piada e galhofa – afinal a percepção da “coincidência” pode criar a desconfiança que Trump inadvertidamente teve uma falha na memorização do roteiro.

Trump e Darth Vader


Mas há ainda mais “coincidências”, ou melhor dizendo, sincronismos envolvendo Donald Trump. No dia 06/04, horas antes do lançamento de dezenas de mísseis dos EUA contra a Síria, Trump estava o avião presidencial (o “Number One”) quando colocou a cabeça para fora da sala em que estava e deu uma improvisada conferência para os jornalistas que estavam a bordo.

Em uma pequena tela na divisória passava naquele momento o filme Star Wars Rogue One. A pequena conferência de imprensa iniciou com Trump falando enquanto, ao seu lado, víamos Darth Vader como fosse um irônico comentário sobre as pretensões do presidente.

Mas havia uma sincronização ainda mais interessante: naquele momento o horário do relógio digital abaixo da tela marcava 2:11. Nos EUA “211” é um código policial para designar “roubo em andamento”. Sem falar de um sincronismo histórico: 06 de abril foi a data marcada pela entrada dos EUA na Primeira Guerra Mundial, declarando guerra aos alemães e seus aliados austríacos.

Trump e Darth Vader a bordo do "Number One"

As “coincidências” 2:11, 211 e “roubo em andamento” dão no que pensar quando sabemos que desde a sua posse Trump vive em guerra declarada contra a CNN e New York Times enfrentando todo o trabalho de oposição da mídia, crescentes protestos de ativistas, além da ofensiva dos próprios republicanos contra seus projetos e a união de procuradores-gerais de vários Estados contra as medidas do presidente.

Uma situação que guarda alguns paralelos com os apuros do presidente dos EUA no filme Mera Coincidência (Wag The Dog, 1995): sob um escândalo de assédio sexual, com ajuda de produtores de Hollywood, inventa uma guerra contra terroristas albaneses para unificar a nação e desviar a atenção da opinião pública e mídia.

No caso de Trump, a comoção internacional do ataque com armas químicas contra civis na Síria (para complementar a “midiogenia” da tragédia, foco nas crianças mortas) foi um oportuno acontecimento para o presidente mobilizar a opinião pública interna contra um inimigo externo – o vilão “ditador” Bashar al-Assad.

Da mesma forma, há 100 anos as atrocidades alemãs na Bélgica impactaram o público norte-americano servindo de pretexto para a entrada na Primeira Guerra Mundial, sob os interesses econômicos de banqueiros como JP Morgan: se os Aliados perdessem a guerra não seriam capazes de pagar suas dívidas com bancos e empresas dos EUA. Por isso fizeram intensa campanha pela intervenção dos EUA na guerra.
Fotos de Donald Trump na mídia: acima, antes do ataque à Síria (entre folclórico e desequilibrado); abaixo, depois do ataque à Síria (entre estadista e humanitário).

Guerra “cirúrgica” e Guerra Suja


“Roubo em andamento”? Apesar do absoluto non sense da conta do ataque químico ser entregue a al-Assad (com armas que não possui e ainda num momento politicamente favorável ao presidente da Síria com ampla presença militar russa e a recente libertação da cidade de Aleppo dos terroristas do Estado Islâmico) a grande mídia comprou a versão de Donald Trump: lançar mísseis para impedir com o envenenamento de mais crianças inocentes.

Pronto! O viés midiático em relação a Trump deu uma guinada radical: de bufão e desequilibrado mental passou ao perfil de estadista e humanista. Até suas fotos nas mídias (sempre em ângulos desfavoráveis, caretas e gestos que se assemelhavam a de um Mussolini) alteraram o estilo para a construção do perfil de um estadista com ar grave e ângulo de câmera debaixo para cima – a construção semiótica da figura do poderoso, idealista e visionário.

                De todos os não-acontecimentos como false flags, a utilização da armas químicas são as mais impactantes na opinião pública: enquanto mísseis são encobertos por uma construção semiótica de precisão – “guerra cirúrgica” e “guerra limpa” – a imagem das armas químicas têm a ver com “guerra suja”: contaminação, queimaduras e toda uma metáfora viral à qual as pessoas são mais impactadas. A própria figura do terrorista é construída nesse campo semiótico do perigo químico, viral ou invisível.



             Esses “espasmos da realidade” ou anomalias surgem aqui e ali mostrando o modus operandi do script desses “não-acontecimento. O DailyMail em janeiro de 2013 (veja acima) reportou o vazamento de e-mails entre a Defesa britânica e a Casa Branca com a aprovação de Washington para que forças rebeldes na Síria utilizassem armas químicas para a culpa ser jogada no regime de Assad.

E agora na Venezuela, a oposição ao regime de Nicolás Maduro alega que o Governo também planeja usar armas químicas contra a população. Foi o que denunciou o prefeito de Direita David Smolansky no Twitter. Certamente, na esperança de uma intervenção externa por Maduro supostamente querer ferir resoluções da ONU.

Por que a Suécia?


 Apesar do lapso da antecipação de agenda de Trump em fevereiro o script vem se desenrolado de maneira precisa: ataque de armas químicas; contra-ataque norte-americano contra a Síria; e a resposta do terrorismo internacional em Estocolmo.

Mas por que dessa vez a Suécia? No ato falho de Trump estão algumas respostas. Após a suposta gafe do presidente, partidários republicanos imediatamente pegaram carona nos eventos de protestos em um bairro de imigrantes em Estocolmo.

Embora o programa do governo de integração de refugiados na sociedade sueca seja bem sucedido, a partir de fevereiro foram estreitados os contatos com os quadros do partido de extrema-direita SD. Lançaram-se na missão de encontrar problemas no país europeu, para argumentar que a recepção de refugiados aumenta a ameaça extremista.


Para o cientista político Tobias Etzold (do grupo de pesquisa do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança) em entrevista à TV Deutsche Welle, após a “gafe” de Trump a direita sueca “lucrou” com o foco da grande mídia voltando-se para a discussão sobre  a “real situação” dos imigrantes no país escandinavo.

Considerada uma “potencia humanitária” a Suécia sofrerá com o ganho de força da extrema-direita após o atentado em Estocolmo. Principalmente porque a descoberta do suposto autor do atentado (um uzbeque de 39 anos) tinha pedido um visto de residência permanente em 2014 e recusado em junho do ano passado. Os serviços de imigração o procuravam por ter desrespeitado a ordem de deportação.

Assim como nos atentados de Nice, Berlim e Londres, como sempre esses não-acontecimentos possuem timing (imediatamente após a ofensiva bélica de Trump), oportunismo (quem ganha?) e um alvo simbólico: o modelo humanitário bem sucedido da Suécia (acolhimento residencial de imigrantes, ao contrário dos campos de isolamento), o contraponto ao discurso anti-terror e anti-imigração.

Essa escalada de atentados que se destinam muito mais às mídias do que qualquer espécie de “guerra de civilizações” ou “choque de culturas” que ameace o poder Ocidental segue um script bem definido – impactar o contínuo midiático (opinião pública + formadores de opinião) com o medo e o ódio.

Por isso, devemos ficar atentos aos “espasmos da realidade” que sempre passam despercebidos por nós: sempre prestamos mais atenção aos grandes não-acontecimentos, sem conseguirmos contextualizar e antecipar os próximos passos.

Porém, os sincronismos estão aí, diariamente diante dos nossos olhos.

Com informações do Twilight Language, DailyMail, Deutsche Welle, Aangirfan, Uol, O Cafezinho

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