sábado, novembro 21, 2015

Curta da Semana: "Bloody Dairy" - Por que os gatos dominaram a Internet?


O curta “Bloody Dairy” (2015), projeto de 100 dias de animações em gif, e mais uma amostra de como os gatos cada vez mais estão tomando conta da Internet com memes e vídeos virais, superando os seu eternos rivais: os cães. Tornou-se fenômeno cultural, merecendo até uma exposição no Museum of Moving Image em Nova York. Por que gatos ao invés de cachorros? A questão pode parecer inútil e superficial, mas também pode nos conectar com os milenares simbolismos ocultos e esotéricos dos gatos como guardiões e mediações com outros mundos. Portanto, para onde os gatos nos apontam em memes e vídeos? Estamos diante de um fenômeno sincromístico em plena cultura high tech?

Bloody Dairy é um projeto para 100 dias de animações diárias. A animadora e designer Min Liu criou um gif animado por dia nesse período de tempo. Tudo feito à mão, frame por frame, inspirado em momentos cotidianos de encontro com objetos, fantasias mas, principalmente, com gatos.

Para Min Liu a melhor parte do projeto era a necessidade de terminar a animação,  fazer o upload antes da meia noite de cada dia e receber o feedback das pessoas em várias partes do mundo.

O projeto Boody Dairy foi inspirado em um outro projeto atualmente em curso no Instagram criado pela revista nova-iorquina de arte e design The Great Discontent (TGD) chamado “What Could You Do With 100 Days of Making?”


Mas o interesse do “Cinegnose” em indicar o Bloody Dairy como o “Curta da Semana” é porque essa animação é mais um exemplo da invasão atual dos gatos na Internet: memes, vídeos virais e fotos de gatos em situações divertidas, façanhas absurdas, inusitadas – LOLcats, Lil Bub, Nyan Cat etc.

Como os gatos dominaram a Internet?


Uma tendência tão crescente nos últimos anos que chegou a merecer uma exposição no Museum of Moving Image em Nova York, que vai até fevereiro de 2016, intitulada “How Cats Take Over The Internet” – “Como os Gatos Dominaram a Internet”. A exposição mostra a história dos gatos online examinando fenômenos como Caturday, LOLcats, Cat Videos, Celebrity Cats e toda sorte de espécies de felinos que vem acompanhando gerações de usuários na Internet.

A exposição também tenta encontrar uma explicação para esse aparentemente frívolo fenômeno: antropomorfismo? A estética da fofura? A ascensão de conteúdos gerados pelos usuários?

  A exposição faz uma intrigante pergunta: Por que gatos ao invés de cachorros? Há também uma abundância de vídeos de cachorros, mas os gatos são os mais propensos a viralizarem, chegando ao ponto de serem publicados livros como “Como Tornar Seu Gato uma Celebridade na Internet” da escritora Patricia Carlan.


A qual resposta chega a exposição? É intrigante: os cães geralmente reconhecem as câmeras (e mais provavelmente seus donos) e, na sua ânsia de tentar agradar, tornam os vídeos menos espontâneos e interessantes. Cães interagem com a câmera. Ao contrário, os gatos são mais estoicos, indiferentes e independentes – parecem desprezar a câmera e o seu dono que o observa.

Numa cultura da pose e das selfies, iniciada pela fotografia no século XIX e que chega ao paroxismo na atualidade com YouTube e celulares, as façanhas de seres tão indiferentes e independentes como gatos nos intrigam. Diante das câmeras, não sabemos o que farão.

Por isso o gato seria um bicho perfeito na Internet para dois prazeres humanos: o voyeurismo e o antropomorfismo – diante das ações indiferentes do gato parece que somos observadores poderosos que vê um personagem que parece não saber que estamos ali; por isso, o gato transforma-se numa tela perfeita para a projeção das emoções humanas. Assim como os quadrinhos e animações do gato Garfield, a síntese das imperfeições humanas mais “adoráveis” – odeia as segundas, balanças, regime e adora lasanhas, a preguiça e ficar diante da TV de bobeira.

Gatos como fenômeno sincromístico


Mas também poderíamos estar diante de um fenômeno sincromístico, principalmente sabendo-se que o gato possui uma longa trajetória de simbolismos associado ao Oculto e o Esotérico.

Sua astúcia, esperteza, inteligência, intuição e independência fizeram diversas culturas associá-lo a um arco de simbolismos que vai do Guardião do Outro Mundo (ou Submundo, dependendo da religião) ou à Feitiçaria e companheiro de bruxas – os gatos pretos seriam fisicamente mais resistentes a trabalhos com fluidos espirituais mais pesados.


Não importa o simbolismo ou a cultura, os gatos parecem guardar segredos de outro mundo eternamente para si mesmos, enquanto olham com malícia para nós. Ou os caçamos como fizeram com bruxas e felinos na Inquisição católica ou os vemos como guardião da casa e um símbolo da bondade doméstica como o fazem os japoneses ou como fizeram na Roma antiga – o gato era sagrado para Diana, a deusa da Lua.

Como guardiões do Outro Mundo no antigo Egito eram também sagrados e representados na cabeça da deusa lunar Bastet – em sua honra eram mumificados e colocados juntos com as múmias de seus donos para acompanha-los (talvez como guias) na jornada para o Outro Mundo.

Em síntese, o gato é um arquétipo da mediação com outros mundos. Talvez seja essa a essência sincromística do fenômeno viral dos gatos na Internet: numa cultura visual tão autoconsciente (web cams e dispositivos móveis criaram um ambiente fechados em nós mesmos) que a indiferença e independência dos gatos nos divertem por nos fazer lembrar que existe uma realidade fora da mônada.

Mesmo numa cultura contemporânea tão high tech e visual, o gato continua a desempenhar o papel de mediação e de guardião dos outros mundos. A diferença é que agora esse “outro mundo” não é assim tão metafísico – simplesmente o gato nos mostra que existe um mundo espontâneo, independente e misterioso, para além das selfies, poses e dos melhores avatares que criamos para nós mesmos.


Ficha Técnica


Título: Bloody Dairy
Animação: Min Liu
Roteiro: Min Liu
Design de som: Weng Hu
Produção: independente
Distribuição: Bloody-dairy.com
Ano: 2015
País: EUA

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