domingo, dezembro 10, 2017

Curta da Semana: "Where Are They Now?" - uma cilada destruiu Roger e Jessica Rabbit


Onde estão os ícones da animação dos anos 1980 como He-Man, Roger e Jéssica Rabbit (do filme "Uma Cilada Para Roger Rabbit"), o Esqueleto, Garfield, Popeye, Mumm-Rá, muito tempo depois do auge? Como seria a realidade das suas vidas atuais? O animador inglês Steve Cutts (conhecido por narrativas críticas sobre a vida moderna) os imagina viciados, obesos, compulsivos, desempregados ou subempregados em call-centers e caixas de supermercados. Esse é o argumento do pequeno curta “Where Are They Now?” (2014): heróis que perderam a batalha final contra inimigos mais poderosos do que vilões desse ou do outro mundo: o mundo corporativo, o trabalho precarizado e o desemprego crônico. E terminaram esquecidos porque acabaram ficando parecidos demais com os espectadores.

sábado, dezembro 09, 2017

A batalha humana de lembrar e esquecer em "Marjorie Prime"



O que é a memória? Um poço profundo no qual resgatamos lembranças? Ou apenas lembramos da últimas vez que lembramos? Cópias de cópias de lembranças cada vez mais inexatas. E se uma Inteligência Artificial fosse programada com nossas memórias? Seria um poço de lembranças ou uma máquina que cobre a lacuna das nossas memórias apenas com simulacros? Esse é o tema de “Marjorie Prime (2017) – num futuro indeterminado foi introduzido um serviço que permite “ressuscitar” a pessoa amada de forma holográfica, “primes” programados pelas memórias do usuário e familiares. Mas essas próteses de memórias não serão nem humanizadas e muito menos pretenderão nos subjugar. Serão apenas testemunhas passivas da nossa desumanização. Filme sugerido pelo nosso infalível leitor Felipe Resende.

quinta-feira, dezembro 07, 2017

Mídia dilui significado da descoberta de papiro com "ensinamentos secretos" de Jesus


As notícias foram dadas como alguma coisa entre Indiana Jones, conspirações do “Código da Vinci” de Dan Brown ou sobre Jesus convenientemente próximo do Natal. As notícias sobre a descoberta do manuscrito em grego do “Primeiro Apocalipse de Tiago” (manuscrito apócrifo gnóstico até então conhecido em linguagem copta da chamada “Biblioteca de Nag Hammadi”), perdido no acervo da Universidade de Oxford, foram cercadas por uma mitologia midiática que sempre é acionada para diluir aquilo que é de mais virulento e revolucionário no Gnosticismo (razão pela qual foi tão perseguido por toda a História): os conflitos políticos e econômicos como parte do drama de uma luta cósmica entre o Bem e o Mal, sem superação dialética ou solução evolutiva. A grande mídia cobriu a descoberta como “religiosa”, diluindo a potencial ameaça às instituições desse mundo: de que Jesus não veio para nos “salvar”, mas para nos revelar algo que já existe dentro de nós – apenas nos fazem esquecer através de ilusões. E a mídia que “noticia” a descoberta do manuscrito é uma delas.

terça-feira, dezembro 05, 2017

Para a Globo, vingança é um prato que se come... quente!


Diz o ditado, imortalizado no livro “O Chefão”, de Mário Puzzo, na fala de Dom Corleone: “A vingança é um prato que se come frio”. Mas para a Globo não é bem assim: deve-se servir bem quente. Ataque e contra-ataque, retaliatório e vingativo. O candidato à presidência Jair Bolsonaro (criatura que emergiu da lama psíquica que a Globo remexeu para engrossar o caldo do impeachment) acusou a emissora de “emplacar o Lula” e ameaçou, “quando chegar lá”, reduzir pela metade a verba publicitária da emissora. Foi o bastante para de imediato o jornal “O Globo” denunciar, em letras garrafais, o nepotismo do deputado no Congresso. Mais um episódio que comprova como o jornalismo global nunca esteve no campo da informação – se isolou num fechado sistema tautista de autopreservação. Quando vê ameaçado seus interesses logísticos e econômicos (da política ao futebol), escala seus apresentadores e colunistas para colocar suas “grifes” como ventríloquos dos “furos” que rapidamente descem da cúpula para o piso da redação. Chamam isso de “jornalismo investigativo”.

domingo, dezembro 03, 2017

Em "Cosmodrama" Ciência, Religião e Filosofia travam duelo sem rumo


Sete astronautas, acompanhados por um cachorro e um chipanzé, acordam em uma espaçonave depois de saírem do estado de criogênico. Nenhum deles sabe o que está fazendo ali ou qual o destino final da viagem. Aparentemente a nave (um mix vintage da “Discovery” de “2001” e a “Enterprise” da série de TV “Star Trek”) está programada para funcionar automaticamente. Eles apenas terão que confiar na própria capacidade de observação para especular o propósito de tudo aquilo. Logo descobrirão que cada um é especialista em um área do conhecimento: Psicologia, Astronomia, Semiótica, Jornalismo, Filosofia, Biologia e Genética. Esse é o filme francês “Cosmodrama” (2015) de Phillipe Fernandez. Com delicadeza e humor, através de gags e situações absurdas, introduz o espectador às grandes especulações cosmológicas sobre o início e o fim do Universo: o Big Bang, a Eternidade, o design inteligente e o universo holográfico. Ciência, Religião e Filosofia duelam entre si para entender o propósito da existência. Porém, o mistério maior permanece: mas afinal, o quê é aquela espaçonave? Com a colaboração do nosso infalível leitor Felipe Resende.

quinta-feira, novembro 30, 2017

O jogo da simulação de censura Globo/Gabriel Bá


Nas redes sociais indignação. O desenhista Gabriel Bá apareceu no talk show da Globo “Conversa com Bial” com seu indefectível boné verde – marca registrada do artista. Só que dessa vez com a estrela vermelha coberta de forma improvisada com duas fitas isolantes preta. “Evite números ou símbolos para que não haja associação a marcas ou partidos políticos”, teriam dito os figurinistas nos camarins. “Censura!”, gritaram internautas. Se foi mesmo censura, como pode a Globo fazê-la de forma tão tosca e improvisada? O episódio apresenta algumas dissonâncias que sugerem mais uma estratégia de manipulação. Mas dessa vez não mais no campo semiótico da “dissimulação” – esconder, mentir, censurar. Mas agora no campo da “simulação”: propositalmente tornar o evento visível (a suposta “censura”). Para quê? Para a Globo tentar se livrar de mais um dos seus dilemas: depois de anos de oposição política explícita explorando símbolos e números de forma até subliminar, agora, candidamente, tenta demonstrar que possui uma linha editorial “imparcial”. E o artista, assim como os indignados críticos, participaram inconscientes desse blefe.

quarta-feira, novembro 29, 2017

"Crumbs": o primeiro sci-fi da Etiópia é sobre o apocalipse ocidental


Em um mundo pós-apocalíptico, um homem fará uma jornada espiritual em busca do... Papai Noel, para que realize seu sonho de leva-lo para uma espaçonave que está parada no céu. Enquanto isso, sua esposa reza num altar com a foto de Michael Jordan para que divindades como “Justin Bieber IV” e “Paul MacCartney XI” os proteja nessa difícil missão. Esse é o primeiro filme de ficção científica da Etiópia: “Crumbs” (2015) de Miguel Llansó sobre um futuro em que tudo o que restou da antiga civilização foram brinquedos, objetos e detritos de plástico e vinil da extinta cultura pop. Sem terem a memória do mundo anterior ao apocalipse, criaram uma nova mitologia transformando todos esses restos do passado em símbolos místico-religiosos e amuletos de sorte. Toda a bizarrice e surrealismo de “Crumbs” nos faz pensar: assim como eles, será que também mitologizamos símbolos e objetos antigos, criando novas religiões tão loucas quanto as do filme “Crumbs”?

segunda-feira, novembro 27, 2017

Curta da Semana: "Happiness" - quando a felicidade vira ideologia


Como pode ser prometida a felicidade numa sociedade de competição generalizada? Uma competição tão naturalizada e entranhada cuja narrativa teria seu início na seminal corrida dos espermatozoides na reprodução humana. A felicidade somente seria possível no plano da ideologia: a felicidade individual às custas da infelicidade da maioria. Esse é o tema do curta de animação “Happiness” (2017) do britânico Steve Cutts: ratazanas antropomorfizadas correm frenéticas em metrôs, ruas, calçadas e shoppings lotados, lutando entre si pela posse de mercadorias em uma Black Friday selvagem. E todos cercados por centenas de peças publicitárias que prometem felicidade com a compra de qualquer coisa. Quanto maior a infelicidade que a competição provoca, mais valorizada é a mercadoria “felicidade” no mercado. A sátira social do curta “Happiness” questiona o modelo de felicidade prometido, com ácida ironia.

domingo, novembro 26, 2017

Filme "Solaris" de Tarkovsky é o anti-"2001" de Kubrick


Andrei Tarkovsky considerava “2001: Uma Odisseia no Espaço” de Kubrick um filme “estéril”. Por isso, “Solaris” (1972), produção do cineasta soviético, foi considerado pela crítica o filme “anti-2001”: se os EUA ganharam a corrida espacial colocando o primeiro homem na Lua, no cinema a URSS ganharia a Guerra Fria fílmica ao desconstruir o gênero ficção científica que legitimava a conquista do espaço. De certa forma, Solaris foi o primeiro filme PsicoGnóstico: há uma planeta, uma estação espacial e astronautas. Mas tudo não passa de um álibi para discutir como o tema das viagens espaciais são um mito que esconde a verdadeira viagem: lá em cima, ao descobrirmos que estamos só em um Universo vazio e sem propósito, faremos uma viagem no interior do nosso próprio psiquismo. Um planeta com um misterioso oceano que prova aos cientistas de uma estação espacial de que não precisamos de outros mundos. Precisamos de espelhos.

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