quarta-feira, fevereiro 17, 2016

Editor do "Cinegnose" apresenta experiência do Cinema na sala de aula como Acontecimento


Normalmente pensamos o cinema como entretenimento ou como um meio pelo qual podemos ter informações que nos façam repensar o mundo. Mas isso é comunicação? Ou estamos confundindo comunicação com sinalização e informação? Quando o cinema de fato comunica? Esse foi o tema discutido por esse blogueiro no III Seminário Anhembi Morumbi de Estudos do Ensino Superior – um estudo de caso sobre a exibição do filme “Como Fazer Carreira em Publicidade” (1989) em sala de aula e o mapeamento de fenômenos de comunicação como “Acontecimento” durante e depois da recepção do filme. A experiência foi tentar redefinir o conceito de comunicação como Acontecimento – aquilo que provoca crise e altera a vivência. Aquela experiência que, depois, já não somos mais os mesmos.

Esse humilde blogueiro que escreve essas mal traçadas participou ontem (16/02) do III Seminário Anhembi Morumbi de Estudos do Ensino Superior apresentando o trabalho Como Fazer Carreira em Publicidade com Massumi, Shaviro e Whitehead: Cinema e Acontecimento Comunicacional na Sala de Aula.

domingo, fevereiro 14, 2016

Curta da Semana: "Estado de Suspensão" - o "estar entre" o sonho e a realidade


O Curta da Semana vai para uma produção brasileira inspirada em leituras gnósticas feitas aqui no “Cinegnose”. O curta “Estado de Suspensão” (2015) de Renan Lopes foi um trabalho experimental do curso de Cinema e Mídias Digitais do Centro Universitário IESB de Brasília. Baseado no conceito de “suspensão” como estado de consciência que induziria a gnose (proposto por Basilides de Alexandria em II DC), um protagonista deve fazer uma importante escolha para sua vida: ou a realidade, ou o sonho. Mas ele vai buscar uma terceira via: o “estar entre”.

Um  personagem vaga pelas ruas de alguma cidade-satélite de Brasília após olhar para o seu cartão funcional pendurado no pescoço. Embarca em um ônibus, coloca um headphone e adormece – sonha atravessando uma ponte e depois com uma câmera digital na mão capturando imagens. As paisagens são ao mesmo tempo urbanas, desérticas e áridas. Parece que há algo que deve ser decidido na vida do protagonista – uma escolha entre aquilo que o cartão funcional representa (o trabalho e a realidade) e o que aquela ponte e a câmera digital simbolizam – o sonho e o cinema.

quinta-feira, fevereiro 11, 2016

Bebê-diabo, zika vírus e a busca da relevância perdida pela grande mídia


Se no passado era fácil diferenciar o Jornalismo da chamada “imprensa marrom”, hoje a perda da relevância da grande mídia frente às tecnologias de convergência a faz tomar medidas desesperadas que confundem o sensacionalismo com informação: criam-se situações de exceção, crises econômicas e políticas, pandemias, ameaças terroristas crescentes, iminentes catástrofes geológicas, climáticas, astronômicas e assim por diante numa espiral especulativa. Da clássica história do “bebê-diabo” nos anos 1970 às pandemias promovidas a cada temporada mudou-se apenas a motivação: lá, o jornalismo por centavos; agora, a busca de uma relevância perdida.

Numa Chicago dos anos 1930 marcada por segregação étnica e choques entre culturas de imigrantes, o sociólogo Ezra Park assinalava a importante função integradora dos jornais – como a imprensa contribuía para a integração dos imigrantes à população local. Essa visão sobre a função integradora da imprensa marcou a distinção entre a grande imprensa e a chamada “imprensa marrom” – ao contrário, uma imprensa “desintegradora” porque apostava no sensacionalismo, no medo e no individualismo para unicamente vender mais jornais.

quarta-feira, fevereiro 10, 2016

O Universo foi criado por alguém que não nos ama em "Christmas On Mars"


Um filme estranho, trash e psicodélico que confirma que o rock é um gênero musical que sempre retirou suas energias da mitologia gnóstica contemporânea: Detetives, Viajantes e Estrangeiros sempre vagando em nowhere – o Espaço, o Deserto, o Lugar Nehum como símbolos da condição humana, assim como o Major Tom de músicas de David Bowie. Dessa vez no filme “Christmas On Mars” (2008, escrito e performado pela banda de rock indie “Flaming Lips”) vemos Major Syrtis tentando superar uma crise de niilismo, psicose e paranoia que se abateu sobre a tripulação de uma base marciana através da organização de uma festa natalina. Mas terá que superar a confrontação com a “realidade cósmica” – que o Universo foi criado por alguém que não nos ama.

“Ele está vivendo a terceira etapa de um episódio psicótico. Está observando algo que realmente não está ali... isso é causado pela confrontação com a realidade cósmica”, explicam personagens que habitam uma colônia em Marte sobre o comportamento do Major Syrtis – está parado, catatônico, olhando através de uma das janelas da colônia dois técnicos trabalhando no solo marciano.

Christmas On Mars inicia com o pensamento do Major Syrtis ao observá-los: “parecem duas mariposas lutando pela sobrevivência... nunca conheceram uma força do Universo que lhes mostrasse piedade”. A “realidade cósmica” para a qual o Major Syrtis catatonicamente olha é “uma estranha máquina onde todos estão presos”. O Espaço, para onde jamais o homem deveria ter ido porque lá são destruídas todas as nossas crenças internas. Onde a Criação não demonstra a menor piedade ou compaixão.

domingo, fevereiro 07, 2016

Adeus à carne: uma história gnóstica do Carnaval, por Claudio Siqueira


Chegamos a mais um carnaval, a famigerada “Festa da Carne”, embora a etimologia não seja bem essa. Sagrado para os foliões e profano para os carolas, as origens de tal festa possuem  raízes gnósticas como não poderia deixar de ser. Se “a voz do povo é a voz de Deus”, no Carnaval não poderia ser diferente; ainda que esse deus fosse Dionísio. Embora pouco conhecido pela metafísica do inconsciente coletivo nacional, o maior ritual hedonista brasileiro tem muito a ver com essa antiga divindade grega, que em Roma atendia por Baco. Duvida? Basta reparar no gordo Rei Momo que preside essa folia. Sim, senhoras e senhores! Os arquétipos sempre se repaginam, e o maior ébrio do Olimpo não ia ficar de fora da Saturnália dos trópicos. O "Cinegnose" disseca a história do carnaval, sem se esquecer da Sétima Arte, que o retratou com maestria.

sábado, fevereiro 06, 2016

Platão se encontra com Tarantino no documentário "The Wolfpack"


O leitor deve lembrar da alegoria da Caverna de Platão, diálogo filosófico sobre a condição humana prisioneira de imagens simulacros do mundo real. Na inacreditável história contada pelo documentário “The Wolfpack” (2015, disponível no Netflix) de Crystal Moselle, essa alegoria deixa de ser uma tese filosófica para se tornar real: o que aconteceria se o homem conseguisse sair da caverna de Platão e olhasse a realidade? Sete irmãos cresceram presos pelos seus pais em um apartamento em Nova York. Sem sair às ruas tinham o cinema hollywoodiano (e principalmente filmes do Tarantino, seus favoritos) como o único contato com o mundo exterior e passavam os dias reencenando sequências dos filmes – montavam cenografias e fantasias com papelão de caixas de cereais. O apartamento tornou-se uma caverna midiática e quando finalmente se libertaram, conseguiram ver a realidade apenas a partir das referencias cinematográficas.

Na antiguidade o filósofo Platão acreditava que se o homem conseguisse sair da caverna de onde era prisioneiro, a luz do mundo lá fora e do fogo que projetava os simulacros na parede seria tão intensa que iria ferir os olhos, e ele não poderia ver bem.

Muitos pensadores falam que a caverna de Platão atual é a midiática e que, mesmo se conseguíssemos tentar ver o mundo real desligando todos os equipamentos elétricos e eletrônicos, ainda assim veríamos as coisas a partir das referencias do mundo das imagens que persistem em nossas mentes.

quinta-feira, fevereiro 04, 2016

Curta da Semana: "O Sanduíche" - e no final do abismo tinha um sanduíche


Brilhante jogo de “narrativa em abismo” (um filme dentro de outro filme e dentro de outro filme e assim por diante), o curta “O Sanduíche” (2000) do brasileiro Jorge Furtado quer trazer o espectador dos simulacros da tela para a realidade de um set cinematográfico – o que um espectador acostumado a ver os filmes prontos na sala do cinema acharia de ver ao vivo o filme sendo produzido no próprio set de filmagem? É o que Furtado propõe: cair em um abismo narrativo até encontrar no final um prosaico sanduíche. Curta sugerido pelo leitor Rafael Mori.

Jorge Furtado é sem dúvida o cineasta brasileiro que mais profundamente explorou a linguagem do formato curta-metragem. Ilha da Flores (1989) é o curta mais lembrado do cineasta e o mais visto na história do cinema brasileiro – considerado pela crítica europeia um dos 100 curtas mais importantes do século passado.

segunda-feira, fevereiro 01, 2016

Três evidências de que o zika vírus é uma "Operação Pandemia" midiática


Fica cada vez mais evidente que a grande mídia possui uma pauta pré-estabelecida e que ciclicamente ela é “enriquecida” com a, por assim dizer, "Pandemia da Temporada": SARS, Gripe Aviária, Gripe Suína, Ebola... e agora a pandemia Zika. Com o terrível surto de casos de nascimentos de bebês com microcefalia. Apesar de estudos científicos contrários, a mídia e Governo se apressam em estabelecer ligação inequívoca entre o zika e os casos de má formação. Evidências contrárias são imediatamente rotuladas como “teorias conspiratórias” diante da inquestionável “emergência sanitária internacional”. A Crise Zika seria mais uma “Operação Pandemia” midiática?  O objetivo dessa suposta operação seria esconder da opinião pública três outros fatos envolvidos na Crise Zika: o uso intensivo de pesticidas, a vacina TdaP e mosquitos geneticamente modificados.

Desde que o ano iniciou, o jornalismo da grande mídia brasileira parece engessado em uma pauta recorrente de cabo a rabo da sua programação diária: no Brasil, Operação Lava-Jato, corrupção e crise econômica; no Exterior, a catástrofe econômica da Venezuela (que substitui a da Argentina, agora supostamente rediviva após a vitória de Macri), o combate anti-terrorismo e a crise dos refugiados na Europa – o que para a pauta “investigativa” dos correspondentes no velho continente, sempre apressados em buscar “conexões”, terroristas e refugiados quase sempre são a mesma coisa.

sábado, janeiro 30, 2016

No filme "O Novíssimo Testamento" Deus não morreu - apenas se tornou inútil


Deus existe, e ele está em algum lugar em Bruxelas. Arrogante e grosseiro, passa os dias digitando em um computador ultrapassado regras para tornar a vida de todos um inferno. Mas o que ninguém sabe é que Ele tem uma filha que está decidida a ser mais bem sucedida do que seu irmão, Jesus – libertar a humanidade do jugo de um Demiurgo através do Novíssimo Testamento. Esse é o filme “O Novíssimo Testamento” (Le Tout Nouveau Testament, 2015) do belga Jaco van Dormael, uma comédia de humor negro blasfema, herética mas, principalmente, gnóstica: se soubéssemos o momento exato da nossa morte, paradoxalmente viveríamos melhor a vida que nos resta, sem o medo do caos e do aleatório que impedem o nosso livre-arbítrio. Para Van Domael, Deus não morreria, mas se tornaria inútil.

O que faria o leitor se soubesse o dia, a hora e o minuto exato da sua morte? Continuaria levando a vida normalmente cumprindo seus deveres e reponsabilidades à espera do fim? Ou mandaria tudo às favas e realizaria tudo aquilo que seus deveres e responsabilidades não deixavam?

Mas quem enviou essa informação tão precisa e perturbadora? Uma pessoa que teve acesso ao computador de Deus, roubou as informações e, por vingança, as enviou para todos os celulares do planeta via mensagem SMS.

sexta-feira, janeiro 29, 2016

Cidade de Santos vive no caos semiótico


Descer a serra para a Baixada Santista (litoral de São Paulo) é uma curiosa experiência. Sair da cidade de São Paulo, onde a Lei Cidade Limpa erradicou a poluição visual de outdoors e fachada comerciais, e entrar na cidade de Santos é uma experiência impactante: o acúmulos de totens, outdoors, imensas placas de fachadas, displays etc. Mas há algo de intrigante na cidade: não é apenas a poluição visual por acúmulo e adição. Há um estranho fenômeno que poderíamos chamar de “caos semiótico” – pet shop que se confunde com buffet infantil, igreja evangélica que parece um depósito de galões de água mineral, uma casa de colchões que lembra a fachada de uma casa noturna e escola que emula parque temático. É a semiótica mimética por imitação, pastiche, estilização e contaminações visuais.

Esse humilde blogueiro costuma passar as férias escolares na cidade natal de Santos/SP. Sair de São Paulo, descer a serra e chegar na cidade do litoral é uma experiência curiosa: na estrada já começamos a nos deparar com outdoors, mídia publicitária que foi banida da cidade de São Paulo com a Lei Cidade Limpa.

domingo, janeiro 24, 2016

Wall Street autoconsciente e cínica no filme "A Grande Aposta"


Desde os anos 1980 fundos de investimento de Wall Street investem em Hollywood nos chamados estúdios independentes. Ironicamente, os mesmos estúdios que inventaram o subgênero “cinema da crise” que desde o crash da bolha especulativa imobiliária de 2008 denunciam as “fraudes” e “mentiras” de Wall Street em diversos documentários e dramas ficcionais. O filme “A Grande Aposta”, indicado ao Oscar desse ano, é mais uma dessas produções supostamente críticas, mas ironicamente financiadas pelo próprio sistema que denuncia. Wall Street é autoconsciente e cínica ao financiar filmes como “A Grande Aposta”? Será que  toda “ganância é boa” ao ponto do sistema financeiro lucrar com a própria denúncia de si mesmo?

As ondas da crise financeira global de 2008 continuam se espalhando não só nas tendências econômicas, mas também no universo cinematográfico. Foi capaz de criar uma espécie de subgênero que poderíamos denominar como “cinema da crise”: Capitalismo - Uma História de Amor (2009), A Ascensão do Dinheiro (2009), O Último Dia do Lehman Brothers (2009), Trabalho Interno (2010), Margin Call: O Dia Antes do Fim (2011), O Lobo de Wall Street (2013), para ficar nos mais conhecidos.

Sejam documentários ou narrativas ficcionais, esses filmes têm em comum o esforço em tentar explicar aos leigos a terminologia hermética dos sistemas financeiros como subprimes, swaps, agências de classificação de risco, CDO sintética, CDO composta, obrigações hipotecárias, tranches etc.

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