domingo, fevereiro 27, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Enquanto a Rússia invade a Ucrânia, a Live Cinegnose 360 #44 faz a blitzkrieg de domingo! Venha participar dessa invasão, às 18h, 27/02, no YouTube. Chegaremos à fronteira com Pink Floyd: do rock espacial ao lado sombrio do psicodelismo. Depois, começaremos a invasão discutindo os filmes “Strawberry Maison” (Neuromarketing e a Interpretação dos Sonhos de Freud) e “Moonfall: Ameaça Lunar” (por que Hollywood aumenta a produção de filmes-catástrofe nos momentos de crise global?). Para finalmente ocuparmos a capital: Grande mídia e a guerra na Ucrânia: guinada geopolítica do Império, guerra orbital e guerra territorial – por que o ator Sean Penn foi entrevistar o ator-presidente Zelensky? Qual o rendimento semiótico para a mídia hegemônica brasileira e internacional? Rússia e Ocidente: dois modelos diferentes de Deep State. Um balanço da guerra semiótica criptografada semanal de Bolsonaro e do PMiG. Contra a grande mídia não há negociação de paz!
sexta-feira, fevereiro 25, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
The Last Minute Rescue! Hollywood vem ao resgate da Ucrânia! Em meio à destruição das suas forças armadas sob a blitzkrieg russa, o presidente-ator-comediante Vlodimir Zelensky arrumou tempo para a canastrice diante da câmera de outro ator: Sean Penn, que faz um documentário sobre a crise ucraniana. Aparentemente nenhuma novidade: Hollywood é o braço imaginário armado dos EUA. Apenas aparentemente: por trás há uma guinada geopolítica dos EUA, iniciada com a saída do Afeganistão. E agora, abandonando a Ucrânia à própria sorte, como isca para atrair a guerra territorial russa. Mas não sem antes render uma boa mais-valia semiótica: a construção da narrativa da Guerra Fria 2.0 – Putin como um nostálgico da velha União Soviética. Uma guinada geopolítica que abandona a tática “boots on ground” para se dedicar à guerra híbrida e cibernética. Diante de uma nova ordem mundial multipolar que, por exemplo, prejudica as sanções contra a Rússia: se acontecerem, poderão ser o primeiro dominó da desdolarização da economia mundial.
quinta-feira, fevereiro 24, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Moonfall: Ameaça Lunar” (2022), do mestre dos filmes-catástrofe Roland Emmerich (“Independence Day”, 2012), é um exemplo do mais recente pico de produções do gênero, sincrônico à crise pandêmica global e à Guerra Fria 2.0 consolidada com a invasão da Ucrânia pela Rússia. Dessa vez, acompanhamos o que aconteceria se a Lua saísse de órbita e entrasse em rota de colisão com a Terra. Esse novo pico de produções de filmes-catástrofe (basta pesquisar o banco de dados do Internet Movie Data Base – IMDB) confirma a tese do sociólogo Ignácio Ramonet: os filmes catástrofes são uma operação psicológica de deslocamento, ao criar um objeto fóbico que fixa a angústia coletiva suscitado em situações de crise. Fixar o vetor da crise como uma calamidade de ordem natural para, dessa maneira, despolitizar os acontecimentos. Freud explica.
Roland Emmerich é o mestre dos filmes-catástrofe. Principalmente pela maneira como consegue combinar paranoia e teorias conspiratórias que sempre apontam para uma iminente destruição do planeta.
Em Independence Day (1996), a conspiração governamental para ocultar o segredo alienígena na Área 51; em Godzilla (1998), testes nucleares secretos criam um lagarto mutante gigantesco que, claro, vai querer destruir Nova Iorque; em O Dia Depois de Amanhã (2004), a conspiração para ocultar as consequências apocalípticas das mudanças climáticas; em 2012, tendo como pano de fundo a profecia Maia que supostamente previa o fim do mundo naquele ano, a conspiração das elites mundiais para ocultar a catástrofe geológicas que matará grande parte da população – enquanto a elite, com informação privilegiada, pagava fortunas para um lugar na Arca de Noé high tech.
E agora, Moonfall: Ameaça Lunar, com uma teoria da conspiração tão velha quanto a do pouso da Apollo 11 na Lua dirigido por Stanley Kubrick – a teoria de que a Lua é uma megaestrutura alienígena oca, criada por uma antiga raça para algum propósito não muito claro.
Dessa vez o “mestre do desastre” ao mesmo tempo nos aterroriza e nos fascina (com os espetaculares efeitos especiais CGI) descrevendo o que aconteceria se a Lua saísse de orbita e entrasse em rota de colisão com a Terra.
O filme é lançado num momento em que transforma esse típico exemplar do gênero filme-catástrofe num sintoma: as consequências econômicas globais da pandemia somadas à escalada da crise política no Leste Europeu com o desfecho final da invasão russa na Ucrânia.
Moonfall é um típico filme de um gênero bem particular, que não pode ser confundido com a tendência atual da “Covid Expoitation”, série de filmes que exploram as mazelas humanas em meio à pandemia global: Corona Zombies (mortos pela Covid viram zumbis vingativos), Coronavirus: The Movie (produção hindu), Corona: Fear is a Virus (em meio à pandemia, um grupo fica preso num elevador no Canadá), A Casa da Praia (uma pandemia que vem do oceano), a série Sl⌀born (uma pequena comunidade numa ilha observa indiferente a pandemia global pela TV) ou o curta Apocalypse Norway (um grupo de adolescentes numa área costeira remota ignora a chegada de um vírus apocalíptico na Europa), entre outras inúmeras produções.
Roland Emmerich pega uma carona num gênero que ao mesmo tempo é um sintoma psicossocial e uma operação ideológica de Hollywood – uma tendência que cresceu principalmente no pós-guerra da década de 1950.
Historicamente, os filmes-catástrofes começaram operando um fenômeno de deslocamento no psiquismo coletivo, onde a ansiedade e medo coletivo da guerra nuclear e da guerra fria eram transferidos para um “objeto fóbico” representados por invasores alienígenas, formigas gigantes ou até pássaros assassinos – Os Pássaros, de Hitchcock.
Esse conceito de objeto fóbico é muito mais complicado do que a paranoia criada pelo medo de um inimigo externo. não se trata simplesmente de medo a um objeto. O próprio medo e o objeto, em si, já são sintomas. Como Freud afirmava em 1909, “aquilo que é hoje o objeto de uma fobia, no passado deve ter sido também a fonte de um elevado grau de prazer” (Cf. FREUD, S. “Análise de uma fobia de um menino de cinco anos”, Capítulo III parte II).
Segundo Ignácio Ramonet,esse gênero deblockbusterteria o papel habitual de “deslocamento”: as calamidades fílmicas teriam a função de “criar um objeto fóbico que permitiria ao público localizar, circunscrever e fixar a formidável angústia ou estado de aflição real suscitado pela situação traumática da crise” (Veja RAMONET, Ignácio.Propagandas Silenciosas.Petrópolis: Vozes, 2002, p.86).
Se acompanharmos a produção dos filmes desse gênero veremos que os picos de produção se localizam exatamente em contextos históricos de crise econômica ou política. Trabalhando com o banco de dados do IMDB (Internet Movie Data Base) referente à produção dedisaster moviesentre 1920-2021, percebe-se nitidamente essa tendência - veja gráfico com esses dados adiante.
Mas antes, vamos falar um pouco sobre a nova produção de Roland Emmerich.
O Filme
Os astronautas Jo (Halle Berry) e Brian (Patrick Wilson) testemunham um acidente bizarro enquanto fazem a manutenção de um satélite em órbita, causado por uma massa ondulante de matéria negra.
Quando eles voltam à Terra sem um membro da tripulação (morto no episódio), ninguém acredita neles;Brian é culpado e colocado na lista negra da NASA.
Corta para dez anos à frente, para conhecermos KC Houseman (John Bradley deGame of Thrones), um blogueiro solitário com um gato chamado Fuzz Aldrin. Na verdade, um teórico da conspiração que vê antes de qualquer pessoa que a Lua saiu de órbita e seus detritos destruirão o planeta dentro de semanas.
Cabe a Brian e Jo retornarem ao espaço e derrotar o que eles chamam de “o enxame”, a misteriosa matéria negra que causou o acidente orbital na abertura do filme – de alguma forma, aquela estranha forma de inteligência alienígena está conectado com o estranho comportamento do nosso satélite “natural”... ou não tão natural assim!
O ator Donald Sutherland está fascinante e assustador como o personagem guardião dos mais sombrios segredos da NASA: um deles, o de que a Lua é um artefato alienígena que parece ter sido hackeado por alguma forma sinistra de IA alienígena que pretende riscar a humanidade do Universo.
Moonfall é um filme-catástrofe vintage, que parece querer retornar aos tropos clássicos dos anos 1990: no meio da catástrofe, com a Terra sofrendo anomalias gravitacionais que destrói cidades com terremotos e tsunamis, há espaço para piadas sem graça, discussões de relacionamentos entre casais e famílias que tentam juntar os cacos de casamentos rompidos. Junto ao combo, crianças que se perderam dos pais e mulheres frágeis à espera do herói.
Mas, como uma pitada de contemporaneidade dos tempos de privatização das viagens espaciais: A NASA é retratada por um viés extremamente negativo, enquanto Elon Musk e suas empresas são mencionados com uma regularidade de arregalar os olhos, a ponto de parecer uma estratégia mercadológica de inserção de produtos – product placement.
O objeto fóbico dos filmes-catástrofe
Acompanhando o gráfico abaixo, podemos observar a confirmação da tese de Ignácio Ramonet: os filmes-catástrofe correspondem imaginariamente ao efeito de deslocamento, isto é, fixar o vetor da crise como uma calamidade de ordem natural para, dessa maneira, despolitizar os acontecimentos.
O primeiro pico de produções está no ápice da guerra fria com a ameaça nuclear dos anos 1950 e começo da década de 1960.
Nos anos de 1970 vemos a consolidação do gênero com Filmes sobre catástrofes (incêndios, maremotos, terremotos, panes tecnológicas, enchentes etc.) que surgiam de repente e abalavam a harmonia de uma comunidade começam a se multiplicar desde o filme Aeroporto (1970). Seguem-se O Destino de Poseidon (1972),Terremoto (1974), Inferno na Torre (1974), Heat Wave (1974), Aeroporto 1975, Flood! (1976) entre outros.
Depois de décadas de crescimento e estabilidade econômica no pós-guerra, os anos 1970 foram marcados pela aceleração da inquietude com a crise do petróleo associado às sucessivas derrotas norte-americanas do Vietnã, conflitos raciais, o escândalo de Watergate e a moratória disfarçada de Nixon ao romper o acordo de Breton Woods e decretar o fim do lastro-ouro para o dólar.
Após as crises dos anos 1970, segue-se a era de ouro das políticas neoliberais da era Reagan e Thatcher nos anos 1980 e a estabilidade econômica mediante a socialização dos prejuízos pela dilapidação do Estado. Em uma década triunfante coroada com a queda do Muro de Berlin e o início da ordem global, despenca a produção de filmes desse gênero. O gênero será retomado na segunda metade dos anos 1990, época das primeiras grandes crises financeiras sistêmicas e globais: a crise do México em 1995, a crise das bolsas asiáticas em 1997-98 e o calote russo em 1998.
A retomada dos filmes-catástrofes vem com filmes como IndependenceDay (1996), Daylight (1996), Twister (1996), Titanic (1997), Volcano (1997), O Inferno de Dante (1997), Impacto Profundo (1998) entre outros.
E na segunda metade dos anos 2000 com uma nova onda de instabilidade pela explosão da bolha especulativa imobiliária dos EUA em 2008 e o derretimento da Zona do Euro a partir de 2009, experimentamos um novo pico de filmes catástrofes: Cloverfield – Monstro (2008), Fim dos Tempos (2008), A Estrada (2009), 2012 (2009), A Epidemia (2010) etc. E a onda de filmes continua na década de 2010 como reflexo da demora da retomada da economia mundial: Invasão do Mundo: a batalha de Los Angeles (2011), Ataque ao Prédio (2011) ou O Impossível(2012).
E os anos 2020 começam com a pandemia global e, agora, o ressurgimento da Guerra Fria com a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Porém, para haver essa operação psíquica de deslocamento descrita por Ramonet, é necessário o motor imaginário do objeto fóbico. Como Freud observou, esse objeto particular passa a ter uma característica fóbica – aquilo que no presente tem uma característica fóbica, significa que no passado foi fonte de prazer.
O fascínio pelos filmes-catástrofe se origina justamente dessa ambiguidade imaginária das crises: assim como Freud observou que o objeto de uma fobia foi fonte de prazer no passado, crises e instabilidades vislumbram a inesperada possibilidade de libertação com a destruição de uma ordem. Crises e desordens podem produzir desobediências civis e, no âmbito político, possibilidade de novos discursos críticos emergirem. Por isso a necessidade da o cinema transformar a crise em um objeto fóbico (assustador, repugnante etc.), para afastar do horizonte qualquer esperança de mudanças.
Em síntese, o filme-catástrofe explora de uma maneira peculiar o clichê mais geral da indústria de entretenimento de quebra-da-ordem-e-retorno-a-ordem - não importa o gênero ou tema, esse clichê está sempre presente como uma forma de elaborar a fantasia e as expectativas do espectador: ir ao cinema para quebrar a rotina e o desprazer do cotidiano ao ver, de forma ritualizada a ordem social, política etc. ser quebrada – bancos sendo roubados, terroristas explodindo coisas, a desordem da sociedade à beira do fim do mundo etc.
E, chegando ao final, prepará-lo para retornar às suas obrigações diárias, como se nada tivesse ocorrido, com o retorno à ordem.
Ficha Técnica
Título: Moonfall: Ameaça Lunar
Diretor: Roland Emmerich
Roteiro: Roland Emmerich, Harald Kloser, Spenser Cohen
Elenco: Haller Berry, Patrick Wilson, John Bradley, Charlie Plummer
quarta-feira, fevereiro 23, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Michel Gondry se encontra com Freud. E “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças” descobre a “Interpretação dos Sonhos”. Esse é o filme indie “Strawberry Mansion” (2021). Em um futuro próximo o Neuromarketing alcança o estado da arte: sem permissão, poderosos algoritmos dirigidos ao consumidor se infiltram nos sonhos das pessoas, construindo anúncios com o próprio material onírico. Além disso, todos os objetos dos sonhos são tributáveis e auditados através de um “stickair”. Um auditor fiscal vai investigar o caso de uma contribuinte que há anos vem sonhando, sem pagar impostos. Auditar seus sonhos será a chave para uma terrível descoberta sobre a natureza gnóstica da própria realidade.
terça-feira, fevereiro 22, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Algo saiu do script! De repente, pareceu que algum release que viria diretamente da OTAN para o ponto eletrônico dos repórteres cessou. Deixando-os gaguejantes, consternados, sem ter o que dizer ao vivo após um irritado e impaciente Putin ter reconhecido a independência e soberania das regiões separatistas da Ucrânia. Para depois, enviar “tropas de paz” para as regiões. Biden aproveitou o feriado e se fechou na Casa Branca, e, no vácuo, aliados prometeram “uma reposta rápida a Putin”. A resposta anticíclica de Putin, rompendo a “política do megafone” de Biden é a culminância aos primeiros sinais das diferenças semióticas EUA/Rússia: o salão oval versus a gigante mesa oval de reuniões do Putin, p. ex.. As diferenças não são meramente estéticas: Putin explora muitos elementos do teatro de vanguarda, sob a influência do “Rasputin” Vladislav Surkov, trabalhando na linha tênue entre ficção e realidade. Nada do que o Ocidente também não faça. Porém, com uma diferença: enquanto o Deep State ocidental precisa criar uma cena ficcional com atores que acreditam ser os próprios personagens que encenam, Putin é a própria realpolitik russa. Mas, também, essa diferença oculta uma ameaça mortífera.
domingo, fevereiro 20, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
E continua a crônica desses tempos distópicos. Mais uma Live Cinegnose 360 nesse domingo, edição #43, às 18h, no YouTube. Diretamente do sótão desse humilde blogueiro, os vinis da banda The Cure: Charles Baudelaire de calças de couro – a recorrente revolta e melancolia na cultura pop. Em seguida, precisamos falar do filme brasileiro “A Nuvem Rosa”: profecia ou espírito do tempo? Para depois, discutirmos o filme francês “BigBug”: Inteligência Artificial e o rebaixamento do conceito de “inteligência”. Essa discussão se conectará com o documentário de Adam Curtis “HyperNormalisation” – como a ficção contaminou a política ou como as IAs nos fizeram viver em bolhas virtuais. Midiacentrismo e tautismo na cobertura midiática do encontro Bolsonaro-Putin e na crise Russia vs. OTAN. A crítica midiática da semana... venha participar da Live Cinegnose 360!
sexta-feira, fevereiro 18, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O jornalismo corporativo é midiacêntrico e tautista: os fatos só acontecem para serem transmitidos e noticiados, numa espécie de auto lisonja do jornalismo corporativo. Disso decorre uma perigosa ingenuidade: acreditam que a verdade só pode estar no próprio fato que noticiam. Ignoram que muitas vezes os acontecimentos são diversionistas (simulações, não-acontecimentos, factoides etc.) para desviar a atenção de todos da verdadeira cena. A escalada da crise Rússia-OTAN-EUA e a visita de Bolsonaro ao líder russo Putin revelou tudo isso: como jornalistas e “colonistas” são capazes de acreditar em qualquer coisa. Até em canastrices. Dia da invasão na Ucrânia com data marcada? Uma operação de hackeamento russo das eleições brasileiras feito às vistas da imprensa num encontro oficial de presidentes? Como sempre, a operação psicológica da dobradinha PMiG (Partido Militar Golpista) e mídia corporativa (no modo Alarme!). Para ocultar as digitais que comprovariam que o PMiG já deu um golpe híbrido (por isso, a mídia não viu) e que as eleições já foram hackeadas, desde 2018 – mesmo com as “pontes” construídas entre militares e civis no STF e TSE para “as instituições funcionarem”...
quinta-feira, fevereiro 17, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
De repente nuvens rosas tóxicas ocupam os céus e baixam à terra, envolvendo as grandes cidades do planeta – capazes de matar humanos após dez segundos de exposição. Todos ficam aprisionados onde quer que estejam: em casa, supermercados etc. Um jovem casal acorda em seu apartamento e toma pé da situação através da TV. O que deveria ser apenas um caso de uma noite, vira a única conexão humana por anos, numa espécie de prisão domiciliar. Escrito em 2017 e filmado em 2019, a produção brasileira “A Nuvem Rosa” (2021) é assustadoramente profética ao descrever com detalhes aquilo que hoje chamamos de “novo normal”. Após a estreia do Festival de Sundance em 2020, tornou-se um sucesso de crítica nos EUA pela forma como “A Nuvem Rosa” capturou o espírito do tempo: a coincidência da pandemia (ou a nuvem tóxica) acontecer quando a mediação tecnológica era possível; os processos psíquicos de negação e normalização; a apatia diante do desastre; e o quanto a nossa percepção do que chamamos por realidade pode ser moldável.
quarta-feira, fevereiro 16, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Na comédia maluca de ficção científica “Bigbug” (2022, disponível na Netflix), estamos na França retrofuturista de 2045 na qual subúrbios de classe média alta vivem em conforto e cercados por conveniências com a ajuda de inúmeros assistentes robóticos, aplicativos e Inteligência Artificial que se tornam parte integrante do dia a dia. Todos tão imersos nas suas bolhas de facilidades e prazer que não percebem uma rebelião de androides contra o “homo ridiculus”. Presos na própria casa pelo protocolo de segurança de uma IA, para protegê-la do caos que toma conta nas ruas, uma família está tão idiotizada pela tecnologia que não consegue compreender o que passa ao redor. “Bigbug” é uma comédia burlesca que reflete uma tendência atual desde que as pesquisas em inteligência artificial deixaram de tentar emular a inteligência humana: o fenômeno da autoabdicação humana - o rebaixamento da noção de inteligência, permitindo-nos humanizar as máquinas e aplicativos.
domingo, fevereiro 13, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Mais uma épica Live Cinegnose 360 #42, nesse domingo (13/02), às 18h no YouTube... mesmo que falte luz e caia a Internet! Vamos começar o programa com o protopunk nacional “Joelho de Porco”: o elo perdido do eterno retorno brasileiro. Em seguida, a animação Netflix “The House”: “todas as gerações mortas pesam como um pesadelo sobre o cérebro dos vivos” (Karl Marx). Discutiremos também o documentário “The Anti-Vax Conspiracy”: quem financia o movimento antivacina no Grande Reset do Capitalismo? Retronazismo de Monark e Adrilles Jorge: como funciona o piloto automático na guerra híbrida. E os drops de crítica midiática da semana.
sexta-feira, fevereiro 11, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A chamada “terceira via” não engrena, mais precisamente o ex-juiz Sérgio Moro. E junto vai embora a esperança de que o espinhoso tema da economia saísse de pauta, substituído pelo discurso moralista do combate a corrupção. Por isso a grande mídia está no modo Alarme: o “apito de cachorro” da polêmica do “racismo reverso” do artigo da Folha foi o alerta para a mudança da estratégia semiótica: sai corrupção, entra a “guerra cultural”. Colocando a guerra híbrida do PMiG (Partido Militar Golpista) no “Piloto Automático”, com os fusíveis pronto para serem queimados com figuras como Monark e a sub-celebridade ex-BBB Adrilles Jorge – fusíveis queimados para ocupar a pauta com lacradores de redes sociais, juristas de Twitter e a indefectível esquerda reativa pavloviana. Principalmente para ocultar a estratégia militar de “terra arrasada”: silenciosamente passar no Congresso pautas prioritárias que arrasem o País. Para deixar um eventual governo Lula prisioneiro da judicialização.
quinta-feira, fevereiro 10, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Pais tautistas e crianças autistas e paranormais. De um lado, pais tão absorvidos pelos seus problemas cotidianos que abdicaram do papel de transmissores de sabedoria e conhecimento. E do outro, filhos entre o autismo e poderes paranormais – na verdade, a metáfora do hiato geracional: sem conseguirem entender o mundo adulto, estendem a visão mágica e animista da primeira infância, numa espécie de infância estendida. O filme nórdico “The Innocents” (“De Uskyldige”, 2021) é um terror atmosférico e silencioso no qual deixa para trás toda a visão nostálgica adulta de uma suposta inocência infantil. Em um conjunto de apartamentos popular, crianças passam suas férias de verão descobrindo seus poderes telepáticos e telecinéticos, enquanto os pais estão alheios a tudo. Paradoxalmente a filha de espectro autista é a única que interage nessa rede psíquica, pressentindo uma ameaça entre as crianças.
quarta-feira, fevereiro 09, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A animação em stop-motion (uma arte que se tornou um pequeno nicho) é perfeita para se criar atmosferas pela riqueza e intensidade de detalhes que a técnica pode oferecer. Principalmente em narrativas que envolvem claustrofobia e confinamento. A animação da Netflix “The House” (2022) faz o espectador mergulhar nessa atmosfera em seus três episódios, cujo casarão em estilo georgiano é o fio condutor. Mas a sensação claustrofóbica não vem da casa, mas dos fantasmas do passado que são capazes de aprisionar as mentes dos vivos, cancelando qualquer ideia de futuro pela repetição dos mesmos vícios e posturas. Um arquiteto misterioso constrói o casarão como um “presente” a um pai de família corroído pela frustração e ressentimento. Que descobrirá da pior maneira possível as verdadeiras intenções daquele Demiurgo. Será a gênesis e o pecado original gnósticos de uma recorrência que bloqueará o presente e cancelará o futuro.
domingo, fevereiro 06, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Você já sabe... domingo é dia de Live Cinegnose 360. Às 18h, no YouTube, a edição #41. Começando com os 42 anos do álbum “Fresh Fruit for Rotting Vegetables” do Dead Kennedys: do trítono do Diabo ao Zen-fascismo. Em seguida, uma conversa sobre a série dinamarquesa “Nada é o que Parece Ser” – por que somos todos Viajantes, Detetives e Estrangeiros? E a estranha premissa do filme “Mundo em Caos”: a derrota histórica do gênero feminino. Arte, política e guerrilha anti-mídia no documentário “Art of The Prank” com Joey Skaggs. OTAN, EUA e a geopolítica da simulação. O gênio da guerra híbrida do PMiG (Partido Militar Golpista): o frango com farofa do chefe do Executivo e o assassinato de Moïse. E drops da crítica midiática da semana. Venha participar e anime seu final de domingo!
sexta-feira, fevereiro 04, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como é possível mostrar a realidade, ao mesmo tempo em que a oculta? O vídeo “vazado” nas redes sociais mostrando os maus modos de Bolsonaro à mesa (ou à bandeja) comendo frango e espalhando farofa (e o seu “bônus track”, o making off do filho Carlos dirigindo a cena bizarra) e as imagens do assassinato cruel do congolês em um quiosque na praia da Barra, RJ, guardam uma perniciosa conexão: a guerra semiótica em um ano eleitoral. A “meta-simulação” do “bônus track” (análoga ao de Biden, denunciando que a Rússia estaria criando um vídeo de simulação de ataque da Ucrânia, antecipando os próprios vídeos falsos americanos) quer apagar os rastros do PMiG (Partido Militar Golpista) na construção do personagem manchuriano Bolsonaro. Enquanto a cobertura midiática do assassinato de Moïses oculta aquilo que pavimenta todo racismo, xenofobia e o domínio do comércio por milicianos: a reforma trabalhista.
quinta-feira, fevereiro 03, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Com uma premissa estranha e com sérios problemas nos bastidores, o filme “Mundo em Caos” (Chaos Walking, 2021, disponível na Amazon Prime) lembra até o subgênero “sci fi teen” iniciado por “Jogos Vorazes”. Colonizadores esquecidos num planeta distante têm que lidar com “O Ruído”: involuntariamente, somente os homens materializam seus pensamentos mais íntimos através de uma “nuvem” sobre as cabeças. As mulheres foram massacradas por nativos, resultando numa sociedade religiosa hipermasculinizada, armada, violenta, protofascista. E o “ruído” vira um instrumento de controle. “Mundo em Caos” é um filme peculiar, em que a premissa é melhor que o próprio filme: não só por fazer uma alusão à ideia teosófica das “formas-pensamento” como também suscita a tese central de Friedrich Engels em seu livro “Origem da Família, Propriedade Privada e Estado”: o “comunismo primitivo” cedeu lugar na História à opressão de classe e exploração do trabalho com a derrota histórica do gênero feminino.
quarta-feira, fevereiro 02, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quando nos deparamos com uma produção audiovisual nórdica sobre adolescentes, temos que prestar melhor atenção. Ao contrário dos congêneres hollywoodianos, centrados em dramas escolares com valentões, bullying e “losers” ansiando pela aceitação no grupo, filmes e séries nórdicas elevam os temas “teens” ao existencial e aos dramas da própria espécie humana. A série Netflix dinamarquesa “Nada É o que Parece Ser” ("Chosen", 2022- ) mantém esse tom ao se filiar ao sub-gênero indie “alt.sci-fi”: os temas da ficção científica são apenas pano de fundo para discutir as questões que cercam a adolescência: identidade, gênero, sexo, autoconhecimento etc. Um meteorito caiu numa pequena cidade há 17 anos e se transformou numa atração turística. Jovens acreditam que tudo é uma conspiração para esconder aliens que ali moram, confundindo-se com humanos. Jovens que encarnam a narrativa mítica de Detetives e Estrangeiros, tanto no cinema quanto na literatura. Afinal, todo adolescente já parece se sentir como um alienígena nesse mundo.
domingo, janeiro 30, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
BREAKING NEWS! Live Cinegnose 360 #40, no YouTube nesse domingo, 30/01, às 18h. Nos vinis desse humilde blogueiro, a bela e a besta: Blondie e Gangrena Gasosa – rock, inconsciente coletivo e plano astral. Depois discutiremos o filme argentino “História do Oculto” (magia, ocultismo e mídia) e “Agnes” (exorcismo e a religião americana). A mitologia de Olavo de Carvalho como PsyOp militar. Alexandre Morais vs. Bolsonaro: canastrice na política e “telecatch”. O xadrez semiótico eleitoral: o fator Dilma, Relatório Transparência Internacional, Moro e o arquivamento do caso do tríplex. Crítica midiática da semana. Venha participar nesse domingo!
sexta-feira, janeiro 28, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como uma biruta de aeroporto, Olavo de Carvalho, falecido esta semana aos 74 anos, sentiu a mudança dos ventos geopolíticos: o tour global das “primaveras” da guerra híbrida da dupla Obama-Biden. E o Brasil seria o próximo alvo. Estancado na periferia do conservadorismo brasileiro, Olavão viu a oportunidade de surfar na onda alt-right norte-americana e virar um elemento na psyOp do golpe militar híbrido: foi levado ao estrelato como o “guru de Bolsonaro” e “ideólogo da extrema-direita brasileira”. De início, incensado pela grande mídia como “brilhante pensador” e faixas “#Olavo tem razão” nas manifestações verde-amarelas. Para depois, passar para a fase “o guru da ala ideológica do Governo” para blindar uma suposta “ala técnica” das políticas neoliberais. Mesmo depois de morto, a operação psicológica continua: “Olavo de Carvalho deixou um legado”, para racionalizar (ou normalizar) as alopragens políticas de Bolsonaro e seus agregados.
quinta-feira, janeiro 27, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um padre suspeito de pedofilia e alcoólatra, com um jovem diácono como assistente, é escalado pelo Vaticano para avaliar um caso de possessão em um convento de carmelitas e, ocasionalmente, praticar o exorcismo. “Agnes” (2021) começa como um típico filme sobre terror e exorcismo. Mas a metalinguagem irônica dos clichês do subgênero revela que o filme busca outras questões: tudo bem expulsar o demônio, mas e depois? Como fica a fé depois de uma experiência como essa? O que ocorrerá depois com a vida dos envolvidos? Por que Deus permite que demônios assediem a humanidade? Seria um teste arbitrário de Deus apenas para testar a fé Nele? Como produção norte-americana, “Agnes” desafia a Igreja e revela o núcleo da chamada “religião americana”: a busca da experiência direta com o Sagrado através da autodivinização gnóstica.
quarta-feira, janeiro 26, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No pôster promocional vemos um personagem emulando o célebre gesto Thelêmico do bruxo Aleister Crowley. E o título do filme argentino da Netflix, estreia em longas do diretor Cristian Ponce (conhecido pela web série “Frequência Kirlian”), é instigante: “A História do Oculto” (2020). Uma espécie de mix entre o clássico “Todos os Homens do Presidente” (1976) com bruxaria: um thriller de terror político-paranormal. Mas o filme vai além do clichê de sociedades secretas controlando candidatos manchurianos. Estende o conceito de magia à tecnologia e meios de comunicação, capazes de criar falsas realidades “mágicas”. Um grupo de jornalistas e produtores corre contra o tempo para colocar no ar, em um talk show, provas que podem derrubar o presidente da Argentina: as suas conexões com uma confraria de bruxos e fundadores de uma corporação beneficiada pelo governo.
domingo, janeiro 23, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Mais uma Live Cinegnose 360 para os sobreviventes dessa distopia chamada Brasil... é a edição #39, nesse domingo (23/01), às 18h, no YouTube. Vamos começar falando de um OVNI que passou pela MPB: Belchior e o álbum “Alucinação” – como a mídia tentou enquadrá-lo no estereótipo do “maluco beleza”. Filme “Círculo Vicioso” (o fenômeno serial killer e efeito Heisenberg midiático), o terror invisível do filme espanhol “O Páramo” (medo, culpa e dominação política). E depois, sexo em um país dividido: documentário “Comunistas Fazem Sexo Melhor?”. Grande mídia e o Brasil Profundo: nós sabemos o que fizeram no verão passado. Jornalismo corporativo no “modo alarme” em ano eleitoral: BBB22, racismo reverso e o Caso Celso Daniel strikes again! A crítica midiática da semana. Tenha um final de domingo trepidante participando da Live Cinegnose 360!
sábado, janeiro 22, 2022
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nessa semana a grande mídia entrou no modo “alarme”: eleições, tudo bem! Mas não mexam na política econômica! Afinal, foi necessário muito jornalismo de guerra para fazer o País entrar na periferia do Grande Reset Global: o capitalismo de plataforma, o neocolonialismo high-tech. Por isso, o jornalismo corporativo sente a urgência de sumir com a pauta econômica em ano eleitoral, apesar da “recessão técnica” – eufemismo para falar de desemprego, inflação etc. BBB22 na Globo, a polêmica identitária do racismo reverso da Folha, o indefectível caso Celso Daniel sempre requentado num ano eleitoral, agora em minissérie da Globoplay. E, fechando a semana, o segredo de polichinelo da rachadinha com “depoimento-bomba” da Veja. Bater na tecla diária de que a pandemia e as “mudanças climáticas” conspiram contra a economia não é o suficiente. É necessário tentar dominar a pauta com os temas alt-right das guerras culturais e o moralismo do combate à corrupção – estratégia semiótica para criar convenientes polarizações.
Cinegnose participa do programa Poros da Comunicação na FAPCOM
Este humilde blogueiro participou da edição de número seis do programa “Poros da Comunicação” no canal do YouTube TV FAPCOM, cujo tema foi “Tecnologia e o Sagrado: um novo obscurantismo?
Esse humilde blogueiro participou da 9a. Fatecnologia na Faculdade de Tecnologia de São Caetano do Sul (SP) em 11/05 onde discutiu os seguintes temas: cinema gnóstico; Gnosticismo nas ciências e nos jogos digitais; As mito-narrativas gnósticas e as transformações da Jornada do Herói nas HQs e no Cinema; As semióticas das narrativas como ferramentas de produção de roteiros.
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Coleção Curtas da Semana
Lista semanalmente atualizada com curtas que celebram o Gnóstico, o Estranho e o Surreal
Após cinco temporadas, a premiada série televisiva de dramas, crimes e thriller “Breaking Bad” (2008-2013) ingressou na lista de filmes d...
Bem Vindo
"Cinema Secreto: Cinegnose" é um Blog dedicado à divulgação e discussões sobre pesquisas e insights em torno das relações entre Gnosticismo, Sincromisticismo, Semiótica e Psicanálise com Cinema e cultura pop.
A lista atualizada dos filmes gnósticos do Blog
No Oitavo Aniversário o Cinegnose atualiza lista com 101 filmes: CosmoGnósticos, PsicoGnósticos, TecnoGnósticos, AstroGnósticos e CronoGnósticos.
Esse humilde blogueiro participou do Hangout Gnóstico da Sociedade Gnóstica Internacional de Curitiba (PR) em 03/03 desse ano onde pude descrever a trajetória do blog "Cinema Secreto: Cinegnose" e a sua contribuição no campo da pesquisa das conexões entre Cinema e Gnosticismo.
Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, organizado pelo Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
Neste trabalho analiso a produção cinematográfica norte-americana (1995 a 2005) onde é marcante a recorrência de elementos temáticos inspirados nas narrativas míticas do Gnosticismo.>>> Leia mais>>>
"O Caos Semiótico"
Composto por seis capítulos, o livro é estruturado em duas partes distintas: a primeira parte a “Psicanálise da Comunicação” e, a segunda, “Da Semiótica ao Pós-Moderno >>>>> Leia mais>>>